Mostrando postagens com marcador lúdico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador lúdico. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Acabo de ler "Homo Ludens" de Johan Huizinga

 



Essa versão é apenas um recorte que li especialmente para minha licenciatura em teatro. Mesmo não sendo o livro inteiro, deu-me um sabor bastante apreciável e ressignificou muitas de minhas crenças. Creio que até a minha visão de muito sobre "jogos" e "brincadeiras", além de seu funcionamento social e psicológico, foi bastante alterada por essa breve leitura. Pretendo algum dia, quando tiver maior disposição de tempo, ler a versão completa do livro.


Johan trabalha com uma hipótese bem diferente da habitual, mas ela está em paralelo com grandes escritores e intelectuais de sua época. Creio que com a sanha racionalista e o desempenho desmesurado duma crença excessiva pela razão e o seu uso acabamos por perder a própria capacidade do bom uso da razão. Muitos intelectuais levaram os mitos e as religiões para as portas da frente da academia (aqui no sentido de universidade), exemplos esses são:

- Claude Lévi-Strauss;

- Eric Voegelin;

- Johan Huizinga;

- Mircea Eliade.


A sanha racionalista acreditou que poderia desmistificar o homem e traduzir, na Terra, uma forma de homem de razão pura. Um homem absorvido pela atmosfera duma racionalidade objetiva e que encarava o mundo dum modo completamente imparcial. Tal intenção motivou várias escolas de pensamento: positivismo, anarquismo, marxismo, liberalismo, dentre tantas outras. Todavia a ideia de um homem absorvido inteiramente pela potência do intelecto e capaz de dar juízos racionais em absoluta concordância com os critérios da razão suprema nada mais é do que uma construção da própria imaginação humana e, como tal, incapaz de ser realizada na prática – sobretudo tendo-se em conta a própria humanidade inerente ao homem enquanto homem.


Esse texto, por sua vez, apresenta não uma linha de pensamento que defende o aspecto religioso inerente ao pensamento do homem – mesmo que em escala inconsciente –, mas a inerente ludicidade do homem. Ou seja, somos algo além do que seres inconscientemente religiosos, somos seres que brincam inconscientemente. Dar-se conta disso é, mais uma vez, libertador. E espero que um dia que essa percepção seja academicamente mais levado a sério.

terça-feira, 9 de abril de 2024

Acabo de ler "Jogos teatrais na sala de aula" de Maria Lúcia de Souza Barros Pupo

 


A anatomia do estudo de teatro, em seu aspecto de encenação, é bastante diferenciada do estudo usual. Visto que seu visar é mais lúdico e menos domesticado por abstrações teoréticas que elevam a imaginação aos céus sem mexer muito com o corpo, levando um desnivelamento entre aquilo que se estuda e aquilo em que o corpo inteiro atua.


Por meio dos jogos teatrais temos o estudo lúdico em uma ficção partilhada. Existem diferentes jogadores que, perto um do outro, traçam linhas atitudinais. Cada um deles faz um personagem-tipo diferente e atua cenicamente de modo experimental. O que dá margem a uma série de problemáticas que são resolvidas durante o jogo e podem ser repensadas.


Por meio desse jogo se desenvolve simultaneamente a expressão corporal e a escuta atenta no sentido mais profundo do termo. Não só aquilo que o companheiro ou a companheira fala verbalmente, mas por meio de sua expressão não verbal. O que a sua vestimenta traz, o que seu posicionamento corporal traduz, o que a sonoridade se sua voz ecoa. Tudo isso leva a uma atenção multicorrelacional em que a percepção da pessoa em si é exercitada.


É nesse brincar que são trabalhados exercícios de alteridade em que nos colocamos e corporificamos na pele do outro. Tentando viver as suas vidas. Tentando entender quais são os problemas que ele tem. Quais são as suas debilidades. E também podemos levantar hipóteses sobre distintos cenários possíveis, reimaginando também as nossas próprias possibilidades enquanto indivíduos portadores de vontades e de liberdades.


Estudar teatro é, seja pelos jogos teatrais, seja pela imersão nos aspectos teóricos, uma forma de repensar a vida em sua totalidade. Visto que tudo é um cenário e tudo exige, de cada um de nós, um modelo de atuação e uma forma de personificar o que queremos com a totalidade de nosso ser.