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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 4)

 


Christopher Lasch não poupa ninguém em sua análise. Como podemos ver, a esquerda americana sempre amarga em derrotas e ele explica a razão delas falharem. Aqui ele fala mais sobre o racismo e os movimentos pelos direitos civis dos negros. As questões raciais nos Estados Unidos sempre foram tensas.


As relações raciais nos Estados Unidos, tal como no Brasil, variam de local para local. As relações raciais no sul do país não são as mesmas que no norte do país. Particularmente no sul, a integração da comunidade negra – em vez da dissolução no todo social – criou um forte sentimento coletivo e disciplina interna. O que favoreceu fortemente uma política negra.


A relação dos negros no sul era fortemente guiada pelas igrejas. Essas tinham como base a paciência, o sofrimento e o endurecimento. Por mais incrível que pareça ao leitor de visões mais modernas, essa ação foi mais politicamente bem sucedida do que a adaptação a modernidade capitalista. A adoração ao sistema capitalista se tornaria passaporte para o hedonismo, oportunismo, cinismo, violência e ao ódio por si mesmo. A satisfação moderna só pode dar curtos períodos de prazer em vez de uma disciplina metódica, logo é incapaz de proporcionar um movimento político de longo prazo.


O movimento negro do norte tinha uma perspectiva bem diferente. A sua cultura era mais moderna, por assim dizer. Só que essa modernidade não favorecia a sua luta política. Muito pelo contrário, a cultura deles era uma cultura de satisfação hedônica marcada pelo curto-prazismo. Essa desvantagem levou a fraqueza do movimento negro do norte. Em outras palavras, os valores materialistas não eram autossuficientes para metodologicamente gerar um movimento consistente a longo-prazo.


A existência de negros muçulmanos também é algo a ser comentado. Esses possuíam um senso que era ao mesmo tempo "místico e prático". Muitos desses se envolveram em campanhas de moralização, tentando alertar os perigos de uma vida desregrada. Esses mesmos perigosos tornavam a comunidade negra fragmentada, fraca, viciada e inconsistente.


O nacionalismo negro teria uma espécie de ressurreição. Mas preciso falar de algo antes: os irlandeses e os judeus seguiram um caminho interessante. Criariam uma comunidade separada, mas autossuficiente. É graças ao apoio mútuo que se tornaram capazes de desenvolver uma comunidade forte e potencializadora dos indivíduos que estavam dentro dela. Inicialmente fracos e marginalizados, foram pouco a pouco se tornando mais poderosos. Chegaram a se tornar iguais (em igualdade), mas distintos (separados enquanto comunidade). O movimento negro, o Black Power, queria criar uma comunidade autossuficiente de forma semelhante.


O movimento negro americano falhou em desenvolver uma comunidade forte. Infelizmente a ausência de uma percepção mais aprofundada da comunidade judaica e irlandesa foi uma das principais causas da sua derrota. O movimento negro americano perdeu tempo demais indo de ilusão para ilusão, sem nunca chegar a uma concretude, seja teórica, seja prática.

sábado, 23 de março de 2024

Acabo de ler "Raça e Etnia"

 



Nota:

- Como o nome da pessoa que escreveu não foi apresentado, não o apresentarei. Mas o conteúdo veio do curso de teatro e poderia ser provavelmente debitado a pessoa que escreveu o documento anterior.


Existem diversas formas de preconceito. E aqui tratamos do preconceito na forma que ele é usualmente encarado: um juízo alienatório de uma pessoa incapaz de sair da circunferência de seu eu e de seu grupo social, de raça, de gênero, de orientação sexual, etc. O preconceito se manifesta por uma atitude discriminatória hostil a determinados segmentos sociais. E se revela pelos seus impactos não só socialmente destrutivos, mas semelhantemente:

- Pelo impacto psicológico, gerando transtornos mentais e, em casos mais graves, suscitando ideações suicidas e práticas de automutilação;

- Pelo impacto econômico, fomentando a desigualdade e até a dominação de determinados grupos;

- Pelo impacto político, criando estruturas politicamente nocivas que paralisam a igualdade harmônica e desejável entre membros de uma mesma sociedade;

- Pelo impacto social, caracterizando uma sucessiva construção de um aparato deslegitimador de pessoas por suas orientações sexuais, etnias, religiões, dentre outras características.


Existem, evidentemente, outras características nocivas que poderiam aparecer aqui. Todavia o número de caracteres do Instagram impossibilita um detalhe mais minucioso.


O racismo, o preconceito mais trabalhado no texto, é uma forma de dominação e uma mentalidade que justifica algumas raças e subjuga outras. Ele atribui que algumas características, típicas de determinados fenotipos, possuem uma superioridade intrínseca. Enquanto outras, pertencentes a outros tipos, possuem inferioridade intrínseca. Esse determinismo gera uma confirmação passiva ideologicamente determinada para estruturar todo um aparato repressivo.


Combater o preconceito, seja de qualquer espécie, é um dever de um educador na medida mesma que qualquer preconceito impede o pleno exercício da humanidade. Combater o preconceito é possibilitar que exista, no outro ou em nós mesmos, uma humanidade aspirante de sonhos e dignidades.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Branco

Eu amo a minha vida. Sério, eu realmente amo a minha vida. Sempre acordo de manhã, tomo meu cafézinho e dou uma corridinha para ter aquela vidinha mais saudável. Vejo meus vizinhos brancos, que me tratam com alguma diferença que não sei de onde vem. Só que como a manhã é cinzenta e bela, já que lembra a cor branca, então está tudo bem. E ser branco é tudo o que importa.


Depois que dou uma corridinha, tomo meu banho em meu banheiro branquinho. Uso a minha escovinha branca, pego a minha pasta de dente branca. Logo depois, dirijo-me ao meu trabalho com meu carro branco. Saio de minha residência branca, da companhia de meus vizinhos brancos e vou para o bairro branco, rico, sofisticado e de pessoas brancas em que trabalho. É tão bom viver de dia, já que a noite é escura e isso eu não aprecio.


As pessoas de meu trabalho são ilustres, inteligentes e brancas. Todas vieram de boas famílias brancas e vivem uma vida branca, bela e moral. Classe média baixa para cima. As pessoas de meu trabalho? Elas são ilustres e progressas, tal como eu sou ilustre e progresso. Não há incivilidade e muito menos fuga desse padrão de beleza tão bom quanto necessário. Não temos “mal dialeto”, não temos “dialeto marginal”. Falamos um português tão hegemônico quanto certo, tão hegemônico quanto deve ser a norma clara. Embora eu veja, em meus colegas brancos e ilustres, um certo afastamento de minha pessoa – tal como se a eles eu não pertencesse.


De noite chego em casa. Chego em casa meio cansado, mas feliz que sou um trabalhador honesto e uma pessoa de respeito. Uma pessoa entre pessoas brancas, trabalhadoras e corretas. Tomo outro banho, olho para meu espelho e vejo que a minha cor é preta. Minha cor é tão preta que me dá nojo. Como pode uma cor de pele ser tão escura? Tão escura quanto corrupta. Tão escura quanto preta e tão preta quanto desnecessariamente preta? Não me conformo com tamanha escuridão. Cuspo no espelho, tal como se cuspisse em mim mesmo. Eu não suporto o peso preto de minha imagem preta. Soco-o por não aguentar tamanha ousadia. Quebro o espelho, mas queria mesmo era quebrar a mim mesmo. Minha mão sangra, o sangue sai de minha mão negra. Meu soco é um soco simbólico para e contra a coloração duvidosa de minha própria pele. Para me lidar com o sofrimento, para me lidar com essa diferença grosseira, pego uma faca e enfio-a em minha garganta para que toda essa coisa cesse.


Ah, espero que o céu, seus habitantes, Deus, o Menino Jesus sejam todos brancos tal como meu desejo é branco, tal como a minha felicidade é branca. Só que não tenho certeza se vou mesmo para lá, já que creio que o lugar apropriado para mim é um local tão escuro quanto a minha pele defeituosamente escura.