domingo, 30 de junho de 2024
Acabo de ler "Dracula Defanged: Empowering the Player in Castlevania" de Clara Fernandez-Vara (lido em inglês/Parte 10)
Acabo de ler "Dracula Defanged: Empowering the Player in Castlevania" de Clara Fernandez-Vara (lido em inglês/Parte 9)
quarta-feira, 24 de abril de 2024
Acabo de ler "Homo Ludens" de Johan Huizinga
Essa versão é apenas um recorte que li especialmente para minha licenciatura em teatro. Mesmo não sendo o livro inteiro, deu-me um sabor bastante apreciável e ressignificou muitas de minhas crenças. Creio que até a minha visão de muito sobre "jogos" e "brincadeiras", além de seu funcionamento social e psicológico, foi bastante alterada por essa breve leitura. Pretendo algum dia, quando tiver maior disposição de tempo, ler a versão completa do livro.
Johan trabalha com uma hipótese bem diferente da habitual, mas ela está em paralelo com grandes escritores e intelectuais de sua época. Creio que com a sanha racionalista e o desempenho desmesurado duma crença excessiva pela razão e o seu uso acabamos por perder a própria capacidade do bom uso da razão. Muitos intelectuais levaram os mitos e as religiões para as portas da frente da academia (aqui no sentido de universidade), exemplos esses são:
- Claude Lévi-Strauss;
- Eric Voegelin;
- Johan Huizinga;
- Mircea Eliade.
A sanha racionalista acreditou que poderia desmistificar o homem e traduzir, na Terra, uma forma de homem de razão pura. Um homem absorvido pela atmosfera duma racionalidade objetiva e que encarava o mundo dum modo completamente imparcial. Tal intenção motivou várias escolas de pensamento: positivismo, anarquismo, marxismo, liberalismo, dentre tantas outras. Todavia a ideia de um homem absorvido inteiramente pela potência do intelecto e capaz de dar juízos racionais em absoluta concordância com os critérios da razão suprema nada mais é do que uma construção da própria imaginação humana e, como tal, incapaz de ser realizada na prática – sobretudo tendo-se em conta a própria humanidade inerente ao homem enquanto homem.
Esse texto, por sua vez, apresenta não uma linha de pensamento que defende o aspecto religioso inerente ao pensamento do homem – mesmo que em escala inconsciente –, mas a inerente ludicidade do homem. Ou seja, somos algo além do que seres inconscientemente religiosos, somos seres que brincam inconscientemente. Dar-se conta disso é, mais uma vez, libertador. E espero que um dia que essa percepção seja academicamente mais levado a sério.
sexta-feira, 14 de abril de 2023
Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung - Capítulo 9: o estudo dos sonhos"
Falar sobre Freud ou Jung sem falar sobre sonhos é quase como cair em heresia. O sonho é um território misterioso em que, grande parte de nós, tem necessidade imensa de compreender. Querendo ou não, os sonhos nos impactam.
O sonho é uma espécie de compensação em que aquilo que não foi feito, aquilo que foi reprovado ou reprimido é realizado num espaço virtual para que se obtenha a satisfação e, com isso, o equilíbrio psíquico. Porém o sonho desempenha muitas mais funções do que essa.
O sonho é a fotografia do instante mental do sujeito, é a forma com que ele vê o mundo naquele momento de sua vida. Graças a isso, se descobrirmos o que cada objeto simbolicamente representa ao sujeito, temos o seu retrato mental.
O sonho também é gerado pela interação da pessoalidade do sujeito em contato com os símbolos universais (arquétipos), o que gera necessidade de reconhecer os dois.
O misticismo e poder ilimitado do sonho remontam a antiguidade primitiva de nós e de como desejamos, no fundo, poderes ilimitados. Jung sempre frisou que, dentro de nós, há um ser primitivo que pensa da mesma forma pouco importando as mudanças culturais. E essa estrutura permanece a mesma mesmo que não nos demos conta disso. É por conta disso que devemos conhecer o inconsciente: para não sermos dominados por ele.
quinta-feira, 13 de abril de 2023
Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung - Capítulo 8: o estudo dos arquétipos"
Um arquétipo é uma imagem primordial, uma leitura criada pelos nossos primeiros ancestrais. Segundo Jung, os arquétipos localizar-se-iam no inconsciente coletivo. Essa subestrutura que existe dentro de nós leva-nos a dados padrões comportamentais instintivos e inconscientes.
Jung descobriu o inconsciente coletivo ao estudar várias culturas aos redor do mundo. Ele descobriu um universo de símbolos comuns representados de formas distintas pelos diferentes tipos de humanos. Jung percebeu que mesmo existindo uma diferença entre um símbolo e outro, certos símbolos apareciam universalmente e desempenhavam papéis semelhantíssimos entre si.
Essa subestrutura encontrada por Jung seria presente em todos os seres humanos, demonstrando a unidade da humanidade numa única espécie. E também demonstraria um legado que nos deixa mais próximos um dos outros, visto que todo pensamento humano é ligado consciente ou inconscientemente a essa mesma estruturação.
Os estudos dos arquétipos como estrutura comum a todo mundo e a forma com que nossa personalidade se molda a partir dos arquétipos talvez estejam nos tópicos mais interessantes de todos os estudos psicológicos.
domingo, 2 de abril de 2023
Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung - Capítulo 5: o uso das mandalas para cura"
A psicologia de Jung é de fundamental importância para muitas áreas do conhecimento. Graças a ele, houve um renascimento intelectual dos estudos religiosos, artísticos, mitológicos. Um homem com tamanha capacidade de abarcar os mais diversos fenômenos não pode ser ignorado. E, se o for, aquele que o ignora corre o risco de perder em muito a capacidade de compreender o mundo.
Uma das aplicações bastante curiosas é o das mandalas. A palavra "mandala" quer dizer "círculo". Basicamente padrões abstratos que, em primeiro momento, não possuem significado algum aparente. Porém Jung via as mandalas como expressões da vontade inconsciente e uma ótima via para o autoconhecimento.
As mandalas representam a camada mais profunda da mente. Não uma profundidade de nível consciente que poderá ser percebida rapidamente, mas uma profundidade de nível inconsciente. Desenhar uma mandala, pintá-la e interpretá-la seria crucial no processo de individuação. Esse seria um exercício constante e necessário para o desenvolvimento maturacional.
A compreensão daquilo que se expressa e como se expressa, descobrindo os detalhes de si para si, é uma das chaves da psicologia junguiana. Porém há muita estranheza que precisa ser explicada para que o estudante se apodere de suas práticas, visto que em primeiro momento podem soar como métodos alienígenas e de distante inteligibilidade.
sexta-feira, 3 de março de 2023
Acabo de ler "Psicologia Aplicada de C. G. Jung: Capítulo 2: Carl Gustav Jung e Sigmund Schlomo Freud"
Jung e Freud eram, ao mesmo tempo, pesquisadores originalíssimos no campo da medicina e psiquiatria. Também compreendiam que havia mais no aparelho mental do que de fato estávamos propensos a acreditar. As teorias de Jung, até aquele momento, complementavam e endossavam a de Freud. Não por acaso surgiu a relação que os dois nutriam durante um bom tempo.
Jung viu em Freud a coragem intelectual que não viu em seu próprio pai. Freud representou-lhe a potência da figura paterna que lhe faltava. Nisto Freud virou simultaneamente Mestre e Pai. Jung virou seu Discípulo e seu Filho. Tão logo para virar o príncipe da psicanálise. Essa relação tão terna logo viraria um jogo cruel.
Jung gostava de estudar os fenômenos espirituais, acreditava no inconsciente coletivo - legado psíquico da humanidade - e também tinha uma teoria mais geral da libido. Já Freud via isso como traição a sua teoria, não gostava dos fenômenos espirituais - tidos como arcaicos - e tampouco gostava do rumo que as teorias de Jung iam tomando. Tudo isso levou a uma separação radical entre os dois que eram outrora tão próximos.
Uma história interessante, seja a nível biográfico, seja a nível intelectual. Certamente pode levar a questões que revelam a densidade psíquica de ambos e o que ambicionavam em suas vidas. Também se poderá ver as limitações que cada um apresentava e as suas fraquezas, seja como seres humanos, seja como intelectuais.
O que demonstra que a vida intelectual não é só um apanhado de observações de homens distantes. Ela é carregada de afetos de todos os tipos. E as crenças, igualmente depositárias de identidade (eu plural), afetam-nos de modo que nem sempre conscientemente sabemos.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud - Considerações Finais"
Chegamos finalmente na análise do capítulo final. Optei por fazer uma análise em forma de série para testar um formato mais expansivo de análise. Um formato em que fosse possível ter "textos maiores" no diminuto espaço que essa plataforma permite. Para tal, selecionei alguns livros em que se poderia aplicar tal formato de "análise em série". (Pretendo fazer outras).
Neste capítulo, somos apresentados a conclusão do que chegou a ser a obra de Freud. Quais seriam as mudanças paradigmáticas apresentadas pela conjunção de sua obra. E, certamente, Freud realmente foi propulsor duma revolução paradigmática em vários campos devido a sua mudança de fontes.
Até no tempo de Freud, a psicologia - além de outras áreas do conhecimento humano - eram reflexos do pensar teológico. A principal mudança que Freud promove é uma psicologia baseada não em fundamentos sobrenaturais, bíblicos ou religiosos. Tal troca foi de fundamental importância para o desenvolvimento da psicologia moderna, não só dela como também de outras partes do conhecimento humano.
Freud também trouxe um olhar mais aprofundado na sexualidade. Tema muito essencial e pouco estudado. O que o colocou numa série de polêmicas devido a mentalidade pouco dialógica da época. Essa também foi uma contribuição de Freud.
Outra, a que mais me encanta, é a noção de que muito de nós nos escapa. E que devemos estudar metodologicamente a nós mesmos para que não sejamos controlados pelas nossas parcelas inconscientes. Esse entendimento possibilita um desenvolvimento rumo à maturidade e maior integração unitária de nossa consciência.
Esse livro é bastante simples, porém coeso e apresenta uma série de informações que podem levar o leitor ter um olhar mais próximo da psicanálise e, quem sabe, tornar-se um dia um psicanalista.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2023
Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud: capítulo 7 - Aplicabilidade da Psicanálise no dia a dia Profissional e Pessoal"
Se nos perguntarmos onde se encontra a psicanálise como hermenêutica mundividente encontramos a maioria das suas teorias envoltas não só naquilo que é manifesto, mas também naquilo que é considerado latente. O terreno do não dito, expressado de modo inconsciente, é o terreno psicanalítico por excelência.
O arcabouço psicanalítico é, por sua vez, uma forma de buscar uma análise que, dado após dado, possibilita uma interpretação que leva ao conhecimento narrativo das partes que constituem a pessoa de forma unitária. A desfragmentação, gerada após uma coleta minuciosa de dados, é o dever cabal da técnica psicanalítica.
Graças a este aparato, a psicanálise traz consigo não só uma capacidade de autoanálise, permitindo que vejamos com mais pormenoridade a nós mesmos, como igualmente nos dá instrumento para a percepção mais íntegra do outro em seus atos e falas. O que é, sobretudo no terreno latente, algo impressionante.
Neste capítulo, vemos a importância da psicanálise para locupletação daquilo que nos escapa. Diminuto em seu tamanho, conquanto que profundo em sua forma, traz em seu seio a semente daquilo que um psicanalista perceberá durante a sua prática analisante.
segunda-feira, 25 de abril de 2022
Acabo de ler "História da Psicanálise" do Dr. Anselmo Matias Limberger
Estudar psicanálise vem sido um processo de expansão do horizonte de consciência, ao menos o é em meu caso. Como trabalhei com um autor tradicionalista em meu TCC, e Freud está longe de ser um tradicionalista - seria melhor colocá-lo como "antitradicionalista" -, vejo que venho desenvolvido muitos questionamentos e descobertas intelectuais.
Estudar psicanálise sempre se torna algo que envolve autoconhecimento. É por isso que fico cada vez mais receoso. Talvez meu ego venha trabalhado para que eu não tenha a revivência do trauma, coisa que seria explicável pela própria teoria psicanalítica. Quanto mais estudo, mais percebo que tenho que avançar. E venho descoberto muita coisa sobre mim mesmo e me tornado mais empático, embora mais consciencioso com a atuação alheia - sim, tornei-me mais crítico e, quiçá, um pouco mais chato.
Uma das coisas em que fui mais impactado é com a "doutrina da vontade". Longe de pensar que um melhor controle da vontade seria autossuficiente para a propulsão de um melhor viver, questiono-me sobre a nossa capacidade de "controlar" essa vontade que nos escapa. Se grande parte da vontade escapa ao nosso controle devido ao fato do inconsciente, só se pode haver mais poder sobre a vontade quando a autocompreensão aumenta. Só que nossa autocompreensão é algo de que nós próprios inconscientemente fugimos. Tudo isso impacta fortemente a forma com que vejo o mundo.
Também ficar catalogando as ações humanas e tentar entendê-las por véus ocultos se tornou uma mania a qual não consigo fugir. E embora fosse mais fácil não prestar atenção, minha atenção expandiu-se e continua a expandir-se em demasia. Torno-me aquela medonha pessoa que parece atenta para os movimentos mais sutis, causando um pouco de medo - e o medo de ser julgado é algo demasiadamente humano. Tenho medo de causar receio com minha própria pessoa. Ainda bem que a psicanálise me deixa, ao mesmo tempo, mais empático.
No fim de tudo, vejo que me tornei um tanto mais adulto e capaz de ter um maior controle sobre a minha vida. Embora também mais cético.
Intimidação a Si #3 - Medo de Palhaço
1. Tenho medo de palhaços. Se a minha essência é palhaçada, nada que digo é palpável ou substancial. É tudo mera zombaria de minha imitação deformada. Sendo sempre cômico, nada que vem de mim é amável e nada se espera de mim além disso: meu amor causa risada, meu choro causa risada. Se até minha tragédia é piada, como posso desejar uma mulher ou um homem bonito?
2. Vendo-me desproporcional, vendo-me como calvo, toda forma que me vem é ridícula. Sou sempre deformado, calvo e feio, sempre propício ao circo. Sou ridículo e ridicularizável. Essa é a minha maldição: ninguém vê no palhaço mais do que objeto de riso.
3. Toda vez que me lembro de um palhaço, a próxima forma que me vem a mente é de minha imagem de criança a chorar. Só posso sofrer bullying e toda minha seriedade é convertida em burrice, já que só posso ocasionar risada e a seriedade escapa de minha essência cômica. É por isso que travo ao ver uma mulher bonita: sou a piada e não o mágico.
4. Nasci em dez de dezembro, o destino tira sarro de mim. No dia do palhaço, vejo que só posso ser feito de piada. Faço todos tirem, menos a mim mesmo. Lembro-me até mesmo de uma tia que fazia todos rirem, só que quando fez uma cirurgia para agradar a si mesma, morreu.
5. O palhaço não pode ser academicamente sério, toda teoria descamba na essência em que o veem e na essência que ele mesmo se coloca - mesmo que inconscientemente. E quando rirem de suas ideias, ele se lembrará palhaço e eternamente palhaço. O palhaço não pode ser sexualmente desejado. Ele tem que parecer disforme e tudo que faz beira a disformidade. Só o que me sobra é a frase: "você faz as pessoas rirem, Gabriel". Eu não posso fazer as pessoas me amarem, me desejarem ou até me acharem inteligente. Estou sempre numa palhaçada unidimensionalmente trágica.
terça-feira, 12 de abril de 2022
Psicologia Aplicada de Freud - Capítulo 2: A Relação dos Sonhos com o Inconsciente da Mente
Nesse capítulo, somos apresentados ao ID (princípio de prazer), Super Ego (vigilante da moralidade) e Ego (princípio de realidade). Eles nos ajudam a compreender ainda mais o drama mental que passamos, em suma maioria das vezes inconsciente. E já que a maior parte dos nossos dramas se passa inconscientemente, estudar eles dá um certo grau de autonomia e autocompreensão.
Outro tema abordado, já sendo o principal, é de que nossos sonhos nos dão a pista de como está a nossa situação mental. Só que para a interpretação correta dos sonhos, outras coisas devem ser conhecidas: a própria vida do sujeito que é analisado. Já que existem coisas que existem, só que não temos acesso direto por estarem depositadas em nosso inconsciente. Elas não são só memórias, são igualmente pensamentos e sentimentos que guardamos por serem fortemente traumáticos demais para conseguirmos lidar.
Freud queria adentrar nesse estranho mundo do proibido. Para tal, buscou diferentes métodos: hipnose, interpretação dos sonhos e associação livre. Como a natureza desse proibido se revela na própria vivência pessoal, ele é variável e requer dado grau de formação específica - seja para análise do outro e de nós mesmos. Esse proibido é verificado endogenamente e/ou exogenamente. Todo esse drama ocorre sempre, de formas variáveis, com ou sem a nossa abertura a (auto)análise.
De qualquer forma, é magistral a forma que Freud abordou tal problema. Tendo em mente que a maioria deles não está sobre nosso controle direto e temos que aplicar grande esforço, a psicanálise torna-se uma vitória no campo da (auto)compreensão humana e uma realização pessoal naquele que a pratica, já que esse tem acesso a frase do Oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo". A psicanálise é o esforço e a coragem de enfrentar o drama interior sabendo que ele é de difícil acesso e requer tempo, embora a "salvação" sempre seja algo de gratificante.
terça-feira, 5 de abril de 2022
Intimidação a Si #1 - A Fuga da Terapia
"Viver fugindo de minha própria realidade é, notoriamente, o meio de sublimação que meu aparelho mental encontrou para fugir da limitude de minha angústia. O meu medo direcionado à psicólogos e psiquiatras era e sempre foi o medo da autodescoberta. Por conseguinte, uma defesa repressiva mental para fugir do inferno da revivência do trauma. Por vezes, é preciso dizer a verdade mais cruelmente íntima, mesmo que a revivência traumática seja inicialmente bestialogicamente enfadonha".