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quarta-feira, 2 de julho de 2025

Acabo de ler "The Internet and Psychological Operations" de Angela Maria Lungu (lido em inglês)

 


Nome:

The Interner and Psychological Operations


Autora:

Angela Maria Lungu


Qual seria a melhor forma de conduzir guerras na era moderna?


Opção A: invadir um país e destruí-lo por dentro gastando uma série de recursos;


Opção B: fazer uma operação psicológica a distância e deixar que o inimigo destruir a si mesmo.


Evidentemente, a opção B deve ser feita. E, em último caso, a opção A é viável. Os estudos modernos vêm sido grandiosos no detalhamento da guerra informacional. Eles variam desde pequenos grupos operando em vários sites e fóruns ou até mesmo sites de informação falsa. Vários países do mundo têm atuado dessa maneira. Os Estados Unidos não é uma exceção a regra, mas um dos principais vetores dessa prática.


Em última instância, vivemos numa época em que a informação é onipresente. A conexão mundial da Internet fortalece tal onipresença. Quem ganha a guerra é quem possui superioridade informacional. Vivemos numa era da guerra informacional e usam a informação para gerar novas e novas formas de mudança comportamental. A diferença é que agora tudo isso pode ser feito a uma distância razoável.


Em vez de produzirem diretamente milhares e milhares de drones para invadir um país, pode-se antes disso produzir uma equipe técnica que é capaz de produzir várias informações ou conduzir as informações de modo favorável. Isso leva a uma redução sem precedentes dos custos da guerra. A guerra atinge, antes disso, o coração e a mente. Isso é melhor do que ficar soltando tiros.


Nesse pequeno artigo — ele possui só trinta páginas — podemos ver a possibilidade de emprego tático de operações psicológicas em videogames, streaming, chats, fóruns, mensageiros instantâneos. Tudo isso é fortemente considerado para gerar uma nova forma do ser e do agir da guerra.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Liberal Education’s" de Rachel Alexander Cambre (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome:

Liberal Education’s Antidote to Indoctrination


Autora:

Rachel Alexander Cambre, PhD


O sentido original da palavra doutrinação era "ensinar". Há um tempo atrás, uma boa doutrina queria dizer "bom ensinamento". É evidente que tal aplicação linguística não é mais comum hoje, visto que a linguagem está circunscrita ao âmbito da aplicação social e tem uma base sociológica. Não é possível construir uma utilização da linguagem sem considerar a base sociológica da linguagem. O imaginário social impacta na compreensão da terminologia empregada. Há uma fundamentação social e histórica, uma fundamentação sociohistórica, no emprego da palavra doutrinação. O termo passou a se referir aos processos formativos de militância ideológica no século XX empregado por estados totalitários. 


A autora estudou, para a construção da explicação do termo doutrinação, o pensamento do Aleksandr Solzhenitsyn e sua documentação a respeito dos Gulags na extinta União Soviética. As características básicas apresentadas na doutrinação dentro da União Soviética eram três:

1. Implantação de pensamento;

2. Simplificação;

3. Mecanização.


A doutrinação trabalhava com "novos fatos" e habilidades, esses novos fatos e habilidades contrariavam os fatos antigos e as habilidades antigas. Ou seja, eles surgiam por uma nova construção narrativa da história ao lado de uma aplicação de novas técnicas intelectuais. Esse processo era mecanizado para ter um funcionamento autônomo e garantir uma continuidade.


Existia conjuntamente uma felicidade da simplificação ao lado de um prazer da redução. O fundamento da doutrinação é distorcer a percepção da realidade por meio da distorção da própria mente. Uma mente incapaz de perceber os múltiplos traços da realidade é incapaz de perceber a complexidade da própria realidade. No geral, a complexidade da realidade já espanta psicologicamente a mente humana e a mente humana se predispõe à alienação doutrinatória.


A questão é: o doutrinador tem diante de si uma pessoa que sofre e necessita de uma simplificação para o mundo que não suporta. Usualmente essa simplificação comporta uma crítica ao mundo e um anteparo para com o doutrinado. O doutrinado se vê desculpado ante ao próprio fracasso da concretude da sua vida. Conta, diante de si, uma capacidade analítica reduzida para esmiuçar as razões do seu fracasso através de mecanismos externalizantes que culpam o mundo. É evidente que no jogo da complexidade do real, a própria culpa e a culpa da estrutura do mundo se mesclam e se confundem num infinito incomensurável.


A doutrinação trabalha com a redução da complexidade através de um conjunto monolítico de ideias que são usadas repetidamente para a diminuição da complexidade do mundo em conjunto com a redução da possibilidade mesma de visões alternativas de argumentos e perspectivas. Até porquê a doutrinação é um mecanismo racionalizante que visa colocar o doutrinado numa posição de superioridade moral, incapacidade de "autoculpabilinização" e defesa contra qualquer outro mecanismo que contraste com essa visão distorcida de realidade que tanto leva a um prazer para com a própria atuação moral dentro do mundo. Em outros termos, o mecanicismo do doutrinado é uma defesa contínua contra qualquer outro pensamento que leve ao desmoronamento da retroalimentação da sua própria condição alienante.


A partir do momento em que a doutrinação se instala, a pessoa íntegra os novos fatos e habilidades intelectuais como mecanismos de autopreservação. Esses mecanismos de autopreservação do doutrinado se integram a sua própria personalidade e passam a integrar o modus pensandi (modo de pensamento) e modus operandi (modo de operação) automaticamente. Levando a incapacidade de complexificação do processo de pensamento, visto que essa complexificação é vista como nociva e tradutora da crise antecedente ao processo de doutrinação que o alienou da realidade. Em palavras mais precisas, a complexificação do pensamento – abarcando novas linhas – levaria inevitavelmente a uma condição em que a complexidade da realidade ressurge como aquele monstro que anteriormente apavorava a pessoa que foi doutrinada.


O doutrinado não quererá algo além da própria alienação. Visto que a alienação o protege do mundo que o apavora. Nesse sentido, a construção de uma vida intelectual mais autônoma – contrariedade dos fatos – leva a uma perda da segurança psicológica. Essa perda da segurança psicológica é encarada como automaticamente nociva. Logo a perda da capacidade de elevação da intelectualidade por meio da acoplação de múltiplas linhas de interpretação para uma visão mais abarcante da realidade é vista por si mesma como nociva. Algo ao qual o doutrinado deve se proteger, mesmo que esse processo ocorra inconscientemente.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 4 Final)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


Deslocar a saúde do âmbito do sujeito histórico e espacial é deslocar a saúde da própria existência concreta enquanto tal. Haja em vista que os sujeitos não estão alheios a historicidade que lhes molda. A intersubjetividade – relações sociais – impacta na intrasubjetividade – psiquismo – e esse fator não deve ser desconsiderado.


A existência psicológica do ser também é a existência social do ser. Existência social e existência psicológica coexistem e influenciam uma na outra. É necessário compreender as práticas sociais – formação sociológica – que fomentam um indivíduo. Nisso entramos até nas práticas de institucionalização. O estudo da psicologia e da sociologia é, então, um compromisso que nenhum profissional poderia ver como isolado, mas como componente teórico vital. Todo indivíduo é fruto de processos sociais, todo indivíduo é fruto de acontecimentos histórico-sociais e esses mesmos acontecimentos criam nele práticas e construções subjetivas. Nenhum ser é uma ilha, mas está integrado numa estrutura e não pode ser abstraído por completo dela sem se tornar uma abstração.


No que tange a formação de pessoas do curso de psicologia, não há uma formação qualitativa para abordar questões de gênero e sexualidade. Tal debilidade é muitas vezes correspondida por duas vias: o estudo particular ou o conformismo diante dessa situação. O tratamento empático – que é central na saúde – não pode cair no "freestyle" e tampouco no "conformismo" sem levar a uma perda da qualidade técnica da própria prática dessas profissões. Também é necessário reconhecer que historicamente a psicoterapia teve um papel de patologização de pessoas não heterossexuais. 


É preciso uma formação sobre gênero e sexualidade para uma melhor atuação dos profissionais de saúde, só assim será possível que cada um reconheça a situação adversa que se encontram pessoas de gêneros e sexualidades distintas da maioria. Isso ajudaria a erradicar a desigualdade. 

domingo, 29 de setembro de 2024

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 3)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


A maioria dos bissexuais preferem não informar a sua orientação sexual. A possibilidade da pessoa bissexual ser considerada heterossexual ou homossexual – incompreensão típica – leva a esse comportamento. A violência verbal não é só uma forma de xingamento, ela também é uma forma de desqualificação. A principal violência contra a pessoa bissexual é o de não reconhecimento da sua própria existência.


O rechaço social pode ser considerado o principal problema para a existência de minorias sexuais ou de gêneros. Quando se fala de homossexuais, há uma ampla cultura gay e uma ampla cultura lésbica. Há todo um mundo que serve de amparo e de sistema de significação. Quanto ao bissexual, nada lhe acolhe e nada o retém. O que significa que não há espaço e nem senso de pertencimento, só a velha bifobia de sempre.


Ser bissexual é sobre isso: ser apagado em todos os locais, em todo instante, a todo momento, tentando provar a própria existência ante a uma sociedade heterossexista e monossexista. O principal efeito: incapacidade de se expressar, de experimentar, se chegar a novos conhecimentos sobre si mesmo e sobre a própria orientação sexual. Proibidos de existir, impossibilitados de ser.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 1)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


A problemática da saúde da pessoa bissexual se insere em um contexto bastante específico. Esse contexto específico é um processo sociohistórico em que a invisibilização e valoração negativa operam como mecanismos antagônicos para regular o exercício da sua sexualidade. O que faz com que indivíduos bissexuais apresentem maiores danos mentais a sua saúde mental que gays e lésbicas.


Os problemas advindos da bissexualidade são particulares. Se a invisibilização das pessoas bissexuais implica em problemas de saúde específicos, então essa deveria ser tratada a partir de um cuidado com a consciência social. Essa questão deveria entrar no âmbito da psicoterapia. O reducionismo nas práticas dos profissionais de psicoterapia pode levar a um agravamento da questão, levando ao fortalecimento das situações de crise.


Os profissionais de saúde devem compreender que estão dentro de uma estrutura social. Essa estrutura social dá suporte a comportamentos adoecedores. Não tratar essa questão de fundamentação sociológica pode fazer com que os adoecimentos continuem por motivos sociais, levando a um empobrecimento das técnicas e avanços dos próprios profissionais de saúde. O profissional de saúde tem, para si, um dever dentro da sociedade. E esse dever não é puramente biológico, mas também sociológico, psicológico e filosófico: o de combater efeitos sociocolaterais de dados comportamentos sociais. A neutralidade – se furtar ao combate intelectual numa sociedade marcada pela injustiça – é uma forma de fugir do próprio dever enquanto profissional. Em outras palavras, a compreensão sociohistórica da formação patológica e seu combate as desigualdades e opressões reinantes não é um mero acessório ou um esforço adicional, mas deve ser uma prática dentro do próprio ofício do profissional de saúde.


Um olhar de ahistoricidade da formação patológica pode fazer com que se preserve uma sociedade adoentada e adoecedora, levando a inutilidade do próprio exercício e função da saúde. É combater os efeitos e não as causas – e grande parte delas são sociais.  A saúde é uma necessidade humana, e essa necessidade de saúde não é só física, ela também é mental. É por isso que a saúde tem que ter um esforço para compreender e assimilar explicações sociohistóricas do estado mental das pessoas. 


A questão da saúde da pessoa bissexual se aprofunda em múltiplas vias, são essas:

– Invisibilização:

Bissexuais são tratados como inexistentes, o que impossibilita uma identidade socialmente reconhecível. Sendo julgados como homossexuais ou heterossexuais. 

– Rechaço na comunidade heterossexual e LGBT:

Bissexuais são atacados por héteros e outros integrantes da sigla LGBT. Seja sendo vistos como traidores, seja sendo vistos como incapazes de um relacionamento monogâmico, seja sendo considerados como "instáveis" por não entrarem no sistema binário (monossexual).

– Inferiorização e Sexualização:

A mulher bissexual corre o risco de entrar na "caçada aos unicórnios" – casais procurando uma terceira pessoa para ménage – ou homens procurando uma "mulher liberal". O homem bissexual pode ser enquadrado como gay ou ser tido como "menos homem" – a masculinidade hegemônica é um esforço contínuo para reforçar a masculinidade o tempo todo, mas essa masculinidade hegemônica é heterossexual, ativa e "macho" (estereótipo) –, o que pode levar a complicações sociais.


A saúde mental das pessoas bissexuais é atacada sempre. Todos os dias. Em todos os locais. Seja no hegemônico (heterossexual), seja no não-hegemônico ou contra-hegemônico (LGBT). A não compreensão desse fator, além de casos mais graves como tentativa de "cura", pode levar ao desencadeamento de crises. 

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 8 Final)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


A militância tem um problema linguístico que leva a ausência de resolução entre o "eu" e o "outro". Entre "nós" e "eles". Se a linguagem em si mesma de perde, como é possível a comunicação? Teríamos duas emissões de códigos incompatíveis e nosso esforço se daria como frustrado. O exercício da linguagem requer um exercício de compreensão da própria linguagem. Há aquilo que pode ser chamado de "Outro-Self-Objeto", que é uma negociação simbólica entre membros de uma comunidade para a compreensão mútua – formação do "eu plural".


O self tem várias partes. A comunicação do self consigo mesmo já é bastante difícil – Jung falava bastante sobre a integração do Self, uma espécie de plenitude de si através da unidade de si. Em psicologia sabemos da confusão entre o "ego" e o "self", além da dificuldade de sermos sinceros e compreensíveis com nós mesmos. Se já é difícil a autocompreensão, o encontro de um self com outro self é ainda mais difícil. É por isso que a comunicação corre sempre o risco de se perder. O esforço comunicacional pode ser um esforço deficitário, visto que poderia ser visto como um jogo de tênis em que a bola representa o diálogo. Não há uma integração de jogador-jogador, apenas uma troca. E essa troca nem sempre é correspondida.


Temos dois principais problemas comunicacionais: o do "eu" consigo mesmo (comunicação self-self) e do "eu" com o "outro" (comunidade self-com-outro-self). Há outra consideração: as experiências intersubjetivas adentram em nós e se interiorizam, criando um tensionamento intrasubjetivo. Não somos alheios ao ambiente, muito pelo contrário: as pessoas e o ambiente em si mesmo sempre nos impactam e logo são percebidos afetivamente. E essa afetividade, positiva ou negativa, marca o nosso modo de pensar e de ser. 


Esse artigo, tão interessante e complexo, demonstra a grandiosidade da pesquisa de gênero e sexualidade. Não só ela, como é possível perceber que existem questões filosóficas, científicas, epistemológicas, psicológicas, sociológicas, políticas, culturais, dentre tantas outras ciências e assuntos. Logo o estudo da sexualidade e das questões de gênero é complexo e rico.

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 7)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


Dizer que não há nenhuma relação entre o campo de pesquisa e o pesquisador seria uma afirmação estranha e errônea. Toda ciência apresenta um ponto de vista e um enquadre normativo, logo é evidente que não há uma neutralidade. Muitos questionam a pesquisa militante tendo como base o seguinte argumento: "a pesquisa militante não é pesquisa por não ser isenta de imparcialidade". Esse argumento só poderia ser falso: nenhuma pesquisa apresenta isenção completa de parcialidade. Toda pesquisa é motivada por conta de uma experiência sentida como inquietante. Logo há sempre um movimento afetivo na natureza do pesquisador.


O que move a pesquisa, se não o inquietante? Para muitos brasileiros, dizer isso pode até mesmo soar contraditório. Muitas vezes a realidade da vida de estudos, sobretudo nas instituições de ensino, ocorre de uma forma impessoal. Somos obrigados a digerir uma série de conteúdos que, em grande parte das vezes, não está correlacionado ao nosso âmbito de interesses. Essa ausência de conectividade usualmente gera um desinteresse geral pela vida intelectual. O que explica, em parte, a ausência de mais intelectuais no Brasil e o fato do Brasil não ser intelectualmente mais ativo – refletindo em nossas pontuações gerais.


O mundo sempre nos surge através da alteridade. Há sempre uma experiência de ruptura ou de descontinuidade em nosso horizonte. Essas rupturas que vão surgindo criam em nós uma experiência afetiva de inquietação. Há, então, uma lacuna entre a expectativa e a experiência (expectativa-experiência). O movimento do pesquisador pode ser encarado como um meio de reduzir esse desconforto e essa angústia. O pesquisador  tenta reorganizar o significado da experiência, para que possa reduzir a tensão por meio de confirmações e encaixes.


A pesquisa não é e nunca será neutra. A pesquisa é uma participação observante. Quem pesquisa, insere-se no meio da sua pesquisa. Não só se insere, atua e modifica o meio de onde de inseriu. A ideia de pesquisa neutra, a chamada neutralidade, não passa de uma forma de imposição narrativa. Vindo de um "ponto imparcial", há a justificação soberana de algo. Logo, vem para o "terreno da inquestionabilidade". Se alguém quer ser inquestionável, sua ação em si mesma já é questionável e parcial. 


Só que restará ainda uma dúvida: se é impossível uma imparcialidade, o que ditará a pesquisa? E dessa dúvida surge outra: a pesquisa não corre o risco de se tornar uma narrativa de dominação? A resposta é: a militância dialógica tem como ferramenta teórica-metodológica a multiplicação dialógica. É a interação de um self com o outro que possibilita vislumbrar as lacunas existentes. É compreendendo a dinâmica do eu e do outro. 

domingo, 22 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 6)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


Se o grupo hegemônico detém a maioria das estruturas que regem a sociedade, é mais fácil a ela se utilizar dessas estruturas. A luta da contra-hegemonia contra a hegemonia estabelecida não é uma luta entre opostos equivalentes, mas entre grupos que possuem um desnível entre os seus poderes – sendo o grupo hegemônico bem mais poderoso. Não raro, ao ver o seu poder ameaçado, o grupo hegemônico se utiliza dos aparatos da hegemonia para cercear a liberdade discursiva do grupo contra-hegemônico por meio da repressão.

Como dito na análise passada, a busca da militância não é uma busca simples. Ela é uma busca por transformação social e mudança das estruturas sociais. Essa pavimentação – transformações sociais – não pode ser conseguida a curto prazo, mas dependem de um trabalho longo e complexo. Ademais, existe a possibilidade de vitórias de curto-prazo, onde existe uma reversibilidade das conquistas anteriormente feitas.

A questão da militância vai além do que se quer mudar na sociedade e no outro. Ela também se direciona a nós. O que há em nós que reproduz a própria opressão ao qual estamos sujeitos? Não raro, deparamo-nos com racismo internalizado, homofobia internalizada, transfobia internalizada, bifobia internalizada, gordofobia internalizada. Há sempre um fantasma, um fantasma dos velhos hábitos de uma sociedade doente. Uma doença inconsciente que existe em cada um de nós, mesmo no mais dileto dos militantes. Todo o processo de formação endocultural não pode ser "resolvido" de uma hora para outra. A dialética da militância, então, também assume uma condição de processo metanóico dentro do próprio militante. O militante passa para uma desconstrução e vai aprendendo uma nova identidade, um novo modus vivendi e modus pensandi.

A militância também deve encarar uma questão e o militante um autoquestionamento. Ao ver a sociedade como passível de mudanças, podemos cair no erro da proteção egóica. Ou seja, na tentação de mudarmos a tudo sem mudar a nós mesmos, tornando-nos tiranos. Fora isso, a tensionalidade da militância envolve a própria militância em suas diferentes linhas teóricas e estratégicas. Como podemos ver, a militância é um fenômeno complexo e multifacetado, além de multitensional.

sábado, 21 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 5)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


Existem muitas formas de pensarmos a sociedade. Se a sociedade é a construção de vários desejos, de teses que foram aceitas e configuradas hegemonicamente pelas forças sociais, as forças sociais antagônicas possuem outros desejos e outras teses – só não possuem a hegemonia. Se pensarmos a sociedade existente como a tese e a militância como a antítese, teremos algo interessante. A antítese – a militância organizada – deve se sobrepor a tese e se fazer, por si mesma, a hegemonia. Feito esse que depende dos meios de produção cultural e a reformulação da sociedade a partir da reconstrução eidética desses meios.

A tese pode ser encarada como "aquilo que já existe" e a antítese, em seu processo reformador, como "aquilo que não existe". Em outras palavras, o "mundo criado" e "mundo que se deseja criar". O primeiro passo a ser dado é o de perceber que as estruturas sociais existentes não existem naturalmente, mas são fenômenos criados e mantidos pela hegemonia em todos os seus aspectos de reprodutividade. Essa reprodutividade é atacada a partir da destituição dos meios que mantém essa mesma reprodutividade, seja subvertendo a sua finalidade de conservação dessa hegemonia, seja na reformulação ou recriação com outros fins.

A militância deseja recriar a sociedade. Um ato isolado, vindo de uma ação não conectada, não é de caráter suficiente para tal. A militância visa, antes de qualquer objetivo particular, a reformulação da estrutura social e essa estrutura social só pode ser reformulada a partir de uma ação social – logo é inerentemente coletiva. Partido da realidade social, parte-se necesariamente da relação do "eu" e "nós" contra "isto" ou "eles". Essa relação implica em uma identidade, um grupo, um ser-estar no mundo e um processo relacional com esse mesmo mundo. A relação do militante é profundamente sociológica e psicológica.

A militância toma a realidade existente como ruim e passível de mudanças. Na relação eu/nós–outro/outros há um tensionamento dialeticamente constante: a quantatividade das forças existentes, a qualidade em que a identidade se manifesta no espaço – sobretudo o público (maior hegemonia) – e o seu exercício nos espaços de poder. A militância existe para quebrar o nexo contínuo da estrutura que existe. Ela quer por um fim na forma com que as relações estão – isto por julgá-las injustas.

Militância implica em julgamento. O julgamento sempre implica em juízo de valor. Em última instância, a questão da militância é: o que é desejável e o que é indesejável? Essa questão da desejabilidade carrega uma intencionalidade coletiva: o que é desejável para "nós" e o que é desejável para "eles". Nesse conflito de interesses os sujeitos estão sujeitos a gravitacionalidade que rege a força dos distintos agrupamentos sociais em sua capacidade de fazer com que o seu interesse se manifeste ou prevaleça.

Na sociedade, a hegemonia é dos dominadores e a contra-hegemonia ou resignação é dos dominados ou oprimidos. O grupo hegemônico ou os grupos hegemônicos tem um poder estrutural – isto é, sistemático – para fazer valer o seu interesse. O grupo não-hegemônico é naturalmente marginalizado, podendo se potencializar e criar um movimento marginal em que se seja questionado o centro (a configuração do poder onde se alicerça a hegemonia).

O resultado de uma intervenção do grupo não hegemônico é diverso, mas podemos traçar três hipóteses: (I). não surge efeito; (II). um timing (tempo) para a concretização do plano do grupo contra-hegemônico enquanto o grupo hegemônico tenta atenuar os esforços do grupo contra hegemônico; (III). resultados inesperados para o grupo interventor visto a dinamicidade líquida dos sistemas sociais.

As estruturas sociais não são amorfas ou passivas. Toda militância é uma militância que focaliza questões estruturais. Se há uma estrutura, há quem se beneficiar direta ou indiretamente dela. Existem pessoas que se beneficiam diretamente de um estado de coisas, por mais deplorável que ele seja ou possa parecer. Isto é, a conservação desse estado de coisas é, para elas, a manutenção dos seus desejos e anseios.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 4)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


Muito tem se falado sobre militância na sociedade contemporânea. Alguns são contra, outros são a favor. Seja como for, não é possível ser generalizadamente contra a atividade militante e nem generalizadamente a favor da atividade militante. Tampouco se pode ser favorável ou contrário a todas as pautas defendidas por uma militância. Todavia o cerne da questão é: o que é a militância? A militância é, na verdade, um fenômeno que surge da realidade sociocultural na qual ela se insere.


A militância pode ser encarada como uma tentativa de abertura. Uma tentativa de abertura sempre incorre em uma problemática: a experiência sempre possui uma alteridade e a alteridade sempre implica em angústia e inquietação. Essa angústia, essa inquietação, sempre leva a um questionamento acerca da vida em si mesma. Além disso, a um questionamento sobre nossas preconcepções. É um tema complexo e, por gerar tantos efeitos sentimentais, bastante escorregadio.


Existe uma problemática na militância enquanto atividade. Essa problemática está no nível psicológico e pode ter efeitos sociais. O militante, querendo mudar a realidade existente, pode acabar se fechando a realidade que julga como injusta. Desse modo, a sua própria personalidade se torna estática – tal como aqueles que o militante usualmente critica. O militante corre no risco de cair num "reacionarismo atitudinal". É evidente que o termo reacionário está na aplicação mais pura do termo, isto é, aquele que reage. Logo a própria militância se perde, visto que deixa de ser um esforço ativo (afirmação de um mundo mais adequado) e se torna um esforço negativo (negação de um mundo injusto).  Essa negação fecha o horizonte vivencial do militante, encarcerado-o numa bolha. O militante, então, torna-se desprovido de criatividade e passa a frequentar os mesmos círculos, passa a falar com as mesmas pessoas, passa a ter ideias muito semelhantes – e cada vez mais fixas – aos seus semelhantes e, por fim, a habitualidade tribal e ritualística torna o grupo militante em um agrupamento fechado, estéril e, também, inútil. Essa é a militância monológica.


É interessante observar que a militância não é uma atividade esvaziada de sentido e que mesmo que não se encontre uma justificação geral das suas teses, ela ainda é um importante comportamento em nossa sociedade. A militância é um diagnóstico da estrutura e funcionamento de uma sociedade. Também é impossível que uma militância seja inteiramente fechada, visto que a militância sugere um comportamento social característico e todo comportamento social revela uma teia relacional. Pouco importa o tamanho de uma teia social, ainda há uma sociabilidade e essa sociabilidade se dá comunicacionalmente. Mesmo que dado grupo se demonstre como socialmente hostil, ele ainda é um grupo em coconstrução de sentido e ainda apresenta significados compartilhados. O ethos da militância é exatamente esse: criação de sentido, significado e experiência comum.


A militância deve ser dialógica, aberta, lacunar, capaz de significação e ressignificação. Ou seja, a militância deve ser uma atividade viva. E, para tal, deve ter uma "pulsão experiencial", uma capacidade de encontrar na alteridade uma possibilidade interagente. A militância aponta para uma possibilidade de mudança social, mas essa possibilidade é sempre marcada com o encontro com o desencontro. Foi a militância que levou a importantes conquistas de direitos no passado e é ela que determina a conquista de direitos no presente. Ela é sempre um convite, um convite ao diálogo com a sociedade e também um convite ao autoquestionamento do militante e do grupo militante. Logo ela não é uma espécie de "autocentramento", mas uma forma de praxis que afetam a própria militância em sua forma de agir com o mundo e pensar no próprio mundo.

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 3)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.

A militância bissexual tem como pauta a criação de políticas públicas voltadas as pessoas bissexuais. Essa militância é forjada por várias redes. É um eixo que unifica: (I) experiência pessoal; (II) experiência coletiva; (III) pesquisa. Isso gera uma significação e resignificação. A experiência pessoal se ressignifica a partir do contato com a experiência de outras pessoas, que também se ressignifica com o estudo teorético. O que permitirá gradualmente um avanço na profundidade teórica e prática dessa militância.


É o contínuo avanço da compreensão que possibilita o aumento da capacidade atitudinal. Prática (praxis) se junta a teoria, com uma ressignificando a outra em todos os momentos. A monodissidência possibilita uma outra possibilidade de análise que só é possível por pessoas monodissidentes. Ela permite que seja vislumbrado algo além das sexualidades já exploradas e analisadas a fio, aprofundando distinções importantes. O campo-tema explorado permitirá ver, com o tempo, mais questões não só da sexualidade, como também de tantos outros temas.


A questão central da comunidade bissexual, ainda hoje, é uma questão de identidade. Ou seja, a sua especificidade de se atrair por mais de um gênero. Quanto a isso, muito raramente se contempla a bissexualidade por sua especificidade. Contempla-se mais homens e mulheres homossexuais, mas não bissexuais. A pessoa bissexual é apagada de toda estrutura de pesquisas, de políticas, de grupos. Tendo que viver como uma espécie de fantasma. Sem mundos que se abram e possibilitem uma existência integral ou própria.


Tudo impacta em tudo, embora nenhuma parte seja tudo. A bissexualidade não é só uma forma de se enxergar e se relacionar com a sexualidade e o gênero, é também um movimento político. Toda orientação sexual tem uma história, um atravessamento, um tensionamento, uma intencionalidade, uma identidade, um "porquê". A história do movimento bissexual, tal como de qualquer outro movimento, é a história de uma consolidação de uma identidade. Uma das principais questões do movimento bissexual e do movimento monodissidente está na não-homogenização dos diferentes tipos de monodissidência.


A questão da militância dialógica é a questão da via do diálogo e da troca. Diálogo implica em diferença, implica em disparidade, implica também em desencontro. A relação "eu"-"outro" está e estará sempre conectada. Existe o "outro" que possibilita o desenvolvimento e crescimento do "eu". Existe o "outro" que impossibilita o desenvolvimento e o crescimento do "eu". A chave da polícia militante é a união entre aqueles diferentes que podem, junto ao outro, auxiliarem-se em sua missão.


A problemática – e a raíz da problematização – está no fato de que monodissidentes são fluídos. A militância, em seu sentido tradicional, muitas vezes se encontra em identidades bem construídas e bem definidas. A ausência de definição ajuda a levar a um natural apagamento. É por isso que a militância monodissidente não deve ser uma militância fechada, mas um outro tipo de militância. A militância monodissidente é uma militância dialógica. Ela não se encerra, ela tem a característica de apresentar várias pontas soltas, ela tem o detalhe de apresentar lacunas. E essas lacunas apresentam a capacidade de adentrar em variações teóricas que, em vez de reduzirem e impossibilitarem o seu avanço, aumentam a qualidade e sofisticação de sua síntese. Isto é, é pelo fato da militância monodissidente ser tão fluída que ela é tão rica em elementos distintos e essa riqueza de elementos distintos a tornam mais poderosa.


Quanto mais transmutável e permeável algo for, maior é a capacidade de uma articulação dialógica. Essa articulação dialógica aumenta o enriquecimiento teórico e prático. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 2)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente



Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.

O eu se constrói com o outro e em relação a esse outro. O processo da construção da subjetividade é relacional, isto é, se dá em relação ao outro. Só existe o "eu" por existir o "outro". A percepção do "eu" e do "outro" estão intrinsecamente conectadas. É a intersubjetividade – compartilhamento do espaço em meio ao diálogo, diferenças e contrastes – que determina quem somos.

A relação com o outro se dá no tempo-espaço. Essa relação é marcada por uma tensionalidade. Essa tensionalidade delimita quem pode fazer e o que pode fazer. Grupos hegemônicos estão sujeitos a crítica por terem maior detenção dos meios de produção cultural, podendo assim moldar a cultura e a aceitação dessa cultura.

Há quem reclame da militância por ela partir de um grupo particular e esse grupo particular estar longe da universalidade. A questão é: qual grupo humano não apresenta uma tendência universalizante para  com o próprio anseio? A realidade, para começo de conversa, não é encarada de forma objetiva. A realidade, e a percepção dessa mesma realidade, sempre implica em uma relação afetiva. Isto é, encaramos a realidade com doses de sentimentos pois essa mesma realidade dita a nossa sobrevivência. A realidade da sobrevivência não pode ser encarada como algo puramente objetivo, temos sentimentos para com a distribuição de recursos dentro da nossa sociedade. Tampouco a realidade cultural pode ser encarada de modo objetivo, visto que a marginalização de certos grupos leva a um sentimento de rancor e revolta – com implicações sociais tremendas.

É graças a essa influência sentimental do meio que todo pensamento é afetivo-cognitivo e que todo pensamento filosófico é, no fundo, psico-filosófico e não é possível chegar a um nível de objetividade completa. Toda análise fenomenológica revela, por mais denso que seja o esforço de quebrantar a sombra do "eu", uma subjetividade que constrói essa mesma análise fenomenológica. Ou seja, o desenvolvimento de algo está atado ao desenvolvedor desse algo em sua desejabilidade e toda argumentação surge com a coparticipação de um afeto. Não somos, e talvez nunca seremos, seres de julgamento imparcial. Visto que todo julgamento implica em nossa sobrevivência e em como seremos julgados – martizados, esquecidos ou aceitos – por nossa sociedade.

A relação de uma militância – um grupo desejante e epistemologizante – se dá por meio de uma série de trocas, tensões e negociações. Toda militância envolve poder, envolve política, envolve cultura, envolve economia, envolve igualdade, envolve justiça, dentre tantas outras questões. Essas relações se dão por meio de um conflito ou semelhança de interesses. Conflitos e semelhanças que surgem da relação com os "outros". É por isso que as pautas muitas vezes não avançam, visto que sempre estamos lado a lado com esse absurdo inigualável que é o outro.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 4 Final)

 


O que constrói a masculinidade?  Será a soma de privilégios ou a de encargos? Existe algo de "natural" e algo de social nessa construção? É possível uma abordagem 100% biológica ou 100% sociológica? Creio que ainda falta muito tempo – e estudo – para chegarmos a conclusões mais precisas. Todavia abordagens extremamente especializadas e que ignoram outros ramos, e outras teses, do conhecimento, deveriam ser descartadas logo de cara pelos seus particularismos.


O fato é que masculinidade hegemônica é prejudicial e restritiva para os próprios homens heterossexuais e possui enormes custos sociais que, se não reparados, levam a um oneroso custo social que muito dificilmente poderá ser corrigido sem uma correção só próprio entendimento da masculinidade.


Nesse trecho, poderia ser mais incisivo e detalhista. Todavia creio que eu choveria no molhado e apresentaria uma argumentação muito semelhante ao que apresentei em outras análises. De tal maneira, resolvi encurtar a análise e deixá-los com um texto breve.

domingo, 1 de setembro de 2024

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 2)

 


A natureza da hegemonia é cruel. É a partir dela que a maioria das opressões sociais se estrutura e se aplica. É o grupo hegemônico que pode, com sua força, definir até o que é normalidade. É ele que pautas as relações sociais, culturais e, até mesmo, econômicas. E é a partir dele que vemos o surgimento de vários papéis que devem ser desempenhados por nós performaticamente. A normalidade, em grande parte do tempo, é criada por uma estrutura de poder. Ela é produzida por uma narrativa, por um discurso. O reforço a normalidade em conjunto com a patologização são ferramentas coercitivas para preservar.


A hegemonia é criada pela intelectualidade, criada pela cultura. Ela é mantida pelos padrões culturais. No fundo, são as organizações intelectuais que mantêm ou destroem um determinado padrão. É evidente que isso depende da capacidade de dadas organizações intelectuais. Meios undergrounds não conseguem facilmente penetrar a massa e redefinir conceitos. Quem tem tal domínio, tem para si os chamados "meios de produção cultural". Para detê-los, se faz necessário grande poder financeiro ou o suporte do grande poder financeiro.


Em relação a hegemonia na esfera da masculinidade e do gênero, há uma correlação entre "poder masculino" e "heterossexualidade". Existem aqueles modelos de masculinidade que visam preservar as estruturas de dominação hétero-patriarcais e aqueles outros modelos de masculinidade que atuam contra essa estrutura. A grande maioria desses modelos de masculinidade são violentos, dominadores e agressivos. Visam, antes de tudo, a superação pela conquista, pela imposição e uma perpétua luta dos homens pela hierarquia. É absolutamente infeliz que a maioria dos modelos de masculinidade reinantes sejam sobre dominação e subordinação, isto leva a conflitos sociais perpétuos e rodas tautológicas de tortura sociopsicológica.


A estrutura hegemônica da masculinidade é tecida dia após dia. Regulada e gerida para articular: as experiências, as fantasias e as perspectivas. É a partir dela que as relações de gênero e sexualidade são refletidas e interpretadas. Ou seja, é a partir da matrix (homem, hétero, macho e ativo) que se inicia a reflexão do gênero e da sexualidade. Todos os outros pontos são ignorados ou violentamente censurados, seja pela força da lei jurídica, seja pela força da lei social – que, convenhamos, muitas vezes não são o mesmo. É dessa forma que vemos a natureza do movimento queer e do movimento heterossexual. Sendo o que o queer parte do estranho – contra-hegemônico – e o heterossexual parte daquilo que foi naturalizado – polo hegemônico.


São os ideias culturais os reguladores e gerentes, são os ideias culturais que criam e perpetuam. Para encontrar o modelo de homem reinante, basta ler a maioria dos livros, ver a maioria dos filmes, ouvir a maioria das músicas, assistir a maioria dos programas. O mesmo modelo – homem, hétero, macho e ativo – se repete exaustivamente, como num mantra imagético, adentrando imaginários e servindo como base inspiracional. É assim que se mantém, que se preserva, pela moldagem do imaginário, a hegemonia heterossexual. 

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Acabo de ler "Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia" de Mozer e Helder (Parte 4 Final)

 


NOME:

Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia


AUTORES:

Mozer de Miranda Ramos;

Elder Cerqueira-Santos.


Olhando bem, qual seria o problema de um homem ser "feminino"? Não é a mulher, junto a construção social da feminilidade, algo bom? Por qual razão a feminilidade seria algo ruim e deveria ser atacada ou inferiorizada? Quando a mulher se espelha em um homem ou nos modelos de masculinidade socialmente estabelecidos, ela não está demonstrando uma reverência a algo que admira em algum ponto? Quando um homem faz o mesmo, ele não está demonstrando a mesma reverência? Se não é algo admirável ou respeitável, ao menos faz parte de um ato de liberdade ou característica inata a uma subjetividade. Logo a repressão social quanto a isso não é uma repressão necessária, tampouco é desejável.


Feminilidade em um homem quer dizer uma negação a suposta superioridade do gênero masculino sobre o feminino. A sociedade estruturalmente hétero-patriarcal anseia: a superioridade do gênero masculino e a superioridade da heterossexualidade. O homem feminino tem uma negação: a da masculinidade. Mesmo que inconscientemente, mesmo que por uma "característica incorrigível", ele está negando os pontos que criam a estrutura do poder. A sociedade pode encarar isso por várias vias, mas mais particularmente duas: se é por escolha, o homem efeminado é subversivo; se é por natureza própria, é um desvio da natureza e deve ser patologizado.


Nos ambientes frequentados por homens bissexuais ou homossexuais, existe a prevalência de uma apreciação estética pelo modelo essencialista do homem heterossexual ultramasculino. Isso demonstra um ódio internalizado, seja para com a própria figura da mulher, seja com a própria sexualidade. Essa postura talvez seja fruto de um temor: o de ser martirizado por uma sociedade dominada pela hétero-matrix ou de ser confundido com a pessoa que tem relações ou até mesmo de ser tornada pública a imagem de homem efeminado. Até porquê as consequências sociais disso são enormes e incalculáveis, visto que há uma negação e marginalização sistêmica de todos aqueles que escapem daquilo que se considera como "normalidade".


Como diria o clássico conservador: "as ideias têm consequências". Quando um homem bissexual ou homossexual toma postura abertamente correlacionadas à hegemonia hétero-patriarcal, ele reforça as mesmas estruturas que sistematicamente o condenam, sendo artífice da própria destruição e estigmatização. Relegando-se a uma inferioridade que lhe foi imposta por homens heterossexuais. O que o torna socialmente mais fraco e mais vulnerável aos ataques diários de uma sociedade sexista e LGBTfóbica.

domingo, 25 de agosto de 2024

Acabo de ler "Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia" de Mozer e Helder (Parte 3)

 


NOME:

Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia

AUTORES:

Mozer de Miranda Ramos;

Elder Cerqueira-Santos.


O homem homossexual e bissexual para consumo é discreto para ser tolerável. Ele se aproxima repetidamente da heteronormatividade e se afasta da feminilidade. Se afasta de comportamentos que podem ser vistos como femininos e se aproxima da diluição completa de qualquer coisa que torne visível a sua homossexualidade ou bissexualidade. Em outras palavras, a homossexualidade e a bissexualidade masculina só são toleráveis quando são imperceptíveis. A cultura homonormativa, no âmbito masculino, é a negação contínua de aparecer ou se manifestar no espaço público. Ela também é uma afirmação do domínio da masculinidade e um ataque velado a feminilidade e a mulher. O que é bastante interessante, visto que é no espaço público em que o poder hegemônico se faz mais visceralmente presente e onde os grupos marginais mais são negados e estigmatizados por não estarem na hegemonia.

A conversão à hétero-norma é uma tentativa de adaptabilidade subordinada. Ela é uma postura que aceita uma realidade de domesticação. Uma postura que se demonstra dócil a um mundo dominado por heterossexuais e pela inebriante idolatria da masculinidade. Ela leva a uma autocrítica alienante e um ódio do ser por si mesmo – homofobia internalizada, bifobia internalizada, misoginia internalizada. Ela é uma amputação ontológica na medida em que homens bissexuais e homossexuais negam muitas características próprias, se autolimitando expressivamente, para se adequarem a um sistema corrupto que os marginaliza recorrentemente. Em outras palavras, ela é o compromisso com a derrota. Lembrando o velho ditado: "quando você aceita os termos do seu inimigo, você já perdeu faz tempo".

Como sempre, a densidade de camadas é tão sutil quanto o mais complexo esoterismo. Quando homens bissexuais ou homossexuais masculinos se ocultam numa cultura que sempre os invalidará, quem sofre é outro tipo de homem. Ao adentrarem no jogo da hétero-matrix, deixaram homossexuais e bissexuais efeminados caírem perante o martírio social e reforçaram os estereótipos de gênero. Nesse sentido, houve um rito sacrificial e um bode expiatório (o homem homossexual ou bissexual efeminado). Essa complexidade demonstra a própria perversidade da sociedade e os custos da idolatria da masculinidade.

A legitimização e deslegitimização nos jogos sociais apresenta uma tragédia: ela é feita com base num jogo interminável, sociológica e psicologicamente esgotante, em que a masculinidade deve ser provada o tempo todo e em todo momento. Quando um homem lhe acusa de não ser hétero ou macho o suficiente, você deve provar a sua masculinidade e heterossexualidade. O problema é que essa masculinidade o justifica existencialmente, anulando-o caso você não consiga cumprir os critérios das hétero-normas. Esse jogo social cria a cultura homonormativa em que a expressão cultural de homossexuais e bissexuais são uma paródia ou simulacro da cultura heterossexual. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Acabo de ler "Psicología evolucionista, el caso de las fobias" de Vários Autores (lido em espanhol)

 




Nome completo do artigo: PSICOLOGÍA EVOLUCIONISTA, EL CASO DE LAS FOBIAS

Autores: Troglia, Marisa; Gillet, Silvana Ruth; Fasciglione, María Paola

A teoria da evolução é uma teoria que afirma que existe um princípio de adaptação ao meio que se marca a partir da luta pela sobrevivência. É a luta pela sobrevivência que promove, não só a humanidade como todos os outros animais, a adaptação ao meio. A psicologia evolucionista, surgida a partir da teoria da evolução, propõe uma perspectiva integradora. Ela sintetiza a teoria evolucionista, a psicologia cognitiva e a psicologia aplicada. Ela serve para o estudo – e também o diagnóstico – da normalidade e da patologia.

As emoções têm um valor adaptativo para o indivíduo. Elas fazem parte dele por serem úteis e por facilitarem a sua sobrevivência. Uma explicação psicológica evolucionista da ansiedade é a de que ela é útil para detectar perigos no meio ambiente e promover respostas adaptativas. A ansiedade pode ser natural (advinda de perigo real) ou uma disfunção (advinda de defeitos genéticos ou uma variação). A função genética do medo é a de ativar e movimentar o organismo para enfrentar o perigo. Atualmente muitas das questões desenvolvidas por nós fazem parte de nossas características filogenéticas, mas não possuem muita validade numa sociedade em que o homem já domina muito do meio em que vive.

Somos preparados pela nossa história evolutiva (filogenética) para associar certos estímulos a certas respostas. A história evolutiva das espécies (seleção natural) tem inegáveis vantagens adaptativas, todavia ela sempre é uma incógnita. O ambiente é móvel, isto é, está sujeito a alteração. Logo podemos estar em vantagem ou desvantagem de acordo com nossa adaptabilidade.

Existe o conceito de preparação, no qual é apresentada a ideia de que o organismo está filogeneticamente preparado (através do processo evolutivo da sua espécie) para associar certos estímulos com relativa facilidade ou dificuldade (um mecanismo de cálculo), esses podem ser:
  • Seletividade: são ativadas quando entramos em contato com perigos que foram importantes na história da humanidade;
  • Fácil aquisição: são adquiridas num único ensaio e sem necessidade de um estímulo traumático;
  • Resistência a extração: é uma característica da "aprendizagem preparada", isto é, nossa disposição para aprender acerca de um perigo;
  • Irracionalidade: desproporção entre um perigo real e sua resposta proporcional em ansiedade.
As reações fóbicas, isto é, o medo ante a determinada situação ou objeto, foram transmitidas geneticamente. A razão é pelo fato de que os indivíduos portadores de certos medos foram mais capazes de sobreviverem e se adaptarem. Quando um evento acontece, uma reação emerge no organismo para esse evento. Essa é a linha da aprendizagem preparada. As variações genéticas, por sua vez, traçam que certos indivíduos tem maior potencialidade de adquirirem certas fobias do que outros. 

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Acabo de ler "Sacred Chaos" de Françoise O'Kane (lido em inglês/Parte 3)

 


Como o lado sombrio pode ser confrontado? O Self é a experiência mais imediata do divino. Todavia esse divino não é uma divino tomado de forma "absolutamente boa", o "divino" abriga uma espécie de substância caótica que é tão psicologicamente importante quanto a parte "sagrada". A má relação entre os dois polos (trevas e luzes) leva a um deslocamento psíquico. Se a má relação causa deslocamento, então a confrontação não é psicologicamente adequada. É preciso que exista uma estabilidade e uma integração.


Vivemos numa sociedade ainda cristianizada e faz parte da nossa cultura a repressão da parte considerada ruim. Essa repressão alimenta a nossa sombra, fortalecendo-a inconscientemente. Não estamos nos afastando do "mal", mas colocando-nos impotentemente ante a sua secreta influência. Dentro do psiquismo, bem e mal fazem paradoxalmente uma unidade. Dentro da cultura cristã, aparecem como irreconciliáveis. A ideia de apagamento do mal pode levar paradoxalmente a um desequilíbrio mental e na ausência da percepção do mal que causa. O mal pode ser, então, racionalizado numa estrutura argumentativa (atacar homossexuais por eles não se adaptarem a estrutura reprodutiva da sociedade, por exemplo) que torne palatável ao ego – tornando a prática do mal como inconsciente a própria pessoa.


Só que falar de "integração da sombra" é algo simples, embora socialmente inadequado – defender que existe um mal dentro de nós e que ele deve ser usado e até mesmo aceito chega a soar absurdo para os "ouvidos mais leigos". Quando pensamos nos mecanismos sociais, eles até agora não demonstraram uma solução satisfatória para a utilização da energia sombria que existe em cada um de nós de uma forma que não seja socialmente tóxica. A utilização da energia sombria pode ser perigosa, mas o seu acúmulo também leva a disrupções sociais. Como já escrito anteriormente, a ideia de que temos que ser bons o tempo todo leva a um acúmulo energético negativo que consequentemente nos leva a ser inevitavelmente maus – e, ressalto mais uma vez, muitas vezes de forma inconsciente.


A imagem do divino (Imagino Dei) e a imagem do Self estão intimamente correlacionadas. A inexistência do mal na doutrina cristã – principal influência teológica da sociedade ocidental – na imagem de Deus leva a uma percepção deturpada da própria estruturação do psiquismo. Essa falha tem um efeito colateral na nossa sociedade. Ainda mais quando temos em mente que a ideia acerca do caos é atrelada ao feminino e o feminino não aparece na trindade. A ideia de "ordem" e "positivo" aparecem de forma inconscientemente maniqueísta na estrutura de pensamento teológico de muitas igrejas cristãs. O cristianismo ao dizer que o mal não está em Deus, cria uma visão em que o mal só pode ser banido para se aproximar de Deus.


A verdadeira natureza do Self está na completude da integração dos elementos, não podendo ser confundida com a negação dos elementos em prol de outros. A capacidade de compreender os diferentes polos do Self e de aceitá-los é de natureza essencial para a maturação do psiquismo. A negação só fortalece inconscientemente o lado que se reprime.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Acabo de ler "Epic Win for Anonymous" de Cole Stryker (lido em inglês/Parte 5)

 



O que fez o 4chan se tornar aquilo que ele é? Vivemos num mundo em que a visibilidade se tornou uma constante. O fato de tudo poder ser visto, cada dia mais, numa amplitude cada vez maior, em dimensões cada vez mais absurdas, isso não é assustador? Vivemos numa época em que até mesmo as barreiras coletivas foram ultrapassadas e estamos vivendo num mundo onde quase tudo se torna público.

Quanto mais pública a sociedade se torna, maiores são as fiscalizações sociais na sociedade. Esse aumento de fiscalização leva a uma maior regulamentação social. Hoje em dia é muito mais fácil cobrar alguém por uma frase ou um pensamento, anteriormente não era. E essa cobrança excessiva leva a um aumento da imagem pública, o que corresponde a um aumento da utilização do "ego" e uma carga de várias sensações, sentimentos e ressentimentos sendo jogados na sombra.

Quando as pessoas são sondadas várias vezes ao dia para não caírem em ruínas numa sociedade "extremo-publicizada" elas devem encontrar um subterfúgio para poderem dizer coisas que não podem dizer, pensarem coisas que não podem pensar e verem e ouvirem coisas que não podem ver ou ouvir. É por isso que fóruns anônimos se tornaram os locais prediletos para tal prática.

Com essa pequena análise quero dizer o seguinte: é a própria estrutura da sociedade que vai tornando possível a existência de chans e a mentalidade channer. É o chan o local em que as pessoas podem soltar as suas sombras. Ele é o "local de descarrego".

domingo, 7 de julho de 2024

Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity


Atualmente se discute muito a questão dos efeitos tóxico-colaterais de certas mentalidades na sociedade. A propagação de ideologias tóxicas se dá muito pela possibilidade que a própria internet fornece. Estamos, como já alertado, presos no dilema da liberdade individual e da segurança pública. Se existem sites em que vemos uma constelação de postagens de conteúdo nocivo surgindo, o que poderíamos fazer se não combatê-los? As antigas soluções do liberalismo clássico muitas vezes desconsideram as implicações psicológicas e sociológicas do discurso e a sua influência no indivíduo concreto ou em agrupamentos sociais. As postagens tóxicas – e a propagação do ideário tóxico – tem efeitos sócio-colaterais, na esfera individual e social, podemos discordar sobre como lidar com isso, mas não podemos discordar que tal problema exista.


Hoje em dia precisamos pensar para além dos antigos dilemas e das antigas soluções. Além disso, devemos superar as barreiras ideológicas e propor uma solução que seja agradável ao bem comum. Não uma solução que seja exclusivamente coletivista ou individualista. Não se trata de esmagar o indivíduo ou a sociedade, mas se trata de colocar uma solução que possibilite o indivíduo viver ao mesmo tempo que cuide do anseio social.