quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Acabo de ler "O Prazer de Pensar" de Theodore Dalrymple.



    Um livro fantástico que conta histórias e experiências de Dalrymple com livros. Como a vida de Dalrymple é fantástica, envolvendo uma série de histórias icônicas com o proibido e aquilo que é politicamente nocivo ou desastroso - sua vivência em países em guerra e em ditaduras é própria e ele foi a esse tipo de país apenas para saber como ali se era (loucura, inteligência ou gosto pelo perigo?) -, há uma série de construções que demonstram como a curiosidade de Dalrymple é avançada e como ele lê diversas coisas que são tão variadas que ninguém saberia dizer a unidade de sua biblioteca.


    Se, no Brasil, vivemos num debate pouco dialógico em que um não lê o canon do outro - esquerdistas só leem esquerdistas, direitistas só leem direitistas, cristãos só leem cristãos de sua denominação e por aí vai -, o pensamento de Dalrymple vai além e a sua erudição demonstra uma leitura constante de obras de esquerda, mesmo que ele "seja de direita". E, seu pessimismo, é desenvolvido com uma boa razoabilidade.


    Com uma excelente prosa, Dalrymple demonstra ser um dos maiores escritores conservadores da atualidade. Uma inteligência pouco igualável e, possivelmente, de uma pessoa única. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Acabo de ler "Qualquer Coisa Serve" de Theodore Dalrymple.

 


    Acabo de ler "Qualquer Coisa Serve" de Theodore Dalrymple.

    "Não odeio religião - na verdade, sou mesmo a favor dela. Assemelho-me a Gibbon, que ao tratar do sincretismo religioso romano declarou, admirado, que o povo achava que todas as religiões eram igualmente verdadeiras, que os filósofos as julgavam igualmente falsas e que os magistrados as consideravam igualmente úteis, sem porém haver qualquer conflito sobre o assunto. Ou seja: a religião era útil por melhorar o comportamento humano e mantê-lo lícito".

    Dalrymple é um dos escritores que mais gosto devido a sua escrita sarcástica que, muitas vezes, leva-me a várias risadas durante a leitura. O mais interessante é que Dalrymple é um homem que dá análises de situações extremas que, por sua extremidade, sempre levam ao aguçamento de minha curiosidade.

    Grande parte da escrita de Dalrymple se deve ao seu contato direto, sua experiência pessoal, com criminosos, com ditaduras e com países subdesenvolvidos que sofrem de violência extremada. E não para por aí, a própria vida investigativa de Dalrymple contempla o estudo de várias experiências perigosas que tomaram forma de literatura. Estudar a questão do mal é, para ele, um assunto sempre novo e interessante.

    Creio que as várias experiências com "o problema do mal" que Dalrymple vivenciou o levaram ao seu ceticismo político e seu pessimismo antropológico, tornando-o um intelectual conservador. Não um intelectual conservador qualquer ou algum fanático político. Dalrymple está longe de ser um reacionário bolsonarista ou coisa análoga, muito pelo contrário: ele é um brilhante intelectual, com uma erudição vastíssima e um reportório argumentativo inigualável. Não só isso, como já disse anteriormente: muito de seu posicionamento intelectual surge de uma experiência direta com o problema tratado.

    Não me senti nem minimamente entediado em nenhum momento da leitura da obra, sempre fiquei impressionado pela riqueza vivencial e intelectual de Dalrymple. E, mais do que isso, tive muitas boas risadas com o sarcasmo do autor.

Aquisições - "I Ching" (Livro das Mutações)




    Adquiri o "I Ching", o clássico monumental da filosofia chinesa. Livro que vem com comentários que ajudam no entendimento da obra, além do prefácio de Jung. O livro possui 527 páginas.
    "I Ching, considerado o mais antigo livro chinês, é também o mais moderno, pela notável influência que tem exercido na ciência, na psicologia e na literatura do Ocidente, devido não só ao fato de sua filosofia coincidir, de maneira assombrosa, com as concepções mais atuais do mundo, como também por sua função como instrumento na exploração do inconsciente individual e coletivo".
    Esse livro é, com certeza, uma das maiores e mais importantes aquisições de minha biblioteca.

Aquisições - "A Torá Comentada"




    Acabo de adquirir "A Torá Comentada". Livro bilíngue em hebraico e português. Possui 1.057 páginas e vários comentários que explicam os livros que constituem a Torá (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) - além de, claramente, a própria Torá que vem junto ao livro. Certamente é, em minha biblioteca, um dos maiores livros teológicos em nível de páginas e profundidade. Ao lado dele: "Judaísmo e Messianismo" de Rav. Maorel Melo (1.014 páginas) e Carta aos Romanos de Karl Barth (854 páginas).

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O Trágico Fulminante #1 - Sou um reacionário digital!


    

    A internet já foi incrível. Ao menos, em minha visão amargurada pela idade, a internet foi incrível. Lembro-me de que, quando jovem, acessava a minha net discada e ficava aguardando o carregamento de vídeos do animatunes e mundo canibal. Toda essa espera, gerava uma expectativa que, usualmente, era correspondida com minhas risadas durante o vídeo - mundo digital era tão reacionário que não se resumia ao YouTube. Naquele tempo, não se tinham propagandas em vídeos e todo mundo tinha um discurso mais ou menos politicamente incorreto. Não, isso não era gerado por um consciente fanatismo político de ódio conjurado, mas duma ação mais ou menos "natural" e "inconsciente". Havia-se politicamente incorreto sem militância politicamente incorreta, já que o politicamente incorreto não tinha forma ativa e pensada, era só o "discurso normal" e "corrente". Hoje, o politicamente incorreto é um fetiche intelectual entre vários outros fetiches tão idiotas quanto. Quando havia propaganda, era uma coisa interna do próprio produtor cultural previamente combinada. Seria reacionário de minha parte propôr que era melhor assim? Acessava uma carralhada de sites que, em minha concepção, eram incríveis.

    Passei horas a fio lendo artigos da Desciclopédia, vendo o humor refinado de Felipe Neto no "Não Faz Sentido" e aprendendo a ser um "hater". Naquela época, o "hater" era uma pessoa que lia e correspondia o mundo com o seu ódio refinado, ódio que advinha de tempos de sofisticação na arte do ódio. Era-se preciso odiar tudo que era gostado por uma maioria que acreditávamos ser burra menos capacitada intelectualmente: Restart, Cine, Funk e outras coisas que nós, em nosso reacionarismo inconsciente e "natural", tínhamos o dever moral de odiar. Não que a gente odiava, o ódio era apenas um fetiche expressivo do qual ninguém poderia escapar sem deixar de ser um pleno cidadão cibernético. E pensar que tudo isso seria levado a uma problematização esquerdizante constante, hoje se vê um discurso de esquerda adornando até mesmo a retórica de fãs fanatizados pelo Kpop. Na verdade, quando odiávamos algo, odiávamos por não considerarmos "profundo" e "inteligente o suficiente". Em meu tempo, o funkeiro não nos responderia citando a Escola de Franque, o Fruta Frankfurt.

    O mais icônico disso, era que éramos todos normativistas incomensuráveis. Queríamos a gramática normativa e exigíamos que a leitura fosse algo habitual. Odiávamos por uma simples crase, atacávamos por uma mera confusão momentânea de "mais" e "mas". A palavra "analfabeto" aparecia em quase todos os sites como se fosse onipresente. E sei que isso era meio que idiota de nossa parte e que estávamos meio errados nisso, só que tínhamos isso como um esforço civilizatório que almejava a elevação da cultura humana. Anseio que era bom, embora delirantemente excessivo. Hoje, nessa nova grande era cibernética, odeia-se qualquer coisa que tenha mais de três linhas. O novo cidadão cibernético é aquele que lê pouco - ao menos não lê textos que possuam mais de três linhas, embora seja vítima um consumidor de microleituras que se sucedem nauseabundamente -, escreve informalmente e odeia qualquer escrita formal. Escrever formalmente é sempre, sempre e sempre um pedantismo odiável e execrável a ser condenado pela Inquisição Digital. Se alguém aparecesse, em meu antigo tempo, dizendo que não lia mais de três linhas, era chamado de imbecil ou qualquer outra coisa que afigure alguém desprovido de inteligência. Não mais, não mais hoje: o progresso é tanto que a leitura contínua é dispensável e tudo deve se reger por memes e microleituras. A microleitura e não aquela babaquice reacionária que chamamos de livro, é o auge, o ponto culminante do pensamento humana dessa civilização cibernética-progressa. No meu tempo não, a gente discutia por linhas e mais linhas, horas sem fim. Parecíamos como que desocupados que se ocupavam de abstrações que, hoje, soam tão desnecessárias quanto imprudentes. Em meu tempo - e parece que não sou mais do tempo em que vivemos, parece até mesmo que fiquei preso num passado como um louco delirante - não se podia e nem se devia resumir todas as linhas políticas num meme que tinha, como fim, o cômico. Aquele que postasse memes o tempo todo, acreditando ganhar o debate, seria chamado de "pomba-enxadrista".

    Não é que o cômico não existisse, não é como que fôssemos pessoas pedantes presas num verborreia vergonhosa, o cômico só era cômico por sua sofisticação e sua oposição declarada. Era preciso ser sofisticado, escrevendo corretamente e dando críticas que eram feitas por eruditismo. A gente "adorava" demonstrar que odiávamos, só que odiávamos com uma substancialidade que hoje é estranha aos novos cidadãos digitais. Não que a gente fosse pedante, era apenas a nossa forma expressiva. Expressar-se longamente, demonstrando um "poderio intelectual", era considerado melhor. Hoje não, hoje o progresso afirmou que o desenvolvimento dialógico não poderia ter mais de três linhas e que tudo poderia ser resolvido com memes de uma única frase que tem, por objetivo, reduzir realidades monumentais em apenas microleituras de efeito cômico e satirizante. Hoje a microleitura é tão presente quanto onipresente. Tal como é a pornografia que estende o seus braços não só para pessoas com mais de dezoito anos, já que o progresso civilizacional exige que pessoas com cada vez menos idade possam "gozar pra valer" com a nossa civilização progressista hiperssexualizada e hipergâmica. Ah, meus velhos tempos, se alguém fosse tão hiperssexualizado e hipergâmico, acreditaríamos que ele estava preso nalgum estado delirante e hipnótico que o fizesse repetir: "sexo", "sexo" e "sexo" como um mantra religioso. Isso, ao contrário de hoje, diagnosticar-se-ia como "idiotice".

    Como tudo se moderniza, para o bem e para o mal, e como o novo se torna velho e o velho reacionário, virei um reacionário digital. Quando vejo alguém reduzindo discursos políticos a memes condensados com microleituras, afeto-me por tamanho "reducionismo". Quiçá, seja eu, um imbecil que só entende coisas quando escritas com "longevidade". A microleitura não me agrada, os memes muito menos. Sou antiquado demais para me acostumar com tanta microleitura dispersa e que me parece "superficial" - perdoem-me pelo meu reacionarismo antiquado. Quando vejo que a internet agora se limita a duas grandes corporações: Google e Facebo..., ah, perdoem-me, todo mundo agora tem direito a nome social e o Facebook, em sua pós-modernidade, descobriu-se feminino e chama-se agora "Meta". Como ia dizendo, nessa civilização progressa, o monopólio tornou-se o cume da civilização cibernética e agora tudo é "Google" e "Meta". Ah, os tempos modernos... Em meu reacionarismo ululante, em meu reacionarismo fanático, não curto que as coisas se resumam a esses progressistas monopólios que reduzem o mundo digital a quase duas empresas. Eu devo ser um "pequeno burguês" clamando a favor das pequenas propriedades privadas em bravatas contra o comunismo monopólico virtual. Ah, em meu tempo, em minha mocidade, o comunismo não era um monopólio de grandes corporações digitais, mas uma propriedade comum e popular - ah, como as concepções ideológicas se atualizam com o passar inexorável do tempo.

    Eu me tornei um reacionário cibernético, não por escolha, mas por um amor a uma antiguidade participante de um certo período temporal de minha vida. Olhar que o mundo cibernético saiu de uma rede de sites ligadas a uma certa individualidade humana - e, talvez, garantidora da singularidade humana - para um grande corporativismo que parece mais ser uma guerra fria de "Meta" e "Google", desagrada-me. Ver discursos políticos reduzidos a microleituras que tem sempre, simplesmente sempre, um "efeito cômico" - ou seria "efeito memético"? - que reduz realidades intelectuais a um fantochismo grosseiro onde se destrata o "inimigo" com piadinhas cheias de estereótipos me deixa enojado. Eu sempre quis argumentar e discutir, mas cada argumento que solto em linhas é respondido com "mais de três linhas, eu não leio". Já que mais de três linhas, hoje, é pedantismo. Tudo com mais de três linhas é "textão". Ah, como era bom ir na Desciclopédia e ver artigos com mais de dez parágrafos para dar risadas e mais risadas. Se classifico meu tempo como "bom" ou "melhor", talvez seja pelo fato de que estou ficando velho e reacionário.

    É, meus caros, tornei-me um odiável reacionário digital, sonhando com os áureos tempos de outrora. Se eu disser que a internet hoje é decadente, que a monopolização dos sites por dois grandes agrupamentos que entram numa constante "guerra fria" me dá nojo, que microleituras me parecem nauseabundas e desgostosas, que tudo ter formato de meme é algo meio forçado e que estamos sendo vítimas de uma constante bestialogização, talvez eu não soe só antiquado, como velho e um emissor daquilo que se chama de um "discurso de ódio". Pena dizer isso, só que é exatamente isso que "vejo" - ou "sinto" - na internet moderna - é insuportável acessar qualquer site. Acho que, no fim, terei de voltar para as cavernas trevosas chamadas livros - essas coisas reacionárias que possuem textões, já que tem mais do que três linhas - e dialogar com autores através de escritas em meus cadernos. Serei um eterno lunático em manifesta solidão, um homem que vive na "Idade das Trevas", um autoexilado do mundo virtual por seu reacionarismo ululante, fanático, odiável, trágico e deprimente. Sim, meus caros, eu sou um reacionário digital.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Acabo de ler "Drácula" de Bram Stoker, versão adaptada por Leonardo Chianca e ilustrada por Rogério Borges.



    Acabo de ler "Drácula" de Bram Stoker, versão adaptada por Leonardo Chianca e ilustrada por Rogério Borges.


    Uma fantástica curiosidade é que Bram Stoker passou os primeiros oito anos de sua vida deitado na cama por uma doença que não pôde ser diagnosticada pelos médicos. E sua mãe lhe lia contos de fadas, histórias de fantasma e apavorantes histórias de epidemias. Creio que tal experiência lhe proporcionou o corpo de sua obra literária.


    O que é o vampiro? Segundo a própria definição encontrada no livro após o final dele é: "uma alma aflita de um suicida, de um criminoso, ou de um herege, que saí de sua sepultura à noite, em geral sob a forma de um morcego, para beber o sangue de seres humanas". Imaginem uma figura conturbada pelas ideações suicidas, pela sua ideias heréticas e pelos crimes que lhes são inescapáveis devido a sua natureza corrompida. O vampiro é vítima de seu vampirismo e seu vampirismo é uma condição agônica que lhe faz fazer mal a sociedade como um todo. Sofrimento inescapável, vítima e algoz. 


    O vampiro é, sempre, uma pessoa ilustre que, por sua condição "demoníaca", escora-se em sua própria "arte das trevas" e sofistica-se no mal. O vampiro é aquele que adquiriu erudição nas "artes sombrias". Só que ele não faz isso por querer, mas pelo erro que lhe é inerente pela sua condição amaldiçoada. O vampiro é, como já dito, vítima e algoz. Vítima da sociedade, que não o compreende. Algoz dessa mesma sociedade, a qual parasita.


    Sendo um ser eminentemente sedutor, seduz as pessoas incautas e leva-lhes para roubar o sangue. O vampiro seduz, depois parasita. A sua chave de viver é o parasitismo a qual não pode fugir. Só acorda nas trevas e só vive nas trevas, seja nas trevas da noite e em seu coração. A luz, seja a luz do dia ou a luz do bem, o queima e mata-o. Logo, só pode ser um ser da noite, sempre fugindo eternamente da luz. Como tal, vive numa eterna noite sem paz. Talvez, intimamente, desejando o bem que não pode ter e aperfeiçoando-se nas "artes das trevas". Criatura fantástica, demoniacamente fantástica, vítima de sua própria natureza e perpetuadora do mal que é vítima.


    O vitimado é, também, um eterno algoz. Preso eternamente num mal.

domingo, 7 de novembro de 2021

Acabo de ler "Islam em seus princípios" do Sheikh Taleb Hussein Al-Khazraji.

 


    Acabo de ler "Islam em seus princípios" do Sheikh Taleb Hussein Al-Khazraji.


    Em nossa sociedade brasileira, a religiosidade ficou resumida a uma binariedade chamada "judaico-cristã". Essa redução, ou, melhor, esse "reducionismo" não coopera com um real desenvolvimento de um pensamento religioso mais maduro em nosso país. Se fala muito do cristianismo, um pouco do judaísmo e não se aceita nada além disso. Até mesmo o "Islã" é negado por aqui, e o Islã é parte das religiões abraâmicas - querendo ou não.

 
    Para os muçulmanos, o maior milagre existente é a obra completa de Deus em forma de livro. Logo, o milagre entre os milagres, é propriamente o Alcorão. Alcorão que é, para eles, o livro mais completo e a mensagem plena de Deus. O Alcorão é livro final, a versão definitiva da longa jornada que passou por vários escritos religiosos.


    É interessante observar que esse livro não é sunita, mas xiita. E é o primeiro livro de "teologia xiita" que li, o que foi uma experiência bastante interessante para o amadurecimento do meu estudo sobre obras religiosas. A parte em que o autor cita, por exemplo, o imamato (os doze imames) é particularmente interessante.


    A mensagem do Islã, em sua universalidade, visa a superação da ignorância através da "senda reta". Para os muçulmanos, a mensagem de Alá não se encontra racialmente delimitada, não se prendendo a povo algum. E, em muitos pontos, o Islã apresenta uma forte jurisdição social para a harmonia social - muito mais característica que a presente na Bíblia. E é incrível como podemos achar pontos em comum entre o Islã, o cristianismo e o judaísmo.


    O livro também cita momentos em que Jesus fala de um "sucessor". Aquilo que os cristãos interpretam como o "Espírito Santo", os muçulmanos compreendem como Muḥammad. Coisa que, até então, eu nem tinha percebido e me ajudou fortemente a compreender a teologia islâmica em sua conexão com a bíblia cristã e, também, a judaica. Pretendo ler os outros livros posteriormente, já que ajudam demais no entendimento do Islã.

sábado, 6 de novembro de 2021

Acabo de ler "Teoria Queer" de Richard Miskolci.




    Acabo de ler "Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças" de Richard Miskolci.

    Se anteriormente eu compreendia muito pouco da Teoria Queer, agora compreendo alguma coisa ou outra - mesmo que isso seja ainda insuficiente (e o saber nunca é suficiente). Também é incrível como a teoria queer me leva entender mais a obra de Judith Butler e a obra de Judith Butler me leva a Freud e Foucault com mais profundidade.

    Voltando ao livro, creio que esse livro apresenta uma criticidade fora do comum, visto que ele vai além do que usualmente se questiona. Muitas vezes, temos várias coisas como "dadas" e tomamos essas coisas por naturais. Todavia muitos "dados" nos são dados através de uma construção social que nos precedeu e tomamos essa mesma construção social como natural.

    O livro questiona a padronicidade de gênero que é tida por natural e é "naturalmente imposta". O livro visa desconstruir o discurso que quer legitimar uma uniformização da humanidade por padrões binários que não são tão naturais quanto se pensa, mas sim sujeitos à condicionalidades do espaço-tempo - só que quem pensa nesses padrões binários, crê neles de forma extremista, mesmo que nenhum deles seja tão natural quanto se especula.

    É importante observar que a verdadeira educação não pode ser, tal como tem sido, uma mera engenharia para reproduzir uma série de produtos construídas anteriormente. Isso é, na verdade, um processo condicionante e não um processo investigativo. Reproduz-se papéis bem delimitados de gênero no âmbito educacional tal como um condicionamento pavloviano. Logo a vida passa a se tornar uma performática para o enquadramento social, a vida deixa de ser vida e vira uma mera reprodução vivencial de um padrão que é reproduzido ad aeternum.

    É preciso relativizar o padrão hegemônico, é preciso expandir os horizontes através de relativizações constantes que elevem a liberdade humana em sua mais justa dignidade ilimitada. É preciso que a única delimitância seja indelimitada.

Acabo de ler "O Inquietante" de Freud.



    
    Acabo de ler "O Inquietante" de Freud.

    É um pequeno livreto (creio que faz parte de uma obra maior) de densidade profunda e de grande expansão de consciência para quem lê. E, de fato, a nossa vida muda depois da leitura dessas 37 páginas fantásticas.

    O que seria o "inquietante"? Algo novo e ifamiliar? Não, algo que ressuscita um estado originário em que aquilo que foi aparentemente superado é posto de novo ao nosso olhar. É como se víssemos um morto andando pela rua, vagarosamente e sorridente, sem que nada lhe tivesse acontecido. O "inquietante" é, basicamente, o retorno daquilo que se suprimiu ou que se reprimiu, já que se tinha como dado superado. Essa questão retorna à cultura nerd popular: os filmes de zumbis remontam imediatamente isso, a ideia de que a vida e a morte não são tão claras quanto se pensava.

    Tudo que é tido por verdadeiro se torna um dado que se consubstancia com a personalidade. Só que aí vem um probleminha: se um dado que se fundiu a personalidade (qualquer crença que seja), vê o ressurgimento (uma ressurreição) de outro dado que foi tido como superado, a pessoa que vê adentra num choque profundo. O inquietante traz dúvidas sobre a realidade, sobre a intelectualidade e sobre a personalidade. É por isso que, por exemplo, contos de terror são inquietantes pela sua quebra de normalidade e piadas adentram nessa mesma quebra de padronicidade.

    De qualquer forma, o inquietante envolve sempre um mistério que não leva só a um mistério por si mesmo, leva-nos a um mistério sobre quem somos e a uma incerteza intelectual. Só que, em meu humilde pensamento, é indo em direção ao inquietante que amadurecemos como pessoas e tornamo-nos adultos que abandonam as superstições.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 12)

  Essa é a última parte de Emil Ludwig, indo da página 185 à 208. Aqui termina a triunfalmente rica e arguta análise de Ludwig. E talvez sej...