Aparece-me tal como mera hipótese e já atormenta todo meu imaginário. Ainda não existe e não é confirmado que haverá de existir, só que já não me julgo suficientemente bom e digno de ti. Nem nasceste, mas já pode alterar todo um mundo que se divide entre antes e depois de ti. Se vier de ser, haverá de ser amado. Se vier a acontecer, haverá de ser cuidado. Se houver, estarei para o que haja. Minha consciência eclipsa-se na imagem de um ser a formar-se. Uma fonte de desespero e amor prévio, que nunca julguei possível existir, nasce em meio ao meu coração desértico. Haverá de ser, existindo ou não, lembrado. Haverá de ser, ainda não existindo, de ter me mudado.
quarta-feira, 28 de setembro de 2022
Haverá de ser...
segunda-feira, 26 de setembro de 2022
O Necrófago
Se eu dissesse que eu sangro sem sangrar, isso lhe assustaria? Se eu lhe dissesse que posso sentir minha carne sendo cortada, sem ser cortada, você acreditaria? Se eu lhe disse que sinto gosto e ele tem gosto de desgosto, você saberia definir o que de fato sinto? E, por fim, se eu lhe disser que todo esse vaivém a qual a humanidade se destina é apenas uma marcha caimíca em que o progresso civilizacional é, tão apenas, o domínio do demônio e da totalização diabólica? Dir-me-ão que os remédios modernos são fruto do progresso, dir-lhes-ei que o holocausto baseou-se igualmente no progresso técnico e científico. A bomba atômica é um portentoso milagre científico e técnico que ceifou várias almas. Mas, pensando bem, é até mais misericordioso ser morto por uma bomba atômica do que estar num campo de concentração. Com ferramentas de capacidade superior, os novos deuses de pés de lama se erguem e a população com adora o mais novo bezerro de ouro em forma de Iphone ou o que quer que seja a nova forma dele. Religiões, ideologias e doutrinas se alternam no poder sem que o homem possa ir para o paraíso tão pedido e tão prometido. Sempre alguma nova ideia será enunciada prometendo a nova forma de chegar (ou seria retornar?) ao paraíso.
Perguntar-me-ão se eu tenho um programa, se eu tenho uma direção, um senso de unidade, uma doutrina a qual poder-se-ia remir o mal contínuo da humanidade. Negativamente responderei e negativamente serei encarado. Todos devem trazer alguma coisa, qualquer coisa. Em nossa época, se faz necessário publicalizar a consciência em todos os fenômenos que se sucedem. Todo esse esforço de pingar o fragmento das almas nas mais diversas ocasiões é, para alguns, o divertimento e realização de seus seres concomitantemente. Denuncia-se ali um caso de racismo, fala-se aqui duma manifestação por algum novo direito, comenta-se o protagonismo feminino ou a privatização indevida ou devida de alguma empresa. Eu me proponho o contrário: ignoro tudo o que acontece e não mais me posiciono. É fato que alguns homens tornam-se alguém, outros tornam-se alguma coisa e outros, menos sortudos, tornar-se-ão algo e haverá aquela parcela, mais numerosa em todas as épocas, que nada serão e a nada serão destinados. Afirmo-lhes que sou pessimista demais para acreditar em qualquer coisa. Sou pessimista demais para cair na estultice de acreditar em mim mesmo - apesar disso ser um dogma pós-moderno (e, se não o for, não sei de quando data tamanha idiotice). Toda minha afirmação é uma negação. A negação, nada mais é, algo que reacionariamente nega o que é afirmado. Um negacionista é um homem que nega o que é afirmado. Sou o homem que olhava para o abismo e quanto mais olhava para o abismo, mais sabia que olhava para a própria natureza.
Ultimamente eu sinto estar ficando mais cego a cada dia. Não que eu tenha perdido a visão no sentido físico do termo, é que há um lamaçal metafísico de natureza obscurantista que me atrapalha. Eu simplesmente não consigo enxergar nada de qualitativo, nada de prazeroso ou nada que me dê um bom gosto palatável. Com o tempo, torno-me niiliabsorto nessa malignidade. Muitos de meus contemporâneos gostam de denegrir ideias, doutrinas ou religiões. Para mim, o esforço satírico e o gosto pelo caos dionisíaco se evadiu na medida mesma em que eu crescia. Minha geração só é forte o suficiente para negar ideias que, por lhe serem absolutamente superiores, não tem capacidade de cumprir. As ideias, as doutrinas, as religiões, as ideologias... Tudo isso foi abandonado por essa geração de fracassados. Não que eu não seja um deles, só que reconheço o fato de que sou fraco. Satirizar aquilo que não tem capacidade de corresponder em força e em estilo é o jeito com que os fracassados encontram de não negarem o próprio fracasso, mas a transcendência que se lhes apresenta. Quanto mais eu crescia, mais a beleza se evadia. Quanto mais eu crescia, mais eu ia para a direção não da antissociabilidade, mas do divórcio social. O esforço da negação, tão comum aos meus "iguais" - ao menos inseridos no mesmo "espaço-tempo" -, tornou-se até a negação da negação. Eu não só nego, nego-me igualmente a negar. A corda num pescoço seria, tão apenas, um alívio a essa pressão de desgaste que me obscurifica. Sem vontade alguma de continuar, empurrado a andar pelo espírito das poucas almas que ao meu lado ainda ficam.
Ninguém poderia para mim olhar, conhecer e passar ao lado sem que lhe ocorresse o seguinte pensamento: "como alguém pode ser tão deprimente?". A resposta, se é que há uma, é que minha natureza é morta. Eu sou tão apenas um cadáver. Nesse ponto em que me encontro, creio que minha alma caiu fora de meu corpo por abjeção. Creio firmemente que minha alma me abandonou há muito tempo, se eu tivesse oportunidade, também abandonar-me-ia sem pestanejar. Vago aqui e acolá, a preencher o espaço com minha presença física vazia. Sou o paradoxo do corpo físico que, adicionado ao ambiente, não ocupa espaço. Pelo contrário, sou um buraco negro que suga toda positividade, toda esperança, matando tudo que há de bom com minha pessimistividade. Minhas palavras nada dizem, as ideias que, por algum acaso enuncio, nada a mim representam. Para ser sincero, o nada nadificante de minha condição tornou-se uma existência puramente negativa que anula qualquer possibilidade de positividade. A leitura, em vez de erudição, só me traz uma forma de pseudotranscendência evacionista da realidade. Os antidepressivos só atenuam o sofrimento físico e mental que passo, minha visão e minha essência é em si mesma depressiva.
Tudo vem sido uma lenta odisseia fúnebre na qual eu me sinto cada vez mais morto. É um ditado popular a ideia de que nos tornamos o que comemos. Eu só como coisas mortas. Os animais que me alimentam foram mortos. Os autores que leio morreram há muito tempo, quando não morreram há séculos. A única coisa que tenho é o reinado do niiliabsolutismo. Eu não posso ligar para grandes causas. O fascismo, o socialismo, o liberalismo, tudo isso me dá tédio. Mesmo que eu não seja tolo o suficiente para acreditar que, em meu relativismo singularista, eu seja superior a essas religiões civis que tanto marcaram a humanidade. O amor que a sociedade tem pelas crianças me entedia. Os grandes acontecimentos políticos são por mim ignorados. A própria capacidade empática de ligar para um acidente de avião ou a um genocídio que, esporadicamente a humanidade faz numa religiosidade ritualística, não me causa absolutamente nada. Todas as discussões que saem dos maiores anseios humanos de nada me representam. As transformações de ideias que se alternam e sucedem não me representam coisa alguma. Tive o infortúnio histórico de nascer depois das grandes religiões e civilizações religiosas, das grandes ideologias e suas revoluções.
Nos últimos tempos, empreguei-me a andar em campos vácuos. Seja fisicamente ou mentalmente. Afastar-me de qualquer criatura viva era meu modo de viver mortamente. Até que, um dia, deparei-me com um terreno baldio. Um cheiro horrendo despertou em minha narina. Deparei-me com um cadáver. Cadáver esse que estava passando por um processo de decomposição. Claramente, não habituado a tal cheiro, tão logo pus-me a vomitar. Por algum motivo, uma vaga similitudidade enunciou-se em minha cabeça. Embora esse cadáver estivesse de fato morto, estivesse fedendo e estivesse esquartejado, sua natureza em nada diferia da minha. Quem sou eu, se não a podridão? O cheiro dele é igual o de minha natureza. O estado físico de destruição é de igual modo semelhante a minha psique. O fato de estar morto há muito tempo só me lembrava, igualmente, que eu estava tão morto quanto ele há tanto tempo que não me lembro. Tão logo aproximei-me e pus-me a prosear com tão igualitária criatura.
- Está morto, tal como eu estou morto. Teu fedor repugnante assemelha-se a minha própria repugnância. Minha natureza é de igual repugnância a sua natureza. O abandono em que se encontra em nada difere-se do meu. Para ti, a condução política e cultural em nada representa, em nada promove. Sinto-me, então, igual a ti. Você não pode acreditar no amor, já que não está vivo. Eu, estando igualmente morto, não acredito igualmente no amor. Não pode ter amigos e nem ligaria de ter um amigo, tal como eu. De certo modo, afastei-me de todos aqueles que eram meus amigos apenas para nada mais sentir e, nisso, assemelho-te a ti que não tem amigo algum. Em certo tempo, também acreditei na relevância da vida e em como todas as ideias que sucediam em minha cabeça tinham algum grau de relevância graças o valor incalculável de minha vida humana. Hoje sei que sou tão irrelevante quanto qualquer outra coisa morta e que nenhum vivo tem valor. As ideologias não me encaixam, as religiões não me causam júbilo. O abraço confortante nada mais é do que uma doce ilusão de dois corpos que se encontram equidistantemente. A singularidade humana não pode ser compreendida por outra singularidade humana, toda comunicação nada mais é do que um monólogo falho.
Logo pararia de falar com meu mais novo amigo. Volvi para casa. Onde passei a ler até que o sono tornasse a leitura impossível. Passar duas semanas longe de meu companheiro cadavérico deu-me uma sensação estranha. Os homens, as mulheres, toda a humanidade viva me era tão estranha quanto nociva. A mera ideia de que um coração batesse me causava desconforto, isso se não me causasse nojo. O próprio fato de meu coração ainda bater me causava desgosto. Olhar os outros seres vivos só me deixou um único pensamento, na qual sintetizo numa curta frase: "Eles não eram tal como eu". Mesmo estando atomisticamente presos em si mesmos, incapazes de adentrarem em substancialidade total com outro ser, prendiam-se nas ilusões vãs de que era possível se conectar com o mundo exterior. Não há mutualidade no mundo, toda comunicação é uma inutilidade. Engana-se quem crê que há compreensão, que há gradação de proximidade, que o íntima revela-se a quem se aproxima. Tudo está separado, eternamente separado. Mas como, como só eu me dava conta disso? Eles não podem perceber? Eles não podem ter consciência? Se um time de futebol ganha, nada ganhou. Se um político se elege, nada se elegeu. Se há uma alegria após o orgasmo, é apenas um prazer efêmero gerado pela própria face animalesca do que sobrou do bestialogismo humano não totalmente humano. Humanizar-se é dar-se conta de que a vida é como um grão de areia, uma poeira sem valor a movimentar-se de acordo com a influência dum vento. Ao menos a própria razão conduz a percepção da niilitropia em que vivemos e o que distingue a humanidade é a faculdade da razão. Racionalizar é humanizar-se, humanizar-se é perceber-se nulo e, então, niilificar-se. Para percebermos o quanto somos sordidamente sós, basta que entremos num ônibus e dar-nos-emos conta de que não temos íntimo contato nem em nossa locomoção por esse torpe mundo.
Eu senti, eu senti que deveria voltar ao terreno baldio. Eu não pertenço a esse mundo das entidades móveis. Todo esse movimento me é estranho. Vida é aparência e o reino das aparências não pode ser factual. Eu sou tão inexpressivo, irrelevante, podre, sem valor, quanto um morto abandonado. A morte é imóvel, logo não é aparente. Não consigo achar inteligível qualquer sociedade viva. Tive que voltar para o terreno baldio. E uma surpresa tive ao voltar: a minha pequena sociedade secreta aumentou. Mais dois corpos dispunham-se ali, como a ter um descanso dessa ausência de sentido unificada na qual a humanidade se move. Ali, eu e mais três cadáveres, sabíamos irrelevantes e vazios. Todos niiliabsortificados pela despertar da consciência do átomo. Não falarei dos sexos de meus companheiros. O que é o sexo se não uma superficialidade para quem se encontra morto? Deixemos as vanidades dos vivos para trás. Vivamos a morte e o esquecimento. Eu lhes devia um discurso inaugural. Devia-lhes um acolhimento cadavérico. Logo, pus-me a falar.
- Felicito-lhes pela morte. A morte é a única que proseia com Sócrates e Dante. Os vivos acham-se acima dos mortos, só que não possuem qualquer similitude conosco. Eles desprezam os esforços dos ancestrais e negam-lhe a possibilidade de discursar. Acreditam que o fato de estarem vivos lhe torna especiais. A vida é efêmera. A ciência moderna está a provar que a vida na terra é um mero acidente, onde não há criador algum. Sem criador bem-intencionado, sem sentido próprio condicionado, sem nada que valha a pena para se viver, somos todos nós átomos a rondar um espaço sem capacidade de expressar o vazio em que nos encontramos. Morrer é despertar para a realidade e até mesmo para eternidade. A realidade é tão morta quando pode ser. Deixemos que os vivos aproveitem a curta vitória de suas eleições, as modas de pensamentos que morrerão, os prazeres efêmeros que logo acabarão, a sensação vaga de amor eterno que logo despedaçar-se-á. O aborto é o mais feliz dos seres, já que ele passa para eternidade da morte sem conhecer as ilusões da efemeridade da vida.
Com o tempo, passei a frequentar o terreno baldio com mais assiduidade. Deitava-me lá, esforçava-me para matar dentro de mim qualquer pensamento. Queria ser tal como um morto, um verdadeiro morto. Havia dentro de mim uma pulsão de natureza nirvânica que eliminava toda e qualquer energia mental dentro de meu aparelho psíquico. De que necessidade teria eu de pensamentos? De sentimentos? O esforço negativo leva a sonegação desses vãos alvoroços causados pelo efeito ilusionista da vida. Não comunicar-se com ninguém era meu deleite. Abandonar toda e qualquer possibilidade de amizade. Matar em mim qualquer ânsia por movimento e qualquer noção vaga ainda reminiscente da possibilidade de "calor" humano. O que move os vivos? A vida é uma existência numa caverna. O calor humano nada mais é o que alimenta as projeções das sombras ilusórias que são confundidas com a verdade ou a realidade. Tendo em conta isso, o cheiro podre deixou, com o tempo, de me importar. Cheiro nada mais é do que outra vaidade das ilusões dos vivos e suas maquinações ilusionistas. Mesmo quando os cadáveres aumentaram, eu me sentia como um deles e tudo que eles tinham era, para mim, de máximo valor e não de ojeriza.
Acreditava piamente na ideia de que o esforço anulativo era melhor que o esforço criativo. A estabilidade pertence ao reino do descanso e o reino do descanso pertence a morte. Esforçar-se para atenuar qualquer possibilidade de esforço, tirar da mente as ideias que tiranizam, afastar-se de qualquer "calor humano". Tudo isso, nirvanicamente enquadrado e enfatizado, torna-se num deleite sem o qual não poderia mais conjecturar o estado não vívido em que me encontrava. Adaptar-me a morte era o compromisso principal a qual me sujeitava. Imitando os mortos aprendi de fato ao destino comum que me era destino e glória. Pena que, tal deleite, provar-se-ia incapaz de durar para todo o sempre. Esqueci-me de que era ainda vivo e, como vivo, poderia ser perturbado por essa ordem caótica que se cria pela vaidade. Fui acordado por um estranho homem.
- Por que passa tanto tempo aqui?
- Gosto de me deitar e pensar que também estou morto.
- Por um tempo, pensei em te matar também.
- Eu já estou morto.
- Não entendo, nem sei se quero entender. Para mim, é simplesmente um louco. A única pergunta que tenho é: não me denunciará?
- Pelo o quê? Por ter libertado essas pessoas das ilusões criadas por Demiurgo ou pelo vazio ou seja lá pelo que tenha criado ou não esse mundo? Viver é uma ilusão. Todo reino de matéria nada mais é do que um aprisionamento na falsidade. Nada aqui faz sentido e tudo que há é um grotesco monumento confuso e assimétrico.
O homem simplesmente parou de me encarar. Pegou o seu saco preto e soltou mais um corpo morto. Certamente ele era o assassino de meus companheiros. De qualquer modo, essa informação me era tão irrelevante quanto tediosa. Ele era só mais um vivo. Todavia não pude deixar de felicitar meu novo companheiro:
- Seja bem-vindo, meu partidário.
- Do que está falando? - perguntou-me o serial killer.
- Não falo contigo, falo com o morto.
Olhando-me com estranheza, o homem simplesmente foi embora. Era um vivo e, tal como um vivo, não poderia compreender um partidário da morte. Nem sei se posso falar em "partido". A ideia de que há "parte" e não "todo" pertence a essa diferenciação do reino da necessidade. O partido, seja qual for, nada mais é do que um defeito na capacidade de pensar. Na totalidade, em que só os mortos estão, não há "partido" algum. Tudo se encontra e tudo está encontrado. Não sei se a felicidade do assassino consistia em matar. De qualquer modo, matar é um prazer tão sem graça e efêmero quanto qualquer outra vaidade que constitua a vida. Todo prazer de um vivo é um prazer efêmero, impróprio a capacidade eternalística que tem a própria morte. Não o condeno, toda atividade viva me é indiferente. Qualquer movimento me é estúpido. Que diferença me faria se ele fosse padeiro, açougueiro ou um simples pescador? Tudo isso é vaidade. Mesmo o assassino compulsivo tem o gosto de matar. Trazer pessoas ao mundo eterno da morte causa-lhe prazer. É um esforço idiota, tal qual todo esforço vivo. Tão sem valor, tão sem importância quanto qualquer coisa viva.
Meu bem-estar não durou tanto tempo. Minha única felicidade, que me conectava com o mundo transcendental, foi-me privada. Acabei por ser pego por um policial e colocado numa viatura de polícia. Não tardou que eu fosse investigado. Todas as vezes negando a mera hipótese de que tenha sido eu o assassino. Respondia vagamente que também era um morto. Achavam que eu era insano, simplesmente insano. É justamente o contrário: eles é que são insanos. Fiquei dias na cadeia, esperando e sonhando com minha volta ao terreno baldio. Pensava em me matar todos os dias. Isso não me era ruim ou depressivo. Eu simplesmente amava a ideia de me ver morto. Morto e liberto. Toda essa sucessão de ideias e gosto pela proximidade com a morte durou até que o assassino foi pego. O estranho homem confessou todos os crimes. Além de que, em sua casa, foram encontrados vídeos de tortura e assassinato de todas as pessoas que matou e que estavam no mesmo terreno baldio que eu. Ele ganhava dinheiro torturando pessoas ao vivo. Uma investigadora, antes de me soltar, fez-me a sua última pergunta:
- Se você não era o assassino, o que fazia ao lado dos corpos assassinados? É isso que ainda não pude compreender com totalidade.
- Ora, minha cara, eu apenas olhava para a minha própria natureza.
terça-feira, 6 de setembro de 2022
A Panaceia do Espaço
Quando uma tia minha morreu, fiquei a chorar sem ao menos conhecê-la direito. O dia era acinzentado e trazia a sensação dum mau agouro. Era a primeira vez, a morte fez-se morada em meu imaginário sem permissão ou pedido algum de concessão, ela simplesmente arrombou a porta e adentrou como nada se fosse. A mim só coube suportar a noção de que as pessoas não eram imortais, que eu um dia sumiria para sempre e que houve um mundo que não foi marcado pela minha presença e haverá um mundo em que minha presença já não será marcada. A ideia de que toda minha existencialidade era um grão de areia insignificante que se juntava a outros infinitos grãos de areia não me foram reconfortante. Só percebi a banalidade do valor superestimado que damos a todas as coisas.
Se eu pudesse conceber uma imagem fidedigna ao tempo, teria que criar uma mitologia pra explicá-lo. Decidi fazer essa tarefa por não ter nada melhor para fazer e por ter a consciência de que já estive em dias melhores. Como sou um pessimista nato, não esperem de mim nada que fuja duma concepção injuriosamente sofrível. Quiçá tirem algo de bom, útil ou aproveitável desse pequeno conto. Eu mesmo, quando o criei em minha cabeça esquiva e atordoada, pude tirar dele uma importante lição.
Quando um bebê nasce, ele se depara com um homem velho e barbudo a olhar-lhe. Ele não tem noção de quem esse homem é ou o que faz lá. Esse estranho homem tem vários pregos guardados numa caixa e carrega consigo um estranho martelo. O homem pega o martelo e coloca um dos pregos na boca. Vê o bebê e olha compadecido, conquanto que também frio. Ele pega o pequeno bracinho do bebê, segura-o fortemente para que não fuja e martela o prego no braço da pobre criatura. A criança chora compulsivamente, sem entender nada e sentindo a dor sem poder defini-la. Do mesmo modo, o velho também chora, tal como se ferisse a si mesmo nesse processo. Do momento em que nasce, até o momento que ela morrerá, esse estranho homem marcá-la-á com pregos a cada tempo.
Cada prego representa uma ação dada no espaço-tempo. Esses pregos nunca saem ou cicatrizam. Eles doem eternamente, atordoando cada homem por sua ação. No começo, damo-nos por insatisfeitos e continuamos a agir com a dor acumulada. Só que desde logo sabemos que cada prego será fincado a cada ação e conosco ficará a afligir nossa consciência a cada passo. O bebê tão logo tornar-se-á menino, olhará ao velho aflitivamente e estenderá a sua mãozinha para que ele coloque outro prego. Esse processo se repetirá até que chegue à adolescência. Rebelar-se-á tentando fugir de todo esse processo repetidamente doloroso, tentando correr para todos os lados do infeliz idoso. Todo esse vaivém negacionista não poderá salvar o jovem, tornar-se-á adulto e com mais pregos ardentes em seu corpo.
Um dia, mais adulto e consciente de si, o jovem que se torna homem perguntará ao idoso, pela primeira vez, a razão de tanto sofrimento. Mais uma vez, o homem pensará que o estranho torturador não dirá nada. Só que, dessa vez, ele lhe responde.
- Por que me faz isso? Que te fiz?
- Não sou eu que lhe faz isso, é você quem faz - diz o idoso com lágrimas nos olhos, numa voz débil e com as mãos frementes.
- Quem é você?
- Eu sou você. Você é a consciência da consciência. Eu sou a consciência da consciência da consciência.
- É impossível que eu me cause tanto sofrimento, está mentindo - dirá o homem hesitante perante si mesmo.
- Não, todo prego que lhe coloco é duma ação tua. Cada ação tua é marcada no tempo peremptoriamente, sendo irretornável. Todo passo é marcado pela eternidade, nessa eternidade do espaço-tempo em que se é impossível mudar. Tudo que faz é marcado, nada é retirado. Se viveres cem anos, terás tua história a repetir-se nesse espaço de cem anos pela eternidade.
- Eu não entendo.
- Pois um dia entenderá.
- Por que é a primeira vez que fala comigo?
- Não é a primeira, na primeira era muito novo para se lembrar. Só que um dia, lembrar-se-á.
O homem tentará variadamente entrar em contato com o velho. O velho recursar-se-á a tornar a prosa. Com o tempo, o homem verificará que o velho se tornará tão apenas uma caveira. Caveira essa que omite a maior parte de seu corpo com um manto preto. Uma caveira de mesma função: colocar pregos em seu corpo, numa tortura sem fim. Um dia, essa caveira olhará para ele, não haverá mais nenhum prego para ser pregado. Ela simplesmente se despirá e dirá:
- Conte o número de pregos.
Contando os pregos, o homem verá uma determinada quantia. Ainda não compreendendo, pedirá ajuda para a caveira que outrora era homem:
- Não consigo compreender.
- Conte, então, todos os pregos que tem em seu corpo.
O homem contará e verá que é o número exato de pregos que tem na caveira. Então se dará conta de que era ele mesmo o tempo todo pregando pregos em si mesmo. Olhará para a caveira e ela estará segurando um espelho, o homem olhar-se-á e verá que é o mesmo velho que viu quando era apenas um bebê.
- A vida se inicia com um bebê sem mácula. Logo nele serão pregados pregos, estes terão quantidade diferente a cada indivíduo. Alguns, mais assustados, negar-se-ão a mudar com mais frequência e, então, terão menos pregos. Outros, mais ferozes e imperturbáveis, terão muitos pregos. Se bem que a quantidade de pregos pouco importa, mas o valor que cada prego teve.
- Por que me diz isso só agora?
- Eu partirei, minha missão se findou. Mas a tua começará.
- Qual será a minha missão?
- Lembra-se que a eternidade é só um espaço-tempo determinado a repetir-se infinitamente pela própria natureza do tempo-espaço marcar-se na eternidade?
- Lembro-me.
- Então já sabe sua missão.
- Qual ela é?
- É a experiência.
- O que é experiência? Como define isso?
- Ora, a palavra é menos que o pensamento e o pensamento menos que a experiência. A experiência é aquilo que chamamos em parte de incognoscível. Sua natureza mesma é perdida com o pensamento que não pode traduzi-la ao todo e na palavra que é incapaz de traduzir o todo do pensamento que é menos que a experiência. Uma hora você perceberá que há verdades que escapam a própria possibilidade de inteligibilidade com a razão.
Um choro torna-se audível. O bebê que tornou-se homem velho olha para si mesmo bebê e, de súbito, toma consciência de sua missão. Uma quantidade de pregos, a mesma que tem em teu corpo, está dentro duma caixa. Ele tenta olhar para a figura cadavérica, a própria morte, para lhe clamar por misericórdia nessa torturante tarefa. Ela não está mais lá. Só há, na sala, "ele e ele". O homem velho pegará o martelo, olhará para o pobre bebê que lhe chora e dirá:
- Por muito tempo, acreditei na panaceia do espaço. Poderia tomar qualquer ação ou ação alguma, só que os pregos continuaram a vir. Então vi que o sofrimento era inevitável e que cada escolha arderia eternamente em meu corpo. Poderia dar-me conta disso e tomar escolhas mais prudentes, só que só percebi o valor do tempo que marcava na eternidade após grande tempo. Agora que o tempo passou, sei que na vida adulta tudo é erudição e que cada experiência é marcada pela experiência de outrora. Não há, na vida adulta, escolha sem marca de memória, memória sem marca de sensação, sensação sem marca de sentimento. Eu sinto muito, pobre pequeno. Terei que marcá-lo com os erros e acertos que cometi. Esses serão os mesmos erros e acertos que tu cometerás.
O homem pegará o braço do pobre bebê, colocará o parafuso na boca e pegará o martelo. Chorará e martelará a criancinha. Então perceberá que sentirá dor intensificada na mesma parte que martelou o bebê. Chorará enquanto faz isso, relutará, só que continuará a sua missão. Sua mente tornar-se-á tão anuviada pelo sofrimento que causa a si mesmo que não conseguirá se expressar muito. A única coisa que ele sabe é que essa é a sua maldição eterna: não ter percebido que deveria ter vivido cada momento tal como se o vivesse pela eternidade, já que só assim aproveitá-lo-ia por completo.
quarta-feira, 17 de agosto de 2022
Desnecessário
Suas palavras são desnecessárias, dar-nos-ão apenas o contínuo ruído sonoro do término de nosso relacionamento. Eu sei que tudo foi bem até onde poderia ser. Tudo que preciso é de uma lembrança feliz, de quando éramos homem e mulher. Lembrar-me de ti nas auroras de outrora e não do fim trágico da obra que construímos juntos. O que quero, o que preciso: está dentro de minha mente, seu sorriso feliz por ter-me ao meu lado. Eu só preciso lembrar dele e guardarei uma imagem boa de ti na perenidade de minha consciência. Tudo o mais é desnecessário, todo restante é acidental e triste, um acessório horrível àquilo que chegou a representar o nosso amor. Eu não posso consertar o que está quebrado, nem posso ouvir o concerto da melodia de uma paixão perdida.
Eu quero lembrar de ti num perene sorrir. Não nos choros que finquei em teu rosto. Eu sinto muito, isso é egoísta e covarde de minha parte. Escrevo-lhe como uma forma de pedido de desculpa. Eu ainda quero lembrar da maciez de seus lábios femininos, do carinho materno que nutria por mim, da tolice ingênua de meu agir de menino, de seus problemas de mulher, de seus trejeitos de menina. Meus erros rasgaram teu sorriso, meu pecado fincou-se em tua alma, meu amor extraviou-se pelo caminho e decepcionou-lhe fortemente. O que penso é só o que preciso: a tua imagem antes do ódio que lhe dei com a marca de meus erros, seu rosto risonho e tenro antes do esgar de ódio que pincelei em tua face. Não tenho tempo para gastar em meus antigos erros de um amor perdido. Não posso voltar onde não há volta. Não posso romper a barreira criada por um laço rompido. Foi melhor pra você assim, foi melhor pra mim assim.
Arrependo-me tão somente do paraíso perdido, sabendo que não haverá mais volta. Caminho com a fé de um dia amar de novo. Suas palavras rancorosas chegam até a mim, só que o ódio que tens por mim não chega a mim e se transforma em ódio a ti. Isso não aconteceria nem em um breve lapso temporal, isso não aconteceria nem em um milhão de anos. Se eu tivesse que odiar alguém pelo que rolou conosco, odiaria a mim mesmo - eu sei, fui eu que dei mancada, fui eu que errei, só que estava tentando te proteger. A minha imagem obscura logo obscureceria a tua imagem de luz. Você diz lutar para não me odiar, eu luto para não lembrar que fui amado. Eu luto para não lembrar de cada erro que cometi. Eu luto pra não lembrar que te fiz chorar. Eu luto para não lembrar que não há mais volta e que há sempre uma possibilidade para encontrar um novo amor e sentir o que um dia senti por ti.
Espero que o tempo remova a tua raiva por mim. Eu não voltarei a ti, tu não tornarás a mim. Se puderes lembrar com um carinho pelo bom tempo, sentir-me-ia mais feliz. Só que tudo bem achar que fui um merda. Tudo bem achar que minha ação foi infeliz. Tudo bem se achar que sentir seu ódio por mim lhe torna melhor e mais forte. Aceito até seu ódio por mim se isso lhe faz bem. Se te fizer melhor, pense em todos os erros que cometi repetidamente. Só que não espere o mesmo de mim. Espero que o tempo cure seu ódio, espero que encontre alguém que a ame, espero que seja feliz. No fundo, amar é desejar o bem. Desejo-lhe sempre o bem e espero que um dia deseje o mesmo para mim.
quinta-feira, 21 de julho de 2022
A Caveira e a Borboleta
Havia uma caveira que estava numa antiga caverna. Essa caveira não via a luz do dia e nem menos se alegrava com o passar do tempo – talvez essa caveira nem mais sentisse o passar do tempo ou, melhor, não quisesse sentir que o tempo passava, já que o tempo carrega sempre sofrimento. A caveira era tão branca quanto a mais ausente coloração. Graças a isso, tudo lhe era indiferente e a coloração era sempre incolor. O Sol era-lhe tão cinza quanto a própria vida lhe era cinza.
Perto dessa caverna, havia uma borboleta preta. Borboleta preta pelo preto ser a união de todas as cores. Por ser a união de todas as cores, todas as sensações, tal como todas as cores, se sintetizavam numa única e a sua percepção era tão densa que muitas vezes lhe fazia sofrer ou tão grande que muitas vezes percebia sem perceber, já que percebia tão imensamente que era até mesmo incapaz de perceber o que percebia – tanta coisa gera um Big Bang dentro dessa borboleta, a qual ela deve “guardar” para simplesmente não explodir, mesmo que isso seja impossível.
Certo dia, essa borboleta estava imersa em um constante sofrimento. Essa borboleta era um paradoxo: por sentir demais, não mais sentia; por sentir tudo, a tudo se unia indiferentemente; por perceber longamente, o longo era tão longo que parecia nem existir. Como, então, poderia criatura tão singular existir? Alguém dirá que a borboleta era Buda, digo-lhes que ela era “mais do que Buda”. Essa borboleta então voou sem perceber, mas percebendo: sua vida é uma sucessão de emoções que passam com tantos estímulos que a própria percepção de estímulo se perde. Consciente e inconsciente não são distinguíveis em tal borboleta e o místico é-lhe condição eterna.
A caveira estava em sua caverna. Essa caveira era tal como o Mito da Caverna ou tal como Matrix: um ser que se libertou do sistema. Só que, mesmo liberta do sistema, nada poderia fazer: a sociedade, como um todo, manifestava-se contrária a ela e, portanto, toda expressão lhe era calada de forma imediata e como toda expressão dela fosse abjeta. A caveira, então, cansando-se do mundo, fechou-se em si mesma. Já que foi morta espiritualmente dentro da caverna pelos tolos que não quiseram ouvir a verdade, na caverna ficou em obediência ao sofrimento causado pelos tolos. Não mais andava, não mais ria, queria fugir de todo sentimento. Por tal condição, foi pouco a pouco tendo seus músculos reduzidos e, depois, tornou-se mais e mais cadavérica, até tornar-se plenamente caveira.
A borboleta sentia tudo. A caveira não mais sentia. Seres opostos, seres de natureza dialética e dialógica, seres que juntos são contraditórios. Se na vida há um fato observável: é que usualmente os opostos se anulam, mas também a sorte – ou seria a providência divina? – que os opostos possam se complementar. Só que isso só ocorre por milagre, já que em nossa sociedade – seja hoje, ontem ou amanhã – é feita numa luta de contrários que pela eternidade se eterniza.
A borboleta voava no escuro da caverna. Essa caverna era tão escura quanto a união de todas as cores da borboleta. A borboleta voou por horas e horas nessa caverna, então decidiu repousar. Pousou, então, na caveira. E a caveira não falou nada, mesmo que quisesse falar, já que havia desistido de sentir por ter sentido em demasia. Estranhamente, a caveira e a borboleta ficaram juntas, por vários e vários dias. Era uma companhia real, em perpétuo silêncio sentimental. Um diálogo mais íntimo se construía na intimidade do silêncio, já que existem diálogos que só o silêncio pode construir na intimidade de cada coração.
Em um dia, a borboleta começou uma metamorfose e essa metamorfose atingia a caveira calada em sua solitude. Parecia que se havia um casulo que ia cobrindo cada parte da caveira e, em cada parte, uma nova pele ia surgindo. Era o milagre da ressurreição, tão forte quanto o milagre sofrido por Cristo na cruz. Os músculos logo iam se criando, conectando-se aos ossos da caveira. Com o tempo, de forma mística e misteriosa, a caveira e a borboleta se tornaram um só. Agora, aquele que via a borboleta, também via a caveira. Agora, aquele que via a caveira, também via a borboleta. Um revelava o outro dentro de si, no entanto, um também escondia o outro dentro de si. Só resta perguntar: “como isso é possível?”. Com isso só há uma resposta: há coisas que nunca conseguiremos expressar, por maior que seja a nossa inteligência.
Finalmente algo místico ocorreu, aquele novo ser, meio caveira meio borboleta, meio yin e meio yang, saiu da caverna sorrindo num riso que poderia abarcar mais do que infinitos universos inteiros. Aquele ser se pôs a dançar por aí, de forma infinita, seja na amargura da chuva ou no clarão estonteante do Sol. Não importava mais se fazia Lua ou se fazia Sol ou qual era a estação do ano, em todo lugar se via aquele ser misterioso dançando para lá e para cá, contrariando todos aqueles que achavam aquele ser-milagre impossível.
Como não poderia deixar de ser, esse ser dançante levou a uma série de juízos imperfeitos que não abarcavam a sua concretude poética. Uns diziam que esse ser era diabólico e que gozava da cara de todos ao ficar dançando por aí. Outros, também ingênuos, disseram que esse ser dançante e místico dançava já que não sentia o sofrer e quando o peso do real se fizesse mais presente, esse ser deixaria de dançar e até mesmo deixaria de ser – ledo engano, mas o ressentimento humano é sempre compreensível. Alguns, de natureza científica, acharam que o melhor seria separar a borboleta da caveira e trazer os dois a sua devida natureza, já que a união de seres tão diferentes era de natureza inatural – engano eterno: o amor é sempre eterno e quando une, não se pode mais desunir, já que o ser que ama não mais é a parte, mas o todo que é novo e o todo que é o ser.
Engana-se aquele que crê que o ser dançarino dança sem sofrer e engana-se aquele que pensa que o ser dançarino só sofre e por isso dança. Não, não, não é nada disso. É tudo isso, mas, ao mesmo tempo, é mais do que tudo isso e está acima de tudo isso. Não era um ser qualquer, não era qualquer coisa, não era nem um ser e muito menos eram dois seres e nem deixava de ser um ser – se já é difícil expressar o possível, é mais impossível expressar o impossível. Poder-se-ia falar-se em trindade? Não, não era uma santíssima trindade, mas uma santíssima dualidade que acoplava duas personalidades sem contradizer: não havia critério hierárquico e nem alternância contraditória em dualidade de ser. Eram dois seres, mas não eram dois seres. Era cada um, mas cada um desse um era apenas um.
Só que neles havia uma música em sintonia, uma música que só os mais puros ouviriam – já que os mais puros seriam capazes de sentir. Essa música sintônica, essa música sintética, essa música que gerava ressonância de alma a ponto de fazer que duas almas fossem uma e/ou única, essa música que lhes fazia dançar para sempre “os tornavam loucos” ou “o tornava louco”: já que aqueles que não ouvem a música, sempre chamam de louco aquele que dança – engano de compreensão? Não, a compreensão é fraca, mas o que falta é o engano de convivência empática, o que falta é sentir e não compreender, já que o sentir supera a compreensão tal como o amor transcende a razão. Tal como já dizia: a palavra é menos que o pensamento e o pensamento é menos que a experiência.
sábado, 16 de julho de 2022
Falas Provisórias
Eu tive que encontrar alguém, com dúvidas e penúrias, fui lá e encontrei.
terça-feira, 7 de junho de 2022
Psicologia Aplicada de Freud: A Contribuição da Psicanálise para Arte
Aprendemos, com Freud, que a arte pode ter um "poder utópico" que metodologicamente serve como mecanismo realizativo do ser e, com isso, atinge um grau de sublimação que servirá de relaxamento do tensionamento psíquico - o acúmulo enérgico e o sofrimento decorrido dele podem, redimidos pela arte, serem arrefecidos.
Freud mesmo encontrava na literatura uma chave para o entendimento dos dramas humanos. A educação cultural e a cultura tornam-se meios de retirada da tensionalidade que ao ser deprime em sua tormenta. Freud insistiu que os artistas anteciparam as verdades mais essenciais do psiquismo humano.
Mesmo que a arte seja definida como: não "bastante forte para nos fazer esquecer nossa miséria real". Ela ainda serve como um substituto daquilo que perdemos na vida em si. Um paliativo ao sofrimento que, quando não encarado como saída absoluta - o que seria uma alienação -, tem a possibilidade de ser uma forma de evasão da tensionalidade energética. A possibilidade de ser, numa existência paralela, uma nova pessoa faz com que saíamos da rotina encarcerada e (de)limitada do real.
Não por acaso, o surrealismo - que foi inspirado na psicanálise- representa um questionamento aos padrões comportamentais e morais socialmente estabelecidos. Sempre escapando da regra, já que o ser sempre necessita de um mecanismo de escapamento para a angústia que o cerceia. Contrariar um pouco é necessário, mesmo que um conjunto de regras estabelecidas sejam necessárias a própria existência humana - e uma vigilância constante sobre as regras estabelecidas também é necessária.
Mais uma vez, a amplitude da psicanálise fascina-me. É como uma ferramenta altamente dialógica capaz de abarcar uma série de fenômenos que, para o bem ou para o mal, vivencio.
sábado, 21 de maio de 2022
VOCÊ NUNCA SERÁ FELIZ SENDO PAULISTANO!
Esse é um texto pessoal, lide-se ou sofra. E você pode dizer: “isso é normal de qualquer local do mundo contemporâneo”. Só que se lembre: alguns locais são “bem mais contemporâneos que outros”.
Deixem-me jogar uma “redpill” sobre a capital paulista e o seu povo (paulistano). Talvez ela seja útil para quem tem a ilusão de que viver aqui seja uma coisa boa ou sensata a se fazer devido "a oportunidade de emprego, a diversidade da cidade e comidas do mundo todo, né?". Há, há, há. Você quer pagar o preço de sua alma tentando essa hipótese, meu caro tolo?
Não sei se vocês sabem, mas São Paulo é a cidade mais multicultural do Brasil. Talvez vocês achem que isso signifique a vivência de um sonho em que se pode comer comida de, hipoteticamente, qualquer lugar do mundo – e quiçá isso até seja uma coisa boa. Embora deva-se sustentar que: diversidade alimentícia é só um dos aspectos da experiência geral do todo e o efeito do todo, dentro de São Paulo, nunca é bom. Se isso não lhe serviu de argumento suficiente, lembre-se de uma coisa: nenhuma comida alterará o vazio que você sente por dentro. São Paulo tem tantas formas distintas que não há senso algum de unicidade que ligue a coisa toda e promova uma identificação real, desproporcionando o sentimento de pertencimento graças à ausência de um padrão conexual, mesmo que mínimo, que interligue todas as redes de estruturas que ali estão. É mais um caos sem forma do que uma unidade de variáveis. A consequência de viver aqui é o desgaste contínuo até o arrependimento constante. Eu já perdi as contas de quantas vezes me senti intensamente infeliz só nas últimas semanas. E pior do que isso: o desejo suicida aqui criado é de caráter inconsciente, você enlouquece calmamente e viciosamente sem prazer, tal como dizia uma música do Lobão ("Essa noite não").
Vivo em São Paulo há vinte e cinco anos, nasci e cresci aqui. Desde lá, nunca conheci um único paulistano que não tenha tendência suicida – e eu não conheci pouca gente. E, não, não importa a falsificação do discurso por trás disso. A esquerda está ocupada demais odiando o mundo injusto que supostamente está inserida, mesmo que a esquerda paulistana seja uma das esquerdas mais ouvidas e mais organizadas de todo país. Consegue-se, aqui, chegar-se a uma mobilização política de estatura alta e eficaz (ao menos para o padrão duma sociedade capitalista de “terceiro mundo”). Não, esse texto aqui não é uma crítica das pautas da esquerda - sou a favor de grande parte delas - e sim um reconhecimento de que, na realidade, tudo que há em São Paulo são hiperestímulos e movimentos múltiplos de exaustão incessantes. Quanto a direita - aqui trato da direita conservadora ou tradicionalista, esquecendo os "neoconservadores" já que nem conservadores eles são -, ela vê as coisas desordenadas demais para se sentir feliz por aqui e os mais sãos dão a "foda fora" (ok, eu uso chanspeak). Quanto mais a esquerda realiza a sua pauta de tirar de São Paulo qualquer valor autenticamente paulistano - se é que se pode falar de "valor autenticamente paulistano" nessa grande teia de multiplicidades que se alternam por aqui - e inserir São Paulo no cerco mais globalizado e cosmopolita do mundo, mais se sente insatisfeita com a própria pauta e mais radicalmente luta por ela (circlejerk [circulo idiota]?). Acontece que há uma razão para isso: quanto menos pertencimento você tem com o local que você mora, menos satisfeito você se sente com ele – e menos você o ama (Capitão Óbvio). É como aquele manifesto identitário, a esquerda 68tista criou um mundo sem pátria, sem religião, sem divindade, sem família. O resultado não é a imanentização escatológica de John Lennon na música “Imagine”, o resultado é a própria pessoa desgarrada de qualquer sentimento de pertença que lhe seria vital e, por conseguinte, uma fábrica de suicidas potenciais. Um mundo em que tudo se dilui é um mundo de uma massaroca genérica e sem singularidade, o preço da diluição de tudo não é a produção de singularidades, mas a destruição de qualquer possibilidade de singularidade e subjetividade. Se eu disser que todo paulistano é um potencial suicida, talvez a fala fosse um exagero quantitativo, mas não seria um exagero qualitativo. Por outro lado, a direita olha pra tudo, vê que não tem conexão com absolutamente nada, choca-se com a disformidade e, por fim, mata-se ou "dá a foda fora" - e a direita liberal contribui para a destruição de qualquer senso de pertencimento junto à esquerda pós-moderna, o que leva ao eterno lenga-lenga do fato de que a direita liberal (junto aos neoconservadores) é a direita progressista e é progressista no sentido mais profundo em que o progressismo erra. Só que há mais uma direita, de tendência radicalóide, que acha que pode voltar a um passado glorioso e ataca tudo reacionariamente como se isso fosse um meio de atuação efetivo e congruente.
A constante ideia de que a história segue linearmente é assumida simultaneamente por quase todas as esquerdas. Porém não esqueçam de um fato: o neoconservadorismo se assenta numa visão idealizada dos Estados Unidos e importa o seu modelo cultural para todos os países, em alguns casos gerando verdadeiras revoluções que, para qualquer pessoa razoavelmente pessimista (e, par excellence, cética da política e verdadeiramente conservadora e no melhor sentido de conservadorismo), nada tem de fato de conservador. O neoconservadorismo destoa-se do conservadorismo real, já que o neoconservadorismo crê na linearidade da história e tem por objetivo a imanentização escatológica. É por isso que o "neoconservadorismo" nada mais é do que um revolucionarismo americano, uma besteira que só poderia ser criado – e de fato foi – por ex-esquerdista que tiveram formação conservadora de caráter deficiente. Por conta disso, neoconservadores são tão ruins quanto esquerdistas pós-modernos e liberais pós-modernos em seus excessos. Neoconservadores têm um programa para São Paulo: transformá-lo num grande anexo cultural da cultura americana dos anos 50. O que não é uma identidade paulistana e, falando em identidade paulistana, quase ninguém mais faz a mínima ideia do que seja. O neoconservadorismo não é uma forma de conservar a sociedade, nem de reformá-la: é uma macaqueação dos padrões americanos.
Se o progressismo é bom na medida em que traz pautas fundamentais ao desenvolvimento da humanidade para uma situação mais justa e equilibrada, o conservadorismo é bom na medida em que mesura as medidas experimentais com as medidas já testadas pela força do tempo. A vida é uma dialética constante entre mudanças que precisam ser feitas e condições que precisam ser mantidas. O teste contínuo de novas ideias levadas a cabo, de forma exaustiva, pode colocar em risco todo o desenvolvimento já adquirido pela sociedade. Por outro lado, a mera inalterância corre o risco de paralisar a sociedade e fazê-la estacionar no tempo. Povos fracassam por terem sido experimentais demais (progressistas) e/ou por terem sido estacionados demais (reacionários). Nós nunca sabemos onde estamos nos metendo de fato, tudo envolve cálculo e a política é sempre instável para as vãs e tolas previsões humanas. Só que a discussão aqui já se furtou a muito tempo. Temos neoconservadores que querem um padrão alienígena e progressistas que querem a total diluição da cidade em múltiplas formas que se perdem.
Tá, vamos voltar ao assunto de São Paulo mais propriamente. O nordestino se vê encarcerado num local que não o respeita e que não lhe dá boas oportunidades. Ele nem sabe que hoje em dia, São Paulo é tão ruim com os nordestinos tanto quanto é aos próprios habitantes – ignorando-se a xenofobia, ao menos na criação de uma atmosfera que leva todos ao surto a cidade de São Paulo é igualitária. O paulistano nem sabe a razão de seu sofrer, ele nem sabe que toda a arquitetura paulistana influência em sua sentimentalidade continuamente e o faz depressivo: prédios genéricos e de cores semelhantes (ausência de singularidade em prol da produtividade capitalista?, sei lá), padrões destoantes, arquitetura feia ou desgastada e sem política adequada de conservação, trânsitos que se prolongam em todos os dias da vida, ruas sem asfalto decente ou cheia de toscos preenchimentos superfaturados, nenhuma sensação de acolhimento ou qualquer caráter de historicidade que o ligue à terra nascente – agradeça a esquerda que queria tirar o caráter patriótico e regionalista paulista e, sobretudo, paulistano (e, olhem lá, eles foram bons pra caralho nisso). E o orgulho paulistano? “Nós pelo menos temos metrô”. Como se um sentimento patriótico, nacionalista ou regionalista se construísse com base no tamanho do local, do metrô ou de qualquer outra coisa que seja um produto secundário ou acidental de ações de pessoas bem-intencionadas e amorosamente inseridas num local durante um percurso histórico determinado. As coisas não são grandes e por isso são amadas, as coisas são amadas e tornam-se grandes por serem amadas. Esse é o problema do paulistano: não tendo um amor real por São Paulo, é incapaz de ter um espírito civilizatório crescente que faça com que a sua cidade se torne cada vez melhor. Dessa ausência de amor, a corrupção torna-se ignorável e o produto mais amável é o suposto desenvolvimento que a cidade tem. Só que não se esqueça: os problemas daqui continuam sendo corrigidos a passos de tartaruga, sendo simplesmente ignorados ou crescendo em meio a falsos estancamentos de políticas disfuncionais e o superfaturamento é altamente rentável para uma classe cleptocrata de patrimonialistas organizados que lucram em meio a nossa crescente destruição. Mas, tudo bem, para você a civilização pode ser uma bobagem e o patriotismo uma força de exercer a xenofobia. Você pode acreditar que o mundo se desenvolve pela ação de pessoas que desprezam o local que vivem, mesmo que isso seja flagrantemente contraditório. Amar a minha casa não quer dizer que eu deva odiar a do vizinho, tomá-la pra mim ou odiá-lo por ser meu vizinho – o mesmo é válido para pessoas de outra naturalidade ou até mesmo os possíveis alienígenas. Vale lembrar: o metrô não mata o vazio que você sente no seu peito.
Eu não estou fazendo ode à família tradicional, a religiosidade reacionária ou ao apego regionalista separatista. Creio que a família existe como um centro de poder que pode, se assertiva, potencializar cada indivíduo que esteja dentro dela. Se a família é o núcleo básico e a capacitadora imediata do ser nascente, uma boa família – e não: não estou dizendo “família padrão socialmente aceita e normativamente enquadrada” – é capaz de dar ao filho e a filha um bom direcionamento. O legado da família é a crescente realização de seus membros – assim deveria ser o legado de todos os agrupamentos sociais. Família, escola, instituições, cidade, governo: tudo isso é centro de poder, formado por indivíduos, cada qual deveria ter o objetivo de transformar os seus membros em pessoas cada vez melhores. O espírito civilizacional é um esforço crescente de pessoas que estão determinadas em elevar-se além das condições que lhes eram anteriores. Só que isso só existe esporadicamente, ninguém está preocupado com a sociedade como um todo. Por vezes, nem com o desenvolvimento da própria família. O que mais precisamos é de que todos os grupos, do mais microcósmico ao mais macrocósmico, preocupe-se com a elevação da potencialidade de seus membros e, igualmente, com a condição física dos lugares que seus membros habitam. Só que entramos naquele “papo chato do amor”: sem o amor, não há predisposição para o bem para o outro – e nem para si mesmo. Esse monte de gente está tudo no mesmo local, só que cada uma atomisticamente separada e em um “eternos monólogos de objetivos”. O único grupo preocupado na elevação contínua da qualidade de seus membros – ignorando as contínuas brigas que têm dentro de si – é a elite cleptocrata patrimonialista.
A religiosidade segue o mesmo sentido que deveria ter a família. O esforço religioso é a apreensão dum caráter iluminoso que transcende a própria contingencialidade humana e que nunca será, ao todo, abarcável. Tendo o ilimitado por base: a busca religiosa é sempre uma abertura ao infinito que descondiciona e deslegitima os limites que eram anteriormente intransponíveis. Só que esse aspecto de abertura ao infinito, superador das barreiras do imanente, que se projetava em todos os sentidos foi esquecido pela falsidade religiosa contemporânea. Se um religioso dedicava-se aos pobres, dedicava-se todos os dias para atender melhor os pobres. Se um religioso era intelectual, dedicar-se-ia todos os dias para aperfeiçoar-se na maestria da arte intelectual. A religião é espiritualista, seu fundamento é na busca do além de si. Transcendentalizar-se é superar-se. Porém a religião se perdeu por duas vias, seja na corrupção de esquerda ou de direita. Há aquelas que reacionariamente se portaram, tornando-se uma espécie de seita que idealiza o retorno ao passado perfeito – diferente do paraíso posterior defendido por qualquer grande tradição religiosa e que nada tem a ver com as promessas ideológicas (religiões civis: liberalismo, marxismo, anarquismo) de paraísos terrenos. Há, no entanto, aqueles que capitalização o discurso religioso para defender as velhas bobagens das esquerdas (a imanentização escatológica, o paraíso terrenal) e com isso ter poder político. Como se, mudado as condições, o todo da realidade humana fosse alternável pela engenharia social. Fora que há a dualidade corrupta entre: capacidade de gerar lucro (mercadologismo) ou acessibilidade democrática (vulgarização ou acessibilidade como sinônimo fetichista de democracia) só destrói a religião. A religiosidade é a busca pelo reino que, bem ou mal, transcende a esfera do atual e encontra-se superior a ele: é a própria caminha pela realização de um mundo melhor que não se concretizará aqui, mas será continuamente realizado de forma imperfeita – é claro que tudo se torna melhor com o nosso esforço, porém a melhora nunca é absoluta e toda promessa de melhora absoluta é uma ilusão de pessoas que se perderam na própria abstração. Além de que: as pautas de transcendência transcendem, por muitas vezes, as próprias necessidades econômicas do regime capitalista. Não por acaso, existe uma religiosidade autêntica que é anticapitalista ou apresenta pontos que não compactuam com ele – sem, contudo, tornar-se esquerdista. Fora que mesmo sendo a transcendência disponível a todos, ela requer um esforço de querer superar-se que não é da vontade de todos – a transcendência é “democrática” no sentido de que todos podem melhorar alguns pontos de si mesmos e de suas condições, porém mesmo que sujeita as condicionalidades que circunscrevem as vidas dos sujeitos, o esforço por querer mudar depende do ímpeto de cada um e da capacidade de aristocratizar-se (melhorar-se) como vocação. Outro lado que entrava a religiosidade é o próprio neoconservadorismo que avança com força, feito por uma série de igrejas mercadologicamente colocadas, com a pseudomística da teologia da prosperidade e aquela velha bobagem da mentalização psíquica como forma de atrair qualquer objetivo – geralmente estúpido, temporal e puramente material – para o colo. A reflexão intelectual verdadeira, que as formas verdadeiras de religiões impõem, é esquecida. Se o ímpeto religioso é uma abertura sem limite, a mentalidade religiosa abrir-se-ia ao próprio discurso intelectual que lhe é contemporâneo e apresentar-lhe-ia um discurso que lhe é cabível. O objetivo básico, primário e de suma importância da religião, o de reconectar-se com a instância última e primeira da vida, é esquecido completamente pela maioria dos religiosos do Brasil e eles vão muito bem com isso – e a religião vai mal, seguindo prostituída e/ou instrumentalizada para os mais diversos fins escusos.
Quanto a condição individual e o ser autorrealizável, há algumas coisas que devem ser ditas. O ambiente paulistano é péssimo para isso – é péssimo para qualquer realização de ímpeto mais ou menos transcendente. Você só poderá ter um pouco de autarquia (domínio sobre si) se ignorar toda a realidade que o cerca – e você terá que se esforçar para isso. Toda a teia de contínuas e múltiplas estimulações o fazem se perder numa série de múltiplos atos que condenam uns aos outros. Tendo múltiplas cabeças, uma ataca a outra e todo projeto se destrói. Ao paulistano, cabe a calma e o foco que, bem ou mal, fogem da realidade que o cercam. Ele precisa discriminar, escolher um único projeto e encabeçá-lo como escolha de vida – bem diferente do meio multicultural, cheio de opções e sem compromisso identitário a qual vivemos – ao menos que por um tempo limitado e concreto. Só que a pessoa está divorciada da intimidade de si mesma. Perde-se na coletividade ou na ausência de intimidade de si para si. Há diferença entre nutrir ideias políticas e organizar-se coletivamente para realizá-las para com esquecer-se da própria singularidade e tornar-se um ser condicionado a uma abstração coletiva. Infelizmente, o reducionismo politicista (“política é a única coisa que importa, é a realidade última do homem”) faz o homem esquecer-se das outras realidades tão reais quanto a própria política e subordinar-se a uma série de coletividades que, considerando a política a realidade última do homem, fazem-nos esquecer-se de seus outros objetivos vivenciais. É como se a perca de uma reforma, uma eleição ou uma campanha fizesse com que toda outra realização em outro setor vivencial fosse inutilizada. Se perdeu o objetivo político, perdeu também a família, a vida profissional, a vida espiritual, a vida intelectual, a vida cultural, tudo foi pro ralo ou a sensação psíquica é exatamente essa. É possível realizar-se em uma esfera enquanto perde em outra, não estamos num mundo unidimensional e a ausência de percepção disso esvazia a própria capacidade de realização. Não há possibilidade além da tribilização e seitização.
Conversando com um amigo fluminense, há uns quatro anos atrás, ele falou de como as pessoas se encontram ideologicamente afirmadas em São Paulo. Hoje eu não diria que se encontram “ideologicamente afirmadas”, eu diria que se encontram “ideologicamente reduzidas”. Existe uma condição de leitura a qual chamo de “leitura camisinha”. Isto é, ler outra vertente de pensamento só quando um autor de sua linha lhe diz como é essa linha de pensamento. A adoção de um padrão ideológico leva uma redução da capacidade da inteligência. Já que inteligência é o aumento do horizonte de consciência e razão é a aplicação daquilo que se sabe a uma realidade ou hipótese determinada. Exemplificando, é mais inteligência aprender múltiplas linhas de pensamento do que aprender uma única e aplicá-la em tudo. Porém a ideologização fecha a pessoa na redução da realidade, tornando-o um fetichista mental que aplica a sua forma de pensar em tudo em vez da preocupação em aumentar a própria capacidade de pensar. E é óbvio que, numa época tão dominada por fetiches mentais como essa, perder-nos-íamos num aspecto tão elementar quanto a diferenciação entre razão e inteligência, não é? Já que a mediocridade de nossa era consiste num uso exaustivo da vontade (faculdade de decisão) em vez da inteligência (faculdade de apreensão). Ser inteligente, tornar-se mais inteligente é um movimento de abertura e não de decisão. Inteligência é abertura e expansão daquilo que se sabe, vontade é a decisão, porém a inteligência potencializa a vontade e a vontade dobrada ao aumento percepcional potencializa a inteligência. Essa distinção fundamental tornaria tudo aqui menos fetichista e bobo. O resultado mais completo disso é a criação de grupos com uma mentalidade coletiva-normativa que ficam imersos em si mesmos como uma seita autohipnotizada (redundância, não é?).
Aí você escolhe: estude feito um louco, trabalhe feito um louco, faça as duas coisas feito um louco. Tudo em São Paulo é hiper estimulado e tudo deve ser feito com desgaste. Para sentir que se tem vida, faça tudo que faz até a exaustão. Aparentemente, todo paulistano está desgastado em sua adesão desgastante a qualquer coisa que faça. Se for desocupado, será o desocupado que quer demonstrar a sua própria desocupação todos os dias. Se for trabalhador, trabalhará até exaustão todos os dias. Se for intelectualizado, forçará a sua suposta inteligência todos os dias. Todo paulistano é excessivo e caricato pela sua própria excessividade, já que ele não tem ligação real com a realidade mesma que se circunscreve e que lhe trariam gosto pela Terra em que está: apreço ao religioso, inserimento na realidade local, sentimento de regionalidade, conhecimento da própria história, afetividade construída com o próprio percurso vivencial dentro dos locais que frequenta, uma família estruturada no sentido de garantir a potencialização de seu ser com uma história envolvente por gerações que lhe dão um sentido singular de vivência. No final, você bebe, fuma ou usa drogas ilícitas para ter uma efusão momentânea de prazer que, adivinha, vão te levar ao suicídio, a internação ou no mínimo reduzirão o seu tempo de vida. Sua escolha é viver dez anos a mil, só que essa sempre foi a única opção. Você não é hedonista e niilista por escolha própria, é por essa ser a via existencial mais acessível no mercado horrível em que está, por infelicidade do destino ou por burrice, inserido espaço-temporalmente. E você nem precisa ser paulistano pra sofrer disso: toda arquitetura zoada, ausência de cultura própria, caráter desgastante de todas as coisas farão que você vire um legítimo aspirante ao suicídio. Já conheci gente que veio “completamente apaixonada” e iludida pra cá. Eram “totalmente alegres” na medida em que essa aplicação hiperbólica e poética da linguagem o permite, feliz como uma abelha pegando pólen duma flor. Adivinha o que aconteceu com elas após alguns anos ou meros meses de “paulicéia”? “Necessidade” cada vez maior de suicidarem-se. Fora que o padrão exaustivo da vida paulistana faz com que tudo piore… É, esse é o espírito paulistano: você tem tantas cabeças que uma anula a outra por necessidade lógica, só que o processo é de natureza inconsciente e você nem sabe que está passando por ele – e, adivinhe só, você está sofrendo também por causa dele e pela autoanulação contínua do seu ser diante de múltiplas alternativas escolhidas que destroem umas outras preparando a sua psiquê para o surto e o suicídio.
Não se esqueça nunca disso: tudo na cidade de São Paulo levá-lo-á ao suicídio. Tudo levá-lo-á ao desgaste. No fim, o esgotamento é tanto que é melhor viver no interior do que nessa merda de fábrica de suicidas. Uma casinha organizada é melhor do que uma mansão caótica com todo tipo de problemas com os quais você tem que se lidar todos os dias de sua vida, porém, esqueça o que falei, baby, escolha o tamanho da gula com a qual você viverá (e regulará) a sua vida.
terça-feira, 12 de abril de 2022
Diário /sig/ #4
Nesse sábado, eu acabei saindo e voltando só segunda de madrugada. Como fiquei um tempão fora, acabei não treinando. Por um lado, creio que consegui sair um pouco da internet e estabelecer relações com pessoas reais. Por outra, menosprezei minha saudade. Só voltei a treinar hoje, então é por isso que houve um hiato temporal.
Acabei de sair do banho. Estou meio triste porque acabei vendo pornografia por esses dias e isso atrapalha meu desenvolvimento pessoal. Hoje retomo algumas coisas. A vida de estudos, por exemplo. Quero também dar prosseguimento ao curso que estou fazendo do Carlos Nougué, quem sabe no próximo dia, e imprimir velocidade no livro que aluguei da biblioteca. Hoje mesmo terminei um capítulo do Psicologia Aplicada de Freud. Quero aproveitar esse resto de semana para treinar, estudar e desenvolver minha espiritualidade com intensidade.
Martelo de Rosas
Ele não é de forma alguma um martelo maquinal. Ele é um laborioso e artístico artesão a destruir com a arte os limites duma sociedade petrificada em ilusão. É Dionísio com rigorosidade de um Apolo revolto. Ele é um novo Lutero atualizado a contemporaneidade. E em teus olhos substanciosos de águia encontro um conforto místico que me distancia da pulsão de morte. Com seu tocar, o eterno e o temporal se encontram em dualidade harmônica, levando a sensação de que o trivial possa se encontrar com a equidistante beleza do arroubo poético.
quinta-feira, 7 de abril de 2022
Notas do Gamesolo #3 - Terriermon e Veemon
Continuo jogando Digimon Rumble Arena, apesar de tê-lo zerado várias vezes. O motivo é simples: eu amo esse jogo e odeio Digimon 2, como qualquer pessoa decente. Dessa vez zerei como o Terriermon e o Veemon. Lembrei um pouco do filme, onde o Terriermon aparece pela primeira vez e o Davis fica com inveja de um cara que eu esqueci o nome. Ah, e o filme é de fato bom.
Tenho saudades de quando eu jogava essa pequena maravilha em meu PS1. É um dos jogos que mais amei e até hoje está na lista de jogos favoritos. E olha que de lá para cá, joguei muita coisa. A felicidade às vezes é monótona e repetitiva.
quarta-feira, 6 de abril de 2022
Diário /sig/ #1
sábado, 31 de julho de 2021
A fantástica banana invisível! #1 - Como se lidar com o vício em pornografia?
Há várias formas de se lidar com a vida e com o vício. O vício usualmente decorre da vida que se leva e a vida que se leva decorre de uma filosofia de vida. Mesmo que a pessoa não saiba que está em uma filosofia de vida e que tem uma filosofia de vida. E, quando não sabe, cai nos erros e acertos daquela filosofia inconscientemente. De alguma forma, guia-se sem saber que se guia. E anda numa direção sem saber que anda. É como se ela fosse tão irracional quanto um zumbi que busca morder pessoas por aí devido a um "acidente" de guerra biológica.
1- Por quanto tempo iremos apenas sobreviver e viver de fato?
Por qual razão se sobrevive? Teríamos, em nosso mundo, uma gritante escassez de recursos? Não, não creio que seja o caso do questionador em questão. Estou quase certo de que seu problema é um problema que se encontra a nível psíquico. O que quero dizer é: qual é o sentido da vida para você? Isso é uma pergunta de nível intelectual. É uma pergunta que não só diz: "qual é o sentido da vida?", mas também pergunta: "qual vida vale a pena ser vivida?". Creio que um grande problema do mundo pós-moderno é a falta de uma boa formação da personalidade. O sentido que a vida toma também está na personalidade. Visto que a personalidade não é só algo que diz o que o sujeito é agora, mas também o destino que ele se colocou.
Muitas vezes sofremos moralmente. Por vezes, temos várias coisas ao nosso redor. E nenhuma deles está em íntima relação conosco. Ter um videogame em casa não quer dizer em automático que se jogue ele. Ter um livro de matemática não quer dizer que se estude ele. O problema está em que nível um indivíduo se conecta com o mundo que o circunda. E essa pergunta só pode ser resolvida por ele mesmo. É preciso que ele mesmo perceba o ambiente a sua volta e que ele mesmo decida o que fará com esse ambiente. No exemplo do videogame, a pessoa que tem, mas não o joga pode simplesmente achar que o videogame é inútil. No exemplo do livro da matemática, talvez o livro só acumule poeira. De alguma forma, não há conexão entre o sujeito e o objetivo. O mesmo poderia ser dito da relação sujeito com sujeito. Muitas vezes se tem pessoas, até mesmo na própria casa, em que não se tem nenhuma relação.
"Sendo assim, o SENHOR modelou, do solo, todos os animais selvagens e todas as aves do céu e, em seguida, os trouxe à presença do homem para ver como este os chamaria; e o nome que o homem desse a cada ser vivo, esse precisamente seria seu nome" (Genesis 2:19)
Não querendo ser teológico, mas já o sendo: há uma razão para Deus "não dar nome" aos animais que ele mesmo criou. O objetivo não era que o homem desse simplesmente um "nome qualquer" para as criaturas criadas, mas que ele desse sentido. Aí que está a sacada: cada pessoa é convidada a dar sentido a todas as coisas. Dar um nome é precisamente isso: dar um sentido. Se as coisas que estão no seu quarto não possuem sentido, se as pessoas que estão em sua vida não possuem sentido, você sofre. Você precisa ter uma conexão com elas, você precisa ter uma conexão com as coisas de seu quarto, com as coisas do seu mundo. E é assim que se vive: percebendo e dando sentido as coisas.
O problema da vida está no objetivo que o indivíduo toma para si. E "não tomar objetivo algum" já é uma forma de se viver, mas que nos torna reativos. Muitas vezes se sobrevive por causa da ausência de conexão com as coisas. Tudo na vida precisa ter sentido para que as coisas tomem significado. Isso é ter uma vida de propósito. Isso é, propriamente, ser racional.
"E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?" (Genesis 3:9)
A pergunta: "onde está?" não é uma pergunta de localização no espaço-tempo. É uma pergunta que diz: "quem é você?", "o que você fez?", "o que você pensa que está fazendo?". Do ponto de vista de Deus, Deus sabe precisamente onde você está. Do ponto de vista humano, você não sabe onde está. O humano difere-se "daquele é". Visto que a condição humana é equívoca: o homem está num processo de fazer. Esse processo a que chamamos "devir" é a condição do homem: ele está num processo de construção. Diferentemente de outros animais encontrados na natureza, há no homem aquilo que chamamos de inteligência e liberdade, que o torna absolutamente variável - mesmo que só a nível psíquico.
"E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me." (Genesis 3:10)
Nessa parte o homem percebe que está nu. Seria simplório pensar que Adão se refere a vestimentas corporais. Adão se refere a vestimenta moral. E através da moral começa a se justificar perante Deus. Agora Adão não pode sempre se dirigir a plenitude, mas esquiva-se de privação em privação. Segundo a tradição teológica judaica e a tradição teológica cristã: o mal entrou no mundo depois do "pecado". Só que é válido lembrar: o mal "não existe" no cristianismo e nem no judaísmo de forma cabal, pois não há poder que se oponha ao poder de Deus. Logo está aí o enigma da serpente: o "conhecimento do bem e do mal" era na verdade a diferenciação da privação e da plenitude. Num exemplo hodierno, poder-se-ia dizer o seguinte:
1- Pense, por exemplo, no Nintendinho;
2- Pense agora no Xbox Series X;
3- Agora pense em qual é mais privado e menos pleno no hardware e software;
4- Você notará que o Xbox Series X é objetivamente mais poderoso que o Nintendinho;
5- Antes do "pecado" seria possível ter uma aprendizagem linear em que o ponto culminante era mais facilmente alcançável;
6- O homem não teria que passar do "Nintendinho" em progressiva evolução até o "Xbox Series X", ele poderia simplesmente chegar no "Xbox Series X" intuitivamente.
A possibilidade de sentido é, quase precisamente, essa: devemos buscar uma plenitude que nos conecte com o mundo. E quanto mais coerentemente conectados ao mundo, maior a nossa felicidade. Visto que o fim do homem é a felicidade. Quando uma pessoa busca outras pessoas, seja para qual fim, ela busca uma relação que maximize o seu bem-estar e, se ela tiver boa índole, de todas as pessoas envolvidas no processo. Quando uma pessoa busca objetivos, objetos e outras coisas: o fim dele é plenitudizar a sua vida. O objetivo de tudo seria uma acolhida em amor. A vida tem sentido quando ela se dirige ao bem. A vida tem sentido quando a pessoa busca ter relações que o façam crescer.
O problema do vício é que ele começa com uma expansão e se trava nessa expansão, essa expansão se torna unicamente a vida dessa pessoa e impede que ela consiga progredir na vida. O vício é uma atrofia de algo. E quando uma região é atrofiada, as outras param de crescer. O problema do vício não é, por exemplo, ele mesmo. O problema do vício é que ele costuma ser só ele mesmo. A pessoa vai gradativamente deixando de se conectar com qualquer outra coisa e acaba sendo reduzida ao vício. A abertura torna-se impossível e o indivíduo fica parado nessa conexão monótona. Uma conexão que se torna uma espécie de monomania que o priva de qualquer outra coisa que seja.
Como o vício do questionador em questão é a pornografia, eu já lhe respondo: a possibilidade de namorar com uma outra pessoa (ou outras pessoas) sempre foi possível. A possibilidade de viver uma boa vida sexual sempre foi possível. O problema é que o vício pornográfico lhe privou de viver uma vida sexual saudável com outras pessoas. Aí reside propriamente o problema: a pornografia impede o próprio sexo. O problema do vício em pornografia é que é só isso mesmo: pornografia. A possibilidade de ser, de se tornar maior, de se conectar, de viver um amor, de crescer como pessoa entre pessoas é travada pelo vício na pornografia.
3- O que viria depois do vício em pornografia?
Sei que você não perguntou isso, mas eu pergunto por você. Você não precisa se perguntar o que fará depois que parar de ver pornografia em definitivo. Basta se conectar com pessoas. Basta se conectar com coisas. Basta se conectar com livros. Basta se conectar com ambientes. Não fique parado só deliberando o que você fará depois que parar de ver pornografia, decida e execute. O presente é o verbo do dever.
Existem três estados da vontade: deliberação, decisão e execução. Na deliberação ficamos num estado pré-decisório em que posteriormente escolheremos algo ou alguém. Na decisão, esse algo ou alguém é decidido. Na execução, aquilo que foi deliberado e decidido é transformado em ato. Por exemplo:
I- (Deliberação) Posso decidir entre jogar videogame, ler um livro ou sair para passear;
II- (Decisão) Decido que irei passear;
III- (Execução) Pego um ônibus, vou até o Parque Ibirapuera e fico andando por lá.
A pergunta: "como viver o presente" é regida por esses três momentos: deliberação, decisão e execução. Você precisa fazer os três. Se você não quer ver pornografia, você simplesmente deve fazer outra coisa. Mas deve fazer continuadamente. O presente é o verbo do dever. Simone Weil, mística religiosa e anarquista, dizia que devemos buscar a eternidade. Buscar a eternidade poderia ser dito como: "viva cada dia seu como se fosse o último". Uma coisa que me ajudou muito é passar por esses três estados sem alterações. Muitas vezes tentamos fazer qualquer outra coisa, mas acabamos em duas patologias da vontade.
I- Patologia da Deliberação: nesse estado, mesmo que a gente se decida, acabamos sempre por retornar a deliberação. Se, para algo ser feito, é necessário passar pelos três estados (deliberação, decisão e execução), logo nessa patologia nada é feito. Um pintor que começa a pintar infinitos quadros simultaneamente nunca terminará nenhum. E esse é problema da patologia da deliberação: incapacidade de conclusão.
II- Patologia da Decisão: nesse estado, a pessoa cumpre demais. Ela segue continuadamente sem deliberar. E o problema disso é que ela não ouve mais nada e nem a ninguém. Ela toma ações o tempo todo. Se tentarem intervir, ela reage agressivamente. Se ela for parada, volta a fazer o mesmo depois que estiver livre. E como alguém que delibera poderia pensar? Simplesmente vive em modo automático, incapaz de mudar a direção da própria vida.
Aqui faço uma "evolução" ou hipótese: o grande problema de muitas pessoas que querem se livrar da pornografia envolve também essas duas patologias da vontade. Na primeira, a pessoa é incapaz de tomar uma ação construtiva para fugir da pornografia. Na segunda, ela vê pornografia sem pensar em qualquer outra opção em seu leque existencial.
Bem, meu caro, essa é a minha resposta a sua pergunta. Espero que eu tenha lhe sido útil. Para você e para quem mais se atrever a "perder tempo" lendo esse texto. E, é claro, mantenha-me sempre "conectado". Assim podemos sempre filosofar e teologar ou, no mínimo, prosear sobre nossos problemas e tirar essas fantásticas bananas invisíveis de nossas vidas!