Mostrando postagens com marcador União Soviética. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador União Soviética. Mostrar todas as postagens

sábado, 4 de outubro de 2025

Memória Cadavérica #12 — Política das Massas e Seitização

 



Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.


Marlon Victor⁩, creio que existe uma falta de "purificação" no nosso debate.


Existem vários modelos intelectuais e múltiplos pontos de vista. Quando você estuda a história a partir de diversos prismas ideológicos, você se depura da própria condição ideológica. Isso torna uma pessoa mais cética.


Note as distintas visões a respeito da União Soviética:

- As críticas anarquistas;

- As críticas socialistas;

- As críticas marxistas em suas mais variadas vertentes;

- As críticas conservadoras;

- As críticas sociais-democratas.


É o quadro amplo, o mosaico de cores, que nos permite analisar as conjunturas complexas da realidade.


Creio que estamos indo em uma direção muito baseada em "cada um no seu quadrado", o que leva as pessoas não verem um quadro plurissistemático dos seus caminhos.


Em vez disso, temos um adesismo absoluto e uma mania de ler só "intelectuais orgânicos" cuja única função não é exercer uma crítica e autocrítica, mas estabelecer uma visão sempre positiva e que estabeleça sempre um ponto de vista favorável.


Seguindo a lógica dos bandos, as pessoas sempre seguiram em uma postura irrefletida. Nunca navegando na complexidade.


A necessidade de vencer politicamente levou a ideia de nunca discordar com o grupo politicamente, sempre buscando uma justificava para todos os pontos. Além disso, a era da produção em massa de mensagens exigiu uma simplificação grosseira do debate público.


Como resultado, temos um combo: apologética em vez de análise intelectual com crítica e autocrítica + simplificação para mais fácil encaixe na massa.


Numa era em que há a troca da civilização pautada na leitura e escrita para a civilização pautada no audiovisual, além da necessidade de chamar atenção, vemos a emergência da política do megafone. Quem grita mais e de forma mais chamativa, é quem ganha mais.


Veja a política moderna:

1. Apologética disfarçada de intelectualidade ímpar;

2. Simplificação para penetrar nas massas;

3. Adesismo de bando;

4. Política de megafones.


Isso tudo gera uma seitização radical da vida política moderna, sendo algo radicalmente emburrecedor.

domingo, 28 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 6)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


Ronald Reagan foi, como vimos, adotando uma postura menos ideológica e mais pragmática. Afastando-se dos ciclos neoconservadores e evoluindo para uma posição mais complexa e sutil. Uma das condições mais características desse desenvolvimento foi a sua relação com Mikhail Gorbachev.


Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev trabalharam para eliminar a ameaça nuclear. É evidente que Gorbachev chama muita atenção. Odiado por muitos, querido por muitos. Gorbachev chegou a ser elogiado por Margaret Thatcher. No período em que Gorbachev governou a União Soviética, a sua nação havia passado por várias décadas em que muito do gasto ia para a defesa. Cerca de 80% para ser mais exato. O que levou a educação, os serviços sociais e a saúde a passarem por um grande aperto.


É evidente que existe uma complicação e uma complexidade nessa relação. Enquanto que os Estados Unidos tinham um orçamento militar crescente na era Reagan, cerca de 8% de acréscimo ao ano; a União Soviética teve um crescimento de orçamento militar 1.5% entre 1975 e 1984.


Gorbachev lançou as bases da Perestroika e Glasnot. A Perestroika visava uma modernização tecnológica e um aumento da produtividade dos trabalhadores. Além disso, houve uma tentativa de reformar a burocracia soviética para aumentar a eficiência. Naquele tempo, a política anti-alcool (que era um sério problema para saúde pública) se mesclava a adesão de uma economia mista com elementos de livre-mercado e investimentos do exterior. Enquanto isso, a Glasnot serviria para dar maior participação do povo no processo político e burocrático, aumentando a liberdade de expressão. Isso envolvia o povo e a mídia. 


Reagan e Gorbachev tentavam dar cabo do INF (Intermediate Range Nuclear Forces), para destruir o seu arsenal. De qualquer forma, seja Reagan, seja Gorbachev, enfrentaram oposições em seus respectivos países. Reagan enfrentou oposição de republicanos e da New Right (Nova Direita), que condenavam Reagan de forma pública ou privada. A diplomacia da União Soviética e os Estados Unidos era vista como esperança ou como uma ameaça em que um inevitavelmente enganaria o outro. Em maio de 1987, a revista National Review chegou a publicar o "Reagan's Suicide Pact".


Em 1988, Reagan proferiu um discurso na Universidade de Moscou falando sobre um novo mundo de reconciliação, amizade e paz. A União Soviética cortaria 500 mil pessoas de suas forças armadas e Tadausz Mazowiescki seria o primeiro líder não-comunista do leste europeu. Veríamos mudanças significativas na Europa Central e no Leste Europeu. A queda do Muro de Berlim estabelecer-se-ia. Posteriormente veríamos a dissolução da União Soviética em 1991, com uma transição que poderia ser chamada de pacífica.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 3)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


Em 1982, Ronald Reagan discursou em Orlando, na Flórida. Na "The National Association of Evangelicals" ele falou de adolescentes, controle de nascimento, sexualidade permissiva, a necessidade de rezar na escola, a sua oposição ao aborto e a importância de uma moralidade tradicional.


Reagan é conhecido por chamar a União Soviética de império do mal. Tentar fazer os americanos orgulhosos novamente do seu país e das suas forças armadas — o que se perdeu com a guerra do Vietnã. Além disso, de tentar elevar o prestígio internacional dos Estados Unidos. Ele investiu no desenvolvimento de armas e na construção das forças armadas americanas. Fez a Casa Branca dar suporte material para movimentos nacionalistas anti-comunistas por todo o mundo. Além disso, um suporte aos direitos humanos (entendidos aqui como liberdade individual e democracia). Reagan acreditava que os EUA e seus aliados capitalistas eram o mundo livre que resistiam a sociedades escravas comandadas pela União Soviética e o mundo comunista.


— A Nova Doutrina da Política Exterior:

1. Dramático aumento no financiamento militar;

2. Uma nova assertividade nos assuntos globais;

3. Uma renovada competição com a União Soviética.


Um fato curioso: Reagan acreditava que o orçamento militar não era uma questão de orçamento, mas que deveriam gastar o quanto fosse necessário. De qualquer forma, em 1983 a maioria dos americanos suportavam uma redução nos gastos militares. Mesmo com a retórica dos direitos humanos e liberdades individuais, os Estados Unidos forneciam suportes para ditaduras (Argentina, Guatemala e El Salvador são exemplos notórios).


Para conter e reverter a expansão soviética, o governo americano ajudou grupos insurgentes anti-comunistas. O que resultou em guerras civis. Naquele período turbulento da Guerra Fria, William Casey (diretor da CIA) acreditava que qualquer colapso em um regime comunista, mesmo que esse fosse pequeno ou comparativamente insignificante, poderia levar a perda do poder global soviético e a sua autoridade.


Durante o seu governo, Reagan aproximou-se da China (que havia brigado com a União Soviética) e trabalhou para isolar a URSS economicamente. Falou sobre a natureza ateísta e sem Deus do comunismo. Tendo que enfrentar as campanhas pela esfriamento nuclear (manifestações anti-nucleares). Com ou sem apoio social, o que era bastante volátil, os Estados Unidos forneceram armas e inteligência, ocasionalmente enviando tropas americanas, para desestabilizar adversários.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Acabo de ler "Love letter to America" de Tomas Schuman (lido em Inglês)

 



Nome:
Love letter to America

Autor:
Tomas Schuman (Yuri Bezmenov)


Você já pensou nas táticas de subversão empregadas, dia após dia, para alterar a mentalidade de um país? E se você recebesse, em primeira mão, a forma e o conteúdo tático de tais táticas de subversão? Você acreditaria ou diria que tudo isso é uma teoria da conspiração? E a questão que vem a seguir: será que todo o conteúdo do que recebeu é uma teoria da conspiração? O que faria a seguir? Deixaria que a mensagem se espalhasse ou simplesmente jogaria fora? Guardaria tudo para si?

Enquanto estudava o conservadorismo americano para compreender a anatomia do debate público, além do plano do Project 2025, acabei por me deparar com algumas fontes que afirmavam que havia um plano de subversão em curso nos Estados Unidos. Como já investigava a ideia de Segunda Guerra Fria, tive que estudar os arquivos do Hoover Institution e ver fontes de táticas empregadas dentro do contexto da Primeira Guerra Fria.

Vamos fazer uma breve recapitulação:

  • A notícia sobre o Project 2025 abalou o mundo inteiro;
  • Daquele período em diante, minha busca foi entender como pensavam e como estrategicamente agiriam os conservadores e anticomunistas nos Estados Unidos;
  • Entrei em contato com vários conteúdos diferentes, mas de alguma forma enquadrados, cujo os mais proveitosos foram os da Hillsdale College, da The Heritage Foundation, do Hoover Institution;
  • As fontes me apontaram que precisava ter um conhecimento maior acerca do debate público americano, além de uma perspectiva histórica mais bem delineada;
  • As fontes indicavam uma Segunda Guerra Fria ou uma tentativa de recriar um novo quadro em que uma Segunda Guerra Fria seria possível;
  • Vídeos como "America's Civil Cold War" da Heritage Foundation foram um marco na análise, o que me levou a buscar compreender o aspecto da Primeira Guerra Fria como um dos pontos essenciais;
  • Li mais livros de conservadores para compreender o que eles acreditavam, o que estava — segundo eles — sendo ameaçado e o que eles fariam para impedir isso;
  • Me dispur a estudar livros sobre como está funcionando o Partido Republicano atualmente;
  • Agora estou analisando livros, documentos e artigos a respeito da Primeira Guerra Fria;
  • Além de dados econômicos para saber qual o plano a ser empregado para que os Estados Unidos supere a China nessa batalha que além de econômica é existencial.

Existem algumas questões que precisam ser cautelosamente abarcadas nesse percurso:

  1. Teorias da conspiração não são uma novidade salutar nesse debate;
  2. Não existe uma teoria da conspiração que exista em absoluto sem nenhum dado que seja observável nos fatos, mesmo que em escala menor;
  3. O uso de técnicas de preenchimento ficcional podem muito bem levar uma mistura de informação real com falsa;
  4. É preciso ler muito para relativizar e depurar a informação que se recebe;
  5. É preciso separar um argumento antiesquerdista concreto da negação do aquecimento global, posturas anticientíficas gerais e teorias conspiratórias.
Outros apontamentos, agora sobre táticas empregadas, devem ser:

  1. A defesa da liberdade não pode ser confundida com a pura destruição dos inimigos, você não pode criar um Estado autoritário ou totalitário para impedir o surgimento de um Estado autoritário ou totalitário;
  2. O ataque sistemático contra grupos minoritários ou desfavorecidos (pof exemplo, LGBTQIAPN+, mulheres e negros) leva a um empobrecimento ético e moral da causa defendida;
  3. Teorias da conspiração levam a um empobrecimento epistemológico dos argumentos apresentados e levam a uma perda de confiança do público — sobretudo o especializado — para com os argumentos apresentados;
  4. A criação de um Estado policial, mesmo que supostamente temporário, leva a uma perda da capacidade da sociedade civil e envereda a um caminho pernicioso;
  5. A perseguição de intelectuais de esquerda ou portadores de ideias mais liberais em nome do combate a ideologias subversivas e/ou para levar a uma suposta "liberdade intelectual que se quer preservar" pode levar ao fim mesmo dessa mesma liberdade e criar uma versão de um autoritarismo/totalitarismo de direita.

Em outras palavras, mesmo que as alegações da direita americana sejam justas, elas recriam em sua própria versão aquilo que eles querem combater, levando a auto-anulação dos princípios que se dispuseram a proteger. A defesa da liberdade intelectual não pode ser feita enquanto se censura salas de aulas, ela seria mais bem feita se os pais e os alunos pudessem escolher mais livremente o tipo de conteúdo intelectual que querem ver. O ataque ao autoritarismo crescente do institucionalismo não pode ser feito pela criação de outro institucionalismo. A perseguição de determinados grupos como "naturalmente de esquerda" não é baseada se não no preconceito. A luta contra posturas discriminatórias tem uma concepção que, muitas vezes, até mesmo foge de padrões de esquerda ou de direita, não podendo ser colocados aprioristicamente como meramente subversivos — veja a luta para pessoas de raças diferentes poderem se casar como um exemplo histórico disso.

O autor aparece mostrando certas características que podem levar a conclusão de uma subversão, mas elas denotam um certo simplismo. Por exemplo, certos estilos musicais e grupos são colocados como úteis a causa socialista, mas não são úteis em sua total dimensão. É impossível, no comportamento humano, determinar absolutamente os resultados das variáveis comportamentais, embora se consiga gerar algum grau de inquietação e caos com eles.

Outros pontos elencados pelo autor, como a forma que a mídia se porta, demonstra mesmo um viés. De fato, as atrocidades cometidas pelos Estados Unidos da América são mais amplamente vistas do que as atrocidades que cometeram a URSS. Também são mais vistas, hoje em dia, as atrocidades cometidas pelos Estados Unidos do que as que a China faz. Essa lente de observação deve ser vista e questionada.

De todo modo, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética empregaram modos de manipulação e subversão do debate em outros países — e também no próprio. O mal está em todo lugar, inclusive em todos os espectros ideológicos e sistemas. Alguns tenderam a ser mais sanguinolentos que outros. E isso deve ser observável para além do maniqueismo que favorece o lado que temos uma maior aproximação, se não a ausência de auto questionamento pode nos levar a um processo de monstrificação inconsciente.

Minha impressão geral é: de fato, é um livro interessante e vale a pena lê-lo. Mas é preciso lê-lo com um certo afastamento das conclusões mais maniqueístas. E, não, estou longe de querer dizer que a União Soviética era santinha.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 3)

 


Naquela altura do campeonato, vendo o triste fim da União Soviética que estava embebida no totalitarismo, a ideia de uma construção social lógica e perfeita era impossível. Logo a possibilidade mesma de um mentalidade revolucionária era impossível. Era preciso ir além dos limites de "esquerda", "direita" e "centro". Se fazia necessário uma visão de mundo mais modesta, menos baseada em abstrações e mais pragmática em seus meios e fins.


A ideia de liberdade total ao indivíduo ou segurança total ao indivíduo eram duas totalidades opostas, uma defendida pelo liberalismo e outra defendida pelo socialismo. Essas duas abstrações marcavam a ferro e fogo o mundo. Era uma pauta muito "tolerante" para a animosidade polarista que tomava o mundo na Guerra Fria. O mundo estava dividido entre "dois grupos" e os grupos opostos tomavam todo e qualquer discurso do lado oposto como uma espécie de propaganda. A neutralidade, advogada por muitos intelectuais, parecia uma espécie de reforço a um dos lados – mesmo que essa não fosse, muitas vezes, a intenção.


O anticomunismo tinha algumas vias. Uma dessas vias era o anticomunismo reacionário, um anticomunismo mais à direita. Só que esse anticomunismo não era a única via anticomunista. Havia – e há – um anticomunista humanitário e mais ao centro ou à esquerda do espectro político. Esse anticomunismo é, muitas vezes, objeto de escárnio ou descrença. Muitos ex-comunistas eram anticomunistas e muitos deles não eram propriamente defensores do "capitalismo", mas sim de uma visão mais equilibrada de mundo, onde o dualismo ficava de fora.


A responsabilidade intelectual, em nome da busca sincera pela verdade, deveria ser maior que o otimismo e o grupalismo. O intelectual deveria estar acima dos interesses mais viscerais e dos grupos mais autolisonjeiros. Em vez disso, muitos buscavam soluções fáceis e tribalizadoras. É por isso que os intelectuais americanos queriam uma vigilância constante para não cair no atavismo. Prescrição essa muitas vezes ignoradas por tribalistas de direita ou de esquerda.


Tal situação de extremismo se tornou ainda pior quando o macarthismo se tornou a palavra de ordem dos Estados Unidos. O comportamento de Joseph McCarthy se tornou algo visceralmente doentio e a mentalidade conspiratória acusou sumariamente várias pessoas. Em nome da liberdade que era atacada pelos países comunistas, criou-se uma censura – muito semelhante a comunista – para acabar com... A conspiração comunista. Os Estados Unidos acabou cerceando a liberdade para acabar com aqueles que supostamente atacavam a liberdade.


A defesa da cultura livre, isto é, a livre discussão, a livre investigação, o livre-exame e o livre debate, eram mais do que nunca atacados numa era de extremos. Além disso, a consciência dos estados em relação aos intelectuais aumentava dia após dia. Os intelectuais são parte fundamental da sociedade, são eles que moldam a forma com que vemos o mundo e profissionalizam uma série de pessoas para várias tarefas. Os Estados queriam que os intelectuais fossem subservientes aos seus propósitos propagandísticos, deixando o "povo" mais dócil aos seus interesses. Só que há diferença entre o "intelectual puro" e o "intelectual propagandista". Um intelectual pode chegar a muitas conclusões, teses, ideias... Mas se seu dinheiro depende se algum grupo, as suas investigações são menos livres e mais condicionadas a interesses que escapam ao livre curso de seus exames.


A questão que aparece é: como que um intelectual mantém a sua vida intelectual? O exercício da sua intelectualidade requer um amparo financeiro. Esse amparo financeiro usualmente vem da burocracia e a burocracia geralmente se correlaciona ao governo – ou é o próprio governo. A ligação cada vez maior de intelectuais com o governo se demonstra mais alta. Essa correlação cria uma dependência e, quiçá, engrandece na medida em que corrompe a própria inteligência.


Vivemos no mais espetacular e grandiloquente processo de fusão entre o "intelectuariado" e a burocracia. Essa fusão está criando um elitismo acadêmico cada vez maior. Alçando o voo de uma classe que toma consciência corporativa cada vez maior. Os frutos dessa relação – além da ausência de uma cultura livre – é o engrandecimento de um poder estranho e invasivo.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Acabo de ler "DICTADURAS MILITARES Y LAS VISIONES DE FUTURO" de Gabriela Gomes (lido em espanhol/Parte 2)

 


O desenvolvimento da "guerra fria" trouxe várias utilizações daquilo que costumo chamar de "guerra secreta", isto é, um amplo espectro de ações tomadas com uma série de objetivos não declarados para a conquista de metas não expostas. Nesse fenômeno chamado "guerra fria", tivemos o enquadramento político de suas super potências que tentavam coordenar ações políticas para o favorecimento de sua visão de mundo e sistema econômico.


Um desses maravilhosos movimentos secretos veio diretamente dos EUA. Uma instituição que existe até hoje é a Hudson Institute. Ela trabalhou amplamente na América Latina e traçou com "governos amigáveis" políticas de desenvolvimento que livrassem a América Latina da esfera de influência soviética. A instabilidade na região se contrapunha aos interesses americanos pois eles sabiam que a instabilidade cria o caos social necessário para o desenvolvimento e ampliação da mentalidade revolucionária. Então asseguraram que a América Latina teria um "rumo adequado" e concordante com as intenções dos Estados Unidos.


É interessante observar que existe uma relutância, seja por parte da esquerda, seja por parte da direita, de reconhecer essas medidas políticas pouco amigáveis que tomaram forma (social-)imperialista nos governos da União Soviética e dos Estados Unidos. Essas interferências demonstravam um pouco apreço pela autodeterminação e soberania de cada povo.

domingo, 16 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 30 - Final)

 


Termino aqui uma grandiosa jornada serializada de ler e comentar cada capítulo do livro "Em Defesa de Stalin". Um livro que começa a chamar a atenção pelo título – e não só pelo título, como igualmente pelo seu conteúdo. A perspectiva do livro, a sua apologia a Stalin, é brilhante. Sobretudo num país, o Brasil, em que o trotskismo é amplamente majoritário. Sempre me interessei muito mais por Stalin do que por Trotsky, embora não tenha uma firme posição para com nenhum dos lados. De qualquer modo, a obra – não só intelectual, mas também política – de Stalin sempre me interessou muito mais do que as ações de Trotsky e os seus livros. Não me recuso, entretanto, a fazer estudo do trotskismo e do Trotsky.


Ler esse livro foi de fundamental importância para que eu compreendesse mais profundamente quem foi Stalin e o que ele fez. Por uma infelicidade, no Brasil temos uma grande bibliografia trotskista e uma igualmente grande bibliografia antistalinista. No fim, o que temos são dois grandes polos antistalinistas que, mesmo não sendo propriamente amigáveis entre si, atuam conjuntamente para fortalecer uma única visão de mundo: a antistalinista. Ora, é necessário compreender que uma visão puramente apologética ou antiapologética é dogmática e está muito longe daquilo que se poderia considerar propriamente filosófico. A filosofia não é a aceitação duma unidade de crenças e nem a negação de unidades de crenças. A filosofia, o debate filosófico, é a parcialidade que aceita algum ou alguns aspectos e rejeita um ou outro aspecto ou conjunto de aspectos. A negação sistemática ou aceitação sistemática não é filosófica, é teológica. E um estudo dominado por essa mentalidade não é um estudo livre, é um estudo doutrinador.


Creio que falta ao brasileiro uma capacidade de estudar além das fronteiras que os grupos coletivo-normatizantes apresentam em suas crenças cegas e fechadas. Falta ao brasileiro um livre-exame e um desapego para com as coletividades. Visto que a vida intelectual e as lutas no seio da vida intelectual só podem ser comprovadas intelectualmente. A adesão tribal proíbe isso.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 29)

 


Essa parte foi escrita por MI Ulyanova, vai da página 381 à 382. Qual era a relação de Stalin com Lênin? Seria estranho sugerir uma espécie de piada nerd nesse campo? Poder-se-ia dizer-se que era a de um aprendiz para com um mestre. Ou dum Robin para com um Batman. De qualquer modo, pode-se mencionar-se que Stalin tinha uma devoção inigualável para com o mentor intelectual da Revolução Russa. Logo Lênin representava um mestre para o qual Stalin dedicou a sua obra política.


Lênin também demonstrava um apego a Stalin. Pedindo para que esse cuidasse de seus negócios pessoais. Quando estava em seus últimos anos, pensou carinhosamente em Trotsky e Stalin, sabendo que eram dois filhos da revolução e tinham estados de espírito bastante opostos. Trotsky era explosivo e tinha uma tendência mais abstrata, Stalin era quieto e tinha uma tendência mais prática. Trotsky era um poeta e tinha uma linguagem mais adornada por arroubos artísticos. Stalin era mais seco e objetivo. Tudo neles era contraposto, o único laço de semelhança era a adesão à luta socialista pela teoria marxista.


Até hoje temos brigas entre esses dois lados. E os dois lados apresentam discussões muito boas. Embora sempre exista uma espécie de negação entre o estudo comparado de apolegetas de Stalin e de Trotsky. Como sempre, é muito mais proveitoso estar de fora do que estar de dentro e poder apreciar graciosamente essa discussão brilhante que os dois lados têm a oferecer.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 28)

 


Essa parte foi escrita por W.E.B Du Bois, vai da página 377 à 380. Creio que a perspectiva de W.E.B é bastante interessante. Você veja, a biografia é composta por vários capítulos. E ela não se furta à extrabiografia. Ou seja, a vida dum homem não termina quando ela acaba. As suas ações se movem na história. O que foi desencadeado por ele, continuará ressonando em outras ações de outras pessoas, mesmo que essas pessoas sejam inconscientes desse processo. Você não precisa necessariamente conhecer Napoleão Bonaparte, Stalin ou Hitler para ser Influenciado por pessoas que foram influenciadas por eles. Nem pelas políticas que surgiram a partir deles ou contra as ações deles.


Mesmo que Stalin tenha morrido há muitíssimo tempo, suas ações são até hoje relembradas ou, se não relembradas, ainda possuem um impacto na formação do mundo em que vivemos ou no mundo em que nossos sucessores viverão. O estudo na história, seja qual ela for, ajuda-nos a compreender a formação da história na qual estamos inseridos ou nas quais podemos nos inserir. É o próprio estudo comparado de distintas civilizações que possibilita a capacidade de alterar o ritmo de nossa própria civilização. É por isso que, por exemplo, sugere-se que uma pessoa estude, no mínimo, a história de três civilizações distintas para se livrar do domínio alienante da sua própria civilização. Essa condição, esse estudo, possibilita relativizar uma postura dogmática e rígida ao mesmo tempo que nos torna senhores de nossa própria história e vida. E isso não só como indivíduos concretos, mas como "eu plural" – como sociedade, como nação, como grupo político.


Estudar a União Soviética e a sua forma política não é o mesmo que querer reproduzi-la. Pode até mesmo levar a um impulso contrário. Como é o caso de Jordan Peterson, que se afasta dos regimes socialistas que estudou. Ou o caso de Carlos Taibo que pensa num socialismo libertário e uma posição que é dialógica, mas não concordante com o antigo regime soviético. De qualquer modo, a ampliação da visão é de suma importância para a capacidade de enxergar novas possibilidades.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 27)

 



Essa parte foi escrita por Dolores Ibárruri, vai da página 365 à 376. O que dizer da condução política de Stalin? Ele foi um fervoroso combatente revolucionário, seja pelo uso intelectual do discurso, seja pela força das armas. Ele queria uma revolução e não uma "condução pacífica e reformista" ao socialismo. O gradualismo social-democrata não lhe agradava e ele acreditava que isso tiraria o rumo e a própria possibilidade de construir uma pátria socialista.


Stalin acreditava que muitos partidários da revolução temiam as massas e não acreditavam no potencial revolucionário delas. Isto é, as massas precisariam ser domesticadas e caladas no momento necessário. Stalin, por sua vez, ia na posição contrária: o exercício de crítica e autocrítica dependeria das massas e das informações que elas possibilitavam a condução política revolucionária. A posição paternalista de alguns revolucionários era a reconstituição dum ímpeto aristocrático que se colocava acima das massas. A verdadeira postura revolucionária seria, então, a de colocar-se pelas massas e para as massas, de forma dialógica e responsável.


O exercício de Stalin seria uma escuta atenta às necessidades que as massas apresentavam. Elas eram aquilo que poderia ser chamado de "sistema de feedback". Sem elas, a própria capacidade da construção socialista seria furtada, visto que teríamos uma elite dirigente e não uma "classe dirigente". A construção do socialismo se dá pela classe trabalhadora, seja rural ou urbana. É evidente que um grupo de burocratas, posto acima da classe, torna-se automaticamente acima da classe que delegou esse poder a essa elite. Ou seja, há a reconstrução dum sistema hierárquico que é propriamente antirrevolucionário e reconstituidor daquilo que foi anteriormente abolido.

domingo, 9 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 26)

 


Essa parte foi escrita por Bill Bland, vai da página 359 à 364.  Creio que as partes posteriores do livro serão menos dedicadas a dados biográficos ou dados da condução política de Stalin e mais ao que aconteceu depois, ou seja, a onda "antistalinista" de Nikita Khrushchev.


É interessante que Khrushchev introduziu a palavra "vozhd" para se referir a Stalin, isto é, um termo que equivaleria ao termo "Führer". Esse termo seria uma comparação das ações de Hitler e Stalin. Aplicando uma simetria que equiparava Stalin e Hitler. O que demonstrava muito do que Khrushchev sentia por Stalin ou o que ele queria que sentissem por Stalin. A linha de Khrushchev era demonstrar que Stalin foi um homem extremamente ríspido e que a União Soviética deveria embarcar numa postura "liberalizante" em que os "resquícios da ditadura stalinista" deveriam ser varridos do mapa.


Bill Bland argumenta que Stalin sofreu uma série de desgastes e conspirações, além dum afastamento das atividades do Partido e da sabotagem dos seus inimigos internos. Além disso, argumenta que o culto a Stalin foi introduzido e fomentado pelos seus próprios inimigos para que, posteriormente, fosse utilizado contra o próprio Stalin. O que é uma linha bastante interessante.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 25)



Essa parte foi escrita por Palme Dutt, vai da página 345 à 358. É interessante o que os comunistas de outros países escreveram sobre Stalin. Muitos se manifestaram contrariamente à onda "revisionista e antistalinista" que se instalava como política oficial da União Soviética na era pós-Stalin, sobretudo com a condução política de Nikita Khrushchev. O desenvolvimento narrativo dos EUA foi bastante beneficiário da narrativa antistalinista de Nikita.


De qualquer modo, os EUA sempre requisitaram um desenvolvimento antagônico às potências rivais. Um exemplo disso, foi a relação amigável com a China para separá-la da esfera de influência da União Soviética. Outro, mais contemporâneo, é a possibilidade dos EUA se aproximarem da Índia para ajudá-la a ser um entrave as pretensões chinesas e, inclusive, afastá-la de uma política mais unitária dos BRICS. De qualquer modo, os EUA sempre buscam uma maneira de preservar o seu status de donos do mundo.


Nos últimos tempos, os EUA esperam desgastar a Rússia pela guerra ao mesmo tempo em que traçam uma luta para enfraquecer a China economicamente e, inclusive, impedi-la de vencer a corrida tecnológica. As políticas que os EUA traçou para a Inglaterra era uma política de submissão, para enfraquecê-la como potência e garantir que o "Império Inglês" fosse perfeitamente desmantelado para não ser um "inimigo potencial".


É interessante observar a fase imperial americana, sobretudo na condução geopolítica e os efeitos do seu imperialismo. Visto que a nova fase histórica apresenta um "remake" da "Guerra Fria" e as análises de Palme Dutt vem de encontro a linha que os EUA espera traçar no mundo.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 23)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 305 à 332). Essa é a última parte do Instituto Marx Engels Lenin, aborda todo o período da Segunda Guerra Mundial e termina nela mesma. Ou seja, o período pós-guerra não é abordado. O que não diminui o texto em sua qualidade, embora eu preferisse que fosse até o final da vida de Josef Stalin.


Lendo esse importante documento, vejo que Stalin não foi só um importante líder, mas igualmente um importante teórico do marxismo. As suas análises, bastante acuradas, muitas vezes demonstraram um desenvolvimento da teoria marxista-leninista em novos graus. O que refuta, mais uma vez, a ideia falsa de que Stalin não tinha um desenvolvimento teórico do marxismo e que não era suficientemente inteligente.


De fato, Stalin foi um estrategista, um político, um intelectual e um homem bastante ilustre – em todos os aspectos possíveis. Hoje em dia a sua imagem é marcada por uma negatividade maior do que se espera, sobretudo graças à imensa confusão informacional que temos diante de nossos olhos. Olhar para outro lado, ver outras informações, apurar e depurar os dados, é hoje de suma importância. A batalha das narrativas usualmente caem na falsificação e tribalização dos dados, das informações e das teorias. O que um grupo social apoia se torna suficiente para a validação de uma narrativa e tal condição leva a uma perda da qualidade da vida intelectual verdadeira em sua busca incessante – e sempre ilimitada – pela verdade que sempre será inabarcável.


Diante de nossa finitude, devemos nos manter vestidos com o manto da humilde, negar as narrativas e ajoelharmo-nos diante do infinito que nunca poderemos abarcar. Só assim seremos intelectuais completos, visto que aceitaremos humildemente que somos necesariamente incompletos e que nada que façamos chegará a totalidade. Assumir a totalidade é psicologicamente negá-la.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 21)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 279 à 288). Aqui estamos, novamente, no prelúdio da segunda guerra mundial. Já tínhamos visitado esse período turbulento da história da humanidade pela brilhante análise de Emil Ludwig, todavia voltamos a ela com base no Instituto Marx Engels Lenin. Estamos, mais uma vez, na questão camponesa e na coletivização dos campos.


A questão da coletivização dos campos tinha a ver com a sua produtividade para dar sustentação à pátria socialista. Isto é, garantir a autossuficiência da União Soviética, permitindo um desenvolvimento autônomo de suas políticas internas. Sem essa autonomia, a própria capacidade de uma política econômica de natureza socialista seria severamente prejudicada, visto que a negociação com as potências socialistas envolveria uma certa submissão aos seus interesses que eram contrapostos aos interesses socialistas.


Os camponeses tinham uma visão de apego às suas terras. Anos de dominação czarista e a própria tradição campesina criaram essa mentalidade. O que as autoridades soviéticas e o movimento socialista tentaram demonstrar é que a qualidade de vida seria infinitamente superior se industrializada e mecanizada. A resistência se dava mais pela superstição e pelo medo de perder tudo novamente. Tais crenças geraram um período de turbulência interna, mas a ausência de sua resolução geraria um atraso no desenvolvimento econômico soviético e, igualmente, uma insuficiência que prontamente serviria para o ataque externo. Essa dupla fragilidade (interna e externa) geraram a pressão para uma política mais intensiva.


Evidentemente que esse período, bastante frágil e complexo, quando resolvido, gerou a possibilidade de um aumento de produtividade na agricultura e, mais tarde, seria esse mesmo desenvolvimento que sustentaria a União Soviética contra a agressão nazista. Os custos da realpolitik muitas vezes requerem um grau de crueza na condução de nossas ações.

domingo, 26 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 20)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 269 à 278). Nesse capítulo, a questão tratada é o desenvolvimento do Estado socialista. Se na parte anterior, ficava cada vez mais claro que a União Soviética deveria desenvolver métodos que assegurassem a sua autonomia, nesta parte vemos quais foram as decisões tomadas em prol da construção da pátria socialista.


Em primeiro lugar, é impossível garantir que o país trabalhe com fome. Os métodos empregados pelos camponeses eram frágeis e pouco técnicos. Não poderiam servir para alimentar as massas proletárias e nem garantir a subsistência das forças armadas revolucionárias. O desenvolvimento do campo – a coletivização, maquinização e tecnicalização – se demonstrou uma das mais urgentes necessidades.


Por outro lado, um país precisa aumentar a sua produtividade com recorrência. Sem um aumento de produtividade, é impossível aumentar o bem-estar populacional. Ou seja, a própria ampliação do acesso a bens e serviços requer o aumento da produtividade. Para tal, se faz necessário a utilização de um maquinário que eleve a capacidade produtiva do país. Essa luta pela construção duma indústria – sobretudo a pesada – que desse suporte a construção do maquinário que seria empregado pelo campesinato e proletariado foi igualmente necessária.


Além disso, um país ameaçado pelas pretensões imperialistas européias requeria uma indústria militar sofisticada. A defesa da pátria socialista requeria um desenvolvimento militar ordenado e disciplinado. Logo houve a criação duma indústria bélica que ia em direção a proteção do país e a preparação com o inevitável conflito que se daria pela própria natureza do imperialismo.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 18)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 249 à 256). Essa parte é bastante interessante: a luta revolucionária na Rússia tem dimensões que usualmente não aparecem na análise da maioria das pessoas: as múltiplas intenções das alas bolchevistas, a intervenção externa, as alas revolucionárias que estavam em choque, dentre tantos outros fatores que dão ares muito mais complexos do que usualmente se supõe.


Stalin é aqui mencionado como organizador do Exército Vermelho, auxiliando fortemente em todos os locais em que se formava uma crise ao poder revolucionário. Ou seja, ele era o responsável por apagar a crise e impor a ordem. Com tamanha atuação, é impossível pensar em sua figura como a de alguém de menor importância para a Revolução Russa. Mesmo que, com o tempo, tenham tentado diminuir a dimensão de Stalin.


Deve-se a Stalin a formação geográfica dos países da União Soviética. Foi ele o "criador de povos". Ele trouxe uma política oficial, a partir do marxismo, para construir os diferentes povos soviéticos. Embora muito seja falado sobre a predominância russa e, até mesmo, daquele "imperialismo social" que os chineses acusavam a União Soviética de usar – tema pouco debatido nas academias nacionais.


De qualquer forma, é quase impossível não assumir posturas autoritárias num país fragmentado e em que o novo Estado deve reinvindicar para si uma nova forma de agir. Na luta pelo poder, sobretudo em períodos de grandes choques e com grandes problemas sociais a serem enfrentados, pode-se observar quase o mesmo em diferentes proporções. Ou seja, quase todas as posturas soviéticas não se dariam de diferentes modos em distintos regimes ou países, são quase como consequências naturais – embora existam alguns acidentes e particularidades próprias.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 17)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 237 à 248). Infelizmente o livro consta com um erro de impressão, logo o capítulo "V" dessa parte aparece duas vezes seguidas. Com palavras exatamente iguais e a mesma quantidade de páginas. Logo foram seis páginas lidas e mais seis páginas ignoradas para poupar tempo e porquê eu não analisaria duas vezes o mesmo capítulo.


A questão tratada nesse capítulo é: qual caminho revolucionário deve ser seguido, isto é, o de uma revolução democrática burguesa ou uma revolução socialista proletária? O caminho da revolução russa – de índole marxista-leninista – vai na direção da revolução socialista proletária. Os revolucionários bolchevistas chegaram à conclusão de que era melhor uma revolução de caráter socialista pela impossibilidade de saber se uma revolução socialista seria possível posteriormente. Como era apenas uma vaga hipótese, resolveram pegar primeiramente o poder para si em vez de entregá-lo aos burgueses.


É interessante a ideia de "marxismo criativo" de Stalin contra o "marxismo dogmático" de Trotsky. O marxismo de Stalin poderia indicar que o socialismo é possível num país só ou que a Rússia poderia indicar o caminho socialista através de sua revolução. Enquanto o de Trotsky dependia da revolução em países desenvolvidos – visto que a Rússia não poderia se sustentar sozinha graças ao seu parco desenvolvimento.


Em relação ao desenvolvimento socialista na Rússia, creio que ele teve altos custos. Custos impostos pelas duas guerras mundiais, pela guerra civil, pela sabotagem interna, pela luta para efetivar o poder revolucionário, pela corrida armamentista e pela corrida espacial. De uma forma ou de outra, a União Soviética sempre se viu eternamente ameaçada pelo conflito interno ou externo, nunca podendo ter tempo livre para um exercício tranquilo de sua auto-organização.

terça-feira, 21 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 16)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 233 à 236). Mais uma vez, nos deparamos com a pergunta: quem foi Stalin? Essa pergunta, repetida infinitamente, tem um esforço mais pedagógico do que uma função de mantra. Nossa investigação, até o presente momento, nos indica alguns posicionamentos:

1- Stalin foi mais relevante do que se supõe;

2- Stalin foi um revolucionário ativo e que participou em posições estratégicas cruciais;

3- Stalin não era um homem inculto, muito pelo contrário;

4- Stalin tinha notável domínio acerca da teoria marxista;

5- Stalin foi um homem disciplinado e estudioso;

6- Stalin foi um hábil estrategista geopolítico, compreendendo as distintas nacionalidades e seus respectivos problemas.


Ora, é um quadro infinitamente distinto do qual usualmente pintam. Stalin foi formador de muitas nacionalidades soviéticas e promoveu a elevação delas a povos reais. Isto é, ajudou no desenvolvimento de sua autonomia. O seu desenvolvimento, por sua vez, era mais benéfico que o estado anterior de submissão ao império czarista. Só esse fato já demonstra a genialidade de Stalin na compreensão dos povos que existiam ao redor da Rússia e a sua capacidade de compreensão geopolítica elevada.


Outra condição: Stalin não era muito dado a violentas abstrações. Enquanto Trotsky falava sobre a necessidade duma revolução permanente e priorizava a revolução europeia, Stalin falou sobre a capacidade russa de ter a sua própria revolução e criar um desenvolvimento socialista. Ou seja, não caiu na vaga hipótese duma revolução proletária na Europa – condição essa que nunca chegou a ocorrer de fato e que demonstra a capacidade política de Stalin de não cair em abstrações e hipóteses demasiadas.


É fato notável que Stalin não era incompetente. E se ele usou teorias e técnicas de adversários, isto não é um ponto negativo: reconhecer o mérito de rivais, apesar da discordância pontual, não é só maturidade política, também é sinal de maturidade intelectual. Dito isto, a forma de Stalin aparece de forma nova: uma muito mais benigna e menos violentada pelo ressentimento político.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 14)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 219 à 228). O que são as questões doutrinais? Meras abstrações? Norteadores da conduta ontológica da humanidade? Vulgaridades perante a prática? Algo que esquecemos quando começamos a agir verdadeiramente? Creio que, com base numa série de estudos, posso afirmar que as questões doutrinais sempre pesam radicalmente na conduta humana. Ao menos naquelas pessoas que, conduzidas pelo uso da razão e pela busca de uma vida de significado, buscam viver uma vida de propósito e missão.


Numa revolução em que as próprias ideias anteriores são atacadas e se busca colocar um sistema de ideias novo para que a máquina do Estado se renove ou se mude as questões políticas e quais ideias políticas vão ser aplicadas são de importância vital. Isto é, era da natureza mesma desse processo uma disputa doutrinal entre os revolucionários e uma batalha pela hegemonia para a condução do poder. E a luta doutrinal não se fazia só entre marxistas, liberais, monarquistas, reacionários e conservadores. A luta também era entre aqueles que posteriormente seriam chamados de "sociais-democratas" e aqueles que são anarquistas, socialistas revolucionários e também os chamados trotskistas.


Stalin, assim como todos envoltos nesse processo de radicalização para uma mudança, buscou uma forma de defender as suas ideias. Foi combatente fiel. Lutou contra trotskistas, socialistas revolucionários, anarquistas e sociais democratas. Combateu aquilo que chamou de "burguesia democrática" e outras tendências que estariam mais para a esquerda legalista e outras tendências revolucionárias.


Veja que a luta entre cristãos e gnósticos, nos primeiros momentos de nosso século, também carregava forte aspecto doutrinal. Na revolução francesa, a luta doutrinal também era bastante característica. A humanidade, sempre narrante, briga por suas narrativas de tempos em tempos. Daí o aspecto conflitual das ideologias, religiões, ideias e doutrinas que se chocam com uma periodicidade fulminante e que são um fato histórico em todas as épocas.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 13)

 


Nessa parte, começamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 211 à 218). Na outra, de Emil Ludwig, tínhamos uma análise de um observador não-marxista. Agora temos uma análise marxista e uma pequena biografia de Stalin. Seria Stalin um diminuto revolucionário de menor importância que subiu ao poder por mero acaso e depois arrombou o poder com a sua mesquinhez? Talvez esse, como muitos incitam por aí, não seja o caso.


A vida de Stalin é notória. Como já escrito anteriormente, sua inteligência já era maior que a média e ele era um diligente estudante. Tanto que foi colocado num seminário de uma Igreja Católica Ortodoxa. Seu rumo se desviou conforme entrava em contato com a literatura revolucionária, isto é, uma literatura considerada subversiva. Não só marxista, mas também de índole nacionalista. Os problemas da Geórgia lhe eram comuns, seja na esfera empírica, seja na epistemológica.


O contato com a literatura marxista lhe eram satisfatórios. Conheceu a literatura produzida por Marx e Engels, mas não só eles. A literatura bolchevique e, sobretudo, os escritos de Lenin lhe eram bastante comuns. O contato com a obra de Lenin foram profundos em suas vida e na condução da ala revolucionária que escolheu: o marxismo. Com o tempo, tornou-se um grande e inegável apologista do marxismo.


A atividade de Stalin como propagador, agitador, defensor, escritor, estrategista e líder revolucionário é de importância vital para o crescimento do marxismo no extinto Império Russo. Graças a ele, as zonas dominadas pelos czaristas foram influenciadas pelo marxismo. Sem ele, dificilmente essa atividade teria dado frutos. Tal noção básica, após anos de esforço de apagamento, foi se desfazendo com o tempo. Hoje é preciso acima de tudo recordar o papel de Stalin no maior acontecimento do século XX.