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segunda-feira, 12 de junho de 2023

Acabo de ler "El pensamiento político de la derecha latinoamericana" de José Luis Romero (lido em espanhol)

 



A tradição latino americana nos é tão comum, a nível de convivência, e tão estranha, a nível de compreensão, que facilmente nos perdemos neste universo tão próximo e tão distante.


As grandes potências, Portugal e Espanha, viveram o processo histórico que lhes cabia com estranheza e afastamento: o livre-exame, o livre-pensamento, a "mentalidade burguesa" e o desenvolvimento científico não lhes foram bem digeridos. Deste fato, surge posteriormente um ataque sistêmico ao regime, por assim dizer, liberal-capitalista em toda a América Latina. Os descendentes da hispanidade e o descendente da lusitanidade eram contrários a esse regime tão mutável e preferiam um regime mais estático - mais ao gosto do privilégio de suas elites.


A burguesia que nasceu nestes países, para adequar-se as estruturas de poder, aglutinou em si contradições que reduziram a dinamicidade do processo capitalista. Então o burguês era amigo próximo do "nobre", detentor das terras. Esta simbiose gerou uma mentalidade mais ligada aos tempos passados: mercantilista, patrimonialista, feudalizante, antidemocrática. Era preciso que os donos do poder permanecessem os mesmos, aceitando aqui e acolá algum novo membro.


Essa condição gerou uma política. que não poderia ser propícia a um desenvolvimento real, par a par com o mundo, na região. E é desta configuração que a direita latino-americana nasce. Ela é uma eterna camarada duma estrutura que nunca será capitalista de fato, ela é, em sua maioria, protocapitalizante. O sustentáculo central do avanço tardio.


É por isso que não adentramos nem aos "progressos burgueses" e nem aos "progressos nem tão burgueses assim". Estáticos num mundo que é tão tardio e tão latino-americano. Para que os donos do poder brinquem eternamente em seu parquinho.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Acabo de ler "La Cultura Occidental" de José Luis Romero (lido em espanhol)

 



José Luis Romero foi um dos mais grandiosos historiadores argentinos da história. Quanto mais o tempo passa, mais me interesso pela sua obra. Obra essa marcada pela qualidade e rigor ímpar. E, por essa razão, é o terceiro livro que leio dele. Pretendo analisar outros livros dele posteriormente.


Nesse livro, José Luis Romero, trata da questão da cultura ocidental. Sobretudo a questão da "decadência cultural" do Ocidente. Essa questão, para nós, ainda é mais acentuada graças a decadência dos EUA (nação ocidental) frente ao crescimento meteórico chinês (nação oriental). É uma pena que nosso grande historiador argentino não ter vivido o suficiente para analisar essa questão com sua aguda consciência, ainda mais com o acúmulo de dados que temos presentemente.


O Ocidente tem uma origem cultural bastante diversa e sincrética. Uma mistura da cultura germânica, (greco-)romana e hebraica-cristã em sua origem. O que já denota aí um aspecto híbrido, livre de um condicionamento puramente homogêneo. José Luis Romero considera o período da Idade Média o primeiro período da cultura ocidental por excelência. Já que a Idade Média (também chamada de Primeira Idade [Ocidental]) é a primeira configuração cultural ocidental e criação de sua própria singularidade.


Conforme o estrato social ia sendo alterado, a própria configuração cultural ocidental ia se modificando. Com a ascensão da burguesia e o domínio mais efetivo da natureza, as crenças metafísicas são trocadas pela mentalidade naturalista, os velhos gozos beatíficos são trocados pelo hedonismo. A própria percepção do que seria a mentalidade ocidental foi se desvinculado de sua formulação inicial.


A principal questão da cultura ocidental, e o motivo de tanta reflexão, é a sua atuação cada vez menos hegemônica. Não estamos muito satisfeitos com o nosso protagonismo global, e por isso nos perguntamos quem somos e o que está acontecendo com o nosso papel no mundo. Existem aqueles que apontam para uma separação ainda mais radical de nosso estado originário e aqueles que defendem um retornos às origens. Apontamentos que surgem em meio a tensão da crise.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "La Edad Media" de Jose Luis Romero (lido em espanhol)

 



Escrever sobre a Idade Média, sobretudo num país tão atrasado em conhecimentos históricos medievalistas como o Brasil, é uma tarefa um tanto quanto ingrata e que possibilita toda uma série de margem para más interpretações e birras geradas após anos de distorções ou má interpretações históricas.


Deve-se pontuar que:

1. Grande parte da interpretação histórica medievalista surge dum período que sucedeu logo após ela e, muitas vezes, com caráter notoriamente negativista sobre todos os seus mais diversos aspectos;

2. Uma nova interpretação acerca da Idade Média vem surgido com uma revisão bibliográfica e dos mais diversos  documentos, todavia é recente e não foi acoplado ao conhecimento acadêmico comum;

3. Parte da história da Idade Média se perde pois o foco eurocêntrico impede uma olhar mais sistemático;

4. Grande parte do mito de "Idade das Trevas" impede um olhar mais atento a esse período que, diga-se de passagem, foram três e não um.


O livro traz uma análise sobre os três períodos medievais. Tratando da dissolução do Império Romano, a forma com que o cristianismo impactou as mudanças do mundo e como o papado tentou recorrentemente reestabelecer um Império - a qual poderíamos chamar de Cristandade. As lutas recorrentes também buscavam cristianizar a cultura e manter o legado civilizacional romano.


Fora isso, vemos o desenvolvimento conflituoso entre muçulmanos e cristãos - e como Mohammed unificou seu povo e, consequentemente, possibilitou seu desenvolvimento. O desenvolvimento da burguesia enquanto classe e como a fragmentariedade territorial causada pela nobreza levou monarcas a fortalecerem a classe burguesa também é tratado aqui.


Esse livro é, mesmo que curto, bastante abarcante das problematicidades que apareciam na época e tenta, em seu curto espaço, apresentar uma exposição metódica da situação. Vale a pena ler.