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sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Nota de Pesquisa (NDP): novelistas conservadores

 


A Nota de Pesquisa (NDE) são apenas pessoas, conceitos e posições para eu pesquisar depois, porém que creio que sejam úteis também para suscitar o interesse das pessoas que leem o blogspot como auxílio de pesquisa.


Novelistas conservadores:

- Christopher Buckley;

- Tom Wolfe;

- Dostoievski;

- G. K. Chesterton;

- J. R. R. Tolkien;

- C. S. Lewis.


(A lista que me recomendaram não apresenta distinção entre diferentes tipos de conservadorismo, nem a sua separação com o tradicionalismo ou sua fusão/hibridismo. O gênero literário também parece estar impreciso. De qualquer modo, achei de alguma utilidade para pesquisas posteriores).

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 3)


Nome:

Heretics


Autor:

G. K. Chesterton


Não há nada que seja desinteressante, a não ser a pessoa que, por falta de imaginação, considera tudo desinteressante. A pessoa que julga tudo desinteressante, crê que está acima de todas as coisas. E, por crer que está acima de tudo, impiedosamente não se abre a experiência do fantástico que a vida apresenta. Essa ausência de abertura, que conduz a ausência de fantástico, reduz a sua capacidade de percepção e a torna uma pessoa previsível e tediosa, numa estrutura rígida e estéril.


A questão que não estamos vendo não é a grandiosa imaginação de quem vê o mundo como algo a ser moldado por si. Aqueles que veem o mundo como algo a ser moldado por eles não possuem a humildade para compreender que a capacidade humana de apreender a totalidade dos fatos não lhes pertence. O que falamos é de outro tipo de imaginação, uma imaginação humilde que compreende que a humildade é o primeiro degrau da inteligência e do saber. É só com a humildade que podemos ver que o mundo é mais do que pensamos sobre ele, visto que não podemos abarcar o mundo em sua complexidade. Essa humildade nos permite ver que não vemos todos os detalhes, que a correlação dos fatos e objetos possivelmente nos escapa.


Quando dizemos que tudo é poético, as pessoas veem isso como uma linguagem comum ou, pura e simplesmente, um exercício de demagogia. A realidade é que não enxergamos o que está em nossa vida com os olhos de quem se admira, visto que nos julgamos acima de tudo o que está em nossa volta. O fantástico pode estar em tudo, inclusive no que é comum. Essa ausência de espantamento do intelectual moderno o leva a se afastar de tudo que está em sua volta. A arrogância lhe impede de ver o mundo, lhe conduz a querer mudar tudo. Só que ele não conseguiria, visto que isso requeriria mais do que a sua capacidade, a possibilidade de mudar o mundo requer uma inteligência sobrehumana, que não é acessível a nenhum intelectual ou burocrata.


A incapacidade de sentir a concretude de tudo por causa das abstrações que antecedem a própria existência da concretude é um mal de nossa intelectualidade desvairada. Ela indica tudo numa idealidade de quem foge. Foge da vida. Foge do próximo. Tudo está preso num esquematismo mental psicologista.  Só que esse psicologismo é mais um retorno a si do que uma abertura ao entendimento do mundo, pois o mundo nos escapa. Não podemos compreender o mundo, mas podemos amar o que está a nossa volta se nos abrirmos a esse amor. Amor esse que não podemos, de fato, compreender. A existência de uma verdadeira inteligência está ligada a uma humildade em que, no fim, não compreende o mistério profundo que a ata, mas magneticamente a conecta com tudo. 


É preciso compreender: há diferença em um estudo que torne tudo pequeno e um estudo que torne tudo grande. A simplificação para a compreensão é apenas um reducionismo para ser digerido por massas, mas não por homens e mulheres conscientes e sujeitos de si. O homem e a mulher aspiram a grandiosidade de uma vida mágica, mágica por ser concreta e fantástica em simultâneo.

domingo, 27 de outubro de 2024

Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome:

Heretics


Autor:

G. K. Chesterton


Se pudéssemos olhar todos os problemas do mundo, talvez chegássemos a algumas questões.  Chegaríamos a essas questões na medida em que olhássemos para o quão problemático o mundo moderno é e o quão imersos em problemas o homem moderno está. Como resolveríamos isso? Há quem diga que o que nos falta é realismo. Só que existe outro apontamento: somos pouco idealistas demais para sermos realistas. Podemos até ter motivos para olhar para a realidade, mas não temos ideias suficientemente fortes para tentar resolvê-los.


Anteriormente a negação vinha acompanhada de uma afirmação. A afirmação era prévia até a propriamente o que se negava. Hoje adentramos, cada vez mais profundamente, numa era em que buscamos atacar os defeitos do mundo sem nada que possamos colocar no lugar. Em outros termos, temos um inferno sem ter a possibilidade de um céu. Todo defeito é destacado com os arroubos meteóricos de uma retórica detalhada, mas toda virtude aparece sem coloração num quadro vago.


Houve um tempo em que aparecia diante se nós uma questão. Essa questão era uma pergunta cósmica acerca do sentido geral da existência. É nessa questão última que se revela cosmologicamende o sentido geral da existência. O sentido geral da existência subordina todas as outras questões, visto que todas as outras questões são secundárias. Com o tempo, quisemos nos libertar do peso da religião. Para tal, chegamos a conclusão de que não importava a filosofia ou a religião de alguém – tudo é relativo. Com isso, pulamos da pergunta para a resposta, resposta essa que seria singular. Essa forma de pensar levou a um não-pensar, visto que era a pergunta em si que possibilitava a nossa capacidade de resposta. Agora o que nos aparece não é a questão e nem a resposta. Estamos apenas por aí, vagando nesse universo de vácuo.


Pense, por exemplo, nas discussões modernas. Perguntamo-nos acerca do que é a liberdade, acerca do que é a educação, acerca do que é o progresso. Só que nos esquivamos, sempre e eternamente, sobre qual é a natureza do bem. Somente a natureza do bem pode nos dizer o que é a boa liberdade, o que é a boa educação, o que é o bom progresso. Sem sabermos primeiramente o que é essencial, não temos uma direção. A ausência de direção nos joga, novamente, ao acaso. Sempre estivemos andando em um labirinto, só que, graças aos nossos modernos sensos, estamos pela primeira vez andando num labirinto com a ausência de uma lanterna.


Falamos bastante em progresso e nos julgamos progressistas. Quanto mais progressista é alguém, mais essa pessoa é supostamente boa. Todavia o que define algo como um progresso? Se o progresso não tem uma finalidade, se não estamos caminhando para algum lugar, não podemos sequer medir se estamos indo bem ou mal em nossa caminhada. Não há como acreditar que tudo é relativo e dizer que estamos indo para o progresso, visto que o progresso, em si, seria relativo. Se o progresso é relativo, estamos indo pra qualquer lugar e isso não indica coisa alguma.


Para sabermos o que estamos fazendo, para sabermos para onde estamos indo, para sabermos se estamos bem ou mal, precisamos de um sentido. Progresso não pode significar que estamos mudando de direção a cada brisa de vento, mas precisamente que estamos indo a uma direção. Essa direção indica uma moralidade e indica uma fé quanto a essa moralidade.

Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

Heretics


Autor:

G. K. Chesterton


Há um tempo atrás, na história do homem, falava-se da importância das ideias e do que pensamos no universo. Hoje em dia, não cremos na importância das ideias – visto que são relativas – e nem cremos que a forma com que as pessoas pensam no universo é importante. No geral, tendemos a crer que a visão de alguma pessoa acerca de todos os pequenos detalhes da vida são importantes, mas a visão geral que ela tem da vida não importa.


A vida é definida por uma cosmologia. Sem cosmologia, não há base que se assente a vida. O que teríamos, sem uma cosmologia, não seria uma visão concreta. O que teríamos seria um monte de pontos soltos ligados pelas circunstâncias. Nenhuma consistência filosófica, apenas um punhado de ideias sobre alguns acasos.


Em tempos anteriores, questionava-se a razão de só pessoas consideradas ortodoxas poderiam falar sobre a natureza do homem. Após isso, liberais liberaram todas as heresias da Terra para que todos fossem livres para conversar sobre a natureza do homem. O resultado? Bem... Ninguém mais fala da natureza do homem e chegou-se a conclusão de que, no fundo, isso não importa.


Antes da revolução das ideias, todos tinham medo de se confessarem ateus. Depois da revolução das ideias, o homem colheu todo fruto da liberdade e não era mais sequer um heresiarca. Não há mais heresiarcas pois ninguém crê na importância das doutrinas, não havendo doutrinas não pode haver heresiarquia, visto que ninguém discorda sistematicamente de nada pois ninguém crê sistematicamente em algo.


O resultado de uma vida sem sentido, uma vida sem cosmovisão, não é uma "produtividade", mas sim a negação e a inércia. Hoje se fala muito de produtividade, crendo que o homem se levantará e produzirá mais no vazio da sua existência atual. Do que adianta a um niilista construir um palácio se ele não vê sentido algum nessa ação? Toda ação é previamente envolta na ausência de causa.

terça-feira, 12 de julho de 2022

Acabo de zerar "The Legend of Zelda: a Link to the Past" do Super Nintendo

 



Fazem anos que não zero um jogo de Super Nintendo, ainda mais um jogo longo e complicado como Zelda. Pra matar minha nostalgia, resolvi zerar esse grande diamante bruto do SNES. Demorei dias, é claro. Só que finalmente consegui zerar.

É incrível como uma franquia pode marcar a nossa cabeça sem que a gente se dê conta. Lembro-me de que, ao receber meu Wii em casa, eu disse a mim mesmo que zeraria Zelda. Dito e feito: o primeiro foi Wind Waker, o segundo foi Skyward Sword e o terceiro Twilight Princess. Hoje coloca mais um em minha lista: a Link to the Past, que optei por zerar num emulador.

É sempre fantástico entrar no complexo e lindo mundo de Zelda. Tudo no jogo é um gigantesco quebra-cabeças no melhor sentido do termo. E a necessidade de pensar faz parte da magia do jogo. Novamente estive a quebrar a minha cabeça para resolver todos os difíceis calabouços. Agora o que tenho é um recompensado orgulho de ter conseguido, mais uma vez, ter encarado tudo e vencido até o final.

O pensamento que tenho é que a vida, em si, é um grande Zelda - complicada e cheia de quebra-cabeças que te deixam com dor de cabeça. Se encararmos tudo até o final, quiçá Demise apareça, tal como em Skyward Sword e diga: "Você é o melhor de sua espécie". A vida é problemática e nisso concordo com Chesterton em uma frase: “Uma inconveniência é apenas uma aventura erroneamente considerada; uma aventura é uma inconveniência corretamente considerada.”

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Acabo de ler "O Napoleão de Nothing Hill" de G. K. Chesterton

 



"E no mais escuro dos livros de Deus está escrita uma verdade que é também um enigma. É das coisas novas que os homens se cansam – modas, propostas, melhorias e mudanças. São as coisas velhas que assustam e intoxicam. São as coisas velhas que são jovens. Não há cético que não sente que muitos duvidaram antes. Não há homem rico e volúvel que não sente que todas as suas novidades são antigas. Não há adorador da mudança que não sente sobre o pescoço o grande peso do cansaço do universo. Mas nós que fazemos as coisas antigas somos alimentados pela natureza com uma infância perpétua"

Eu nunca pensei que me impressionaria tanto com esse livro. Tanto que desisti da leitura umas duas vezes. Só que, dessa vez, resolvi lê-lo do princípio ao fim para ver o que daria. É importante dizer que: Chesterton nunca me decepciona.

O livro se encontra com duas partes dialéticas que descobrimos que se completam. Auberon, um rei que queria apenas rir de tudo. Adam Wayne, que fanaticamente aderia as ideias malucas de Auberon como se fossem verdades absolutas, acreditando que estava cumprindo seu papel com um clássico amor. Auberon é a piada em fatalismo, Wayne é a seriedade em fatalismo. Se você se questiona quem está certo, já errou: o certo é a unidade entre os dois. Para você entender Chesterton nesse livro, terá de sintetizá-los.

Chesterton também traça uma crítica aos intelectuais de seu tempo. Além de nos chamar a sanidade por meio do paradoxo, temos uma crítica bem certeira aos chamados progressistas que, no fim, apenas pegam tendências e dizem que elas vão se radicalizar tenebrosamente. Ele fala sobre a natureza universal do homem, que não é radical quando saudável, mas paradoxal e dialética. O erro do intelectual está em seu fatalismo e em sua crença radicalizada e monótona em algo que se sucederá. E mais uma vez: a humanidade ri do profeta que se acha certo em sua rigorosidade fatálica, já que o paradoxo é a condição do real.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Novas Aquisições!



   
    O primeiro livro, "Natureza e Missão da Teologia", é do Joseph Ratzinger. Se o nome lhe soou estranho, distante e meio desconhecido, já lhe explico: trata-se do Papa Bento XVI. Se perguntam qual será a qualidade do livro, Bento XVI era conhecido como: "O Teólogo", basicamente uma das figuras mais ilustres da teologia católica e um dos papas mais inteligentes da história. 

    Já o segundo: "O Clube de Negócios Estranhos", é de Chesterton. Tive pouco contato com a obra literária (aqui no sentido de "ficcional") de Chesterton, mas o contato que já tive - sobretudo em alguns contos do Padre Brown - prima pela mais alta beleza e engenhosidade. Estou doido para ler esse livro, mas ele terá que esperar na longa lista de leituras que o antecedem. De qualquer modo, exímia aquisição

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Castrando para não Castrar

 Castrando para não Castrar


    (Esse texto é um texto inspirado em Freud, mas não só nele. Surgiu como ideia enquanto eu estudava sobre a teoria queer e lia um texto chamado "O Estranho" de Freud. É um texto que tende a heterodoxia ideológica e não se prende a um esquerdismo ou direitismo vulgar.)


    É preciso que eu me castre sempre para que não me castrem. A castração social é um mecanismo tão efetivo que adentra na interioridade de minha psiquê. E o que era anteriormente uma proibição social, torna-se uma proibição psíquica. O medo que a sociedade me impõe leva a um automedo autocastrante. A reprovação que vem de outrem, logo vira uma reprovação que vem de meu próprio coração. O medo que a sociedade tinha de mim, logo virará o medo que vem do automedo.


    Eu poderia um belo dia passear tranquilamente com uma saia escocesa num lindo parque, mas uma pessoa como eu não pode, já que o discurso aprioristicamente proibiu: saia é coisa de mulher e homens não usam saias. Em vez disso, jogarei futebol, mesmo que eu tivesse preferido ficar em casa lendo um livro - já que livro algum me proíbe. Só que tenho um compromisso, um compromisso marcado com a agenda que não fiz, é a agenda que tenho que cumprir. Já que a sociedade me diz: você é homem, aja como tal. Se eu for aquilo que alguns chamam de "não-binário", castrar-me-ão, então a solução é eu mesmo me castrar para que a sociedade não me castre.


    Scruton separa o "estar com o outro" do "estar no outro". Já eu, um pouco mais tímido e introvertido. Separo o "estar em mim" do "ser a mim". Já que não sou o que sou.


    Kant fala sobre o a priori e o a posteriori. O a priori é o que não precisa de justificação pela experiência. Já o a posteriori é o que vem com a experiência. Só que o discurso que a sociedade me impõe, o discurso que me regula, ele sempre vem a priori e impede todo o posteriori. Eu aceito o que a sociedade me diz, eu aceito toda a construção social que me precede, já que a construção social que me precede também é a construção social que me prevê. Sem a construção social que me prevê, como poderia andar em segurança? Já que só se anda em retitude de passos passados que marcam mais do que a experiência em si. O que me segura é o que me protege da liberdade, mas a liberdade é tão mal falada que causa mais medo do que a segurança que antecede a liberalidade. E a segurança é sempre normativamente fidedigna e garantidora pela a sua fórmula de sucesso.


    Eu poderia descobrir qual batom fica melhor em minha boca, mas não o farei. Já que a sociedade me disse que eu sou homem e mesmo que eu não tenha experiência própria em ser homem e não saber o que é o "homem em si" para me afirmar como homem, assim seguirei fidedignamente, numa retidão moral neurótica e infeliz, só que garantidamente segura. Já que o caminho da masculinidade já foi previsto, sendo previsto, é inteligível. Tudo que é inteligível é bom e o que não é inteligível é ininteligível e o ininteligível é o que dá medo. Já que o ininteligível é novo e também é o oposto do familiar, já que o oposto do familiar é o ifamiliar.


    Gostando eu de duas pessoas e essas duas pessoas gostando de mim e essas duas pessoas gostando umas das outras, cada uma terá que escolher apenas uma e cada uma sentirá parte de uma tristeza correlacionada a uma monogamia forçada, mas socialmente desejada. Já que o desejo que posso não é o desejo que desejo e sim o desejo que é previamente estabelecido. E tudo que é previamente estabelecido é socialmente trajado, socialmente imposto e socialmente necessário. O necessário antecede o ser e ultraja a minha alma, todavia o necessário é o necessário e o dever é o dever mesmo que o necessário, no fundo de minha alma, seja o imprevisto e não o imposto. Só que o imposto é o imposto, socialmente imposto e o imposto que mais dói não é aquele que com o dinheiro pago e sim aquele que com minha existência pago sacrificando a minha alma.


    Deus é Mamom? Deus é Cristo? Não, Deus é a sociedade. Sendo a sociedade normativamente imposta, tem-se não só a sociedade, tem-se também a idolatria social que confere a sociedade o poder de Deus. Sendo a sociedade Deus, a sociedade é inquestionável. Sendo a sociedade inquestionável, aquilo que é socialmente construído e previamente estabelecido é inquestionável. A única coisa questionável não é a sociedade em seu juízo que me parece hipócrita, a única coisa questionável sou eu e esse mesmo eu deve se curvar eternamente perante o construto social.


    Eu poderia descobrir pontos de convergência teológica entre o Islã e o Budismo, só que a única escolha que se tem no campo religioso é o cristianismo e 50% do judaísmo. Eu poderia juntar Chesterton com Foucault, só que os academicistas me condenariam. Só que, ao menos no fim do texto, quero ousar alguma coisa e dizer algo de original e inesperado. O enigma da prisão de Chesterton diz que os homens preferem escolher a melhor prisão em vez de sair da prisão. Só que há um porém: toda nova casa é uma prisão. Toda nova ideologia é uma prisão. Todo discurso cria uma prisão. Tudo que é antinormativo cria um novo normativo que logo se torna prisional. Então, qual seria a saída da prisão? A saída seria permanecer na prisão, aumentando-a infinitamente até que se torne cada vez menos prisonal. Já que a complexidade da sanidade não é um círculo que apenas dá voltas, mas um círculo que se expande. Nesse sentido, o movimento queer é mais libertário que o movimento gay - já que o movimento queer saiu da criação delimitada e foi para a criação continuamente aberta.


    Já disse demais. Em todo meu texto há contradição, só que o texto que fiz, cheio de contradições, ainda é melhor do que minha mente que está cheia de contradições. Só que que as contradições que carrego são necessárias, já que só a contradição leva a singularidade. E eu já disse isso em outro texto: "eu sou eu e minha contradição, se não salvo a minha contradição, não salvo a unidade de minha consciência". Se junto Roger Scruton com Karl Marx, misturando conservadorismo com marxismo, ou se junto Chesterton com Foucault, misturando tradicionalismo com pós-modernismo, assim o faço porque o próprio Chesterton disse que se um homem visse duas verdades, levaria as duas no bolso e a contradição junto com elas. Se sou contraditório é porque sou sistemático. Sistematização é sistematizar-se, sistematizar-se é pôr-se por inteiro.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Acabo de ler "Barbaria em Berlim" de G. K. Chesterton



     Acabo de ler "Barbaria em Berlim" de G. K. Chesterton.


    Nesse livro podemos ver o posicionamento de Chesterton na primeira guerra mundial e como as suas previsões serviram até mesmo para se chegar a Alemanha nazista - a qual ele não esteve vivo para ver por completo, mas que antecipou com clareza. Esse livro não demonstra só um mero posicionamento antiprussiano, mas também um posicionamento antirracista.


    Chesterton sempre foi um excelente analista do pensamento. A razão dele ter se colocado como antiprussiano se dá pela incapacidade que a Prússia tinha de adotar padrões necessários a vida civilizada real. Em outras palavras, a Prússia se entregava a parcialismos grosseiros que achavam que era inovações, quando eram, na verdade, apenas uma limitação de uma consciência precária. Um desses era a ideia e o ato constante de fazer promessas e traí-las, encontrando nisso uma suposta compreensão científica e civilizacional. Um desses parcialismos era o teutonismo, teoria pra lá de racista.


    Para Chesterton, havia-se a diferença entre o "bárbaro pré-civilizado" (bárbaro negativo) e o bárbaro que, com suas ideias tortas, poderiam destruir a civilização (bárbaro positivo) com seus modos e pensamentos. Quando a Prússia criou o seu modo de agir grosseiro, ela propriamente criou um patriotismo que queria destruir as outras pátrias por acreditar que só ela mesma era uma pátria. Mais uma vez, noção parcial e bárbara. Mais uma vez, pensamento que gera ação destrutiva, expansionista e belicosa. E a cereja do bolo do pensamento da Prússia nessa época (que também seria a cereja do bolo da Alemanha nazista) era a sua teoria racial que distorcia tudo para "propósitos de raça". Racismo é, propriamente, um reducionismo de raça - bem ao contrário do biopsicossocial e espiritual - e esse parcialismo grosseiro gerou uma série de desastres pelo mundo. É isso que Chesterton sabiamente enfrentou.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Acabo de ler "A Cruz Azul" de Chesterton


 "— Você atacou a razão — disse o Padre Brown. — Isso é má teologia"


    Acabo de ler "A Cruz Azul". Esse é o primeiro conto em que o Sherlock Holmes católico, o Padre Brown, aparece. Ele descobre tudo mais pela introspecção sobre a natureza humana do que por uma metodologia científica - apesar de não negá-la. 


    Na teologia cristã, até a onipotência divina obedece a lógica. E isso se dá por uma razão precisa: a esperança superará o desespero por causa da esperança ser um fim supremo e a desesperança ser só a privação da esperança. A aparente desordem será um dia compreendida e quem crê em Deus crê na ordem, mesmo que esteja na mais profunda noite do espírito, na mais profunda depressão: um dia tudo há de ser salvo. E a salvação da criação é o mais profundo desejo cristão. É por isso que tudo nesse conto não parece ter sentido até chegar ao final. E no final tudo é salvo, tudo é ordenado, por uma boa razão: o fim da humanidade é retornar ao Jardim do Éden, para viver o paraíso da perfeita plenitude.


    Poderia dizer muitas coisas, mas seria privar esse magnânimo conto de falar por si só:


"— Ah! Sim, esses infiéis modernos apelam para a sua razão; mas quem seria capaz de olhar para aqueles milhares de mundos e não sentir que podem existir universos maravilhosos acima de nós, onde a razão é completamente irracional?"


"— Não — disse o outro padre —, a razão é sempre racional, mesmo no último limbo, na fronteira perdida das coisas. Eu sei que as pessoas acusam a Igreja de desvalorizar a razão, mas na verdade é o contrário. Sozinha na Terra, a Igreja torna a razão realmente suprema. Sozinha na Terra, a Igreja afirma que o próprio Deus é limitado pela razão." 


"O outro padre ergueu a face austera para o céu cintilante e disse: — Além disso, quem sabe se naquele universo infinito?..."


"— Infinito apenas fisicamente — disse o pequenino padre, voltando-se com energia energia em seu banco —, não infinito no senso de escapar das leis da verdade"


    O que há de se afirmar é que: o ser é. O sofrimento terá fim. É isso que aprendi com esse conto. O fim é a ordem suprema. O mal acabará. Essa é a razão da esperança e do caminhar. Essa é a fé cristã: o fim de tudo é a felicidade.

sábado, 14 de agosto de 2021

Acabo de ler "O Carisma de São Domingos"

 


"Sua cela é o mundo, e o oceano é o seu claustro"

Mateus de Paris


    Acabo de ler "O Carisma de São Domingos" do Frei M. D. Chenu OP


    Ler um livro - ou, nesse contexto, um livreto - que trata da história da Igreja e a forma como que ela se organiza ou se organizou é sempre um trabalho grato. Já que não ensina tão apenas uma erudição vácua, mas uma possibilidade real de aprendizagem não só histórica, como também evangélica.


    A imagem de Igreja meramente estática é perfeita e cabível para quem não conhece a sua história. Sim, a Igreja é sempre estática, mas também é sempre nova. Ela é algo sempre velha e sempre nova. Já que o Cristo é o mesmo, mas o homem que caminha com ele é sempre outro. Escrevi em uma de minhas anotações acerca desse pequeno livreto que: tradição é caminhada. E creio que essa frase possa dizer que tradição é transmissão e até mesmo expressão. A tradição não é uma mera expressão ritualística, ela é também uma ideia que pode assumir até mesmo outra forma de ritual. Visto que a essência da tradição é a ideia. E o contato e relação da ideia com o mundo é sempre renovado com uma nova forma de expressão.


    Chesterton define o movimento dos frades como algo revolucionário na sua biografia sobre Santo Tomás de Aquino. O antigo religioso construía o seu mosteiro longe do povo para viver em intensidade evangélica e vivia numa rígida hierarquia. O novo religioso viverá ao lado do povo para convertê-lo, o novo religioso será dinâmico e menos hierárquico. O novo religioso acrescentará o voto de pobreza ao lado do voto de castidade e obediência. Coisa que será encarada como uma forma de heresia e tentará até se proibir, mas logo se foi aceita essa "revolução religiosa". Chesterton diz graciosamente que se tornar um frade era como se anunciar comunista - ao menos para efeito cômico, alegórico e poético. Só que tal piada tem um fundo de verdade amplo e histórico. Os frades eram reformadores sensatos e compreenderam a necessidade histórica. São Francisco e São Domingos são sempre exemplos clássicos por sua eternidade e beleza. Sua "revolução" é eterna, já que é assentada em Cristo Rei.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Terminei de ler "O duelo do Dr. Hirsch"



    É um conto fantástico, tal como o anteriormente lido ("A Ausência de Mr. Glass"), faz parte da série de contos que envolvem o investigador Padre Brown. Um homem, que também é um sacerdote, que possui um grande conhecimento sobre a natureza humana e é capaz de desvendar todo tipo de crime. Se você se pergunta se vale a pena ler esse conto, diria que sim. Vale muitíssimo a pena. É incrível como Chesterton nos conduz num conto em que a gente não sabe qual será o final, mas o final é sempre surpreende. O enredo fascina e a conclusão é sempre recompensadora. Fico sempre feliz de Chesterton ser um dos meus autores prediletos.

RECOMENDAÇÃO DE AUTORES E LIVROS!

Atenção: esse texto é uma adaptação de uma postagem do facebook para o blog - fiz algumas adições para tornar o texto mais sério e, quem sabe, mais rigoroso. (A final, não sou tão produtivo para ficar criando conteúdo todos os dias, então tenho que me virar com as anotações, os comentários e os textos que tenho espalhados por aí).

    Por que não aproveitamos o tempo que estamos sem ver pornografia para ler livros? Nesse tópico, recomendem autores para a galera do grupo.

Recomendo a leitura da obra de:

- Chesterton:



O autor é católico, mas se você não é católico e acha que não deveria lê-lo por isso, saiba que: até mesmo o marxista Antônio Gramsci o elogiou. Chesterton é considerado o príncipe dos paradoxos, suas obras são focadas na construção de pensamentos paradoxais que elevam o campo de visão. Pode-se dizer também que suas obras são focadas na defesa do cristianismo - ou seja, são obras apologéticas -, só que a forma com que ele defende o cristianismo é cômica, inteligente e elegante. É um dos meus autores prediletos. 


- Nelson Rodrigues:


Autor brasileiro que eu mais li. Amo a forma que ele escreve. Nelson Rodrigues era "odiado pela direita" por causa da forma que desnudava a hipocrisias morais da classe média - e nesse sentido era um moralista. Um autor moralista é algo bem interessante: ele expõe ficcionalmente a vida de uma pessoa ficcional - que é uma forma de "conceito aplicado por simulacro" - que traduz uma mensagem moral. Só que era ele mesmo um autor conservador e um dos mais geniais que surgiu no Brasil. Sua obra foi e é aclamada pela esquerda e pela direita. Embora ele tenha, por um tempo, protegido o regime civil-militar. (Aviso: algumas obras podem conter gatilhos se você tem problemas com vício em pornografia).

- Simone Weil:



Freira anarquista, é uma das maiores místicas que o planeta Terra já viu. Pode ser até mesmo a maior mística que a esquerda já produziu. Para mim, uma das maiores escritoras da esquerda e uma das maiores anarquistas que já pisou na Terra. A ela pertence uma das obras que mais gosto: "A Gravidade e a Graça".  

- Haruki Murakami:



Excelente escritor japonês. Um homem fantástico e capaz de apresentar a densidade de roteiros profundos. Ele já foi indicado ao Nobel da Literatura é um dos maiores escritores japoneses da atualidade. Sua obra me é de imenso agrado e também muito marcante em toda minha vida. É-me um autor obrigatório e fortemente torço para que ele um dia ganhe o Nobel da Literatura. (Aviso: algumas de suas obras podem conter gatilhos).

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Acabo de ler "A Ausência de Mr Glass" de Chesterton!



    Acabo de terminar de ler esse maravilhoso livreto escrito por Chesterton. É engraçado a forma com que ele desmonta a grande cientificidade do Dr. Orion Hood, personagem de grande severidade intelectual, porém incapaz de se utilizar do senso comum. A própria natureza abstrata de seu pensamento acaba por se tornar porcamente abstrata: se a abstração é a capacidade humana de divorciar objetos de um conjunto estrutural para encará-los sob o microscópio da razão, tal capacidade se perde quando o todo estrutural se perde e se foca só no objeto. O objeto não faz sentido fora de sua estrutura. O abstratista perde-se em sua abstração. Se torna muito capaz de reconhecer um árvore, mas pouco capaz de saber que se encontra numa floresta ao passear por uma floresta - reconhecer-se numa floresta ao caminhar por uma floresta é uma capacidade simples, mas o intelectual preso na abstração não consegue mais perceber o óbvio: ele reduziu o mundo ao conhecimento que abstraiu.


    Esse livro, apesar de cômico, revela uma profunda lição: a inteligência se perde na parcialização. A incapacidade de absorver a estrutura do real por causa de uma simplificação complexa é por demasiado característica em muitos intelectuais. É como, por exemplo, o economicista querendo compreender a realidade do pensamento através unicamente da estrutura econômica; ou do religioso que quer aplicar unicamente um padrão metafísico para compreender o mundo quantitativo; ou, quiçá, daquela galera que acredita fielmente tão apenas no padrão biológico para legitimar as suas crenças - esquecendo do psíquico, do social e do espiritual. De qualquer forma, tudo isso só leva uma simplificação grosseira da realidade total: o saber é dialógico, não só no sentido humano de contato, mas também pelo fato de se comunicar com outros saberes para ser construído de fato. O saber é uma floresta e não uma árvore. O microscópio da razão utilizado para apreender uma árvore é interessante e necessário, mas não devemos pegar uma árvore e pensar que estamos a ver a floresta inteira. Não querendo criar um paradoxo, mas já criando: é preciso reaprender a ser "comum" para ser inteligente sem ser grosseiro.