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domingo, 16 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 30 - Final)

 


Termino aqui uma grandiosa jornada serializada de ler e comentar cada capítulo do livro "Em Defesa de Stalin". Um livro que começa a chamar a atenção pelo título – e não só pelo título, como igualmente pelo seu conteúdo. A perspectiva do livro, a sua apologia a Stalin, é brilhante. Sobretudo num país, o Brasil, em que o trotskismo é amplamente majoritário. Sempre me interessei muito mais por Stalin do que por Trotsky, embora não tenha uma firme posição para com nenhum dos lados. De qualquer modo, a obra – não só intelectual, mas também política – de Stalin sempre me interessou muito mais do que as ações de Trotsky e os seus livros. Não me recuso, entretanto, a fazer estudo do trotskismo e do Trotsky.


Ler esse livro foi de fundamental importância para que eu compreendesse mais profundamente quem foi Stalin e o que ele fez. Por uma infelicidade, no Brasil temos uma grande bibliografia trotskista e uma igualmente grande bibliografia antistalinista. No fim, o que temos são dois grandes polos antistalinistas que, mesmo não sendo propriamente amigáveis entre si, atuam conjuntamente para fortalecer uma única visão de mundo: a antistalinista. Ora, é necessário compreender que uma visão puramente apologética ou antiapologética é dogmática e está muito longe daquilo que se poderia considerar propriamente filosófico. A filosofia não é a aceitação duma unidade de crenças e nem a negação de unidades de crenças. A filosofia, o debate filosófico, é a parcialidade que aceita algum ou alguns aspectos e rejeita um ou outro aspecto ou conjunto de aspectos. A negação sistemática ou aceitação sistemática não é filosófica, é teológica. E um estudo dominado por essa mentalidade não é um estudo livre, é um estudo doutrinador.


Creio que falta ao brasileiro uma capacidade de estudar além das fronteiras que os grupos coletivo-normatizantes apresentam em suas crenças cegas e fechadas. Falta ao brasileiro um livre-exame e um desapego para com as coletividades. Visto que a vida intelectual e as lutas no seio da vida intelectual só podem ser comprovadas intelectualmente. A adesão tribal proíbe isso.

domingo, 26 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 19)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 257 à 268). Um comportamento recente me vem chamando a atenção no momento em que faço a leitura e escrevo essa análise: Trotsky é descrito muitas e muitas vezes como um notório sabotador e de planos incongruentes, como se quisesse destruir a União Soviética e restaurar o capitalismo na Rússia. Essa forma de descrevê-lo, perdoem-me o tom, me parece traiçoeira e enganosa. Sobretudo com base em outras análises estudei sobre a União Soviética, não creio que Trotsky seja um antissocialista – e nem que Stalin o seja.


Uma condição bastante interessante da revolução russa foi a questão da relação problemática entre o proletariado e campesinato. Se é o proletariado o condutor da revolução e aquele para qual se destina o Estado socialista, qual seria a relação do proletariado com o campesinato? Por muito tempo, o próprio campesinato foi uma classe de muitos debates na União Soviética e teve que ser convencido – e muitas vezes lutou contra o regime – a aderir a mentalidade socialista. Os socialistas acreditavam que o campesinato era muito apegado a sua propriedade e, por vezes, adquiria comportamento reacionário.


Uma outra parte que surge desse capítulo é a questão da União Soviética ser um país – ou conjunto de países – agrário. Isto é, seria impossível manter o país seguro sem um desenvolvimento que garantisse a autonomia da Rússia frente aos seus rivais imperialistas, pois estes a sabotariam de todos os modos. O desenvolvimento foi, então, um dos pilares da autonomia soviética. Sem desenvolvimento econômico, sem comida, sem forças armadas: a autonomia é uma mera abstração e não uma existência efetiva. Nesse sentido, podemos ver que os soviéticos eram imensamente realistas.


A ideia de Trotsky era, segundo esse capítulo, a de fortalecer o comunismo de guerra. O que poderia levar a um levantamento duma nova guerra de classes – agora entre o proletariado e o campesinato. A ideia de voltar atrás, por um período provisório, permitiu um levantamento de forças e estratégias para essa delicada questão político-econômica.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 17)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 237 à 248). Infelizmente o livro consta com um erro de impressão, logo o capítulo "V" dessa parte aparece duas vezes seguidas. Com palavras exatamente iguais e a mesma quantidade de páginas. Logo foram seis páginas lidas e mais seis páginas ignoradas para poupar tempo e porquê eu não analisaria duas vezes o mesmo capítulo.


A questão tratada nesse capítulo é: qual caminho revolucionário deve ser seguido, isto é, o de uma revolução democrática burguesa ou uma revolução socialista proletária? O caminho da revolução russa – de índole marxista-leninista – vai na direção da revolução socialista proletária. Os revolucionários bolchevistas chegaram à conclusão de que era melhor uma revolução de caráter socialista pela impossibilidade de saber se uma revolução socialista seria possível posteriormente. Como era apenas uma vaga hipótese, resolveram pegar primeiramente o poder para si em vez de entregá-lo aos burgueses.


É interessante a ideia de "marxismo criativo" de Stalin contra o "marxismo dogmático" de Trotsky. O marxismo de Stalin poderia indicar que o socialismo é possível num país só ou que a Rússia poderia indicar o caminho socialista através de sua revolução. Enquanto o de Trotsky dependia da revolução em países desenvolvidos – visto que a Rússia não poderia se sustentar sozinha graças ao seu parco desenvolvimento.


Em relação ao desenvolvimento socialista na Rússia, creio que ele teve altos custos. Custos impostos pelas duas guerras mundiais, pela guerra civil, pela sabotagem interna, pela luta para efetivar o poder revolucionário, pela corrida armamentista e pela corrida espacial. De uma forma ou de outra, a União Soviética sempre se viu eternamente ameaçada pelo conflito interno ou externo, nunca podendo ter tempo livre para um exercício tranquilo de sua auto-organização.

terça-feira, 21 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 16)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 233 à 236). Mais uma vez, nos deparamos com a pergunta: quem foi Stalin? Essa pergunta, repetida infinitamente, tem um esforço mais pedagógico do que uma função de mantra. Nossa investigação, até o presente momento, nos indica alguns posicionamentos:

1- Stalin foi mais relevante do que se supõe;

2- Stalin foi um revolucionário ativo e que participou em posições estratégicas cruciais;

3- Stalin não era um homem inculto, muito pelo contrário;

4- Stalin tinha notável domínio acerca da teoria marxista;

5- Stalin foi um homem disciplinado e estudioso;

6- Stalin foi um hábil estrategista geopolítico, compreendendo as distintas nacionalidades e seus respectivos problemas.


Ora, é um quadro infinitamente distinto do qual usualmente pintam. Stalin foi formador de muitas nacionalidades soviéticas e promoveu a elevação delas a povos reais. Isto é, ajudou no desenvolvimento de sua autonomia. O seu desenvolvimento, por sua vez, era mais benéfico que o estado anterior de submissão ao império czarista. Só esse fato já demonstra a genialidade de Stalin na compreensão dos povos que existiam ao redor da Rússia e a sua capacidade de compreensão geopolítica elevada.


Outra condição: Stalin não era muito dado a violentas abstrações. Enquanto Trotsky falava sobre a necessidade duma revolução permanente e priorizava a revolução europeia, Stalin falou sobre a capacidade russa de ter a sua própria revolução e criar um desenvolvimento socialista. Ou seja, não caiu na vaga hipótese duma revolução proletária na Europa – condição essa que nunca chegou a ocorrer de fato e que demonstra a capacidade política de Stalin de não cair em abstrações e hipóteses demasiadas.


É fato notável que Stalin não era incompetente. E se ele usou teorias e técnicas de adversários, isto não é um ponto negativo: reconhecer o mérito de rivais, apesar da discordância pontual, não é só maturidade política, também é sinal de maturidade intelectual. Dito isto, a forma de Stalin aparece de forma nova: uma muito mais benigna e menos violentada pelo ressentimento político.

domingo, 5 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 7)

 



Continuando, mais uma vez, a parte de Emil Ludwig, estamos nas páginas 109 à 122. Nessa parte temos a acentuação do conflito de Stalin e Trotsky, indo até a expulsão de Trotsky do país e, posteriormente, adentrando no conflito da União Soviética com a Alemanha nazista. É evidente que, nesse conflito, temos mais o aspecto da luta pelo domínio do poder interno na União Soviética do que a luta da União Soviética contra a Alemanha Hitlerista.


É interessante: o poder tem uma natureza que é paradoxal. Ao mesmo tempo que apresenta uma sutileza que é regida pelas múltiplas contrariedades que carrega, existe uma outra colocação, esta é o de sua brutalidade. Algo que só alguém de olhos bem treinados poderia entender, num esforço de grau simetricamente parecido ao do exercício esotérico. Trotsky e Stalin tinham o mesmo objetivo: o de trazer luz a um mundo socialista. E, mesmo assim, caíram um contra o outro como dois predadores de objetivos opostos. Como poderíamos explicar tamanha contradição? Talvez pelo próprio impulso de governar, de mandar, de estar na liderança. Mesmo num regime de comunidade, de governança coletiva, de cooperativismo, a natureza humana ainda pesa e ainda se faz escutar por meio da sua influência incontornável.


Outro ponto salutar: a capacidade de manter o socialismo no país requisitava uma harmonia de interesses. Sem essa harmonia, manter o socialismo no país seria algo absurdamente difícil. Uma tarefa quase impossível, para não dizer ingrata. É dessa dualidade – manter o desejo político dum projeto de poder comum ao mesmo tempo em que se lida com as múltiplas versões desse mesmo projeto por diferentes pessoas que se antagonizam – que surge a anatomia do poder soviético e a sua carga de repressão. Olhando minuciosamente, o aumento do poder repressivo do Estado soviético para manter o próprio Estado soviético não é um mero acidente em sua substância, mas a própria substância do mesmo Estado soviético. Tal como é a substância de qualquer modelo de Estado, isto é, a mesmíssima substância de autoconservação. Uma das naturezas do Estado é a de manter a própria natureza do Estado.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 6)

 



Ainda na parte escrita por Emil Ludwig, estamos nas páginas 87 à 108 do livro. Aqui vemos o governo de Lênin e toda a conjuntura de dar forma ao poder revolucionário. Com os poder em mãos, o esforço não era mais o de promover instabilidade ao poder dominante e sim o de criar um novo poder dominante. Ou seja, o de construir a ditadura do proletariado. Um estado diferente de todos os outros: não sendo mais controlado pelo clero (via religião), pela aristocracia ou realeza (via política) ou pela burguesia (via economia), agora cabia ao próprio proletariado e ao seu fiel amigo, o campesinato, o de ditar o rumo de sua própria vida e engendrar as engrenagens da liberdade que sempre almejou.


Só que havia um problema nesse sonho, o problema era que o sonho não era só de um. O sonho era um sonho compartilhado com várias visões que, mesmo que se juntassem com alguma semelhança, apresentavam-se distintamente. Dentro do próprio partido, existiam rupturas. Não só isso: socialistas revolucionários, anarquistas, mencheviques e tantos outros, também combateram a burguesia e seus aliados na revolução. Cada qual queria ter parte nesse poder que surgia, mas cada qual tinha uma visão distinta sobre esse poder. Partidários de uma mesma classe – ou duas classes (proletariado e campesinato) –, divididos por diferentes ideais.


O poder evidentemente caiu nas mãos dos bolcheviques, isto é, dos comunistas. Inicialmente esse poder foi utilizado para reprimir os teóricos e adversários do poder comunista, garantindo a estabilidade do poder com base na repressão. Depois de terem calado os inimigos "extra-doutrinários", cabia-se estabilizar o poder nas mãos dos comunistas. E como é que eles fariam isso? Concentrando-o nas mãos de um grupo de comunistas em vez de reparti-lo nas mãos de todos os comunistas. Esse repetitivo processo de concentração para estabilização do poder e para manter a revolução seria, a posteriori, um grande problema para o Estado Soviético e um dos principais motivos de seu fim.


De qualquer forma, a rivalidade entre Trotsky e Stalin vai se delineando e uma ruptura definitiva vai surgindo pouco a pouco.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 1)

 



Essa análise remete a apresentação (7 a 37). Resolvi fragmentar a análise visto que ando muito ocupado para escrever análises com maior regularidade graças ao pouco tempo para uma leitura mais diversa. Também creio que a análise fragmentária funciona mais no Instagram: os poucos caracteres que a plataforma disponibiliza dão um entrave para análises mais minuciosas, todavia isso pode ser burlado pela fragmentação. A fragmentação da análise, por sua vez, permite uma escrita mais atenta aos detalhes de cada parte do livro.


Quando pensamos em Stalin pensamos não só nele. A imagem de Stalin sempre vem atrelada a uma série de outras imagens. A história da União Soviética, sua ligação com Lênin, as brigas com Trotsky, os sentimentos que provocava em seus adversários, seus críticos de esquerda e de direita, a tradição imperial russa. No meio a tanta ebulição social provocada pela multiplicidade de projeções imagéticas, o que será verdade e o que será mentira? O aumento da acuracidade da história, um olhar crítico ao passado, importa para a humanidade em si mesma. Se a humanidade é incapaz duma correta autocrítica, perdemo-nos no caminho.


Esse livro vai numa linha bastante interessante: em vez de seguir a maioria, vai no fluxo contrário. Atacar Stalin é, hoje em dia, uma tecla tão batida que gera uma monotonia sonora e argumentativa. Quando me deparei com esse livro eu pensei: "por que não?". Sou uma pessoa extremamente curiosa e ver que existe uma sólida defesa ao Stalin - que sempre me pareceu uma figura muito mais interessante que Trotsky - me interessou muitíssimo. E os autores de tais textos já garantem, logo de cara, que muito do que se diz por aí é um fuzuê de desinformação, confusão mental, calúnia ou alteração para atacar tamanha figura.


O quadro que o livro apresenta não é algo que foge muito do discurso padrão? E será o discurso padrão válido? Creio que devemos dar uma chance para que um ponto de antagonismo se estabeleça em prol da saúde da própria discussão. Só assim poderemos adentrar nos confins da história e estabelecer com maior precisão e rigor a veracidade da própria história.