sábado, 30 de abril de 2022

A Cobra

Palavras não morrem, não dá pra esquecer. Os batimentos de meu peito não cessam. E imerso em meu próprio sangue, eu nem consigo mais dormir, tenho imenso medo de me afogar. Salvar-me-á da solidão ou me verá caído na noite sem fim até que tenha percebido que tinha tido a chance de me salvar?


Pegue-me, se puder. Leve-me, se querer. Ame-me, somente se quiser. Meu espírito desvaira-se nos altos céus e colide-se com a crueza do real. Ando sempre em corda bamba num céu etéreo de imprudência bestialogicamente selvagem, é sempre difícil me acompanhar - a única certeza é que no meu anuviado e transtornado mundo: cair é quase sempre morrer, quiçá para renascer outra vez ou para enlouquecer duma única vez, a única garantia é a ausência de código de direito do consumidor.

Minha carne sempre se dobra, sempre tendo gosto agridoce com seu sangue meio amargo e meio adocicado. E estou sempre a sangrar, conquanto que até agora sem minha força vital obscurecer. Namore-me sem nunca saber se você tirará fel ou se tirará mel. É pedir demais, embora o demais é o que sempre peço. Sou um constante inconstante ameno outonal a sonhar quando o metrô de São Paulo levar-me-á ao paraíso da Jerusalém Celestial.

Eu sou de discutir o sexo dos anjos num rigor ultra escolástico, como se a inutilidade me confortasse e livra-se da ideação autocida. Minha visão longeva é tal como um ode ao disforme em que o previsível nunca se encaixa, tal como eu nunca estou a me enquadrar em absolutamente nada. Sou melancólico de formação meditabunda, trazendo uma nauseabunda penumbra entre o campo do dito e do não dito. Eu maquino fantasias tal como a esfinge maquina enigmas. Minha prudência é a soberba do orgulho do fracasso e de fracasso em fracasso crio minha distópica catedral que cresce como capim em direção a loucura dionisíaca e não a visão beatífica do Deus de Abraão, Isaac e Jacó.

Até quando eu serei essa cobra alquímica que come o próprio rabo sem ter coragem de esgotar a própria capacidade física? O transcendente escatológico é contra a minha naturalidade e o peso de minha vida é um fardo para minha alma ofídea. De pele em pele, prostituo-me por uma morada provisória num submundo subnutrido, esperando aquele juízo final que na mortalha me ponha como se coloca um corpo negro, tal como o meu, em mais uma banal estatística.

Não quero ser trágico. Só que vivo a vida toda como um traficante de boas tragédias. Embora que o que eu mais quero é que tudo acabe como a Divina Comédia - aquela estranha poesia que anda do inferno ao céu. É sonhar demais, e sempre sonho em demasia, peremptório erro meu. Perdoa-me, amor, cala-me com teu beijo e esqueça dessa minha loucura tardia.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Acabo de ler "Nossa Cultura... Ou o que restou dela" de Theodore Dalrymple

 



Se eu um dia suposesse que um dos maiores autores que ficaria a ler por um período de dez ou quase dez anos seria um médico psiquiátrica que tratava a questão do mal em livros ensaísticos... Eu sequer acreditaria nisso ou, no mínimo, acharia bastante engraçado e curioso. Conhecendo a mim mesmo, é possível que a segunda opção fosse mais plausível.

Ler Dalrymple é sempre uma opção divertida e enriquecedora. Com doses de um pessimismo ponderado, capacidade para satirizar as absurdidades do mundo hodierno, vivência real e assustadora, humor refinado e uma boa capacidade de escrever e refletir, Dalrymple se tornou uma figura obrigatória do conservadorismo britânico. Mesmo aqueles que não são conservadores - meu caso -, podem se divertir e pensar bastante com seus escritos.

Esse livro é considerado o Magnus Opus de Dalrymple e a densidade crítica dele é tão grande quanto a agradabilidade de sua leitura. Leitura de fruição e de pensamento crítico se unem nessa maravilha que aborda sempre a questão do mal e como ele se cria. Dos autores ateus e agnósticos, Dalrymple é um dos maiores também. A forma como ele consegue pensar a questão do mal e sua vivência íntima com ele também é ressaltada. Como ele viu, viveu e também percebeu que o mundo não consegue tratar do problema, o caráter satírico - a piada é uma forma de se lidar com um mundo quebrado - é em demasiado evidente. Só que seu pessimismo nunca nos afasta dele, pelo contrário: percebemos o quão humano Dalrymple é.

Poderíamos definir Dalrymple como uma pessoa sofisticada, de bastante experiência vivencial e de caráter elegante. Seu livro aborda tudo: economia, cultura, literatura, vivência concreta, história, assassinatos, crueldade. Seus comentários de Shakespeare aumentam a palatividade deles e conduzem o leitor a uma leitura mais rica da obra. Fora que a capacidade de usar Shakespeare como método de análise crítica e resolução de problemas sociais e filosóficos é impressionante.

Ao terminar o livro, vejo que Dalrymple é um grande autor e pensador. Embora ele não seja um autor de caráter sistemático, é de uma utilidade máxima.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Acabo de ler "História da Psicanálise" do Dr. Anselmo Matias Limberger

 



Estudar psicanálise vem sido um processo de expansão do horizonte de consciência, ao menos o é em meu caso. Como trabalhei com um autor tradicionalista em meu TCC, e Freud está longe de ser um tradicionalista - seria melhor colocá-lo como "antitradicionalista" -, vejo que venho desenvolvido muitos questionamentos e descobertas intelectuais.

Estudar psicanálise sempre se torna algo que envolve autoconhecimento. É por isso que fico cada vez mais receoso. Talvez meu ego venha trabalhado para que eu não tenha a revivência do trauma, coisa que seria explicável pela própria teoria psicanalítica. Quanto mais estudo, mais percebo que tenho que avançar. E venho descoberto muita coisa sobre mim mesmo e me tornado mais empático, embora mais consciencioso com a atuação alheia - sim, tornei-me mais crítico e, quiçá, um pouco mais chato.

Uma das coisas em que fui mais impactado é com a "doutrina da vontade". Longe de pensar que um melhor controle da vontade seria autossuficiente para a propulsão de um melhor viver, questiono-me sobre a nossa capacidade de "controlar" essa vontade que nos escapa. Se grande parte da vontade escapa ao nosso controle devido ao fato do inconsciente, só se pode haver mais poder sobre a vontade quando a autocompreensão aumenta. Só que nossa autocompreensão é algo de que nós próprios inconscientemente fugimos. Tudo isso impacta fortemente a forma com que vejo o mundo.

Também ficar catalogando as ações humanas e tentar entendê-las por véus ocultos se tornou uma mania a qual não consigo fugir. E embora fosse mais fácil não prestar atenção, minha atenção expandiu-se e continua a expandir-se em demasia. Torno-me aquela medonha pessoa que parece atenta para os movimentos mais sutis, causando um pouco de medo - e o medo de ser julgado é algo demasiadamente humano. Tenho medo de causar receio com minha própria pessoa. Ainda bem que a psicanálise me deixa, ao mesmo tempo, mais empático.

No fim de tudo, vejo que me tornei um tanto mais adulto e capaz de ter um maior controle sobre a minha vida. Embora também mais cético.

Intimidação a Si #3 - Medo de Palhaço




1. Tenho medo de palhaços. Se a minha essência é palhaçada, nada que digo é palpável ou substancial. É tudo mera zombaria de minha imitação deformada. Sendo sempre cômico, nada que vem de mim é amável e nada se espera de mim além disso: meu amor causa risada, meu choro causa risada. Se até minha tragédia é piada, como posso desejar uma mulher ou um homem bonito?


2. Vendo-me desproporcional, vendo-me como calvo, toda forma que me vem é ridícula. Sou sempre deformado, calvo e feio, sempre propício ao circo. Sou ridículo e ridicularizável. Essa é a minha maldição: ninguém vê no palhaço mais do que objeto de riso. 


3. Toda vez que me lembro de um palhaço, a próxima forma que me vem a mente é de minha imagem de criança a chorar. Só posso sofrer bullying e toda minha seriedade é convertida em burrice, já que só posso ocasionar risada e a seriedade escapa de minha essência cômica. É por isso que travo ao ver uma mulher bonita: sou a piada e não o mágico.


4. Nasci em dez de dezembro, o destino tira sarro de mim. No dia do palhaço, vejo que só posso ser feito de piada. Faço todos tirem, menos a mim mesmo. Lembro-me até mesmo de uma tia que fazia todos rirem, só que quando fez uma cirurgia para agradar a si mesma, morreu.


5. O palhaço não pode ser academicamente sério, toda teoria descamba na essência em que o veem e na essência que ele mesmo se coloca - mesmo que inconscientemente. E quando rirem de suas ideias, ele se lembrará palhaço e eternamente palhaço. O palhaço não pode ser sexualmente desejado. Ele tem que parecer disforme e tudo que faz beira a disformidade. Só o que me sobra é a frase: "você faz as pessoas rirem, Gabriel". Eu não posso fazer as pessoas me amarem, me desejarem ou até me acharem inteligente. Estou sempre numa palhaçada unidimensionalmente trágica.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Intimação a Si #2 - E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim?




1. Imerso em tensionalidade, busco um pouco de fuga no sossego. A música sacra se encontra ao lado de minha libidinosidade deturpada. Amá-lo é ofender a quem amo, não amá-lo é negar a profundidade do que sinto. 

2. O que sobra de minha leitura? Talvez a realidade a qual me choco. Amo-o como amo a catedral. Só que pode o inferno posicionar-se tal como se fosse o céu? Por um lado, a construção de uma vivência super-egóica, por outro a romântica-sexual que, tal como um Deus-Vivo, a tudo evade. Nada pode deter o amor que sinto, só a ansiedade neurótica do condicionado que condiciona sempre ao enquadro.

3.  Se ele é bom ator, ator o suficiente para separar o teatro da vida, como eu que pouco sei de teatro posso alcançá-lo nessa originalidade que ao palco se sobressai pelo coração pulsante que a vida deseja e a sociedade escapa? Quero-o. Desejo-o tanto quanto sinto que a minha carne é de carne. Só que o que temo é esse corpo imaterial a qual chamamos de sociedade. 

4. Sinto que meu coração que hoje se homorromantiza fosse tão de fogo quanto o coração queimante de Agostinho de Hipona era de fogo. E quando ele está a queimar meu coração até meu corpo se queima e sente a minha alma. Tão empírico quanto Aristóteles meu corpo pulsiona, tão idealístico quanto Platão minha alma transcende e aos céus se direciona. A metafísica celeste e a homossexualidade dançam numa dialética que ao meu coração agrada!

5. E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim? Com o bater do martelo, vem-me só o desejo de para sempre amá-lo.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Verdetextomania #3 - Looping do Multiverso Musical

 


>seja eu
>ouça uma música
>passe a gostar dela
>ouça infinitamente
>ouça com a fúria de mil sóis de fogo se chocando com mil sóis de gelo
>enjoe
>procure a versão acústica
>procure a versão metal
>procure a versão punk
>procure a versão com voz masculina
>procure a versão com voz feminina
>procure a versão com violino
>procure a versão com violino elétrico
>procure a versão música clássica
>procure a versão remix
>procure a versão cover de banda famosa
>procure a versão cover amadora
>procure diferentes versões de shows ao vivo
>procure a versão ao vivo inicial
>procure a versão ao vivo mais recente
Meu Deus do céu, estou no looping do multiverso musical.

Acabo de ler "O Inconsciente" de Rudolf Allers

 



Pensar a partir de diferentes pontos de vista pode ser uma tarefa difícil, sobretudo para aqueles que se enraízam num modo de pensar. Só que é sempre importante uma abertura, sobretudo para aquele que quer pensar com real liberdade - o condicionante é o que afeta a liberdade de inteligir.

Esse é o primeiro texto que leio de Rudolf Allers. Ele foi algo de diferente, já que o autor tem um posicionamento contra Freud, porém me abriu espaço para um entendimento maior da própria obra de Freud. Rudolf Allers fez parte do primeiro grupo do fundador da psicanálise, é por isso que suas críticas são, para mim, de vital importância. Embora eu tenha visto um caráter religioso como "fator afetante". Allers afastou-se de Freud tal como Alfred Adler. Outro dado importante: Allers foi mestre de Viktor Frankl, figura intelectual que me é de maior referência.

O que se pode dizer do livro? Allers critica a forma que Freud vê o mundo, talvez por causa do catolicismo e, por outro lado, pela sua percepção da teoria do inconsciente sendo encontrada - mesmo que sem maior capacidade teorética - em outros pensadores bem mais antigos que Freud. Ele vê um caráter inovativo na obra de Freud, só que não o vê como absolutamente novo. Mesmo que a teoria antiga do inconsciente não seja tão bem formada como a de Freud. Uma de suas principais críticas a Freud e Jung, por exemplo, está na postura naturalista - por excelência, antirreligiosa - que relativiza o grau de verdade religiosa (Jung) ou mesmo "exclui o pensamento religioso" (Freud).

Mesmo não sendo tão apegado ao pensamento religioso de forma confessional ou até mesmo relativizando a religião como adesão subjetiva, vejo que Rudolf Allers consegue explicar com certa clareza as ideias de Freud e elegantemente tentar refutá-las utilizando-se de seu arcabouço erudito. Não só isso, compreendi mais Freud e a psicanálise com a ajuda dele e nisso lhe sou grato.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Diário /sig/ #4

 


Nesse sábado, eu acabei saindo e voltando só segunda de madrugada. Como fiquei um tempão fora, acabei não treinando. Por um lado, creio que consegui sair um pouco da internet e estabelecer relações com pessoas reais. Por outra, menosprezei minha saudade. Só voltei a treinar hoje, então é por isso que houve um hiato temporal. 




Acabei de sair do banho. Estou meio triste porque acabei vendo pornografia por esses dias e isso atrapalha meu desenvolvimento pessoal. Hoje retomo algumas coisas. A vida de estudos, por exemplo. Quero também dar prosseguimento ao curso que estou fazendo do Carlos Nougué, quem sabe no próximo dia, e imprimir velocidade no livro que aluguei da biblioteca. Hoje mesmo terminei um capítulo do Psicologia Aplicada de Freud. Quero aproveitar esse resto de semana para treinar, estudar e desenvolver minha espiritualidade com intensidade.

Psicologia Aplicada de Freud - Capítulo 2: A Relação dos Sonhos com o Inconsciente da Mente



Nesse capítulo, somos apresentados ao ID (princípio de prazer), Super Ego (vigilante da moralidade) e Ego (princípio de realidade). Eles nos ajudam a compreender ainda mais o drama mental que passamos, em suma maioria das vezes inconsciente. E já que a maior parte dos nossos dramas se passa inconscientemente, estudar eles dá um certo grau de autonomia e autocompreensão.

Outro tema abordado, já sendo o principal, é de que nossos sonhos nos dão a pista de como está a nossa situação mental. Só que para a interpretação correta dos sonhos, outras coisas devem ser conhecidas: a própria vida do sujeito que é analisado. Já que existem coisas que existem, só que não temos acesso direto por estarem depositadas em nosso inconsciente. Elas não são só memórias, são igualmente pensamentos e sentimentos que guardamos por serem fortemente traumáticos demais para conseguirmos lidar.

Freud queria adentrar nesse estranho mundo do proibido. Para tal, buscou diferentes métodos: hipnose, interpretação dos sonhos e associação livre. Como a natureza desse proibido se revela na própria vivência pessoal, ele é variável e requer dado grau de formação específica - seja para análise do outro e de nós mesmos. Esse proibido é verificado endogenamente e/ou exogenamente. Todo esse drama ocorre sempre, de formas variáveis, com ou sem a nossa abertura a (auto)análise.

De qualquer forma, é magistral a forma que Freud abordou tal problema. Tendo em mente que a maioria deles não está sobre nosso controle direto e temos que aplicar grande esforço, a psicanálise torna-se uma vitória no campo da (auto)compreensão humana e uma realização pessoal naquele que a pratica, já que esse tem acesso a frase do Oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo". A psicanálise é o esforço e a coragem de enfrentar o drama interior sabendo que ele é de difícil acesso e requer tempo, embora a "salvação" sempre seja algo de gratificante.

Martelo de Rosas

Ele não é de forma alguma um martelo maquinal. Ele é um laborioso e artístico artesão a destruir com a arte os limites duma sociedade petrificada em ilusão. É Dionísio com rigorosidade de um Apolo revolto. Ele é um novo Lutero atualizado a contemporaneidade. E em teus olhos substanciosos de águia encontro um conforto místico que me distancia da pulsão de morte. Com seu tocar, o eterno e o temporal se encontram em dualidade harmônica, levando a sensação de que o trivial possa se encontrar com a equidistante beleza do arroubo poético.


Seus pregos são como rosas duma revolução com que ele demarca o novo tempo. É confuso e transcendente a forma com que ele marca cada tempo com a pregada duma rosa numa selva de concreto que se esqueceu da beleza de sua íntima natureza. Em tuas mãos sente-se ao mesmo tempo o cansaço para com o mundo e a capacidade de amor para com esse mesmo mundo. Em teus beijos encontro o retorno a aurora do passado juvenil a retornar no meu ser envelhecido, restaurando-me o conforto maternal uterino e a percepção de que ainda se vale a pena viver mesmo que só mais um pouco.

No teu abraço todo restante se dissipa, já que já não me importa mais nada que com ele não esteja. No teu dormir vejo a humanidade que um dia abandonei e me esqueci. É como se houvesse volta numa revolta que se apaixona pelo novo ao mesmo tempo que confere gosto num mundo antigo que se desgosta. Ele é o martelo do paradoxo, o marteleiro das rosas. E em cada prego rosado encontro o amor abandonado dum desejo juvenil de outrora.

Sem braço


Parte agora, alma de minha alma. Parte agora, parte de meu corpo. Fui amputado. E finalmente entendi o velho sonho de que fiquei sem um braço. Saudade agora, saudade sempiterna. Parte de minha alma se despede, sem tempo para que meu espírito volte a ser completo. Há diferença entre estar com e torna-se. Forma tua tomei, e agora sua forma se parte. Sem tua forma, fico disformado. É como se eu fosse até mesmo deformado. Nenhuma oração a quem quer que seja pode unificar a alma de minha alma. Amigo perene, em tua falta sinto meu peito amargo. É como se até agora a vida fosse inteiramente doce e agora tenho que me contentar com o amargo. Em um instante, em um mísero milésimo, em saudade eterna minha alma se embate. Como é longevo o tempo minímo dessa triste saudade. Já que o tempo do coração nunca é o mesmo tempo exato do maquinal relógio. O coração é de diferente engrenagem, de natureza subjetiva e demasiado sentimental. Até ontem me sentia homem póstumo, hoje me sinto mais que reacionário. O tempo novo não me é mais novo, e só o velho meu coração agrada. Adeus amigo meu, adeus meu braço.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Diário /sig/ #3

 



Treinei, e nada de formoso tenho. A única coisa que tem forma é meu antipensamento contra mim mesmo. Tornar esse ódio em amor levará tempo. Preciso aprender a me amar, já que toda uma série de traumas me tornaram um tanto indisposto para comigo mesmo. Só que todo esse esforço vale a pena, já que vou adquirindo uma consistência e uma ordenação que fortificam minha vontade e dão-me menos medo do mundo. Meu grande amigo partirá, eu continuarei em São Paulo, para bem e para mal, não sei.



Minha pele se tornou melhor. Meu humor, mais equilibrado. Minha vida psíquica mais elevada. No entanto, sofri hoje de uma indisposição que me levou a uma desatenção na vida intelectual. De qualquer forma, pretendo estudar de noite. Fora isso, quero fazer o retorno da leitura orante para me fortalecer espiritualmente. Pretendo dar continuidade a vida espiritual perdida ao lado da vida intelectual e física. Assim melhoro meu bem-estar e amadureço enquanto pessoa. Não só me sentir mais bonito, quero resolver as tensões do inconsciente, conhecendo-me mais e buscando viver com mais dignidade e, quiçá, santidade.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Diário /sig/ #2

 


Ódio acumulado é uma coisa que sempre tenho. Não dá como fugir. A vida carrega uma série de teias complexas que furtam a minha capacidade de satisfação. Só que o que faço com esse ódio é transformá-lo em propulsão para elevação de minha potência. É algo meio fascista, mas creio que o ódio deve ser militarizado internamente. Eu preciso transformar esse ódio em força, assim treino até que ele se dissipe. O ódio possibilita uma guerra e essa guerra se torna em força disciplinar. Com ela, desgasto minha energia e ganho força muscular. Só que toda essa frustração se torna, psicanaliticamente, em sublimação quando a utilizo para a explosão da energia bestial que carrego.




Ontem à noite eu estudei, hoje acordei de manhã e me alonguei. Paguei as dez flexões matinais. Senti-me um pouco mais feliz, inicialmente eu sofria na quinta flexão em diante, agora sofri a partir da oitava. É óbvio que sou fraco, mas o hábito diário está me enriquecendo e possibilitando um ajuste não só físico, possibilita um ajuste existencial. Todo esse esforço também se verifica mentalmente: o estudo da psicanálise, não só teoricamente, também intrateoricamente tem me ajudado. Parar de ver pornografia igualmente.  





Treinei que nem um louco hoje. Fiz corrida estática, dei socos livres, pulei corda, paguei flexão. Sublimei todo energia bestial que tinha, alimentando a besta interior com a satisfação de poder revelar-se com o desgaste energético. Sinto-me dez vezes mais relaxado e preparado para estudar. Quando a energia impera, é difícil estudar. Agora minha alma meio que se ajuizou e preparou-se para "sua vocação mais elevada".

Notas do Gamesolo #3 - Terriermon e Veemon

 


Continuo jogando Digimon Rumble Arena, apesar de tê-lo zerado várias vezes. O motivo é simples: eu amo esse jogo e odeio Digimon 2, como qualquer pessoa decente. Dessa vez zerei como o Terriermon e o Veemon. Lembrei um pouco do filme, onde o Terriermon aparece pela primeira vez e o Davis fica com inveja de um cara que eu esqueci o nome. Ah, e o filme é de fato bom.




Tenho saudades de quando eu jogava essa pequena maravilha em meu PS1. É um dos jogos que mais amei e até hoje está na lista de jogos favoritos. E olha que de lá para cá, joguei muita coisa. A felicidade às vezes é monótona e repetitiva. 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Diário /sig/ #1

 


Olá, esse é um diário do meu desenvolvimento pessoal. Resolvi fazer um pois minha vida está uma merda e muitas coisas precisam mudar. Minha relação com as pessoas é muito dependente, logo acabo exagerando na doce da dependência afetiva e afastando pessoas com meu jeito afetado. Fora o fato de que estou ficando com um corpo feio e fumando muito cigarro. Além de que tenho nojo pela minha imagem refletida no espelho e gostaria sinceramente de ser outra pessoa. E, claro, não tenho um emprego e durmo ando dormido mal pelo vício no celular. Quero me tornar uma pessoa mais realizada, seja no sentido físico, profissional, financeiro, ético, sexual, acadêmico, romântico e lá vai uma série de coisas. Para isso, resolvi me desenvolver como pessoa. Então nada melhor que ter um diário voltado a esse crescimento para pensar todos os dias nisso e contabilizar isso, lembrando sempre que devo ser uma pessoa mais realizada e completa.

Hoje eu terminei um curso sobre a cristandade medieval do prof. Carlos Nougué. Além disso, fiz minha acordada matinal me alongando e pagando dez flexões - o efeito disso é benéfico pro corpo, já que já "acorda o espírito energético do corpo" e melhora o humor. De tarde, li um pouco e também malhei relativamente bem, pulando corda por vários minutos e pagando três séries de dez flexões, fora dez abdominais - a normal, a direcionada para esquerda e para direita. Depois disso, tomei um banho gelado e comi um lanche. Agora pretendo desligar o celular e ler até sentir vontade de dormir.

Acabo de terminar o curso "A Cristandade Medieval" de Carlos Nougué

 



A lógica catedrática que representa o profundo sentido da Idade Média é algo que fugimos, não só pelo horror que temos de coisas que consideramos fantasiosas. É também pelo simples fato de que tal padrão de vigor não é encontrado em nosso tempo atual em larga escala. Foge-se não só pela pequenez, foge-se igualmente pela grandeza.

Pressupor que somos superiores é ir contra o passado, só que num nível meramente reativo. Obscurece-se dada imagem para que ela não nos atordoe, leva-se a um nível em que a imagem obscurecida não pode mais ser levada a sério. Assim se conquista, através de gerações de alienidade, uma coisa de valor abjeto: desprezo pelo o que não se superou. Não por acaso, os filósofos do medievo tinham um grau técnico e harmonia lógica que hoje, com todo nosso aparato científico e pedagógico, não conseguimos superar.

A catedral é mais do que algo arquitetônico no sentido físico do termo, é um esforço arquitetônico de ordenabilidade em que o ser se eleva. Criar sistematicamente, progredir até os mais altos céus, esse era o lema do medievo e construções de nível abismal como a Suma Teológica e a Divina Comédia trazem esse significado.

Como sempre, impressiono-me com o grau que Carlos Nougué consegue colocar as coisas. Aspirando sempre aquilo que há de mais alto, não se deixando anuviar pelo o que há de supérfluo. Um grande curso que me ensinou o valor da busca diária pela elevação intelectualizante.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Intimidação a Si #1 - A Fuga da Terapia

 


"Viver fugindo de minha própria realidade é, notoriamente, o meio de sublimação que meu aparelho mental encontrou para fugir da limitude de minha angústia. O meu medo direcionado à psicólogos e psiquiatras era e sempre foi o medo da autodescoberta. Por conseguinte, uma defesa repressiva mental para fugir do inferno da revivência do trauma. Por vezes, é preciso dizer a verdade mais cruelmente íntima, mesmo que a revivência traumática seja inicialmente bestialogicamente enfadonha".

Verdetextomania #2 - MINHA NOSSA, COMO EU ODEIO SER FALHO

 


>2022

>seja eu

>tímido e introvertido

>more na capital mais badalada do Brasil 

>isso mesmo, São Paulo, mas conhecido como Sampa

<não é estranho que São Paulo seja um nome masculino e Sampa um nome feminino?

<São Paulo é drag queen e tem nome artístico feminino?

<pouco importa

>nesse dia, tal como outros, encaminhava-me para andar de trem 

<era a estação João Dias ou Santo Amaro?

<pouco importa 

>andei normalmente 

>normalmente ao meu modo

>cabeça inclinada pra baixo

>com a sensação de paz de que o mundo poderia explodir a qualquer momento

>ao menos isso é normal para mim, que sou ansioso em ambientes sociais 

>subindo a escada, vejo um homem velho

>boné, roupa vermelha, shorts jeans

>ele simplesmente olha pra trás 

>sim, bem na minha direção

>penso: "mas o que a foda?"

>ele continua olhando pra mim

>ele simplesmente sorri pra mim 

>não entendi direito

>isso era uma forma dele dizer expressionalmente que me curtia?

>ele queria me pegar?

>ele queria me beijar?

>ele queria me dar?

>ele queria me comer?

>tudo isso passou em minha cabeça a mil por hora

>eu acabo ficando enrubescido 

>como estava subindo

<sim, não tenho paciência para escada, mesmo que seja rolante 

>acabei tropeçando e quase caindo

>o senhor de idade olha pra frente

>ouço algumas risadinhas 

>quando termino de subir, ando rápido 

>passo pelo senhor

>olho pra trás 

>ele olha pra mim também 

>nossos olhos se encontram

>ele sorri de novo 

>sorrio de volta

>corro

>pego o trem que já ia partindo 

>sinto-me um idiota por ser tímido e introvertido

>só um único olhar me desconcerta 

Anos e mais anos, mas a nerdice não sai de mim. Já namorei, já perdi a virgindade bocal e sexual, conquanto não perdi a timidez de uma criança que ainda se espanta em demasia com o mundo. Pois é, meus caros, não sejam tão falhos quanto eu.

Acabo de ler "Dossiê China" do jornal Gazeta do Povo

 



Quando vi esse PDF sendo anunciado, logo pensei que seria uma boa baixá-lo, apesar de eu não ser lá tão chegado ao "conservadorismo-liberal" que domina o jornal Gazeta do Povo. Só que como era um "livro" sobre a China, a curiosidade bateu mais forte.

Pensar sobre a China é sempre algo difícil. Ela vive um regime bem diferente daquele que é vivenciado no "Ocidente" - entre aspas, já que não há um consenso sobre o que seria o "Ocidente" e eu não tenho tempo para discutir sobre isso - e tem valores diferentes dos nossos. Não por acaso, sofro por uma imensa curiosidade pelo o que ocorre lá, informando-me por múltiplas fontes. Não sou um sujeito impressionável, só que a China sempre me impressiona.

Algo interessante de se observar, é que quase a maior parte do livro se passa pelo "regime comunista inicial" da China, sobretudo na era de Mao Tsé-Tung. Talvez seja pelo fato de que nesse período, ela tenha sido mais ferozmente anticapitalista e, posteriormente, tenha aderido a um hibridismo econômico. De qualquer forma, vários planos de Mao Tsé-Tung foram um desastre em níveis gerais: econômicos, humanos, alimentares e ambientais.

Ao terminar o livro, tendo a uma tendência de condenar umas partes do regime chinês atual. Só que não tudo, visto que o livro nem de longe me convenceu a adentrar no universalismo liberal e eu ainda acredito que o regime político depende da autodeterminação dos povos e não em fetiches ocidentais que adquirem tons de universalidade. De qualquer forma, o livro me abriu ao entendimento de alguns erros do regime chinês e até mesmo um tanto de sua história presente e passada.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Novas Aquisições


1- 2 Livros: "O Mal-estar na Civilização" e "O Futuro de uma Ilusão". 
2- 1 Caderno, para o a anotação de livros. Como costumo escrever muito, sou muito de gastar cadernos e canetas. 
No primeiro livro, Freud tratará do aspecto da repressão em nossa sociedade. No segundo, o tema abordado será propriamente religioso e o futuro da religião, além da psicanálise como ciência.

sábado, 2 de abril de 2022

O Trágico Fulminante #2 - As Garotas Mais Bonitas da Escola




Conte-me mentiras. Diga-me como esconde a sua consistência líquida e superficial por trás de um belo sorriso e um corpo gostoso. Fale-me sobre sua vida niilista que se resume a uma mera relação insertiva e receptiva de dois órgãos um tanto banais. As revistas de moda não escondem, sua vida mental é como a de um inseto que morrerá após um coito infernal. Como se o que bastasse fosse o pouco do pouco do sexo após sexo e mais sexo, seu único élan existencial que mantém a sua vida vazia de conteudismo enquanto tal.

As garotas mais bonitas da escola são como lindas flores de plástico. Belas, cheirosas, eternamente petrificadas como uma estátua humana após o olhar hipnótico de uma sociedade medusada num vácuo existencial. Tão ricas em exterioridades e tão mortas em interioridades. Incapazes de um assunto que toque as faculdades superiores que não pertencem ao corpo, mas a alma. Ordenadas pelas desordenadas duma sociedade antiaristocrática, enternecidas pelo ode ao mediocracismo dum materialismo sem igual. Num Brasil degenerado em que introspecção virou ofensa pessoal.

Pior do que não entender, é viver para nunca querer entender. A troca da picanha pela maestria do palito. A inversão referencial como meta diabólica de uma revolução ultra dionisíaca. O sexo em vez do amor cria o antisexo, a pornografia mata o erotismo como se matasse uma formiga. É ironia, mas o auge da criação se pôs a andar de quatro. Tornou-se um mero cachorro idealizador do cheiramento de nádegas. A civilização, do cume da sua sapiência, entrou em mantra hipnótico e anticivilizatório em ode pela dança da chuva do acasalamento.

Revele-me como você se despiu de toda humanidade que lhe restou apenas para um momento que se esqueceu. Implore-me para que eu faça parte da quantificação do antivalor. Levante o meu pau, já que sou o animal agonizante. Mas a minha alma você não leva, já que ela é por excelência espiritualizante. E depois de todos os fatos vãos, vá embora por um prazer debilitante do mundanismo ocidental antiocidentalizante.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Notas do Gamesolo #2 - Continue a Zerar

 


Um dos fatos mais impressionantes sobre o Digimon Rumble Arena, é que ele é o único jogo de luta que de fato gosto. Não me lembro de ter zerado nenhum outro jogo de luta, apesar de ter jogado Super Smash Bros no N64 com uma certa constância, mas nunca com o mesmo gosto. Recentemente zerei a "campanha" da Renamon. Além de ter uma estética foda, a nossa querida digimon é apelona pra diabo.





Gosto dela pelo fato de que seu ataque e o território que ele abarca é grande, além do fato de serem uma espécie de vários espinhos que literalmente combam o adversário. O único problema é que ela enche a barra do adversário facilmente, possibilitando a digievolução.




Mas nem só de Renamon viverá o homem. Também fiz a "campanha" do Guilmon. E mais tarde farei a "campanha" do Terriermon - e, se você não jogou Digimon Rumble Arena no PS1, a razão dessa escolha talvez não lhe seja tão óbvia: ao zerar com Renamon, Guilmon e Terriermon liberamos Impmon. 



Eu já consegui desbloquear o BlackWarGreymon. Para desbloqueá-lo é simples: zere o jogo com qualquer Digimon sem morrer. Aliás, eu não queria estragar o saudosismo de vocês, só que alguém precisa colocar um pouco de senso na cabecinha: Digimon Tamers é o melhor Digimon. E encerro aqui meu comentário. 

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 12)

  Essa é a última parte de Emil Ludwig, indo da página 185 à 208. Aqui termina a triunfalmente rica e arguta análise de Ludwig. E talvez sej...