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segunda-feira, 25 de março de 2024

Acabo de ler "La resistencia" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 



Existe uma beleza indescritível na obra de Ernesto Sábato. E essa é a capacidade com que ele argumenta com erudição, mas suas formas conteudísticas não param exclusivamente na eruditividade, elas vão facilmente para uma grande poética que demonstra o gênio criativo dum grande autor. O uso do espanhol por Ernesto, sem se perder na contumaz objetividade acadêmica, demonstra que ele além de acadêmico é um artista das palavras.


Neste livro, vemos um Ernesto bastante pessimista para com o mundo em que vive. Se questionando sobre a megalomania estatizante, a massificação do homem, a ausência de sentido e, de igual modo, a capacidade do mundo sobreviver a exploração exaustiva de recursos naturais. O cenário, bastante catastrófico e desumanizador, apresenta um mundo corroído pela ausência de sentido existencial.


A linha de pensamento poderia ser facilmente conectada com a percepção de Viktor Frankl e, igualmente, de Ortega y Gasset. Sendo que Frankl diagnosticou melhor a ausência de sentido atual e Ortega y Gasset diagnosticou exemplarmente o fenômeno do homem massa. Todavia a chave da questão política - quadro ambiental e agigantamento do Estado - são bem observados por Ernesto.


Ora, é evidente que o trabalho de Ernesto teria uma conexão, também profunda, com George Orwell: este também era cético para com o socialismo estatista de seus dias. Todavia há um diálogo com a espiritualidade teológica da libertação dos dias de hoje, muito ligada à ecologia, como vemos em Leonardo Boff.


Existe uma possibilidade monstruosa de conexões na obra de Ernesto. Ela se revela bem ampla, bem complexa e, portanto, bastante rica em possibilidades dialógicas. Sua leitura também é bastante agradável. Como sempre, mais um excelente livro lido.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Acabo de ler "Hombres y Engrenajes" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)


 


"Pero así como la máquina empezó a liberarse del hombre y a enfrentarse a él, convirtiéndose en un monstruo anónimo y ajeno al alma humana, la ciencia se fue convirtiendo en un frígido y deshumanizado laberinto de símbolos. Ciencia y máquina fueron alejándose hacia un olimpo matemático, dejando solo y desamparado al hombre que les había dado vida"

(Ernesto Sábato)


Esse livro é, certamente, portador duma brilhante mensagem e, ao mesmo tempo, duma liricidade no uso da língua de Cervantes. O conteúdo ensaístico casa perfeitamente com a capacidade de gerar bons efeitos poéticos por meio da escrita. Além disso, a mensagem em si vem recheada duma erudição inabalável que só homens como Ernesto Sábato sabem ter. Certamente esse livro entra como uma das melhores leituras do ano.


Digo-vos que existe uma grande questão: falido o projeto socialista e tendo o mundo nas mãos do imperativo ideológico da forma econômica do capitalismo, que sobra de nós? As mensagens sociais que venho visto, longe de serem de apoio ao capitalismo e estrita observância a ele, são a negação cabal do domínio capitalista e a esperança de que, ao menos alguma hora, uma afronta surja e ataque os sonhos burgueses que atordoa vários de nós.


O homem está hoje, mais do que todos os tempos, dominado. Tornou-se apenas um escravo das estruturas que ajudou a construir. E agora se lida com um mundo vazio, sendo apenas um dado numérico diante dum grande oceano de nada. E ao se olhar como mera formação estatística se revolta e crê, crê firmemente numa aurora que deixará toda essa porcaria tecnocrática no chão e trará, reacionária e revolucionariamente, o retorno de seu Self.


Acreditamos, apesar de tudo, num devir dum mundo melhor. E nossas lágrimas preenchem o chão enquanto nos vemos sistematicamente explorados por um mundo corrupto, por um sistema doente e por uma horda de homens que na desumanidade de cada dia se desumanizam em coro harmônico com essa mesma desumanidade.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Acabo de ler "El Túnel" de Ernesto Sábato (lido em espanhol)

 



"había un solo túnel, oscuro y solitario: el mío, el túnel en que había transcurrido mi infancia, mi juventud, toda mi vida"


Juan Pablo é um homem que a tudo vê de forma obscurecida. Seus pensamentos, infinitos e variados, impedem-lhe de enxergar algo que vá além de sua subjetividade. É como se existisse, em sua percepção, uma espécie de sobrecarga mental que o próprio pensamento impedisse a percepção do mundo ao redor. Um pensamento atropela o outro, a sua ansiedade marca páginas e páginas do livro, projetando psicologicamente a angústia do personagem no cenário.


Imagine que um livro seja projetado psicologicamente: nada escapa à sobrecarga psíquica do protagonista. E o leitor, lendo o livro, se vê ficando sem ar. É tanta ansiedade, é tanto detalhamento neurótico, é tanto pensamento atrás de pensamento que nem o leitor e nem o personagem central conseguem ter sossego. A leitura do livro pode ser descrita numa única fala que traduz todo esse passeio mental: asfixiante.


Não posso negar que me sinto semelhante ao protagonista da obra: toda essa incompreensão, toda essa neurose, todo esse desprezo pela maioria, toda essa capacidade de sentir por não se integrar e, além disso, a própria noção de que há uma barreira mental, projetada pelo próprio protagonista, entre o ser e o mundo. Tudo isso não me é estranho, é até mesmo comum.


Essa leitura, a não ser em excepcional caso, adentrará como uma das melhores leituras do ano. Eu certamente me apaixonei pela forma que Ernesto Sábato escreve. Vejo aqui um homem brilhante que usa o espanhol com a grandeza dum mestre.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 10 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Chegamos ao décimo volume. O que significa que estamos mais próximos do fim do que do começo. E quando digo "nós" quero dizer "eu", embora eu prefira dar ao escasso leitor que me acompanha uma sensação de pertencimento, mesmo que falha ou pouca.


Konosuba preza pelo humor, pelas falhas de caráter, idiotice, comportamento duvidoso e dualidade moral de seus personagens. Este volume não falha nisso, porém ainda podemos ver o desenvolvimento dos seus personagens rolando.


Eu não gostei muito do baixo desenvolvimento de nosso protagonista, o Kazuma. Embora já podemos ver um Kazuma bem mais a vontade e proativo no mundo em que se encontra, o que é um excelente sinal.


Aqui vemos um desenvolvimento maior de Iris e mais dados em relação aos nobres. A preocupação que Iris demonstra pelo seu reino, pelo combate ao exército de Rei Demônio e sua tenacidade em seguir lutando é impressionante.


Como já poderíamos pressupor, um personagem já deixa vestígios de que o Rei Demônio não é um mau-caráter e que, provavelmente, revelar-se-á tendo mais caráter que os humanos e demais protagonistas da obra. O que já era esperado, visto que os vilões são melhores que os protagonistas no conjunto geral delineado pelo autor.


De qualquer modo, a pequena novela demonstra sinais de desgaste e já não apresenta a mágica que apresentava no começo. Espero que os próximos volumes melhorem.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Acabo de ler "Breve História de Francisco Franco" de José Luis Hernández Garvi (lido em espanhol)

 



Uma biografia não revela tão apenas o objeto subjetivo da pessoa que ela explana, ela igualmente revela ao leitor que a estuda mais sobre si mesmo e as suas aspirações na qualidade de "ser ontológico" e, por tal condição, ligado de maneira intrínseca as pautas transcendentais da busca de significação e felicidade.


Um jovem tímido, leitor assíduos de mágicas heróicas, na contínua ânsia de ser provado, pouco dotado socialmente e incapaz de sustentar boas conversações com o outro gênero. Este homem se conduz numa jornada existencial que o qualifica, pouco a pouco, numa complexa teia relacional que minuciosamente o desenvolve. Poderia ser o autor que vos escreve, mas é Franco.


Como tal figura, despida dos rigores da crueza da vida e infinitamente deslocada, tornou-se um portentoso ditador conhecido por sua mão férrea e impiedosa? Quiçá a diferença entre a humanidade e a desumanidade, nos corações dos próprios humanos, seja mais tênue que nosso otimismo e crenças éticas.


Pessoas muito semelhantes a nós se tornam indescritíveis por sua monstruosidade o tempo todo, qual seria a diferença que nos separa delas? Só teremos respostas vagas e eternas dúvidas quanto a natureza de nosso próprio coração.


Ler a biografia de Franco trouxe mais do que um conhecimento histórico e biográfico, trouxe também um espelho com uma imagem muito familiar que aponta para mim e questiona o estado de minha alma. São nas leituras que nos levam aos mais altos céus infernais da angústia e do desespero que podemos olhar as nossas falhas sem autopiedade e sem as rédeas morais do automarketing e autoenganação idólatra e narcísica.


Talvez tenha encontrado mais semelhanças do que gostaria. Desejando, a cada momento, que eu não me torne tal qual ele se tornou. Esperando alguma sorte, ou graça, que nos distancie e separe. Ou talvez o doce alívio da morte antes que se concretize em mim o que tornou Franco aquilo que ele foi.


Meus contemporâneos adoram adular-se e verem-se como bons, eu tenho permanente suspeita com o que olho quando olho meu próprio reflexo.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Acabo de ler "Historia Mínima de la Guerra Civil española" de Enrique Moradiellos (lido em espanhol)




Escrever sobre um conflito tão exaustivo e marcante nas poucas palavras que o Instagram permite é uma certa espécie de martírio. Porém não falho ao meu compromisso intelectual de estudar e analisar, mesmo que sem a minúcia necessária, o universo hispânico (seja este em sua origem ou em suas variações).


Quem estudar espanhol terá um mundo a se abrir diante de teus olhos. A história de inúmeros países e, igualmente, muitíssimos autores aparecer-lhe-ão em companhia para que amadureça em visão de mundo, relativizando a estreita visão de outrora e abarcando um novo grau de horizonte de consciência. A história marcar-lhe-á a alma a ferro e fogo, para que tu crenças na medida do mar imenso e profundo que desbrava.


A guerra civil espanhola teve uma configuração muito importante. A  Alemanha e a Itália estiveram ao lado de Franco, porém a União Soviética manifestou-se a favor do regime republicano. A participação de anarquistas, comunistas (marxistas) e socialistas também foi de suma importância. A neutralidade da Inglaterra e a permissividade da França foram pontos graves.


Tratava-se duma guerra entre um lado tradicionalista (católico e monárquico), de tendências fascistas e outro lado de tendências mais laicas, dominado por uma mentalidade mais própria da modernidade ou até mesmo do socialismo ou do anarquismo. Um lado vendo o outro como intolerável.


Todos já sabemos o fim que levou. A vitória de Franco não seria estrategicamente um grande auxílio ao Eixo (Itália, Japão e Alemanha), todavia afastaria a Espanha duma posição energicamente contrária aos seus interesses. Já a União Soviética, neste tempo ainda sem seu gigantesco arsenal militar, não seria suficientemente capaz de sustentar uma revolução socialista ali com sua baixa capacidade produtiva e produtos fora do padrão de excelência que um dia conquistaria. Mesmo que se possa dizer que outra república socialista ser-lhe-ia de grande ajuda.


Uma luta tão multifacetada, tão demonstrativa das contradições históricas não pode ser ignorada por qualquer um que goste e queira estudar seriamente o mundo.

terça-feira, 27 de junho de 2023

Acabo de ler "Breve Historia de Cuba" de Julio Le Riverend (lido em espanhol)

 



Cuba é um país espetacularmente curioso, desperta amor e ódio em diferentes públicos. Alguns saem numa apologética apaixonada, outros numa crítica brutal. Eu prefiro nem concordar e nem discordar sistematicamente de nada, visto que isto é uma postura dogmática. Só consigo pensar pontualmente, de forma lenta e menos apaixonada.


Com esse livro, o leitor entenderá um pouco do descomunal ódio que nutrem alguns cubanos pelos americanos. Parte dele é verdadeiramente justificável, visto que os Estados Unidos da América quiseram prezar muito mais pelos próprios interesses do que por uma relação fraterna de povos equivalentes em soberania. O que gerou uma histórica interferência radicalmente imperialista e metodologicamente colonialista, muitas vezes se pensando que Cuba seria um dia integrada aos Estados Unidos.


A história de Cuba é marcada por uma forte tensão: um povo que é sempre tido em menoridade, arrastado por potências e agentes que lhe são exteriores, dando-lhes uma sucursal sensação de impotência. Esta é ainda mais frequente nas figuras de Espanha e Estados Unidos, porém os EUA são mais opressores mais recentes.


A colonização espanhola, e a colonização semidireta dos EUA, sempre levou ao esmagamento das pautas orgânicas do país. Talvez a continuidade opressiva levou a um desgaste e a uma radicalidade que hoje se configura em forma de ditadura de extrema-esquerda, essa seria uma psicologia bastante conveniente - e explicativa de seus momentos históricos e estado atual - a um país historicamente marginalizado e oprimido.


De todas as formas, o final do livro assume tons de hagiografia e o autor parte para uma apologética triunfal do regime, como se este fosse incapaz de, em sua dimensionalidade profética e sacrossanta, cometer erros. Creio que a carga crítica some e dá os ares religiosos que, a meu ver cético, nenhum regime político deveria ter.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Acabo de ler "La Revolución Social y las Universidades" de Salvador Allende (lido em espanhol)

 



Neste livro, temos alguns esboços de quem era Salvador Allende e em que acreditava, sobretudo na questão política. Como o livro passado foi de sua filha, creio que a análise anterior pode ser completaria a essa e que a leitura dos dois livros possa, igualmente, ser complementar.


Notarão que há uma "evolução de pensamento" (embora eu prefira "complexificação") entre pai e filha, não deixando de ser um laço contínuo: a filha adiciona direitos sociais mais amplos, foco em grupos socialmente desfavorecidos e pautas ecológicas. O que dá um entendimento mais amplo das pautas da antiga esquerda e pautas da nova esquerda. Como são livros bem pequenos - embora ambos estejam em espanhol  -, talvez seja uma experiência interessante e esclarecedora.


Salvador Allende declara ser um aprendiz de marxista, porém mais próximo ao socialismo de forma mais ampla e não doutrinalmente marxista. Não poderia afirmar se essa colocação tem validade para toda sua vida. Vemos também que foi amigo de Fidel Castro e Che Guevara, mesmo que tenha usado meios diferentes e não fosse "marxista" em sentido estrito.


Allende declarar-se-á pró-nacionalização e acreditava que os países ricos, de índole imperialista, roubavam recursos e deixavam o país mais pobre. Não só o Chile: a noção de ser um país potencialmente rico, mas incapaz de enriquecer por causa da extração de recursos por mãos estrangeiras repetia-se em toda América Latina.


O livro, além dos argumentos já citados, é uma obra dedicada a utilidade social do estudante universitário e como estes devem se engajar no bem do país e do mundo. Além de um alerta ao egoísmo da busca da realização individual que desvia o coração da luta pelo mundo melhor.

domingo, 25 de junho de 2023

Acabo de ler "La Koinonia Eclesial" de Gustavo Gutiérrez (lido em espanhol)

 



Antes de começar a análise: não se assuste, a capa não está errada. Estava buscando alguma leitura mais diferenciada e resolvi buscar teólogos latino-americanos para ler, acabei por encontrar um importante teólogo da libertação.


A teologia de Gustavo é focada no sentido comunitário, isto é, numa forma de viver mais pautada pela sustentação recíproca. É nesta sustentação de reciprocidade e alteridade que se demonstra a teologia de Gustavo, e aí que está seu vigor.


A vivência do evangelho é a vivência da comunidade cristã. Uma comunidade que busca uma irmandade e a superação das desigualdades e injustiças que a dividem. Logo é cristão desejar a superação das problemáticas sociais e a comunidade cristão não poderia se furtar a este objetivo sem deixar de lado a sua natureza e missão evangélica.


Na sociedade latino americana, marcada pelas gritantes desigualdades que a atormentam, a missão cristã tem um caráter extremamente profético e denunciatório. Ela anuncia à mensagem evangélica, marcada pela comunhão, e denuncia vigorosamente as mazelas sociais.


Para quem quer começar a estudar a teologia da libertação, certamente é uma leitura bastante recomendável.

sábado, 24 de junho de 2023

Acabo de ler "Governabilidad y cohesión social: el caso de Chile" de Isabel Allende Bussi (lido em espanhol)

 



Sabendo previamente que o nome desta mulher causaria curiosidade, presto uma breve explicação: ela é filha de Salvador Allende, ex-presidente do Chile. Como é quase de conhecimento comum o que houve com seu pai, parto para a análise do livro em si e menos para detalhes biográficos.


O livro analisado é, mais uma vez, voltado a realidade política do Chile - tal qual o lido anteriormente. Porém este não se centra da partilha de poder na esfera subnacional. É mais sobre o levantamento de políticas para o melhoramento político do Chile de forma mais centrada em sua unidade política.


A autora, semelhante ao seu pai, é de visão política progressista. E defende uma série de visões que aumentariam o tamanho do Estado chileno com o fim de aumentar as estruturas da seguridade social, visando a igualdade.


A autora defende que uma maior regulamentação da economia e um investimento maior em certos setores dinamizariam a economia e trariam um desenvolvimento maior ao país. Também defende uma aplicação e reconhecimento mais tenaz de direitos.


Um livro interessante para quem quer se informar sobre o debate político chileno e as questões políticas concernentes a ele, mas igualmente - e por extensão - ao debate político latino americano.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Acabo de ler "Santiago não é Chile" de Egon Montecinos (lido em espanhol)

 



O livro se trata duma crítica ao modelo de Estado chileno. O nome é uma piada ao modelo centralizador que concentra o poder na capital (Santiago), reduzindo as outras regiões do país à menoridade política. 


O autor quer que as regiões subnacionais tenham maior poder político. A razão é que as pautas endógenas destas partes territoriais - daí o nome "subnacionais" - são mais bem compreendidas por elas mesmas e nada melhor do que elas próprias para gerirem seus rumos.


Há um conflito gestionário entre o modelo unitarista - que concentra o poder para si - e o modelo, por assim dizer, federalista - em que as partes subnacionais tem maior autonomia para decisão de seus destinos. O autor, aderindo a descentralização, advoga que grande parte da mazela da desigualdade territorial vem da centralização política.


Um livro que, poderíamos dizer, é bastante interessante para quem quer compreender o drama político chileno mais a fundo. Já que o Estado chileno passou por uma redução de tamanho intencionada por Pinochet, impossibilitando regiões de fornecerem serviços de seguridade social no âmbito educacional e de saúde.


É interessante que tal mudança só seria possível com uma mudança da constituição e isto é um problema enorme, sobretudo no Chile onde não há bastante consenso em torno desta questão.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Acabo de ler "El Sonido Primordial" de Luis Alberto Spinetta (lido em espanhol)

 



No pódio dos cantores de rock da Argentina, encontram-se três homens: Gustavo Cerati, Luis Alberto Spinetta e Charly Garcia. Homens dotados de capacidade ímpar e renomados por destreza e talento.


Ler um livro do Luis é, para mim, prazer e descoberta. Conhecer o outro lado de uma obra de um músico genial é sempre edificante, sobretudo quando se trata de um grande homem. E neste livro vemos a história da música comentada por um grande músico.


Com uma atenção especial voltada ao quebrador de normas chamado John Cage, nada escapa ao nosso arguto pensador. O começo da música, Gustav Mahler, Beethoven, Stravinsky, canto gregoriano. É um universo sintetizado em forma de livreto.


Qual a distância entre o som e o silêncio? O que veio antes? Qual a fluência do tempo na música? A precisa metragem assume papel especial aqui. Essas questões sondam o livro. Tudo é tratado de forma de ligeira, porém ainda assim encantadora.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Acabo de ler "La Raza Cósmica" de José Vasconcelos (lido em espanhol)

 



O filósofo, e também profeta, mexicano se destaca muito pelo seu livro "La Raza Cósmica". Em alguns casos, bem negativamente, como o foi na visão de Carlos Rangel. Em outros assume um ar de esperança, sobretudo pelo que promete para a tão desesperançada América Latina.


É preciso notar que existem pontuações que este homem, notável em conhecimentos, acertou inegavelmente:

1. A separação dos povos latino-americanos fragmenta-os geopoliticamente e torna a região mais acessível aos interesses imperiais;

2. A ausência dum nacionalismo civilizacional traz consigo sempre uma conduta fracassada, de ódios múltiplos e incapacidade de compreensão entre os membros desta mesma civilização (a latino-americana).


Estes pontos já haviam sido alertados por Simón Bolívar, porém as vaidades dos homens foram muito mais levadas em conta do que as grandes aspirações civilizacionais latino-americana - e, no fim, continuam sendo.


Outra asserção fundamental: é a síntese entre os diversos postos que gera um produto superior, visto que a síntese é superior as partes. Todavia isto já é muito posto pela filosofia, embora não saibamos concretamente como percorrer o caminho que seja de fato sintético. E é desta ideia que ele percebe na mistura tipicamente latino-americana a quinta raça (a cósmica) que transcende todas as outras. O brilhante futuro que ainda não chegou.


Existem pontos que, olhados hoje, soam-nos risíveis ou doentios. A ideia de que nada de grande surgiria dos asiáticos é uma profecia lamentável. Dará ao leitor graciosas risadas. A hipótese de que pessoas "muito feias" não podem reproduzir soa - e é - uma ofensa aos direitos mais fundamentais.


O livro é muito bom em vários sentidos. Por vezes soa utópico demais e por outras a história, seja para nossa alegria ou tristeza, o desmente. Deveríamos, entretanto, considerar seriamente algumas partes dele. Orgulharmo-nos e sentirmo-nos como pertencentes duma civilização, a latino-americana, é essencial.

Acabo de ler "Historia de la ufología en Chile" de Juan Guilhermo Prado e Luis Altamirano (lido em espanhol)

 



Sabe quando você está num site buscando livros por tags e acaba encontrando obras com títulos extremamente particulares que lhes despertam um bocado de curiosidade? Estava eu buscando apenas duas tags "historia" e "Chile" quando me deparei com essa preciosa joia do conhecimento humano. Então, como não sou nada bobo, resolvi adicioná-lo a minha coleção de livros em espanhol que tenho em meu celular.


O livro, com poucas páginas, conta a misteriosa história da ufologia no Chile. Um verdadeiro compilado de dois investigadores que, ao menos assim declaram, são sérios e não se deixarão iludir pelos seus colegas não tão sérios assim. Já que, para ambos, os outros não tem uma formação acadêmica tão formosa para se compararem a sapiência deles na investigação de seres extraterrestres em solo nacional (no Chile).


O livro, longe de ser uma mera leitura chata, é bastante interessante. Conta relatos que se vão delineando historicamente, para cada parte da história do Chile. A história vai desde relatos de padres até relatos de militares, passando também por civis. Séculos de informações de ufologia, nada melhor do que isso, não? 


Creio que não há muito o que dizer. Li o livro por achar o título engraçado e, como ele era pequeno, não creio que tenha perdido nada - e nem encontrado nada. Em certo sentido, o livro até diverte um pouco, embora eu não creia que os autores o tenham concebido pensando especialmente em serem engraçados. Às vezes a loucura é tanta que o humor sai às avessas.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Acabo de ler "El pensamiento político de la derecha latinoamericana" de José Luis Romero (lido em espanhol)

 



A tradição latino americana nos é tão comum, a nível de convivência, e tão estranha, a nível de compreensão, que facilmente nos perdemos neste universo tão próximo e tão distante.


As grandes potências, Portugal e Espanha, viveram o processo histórico que lhes cabia com estranheza e afastamento: o livre-exame, o livre-pensamento, a "mentalidade burguesa" e o desenvolvimento científico não lhes foram bem digeridos. Deste fato, surge posteriormente um ataque sistêmico ao regime, por assim dizer, liberal-capitalista em toda a América Latina. Os descendentes da hispanidade e o descendente da lusitanidade eram contrários a esse regime tão mutável e preferiam um regime mais estático - mais ao gosto do privilégio de suas elites.


A burguesia que nasceu nestes países, para adequar-se as estruturas de poder, aglutinou em si contradições que reduziram a dinamicidade do processo capitalista. Então o burguês era amigo próximo do "nobre", detentor das terras. Esta simbiose gerou uma mentalidade mais ligada aos tempos passados: mercantilista, patrimonialista, feudalizante, antidemocrática. Era preciso que os donos do poder permanecessem os mesmos, aceitando aqui e acolá algum novo membro.


Essa condição gerou uma política. que não poderia ser propícia a um desenvolvimento real, par a par com o mundo, na região. E é desta configuração que a direita latino-americana nasce. Ela é uma eterna camarada duma estrutura que nunca será capitalista de fato, ela é, em sua maioria, protocapitalizante. O sustentáculo central do avanço tardio.


É por isso que não adentramos nem aos "progressos burgueses" e nem aos "progressos nem tão burgueses assim". Estáticos num mundo que é tão tardio e tão latino-americano. Para que os donos do poder brinquem eternamente em seu parquinho.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Acabo de ler "Cerati La Biografia" de Juan Morris (lido em espanhol)

 



Gustavo Cerati foi o maior roqueiro de toda a América Latina. Não só isso, foi um dos maiores músicos de toda história latino americana, sempre trazendo inovações e compondo com uma diversidade rica e erudita. Um homem absolutamente experimental que navegou em vários mares, trazendo produções radicalmente geniais.


Sua carreira como integrante da banda Soda Stereo e sua carreira como solista são mutuamente geniais. Mostram a riqueza de um homem que sempre buscou ir além das condiconalidades que o circundava, superando o ambiente e, mais do que isso, trazendo o ambiente ao mundo que ele apresentava. Gustavo Cerati era o guia, a América Latina o seguia.


Este livro traz toda a sua vida de forma minuciosa, abordando também o período em que ele esteve em coma. A história é de tirar o fogo e nos sentimos envolvidos em cada acontecimento. Quando Gustavo Cerati esteve mal, sentimo-nos mal. Quando Gustavo Cerati esteve bem, sentimo-nos bem. É como se fôssemos tratados por um momentâneo papel de esponjas. Mesmo que não estivéssemos lá em cada momento, sentimos como se lá estivéssemos e como se o nosso mundo fosse o mundo de Cerati e nossa psiquê fosse a de Cerati. O leitor sentir-se-á em simbiose com a leitura desta obra biográfica.


Ler biografias é sempre enriquecedor. Podemos psiquicamente relativizar os nossos problemas ao entrarmos numa espécie de transe em que absorvermos a vida de outrem. E ler esse livro, cheio de altos e baixos dum gênio em ascensão e queda, é uma forma diferenciada de repensar a própria vida.


Livro recomendadíssimo para todos os roqueiro e aficionados por música. Ou simples e substancialmente para quem está buscando uma leitura biográfica para repensar a vida que leva. 

domingo, 21 de maio de 2023

Acabo de ler "Quién yo?" de Dalmiro Sáenz (lido em espanhol)

 



O livro começa com um cenário que é aparentemente banal: um homem sendo julgado por um crime irrelevante. Este fato pesa a favor do homem e querem libertá-lo o mais rápido possível. Porém essa estranha figura não é tão simples. A forma de se comunicar e interagir também não são usuais. 

Numa narrativa alucinante, vemos o desenrolar de uma história cômica e cheia de confusão. Cada parte da história se sucede como uma reminiscência projetada por uma mente bastante ofuscada. E em todas elas crimes se sucedem.

A grande questão é que a história de um criminoso não entraria normalmente numa estrutura hilariante. É a forma com que o autor encaixa cada parte e a direção que ele leva que dão o sabor da obra. E ele faz isso muito bem.

É uma ótima pedida para quem está buscando uma comédia para se divirta após um longo período de estresse.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 6 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Aqui adentramos naquilo que o anime ainda não adaptou. Logo tentarei ser bastante cauteloso com o que escrevo por aqui, visto que não quero dar spoilers para ninguém.


Neste volume, vemos Kazuma desenvolver-se ainda mais como personagem. A forma heterodoxa de como usa seus poderes é fantástica e demonstram toda grandiosidade eclética que o personagem possui. O final é especialmente brilhante, sobretudo pelas falhas recentes que fazem com que o personagem tente ardentemente demonstrar seu valor.


O personagem vem crescido de forma multilateral, já que as suas companheiras de equipe são unilaterais. E toda a potencialidade dele como um detentor de vários poderes é explorada neste capítulo. O que dá pistas da linha de desenvolvimento do personagem.


Neste capítulo também temos um contato maior com a Chris. Personagem que estava de escanteio e aparece agora com algo que certamente influenciará a trama daqui pra frente. Também temos a apresentação de novos personagens, entre elas a pequenina Iris. Iris é a apresentação da realeza dentro do universo de Konosuba, o que dá novos ganchos e enriquece o universo.


A única fraqueza desse volume talvez seja o ritmo mais lento da trama. O próximo capítulo se focará novamente na Darkness, ao menos essa é a impressão que o final do volume dá.

Acabo de ler "Autobiografía" de Jorge Luis Borges (lido em espanhol)

 



"Ya no considero inalcanzable la felicidad como me sucedía hace tiempo. Ahora sé que puede ocurrir en cualquier momento, pero nunca hay que buscarla"


Li esse livro pensando que, tendo-o como primeiro, seria capaz de aproximar-me mais do autor. O fato é que esse grande escritor tem uma história fantástica e é um dos maiores pensadores latino-americanos do século XX.


Jorge cresceu cercado de livros, com o contato com a língua inglesa e espanhola. Também desenvolveu contato com outras línguas através de seu percurso vivencial. Sendo um homem de altíssima erudição, tem uma obra riquíssima e que quebra todos os padrões anteriormente estabelecidos, tornou-se um autor paradigmático, visto que sua obra revolucionou a prática literária.


Um dos detalhes mais dolorosos foi o desenvolvimento gradual de sua cegueira. Essa cegueira é como um legado de sua família, afetando também seu pai, avô e bisavô. Ficou cego bem cedo, aos 55 anos de idade. Porém ele já sabia que um dia ficaria cego, o legado familiar não lhe deixava dúvida.


Este livro conta uma história de um homem fantástico. É um verdadeiro compilado de toda uma história de andanças, de amadurecimento, de intelectualidade, de múltiplas e inúmeras facetas e ângulos. O conteúdo é riquíssimo e ao mesmo tempo encantador.

domingo, 14 de maio de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 5 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Esse volume traz o conteúdo do que foi adaptado até agora em animação. Isto é, após esse volume tudo que virá é, de fato, desconhecido para quem acompanhou tão somente o anime e os filmes.


Este volume é centrado na Megumin e vemos o divertido povo Kouma. Conhecer finalmente esse estranho povo é uma das alegrias deste volume. Conhecemos também o pai e a mãe da Megumin, e a forma que eles tratam Kazuma é bastante cômica.


Um dos fatos mais encantadores é que quanto mais Kazuma tenta sair dos problemas, mais atrai-os como um maravilhoso para-raios. Talvez a sorte de Kazuma não seja para realizar os desejos egoístas e autoprotetivos dele, talvez seja para guiá-lo numa jornada evolucional tal como um autêntico herói. A forma com que esse processo é passado contra o desejo do personagem sempre é um bônus de humor.


A expansão do mundo demonstra uma capacidade de complexidade narrativa crescente e esta é sempre posta de forma bem encaixada. Mesmo o autor querendo trazer um texto cômico, ele não deixa de apresentar um universo rico de substância e divertido de se conhecer.


O final traz uma mensagem bem especial, demonstrando que Kazuma se torna cada vez mais conhecido por seus feitos. E é bem provável, conhecendo a forma que Konosuba se desenrola, que isso lhe traga mais problemas.