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quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #15 - Falando Obviedades (e Seriedades)

Publicado em  06/04/2019


Existem certas ideias que vêm me atormentando nos últimos tempos. Não dá para refletir a vida intelectual sem refletir a própria vida. Escrevo essa breve nota no sentido de produzir uma pequena reflexão em mim mesmo.


Piaget dizia que o meio fere o organismo, esse organismo adapta-se depois da lesão que é sofrida. Com isso ele queria dizer que o organismo (nós) adapta-se ao meio (sociedade) no sentido de ser-lhe útil. O que a sociedade quer influencia em nós um dado padrão de comportamento. Isso pode ser bom ou ruim. Se, em nosso meio social, exigem-nos o amadurecimento e o cultivo da cultura – no sentido pedagógico e intelectual de cultura –, damo-nos por florescer belamente. Agora, se é o oposto, se o nosso meio social conspira para que caiamos numa vida desregrada, numa vida sem metas e nem fins nobres, acabamos por ir decaindo junto ao nosso meio.


Essa constatação fez-me pensar nas considerações que meus pais me davam quando eu era menor, e eu sempre feria aquilo que meus pais recomendavam-me. Eles me diziam para que eu não me misturasse com determinado tipo de gente, para que não praticasse dadas ações e para que eu não vivesse de tal forma. O tempo foi passando e a má cultura brasileira foi me influenciando para um mau caminho. Cometi, então, inumeráveis erros que, hoje, na minha idade, arrependo-me severamente. Algo que, se um dia eu tiver um filho, tentaria evitar a qualquer custo.


Trata-se de tudo, rapazes. Os locais que ficamos na faculdade, os livros que lemos, os locais que frequentamos na internet. Tudo isso conspira para o mal ou para o bem. Sêneca dizia que a vida não era curta, mas que utilizamo-la mal. E por utilizarmos a vida mal, a vida passa sem que a gente perceba. O tempo está passando e estamos confinados em nossa própria ignorância, o tempo passa e estamos presos aos nossos vícios – ou pecados, se preferir.


Então aí vai um conselho de quem se tocou: tomem cuidado com o que leem, com as suas ideias, com as pessoas que acompanham, com tudo que lhes influencia. E, não tenham dúvida, a maior parte da cultura brasileira padrão conspira contra você.

Prelúdios do Cadáver #14 - Breves Reflexões sobre os Últimos Tempos

 Publicado em 22/10/2018


Olá, meus amigos. Hoje vim aqui agradecer especialmente ao Contra os Acadêmicos e ao Anarquismo Individualista por estarem me acompanhando em minha longa viagem. Graças a vocês, entrei em contato com pensamentos que antes me eram totalmente desconhecidos.


Não sou uma pessoa fácil de lidar. Sei disso. Fico fazendo piadas inoportunas e sou uma pessoa pouco séria. Particularmente, esse é um traço de minha personalidade que não consigo mudar. Às vezes parece que sou uma pessoa incontrolável. Cresce em mim uma profundidade que antes me era estranha. Parece que, mesmo tendo uma personalidade cínica e zombeteira, existem traços de seriedade que vão se conectando a mim.


Não sinto mais falta do tempo passado. Dalgum modo, confortei-me com o presente. Aceitei-o, para ser mais sincero. Eu não me via como uma pessoa forte, achava-me um fracassado. Dir-se-ia que era pessimista comigo mesmo, todavia hoje as pessoas reconhecem minha força. Sei que não estou no meu auge, ainda falta muito para eu alcançar a sabedoria, só que me sinto confortável agora.


Quarta-feira passada, eu cai e machuquei a cabeça. Fui para um hospital e fiquei bastante tempo lá. Tomei alguns pontos na cabeça. Foi em minha solidão que eu percebi o quanto eu tinha me tornado forte. Percebi o quanto eu tinha amadurecido e meus gostos tinham mudado. Pude olhar, mental e retrospectivamente, a minha jornada. Falar-se-ia que dei-me conta de mim mesmo. Cheguei num ponto de autoconsciência. Aquilo que me era impossível, agora me é possível. Parece que estou finalmente ficando mais maduro, mais adulto.


Antes, eu não conseguia acompanhar ninguém. Hoje, há quem diga que não consegue me acompanhar. Isso significa muito para mim. Quando eu estava na sexta e na sétima série, muitas pessoas zombavam de mim alegando a minha burrice. Hoje as pessoas ficam espantadas com a inteligência que fui desenvolvendo.


Hoje decidi que não quero mais continuar numa constante competição para mostrar o aumento de meu nível intelectual. Quero aumentar meu nível intelectual por amor ao saber. Não quero mais amadurecer para mostrar as pessoas o quanto sou sério, quero amadurecer por amor à sabedoria.


A quem me acompanha, muito obrigado. Obrigado também a quem leu. Vou continuar amadurecendo.


Prelúdios do Cadáver #6 - Olá, meus queridos companheiros

Texto publicado em 23/07/2018

Desculpem-me atordoá-los nesse dia inebrio, mas uma ideia nauseabunda floresce em meu peito amargurado.


Essa sensação começou aos quatorze anos e foi progredindo paulatinamente. Conforme eu adentrava no mundo literário, a minha relação para com a socialidade afogou no deslocamento. Contar-lhes-ei tudo ou quase isso.


Muitos dizem que a literatura é uma forma de fugir da realidade. E, para mim, ela é exatamente isso: uma forma de salvação redentora que tira o indivíduo da realidade na qual o mesmo está sujeito. Sempre achei a maioria das pessoas desinteressantes ou vulgarmente simples -- embora que, evidentemente, alguns afirmem que há uma complexidade inabalável em cada sujeito vivo ou morto.


Tornei-me um misantropo. Há uma progressividade misantrópica na qual eu me afundo mais e mais. Já me recomendaram sair de meu abstracionismo, mas toda vez que saio acabo por me decepcionar. Como odeio a realidade, acabo por me isolar em universos ficcionais de meu agrado. Parece que continuarei assim até eu findar minha existencialidade.


O mundo é fútil. As opiniões gerais me enojam. Os jornais são um câncer. A televisão é o inferno sendo transmitido ao vivo e a cores. Meus conterrâneos são entediantes. A sociedade despreza-me e eu a desprezo igualmente. Eles, as pessoas que constituem o corpo social, odeiam meu modo de ser e eu odeio o modo de ser deles.


Ainda mantenho certas coisas que me permitem uma certa normalidade e contato com o mundo ao redor. Tenho um perfil no cancrolivro, mas enojo-o devido a sua capacidade de inserir todo tipo de porcaria. Sei sobre o que se passa em meu país, porém muito parcamente, desinteressadamente e como um objeto que me é de estranheza -- tal como se eu não fizesse parte do mesmo.


Quanto mais leio, mais me afasto. Quanto mais adentro na profundidade, mais estou longe da superfície. Atualmente tenho vinte e um anos. Minhas leituras tornaram-se mais densas e meus gostos mais dotados de especificidades.


Quanto mais vejo meu futuro profissional, mais me vejo um solitário. Mesmo trabalhando, frequentando faculdade e tendo que me relacionar obrigatoriamente com outras pessoas: mais me vejo só. Não me sinto infeliz com isso, muito pelo contrário: fico felicíssimo.


Pois bem, meus senhores, essa é a minha história. Gostaria de saber se essa pequena história também faz parte da vida dos senhores e, se possível, adquirir relatos semelhantes.

 

Desculpem-me atordoá-los nesse dia inebrio, mas uma ideia nauseabunda floresce em meu peito amargurado.

Prelúdio do Cadáver #2 - Cultura e Antipolítica

Publicado em 20/04/2018

Os senhores já perceberem que ao consumir muita cultura o interesse por política arrefece? Mário Ferreira dos Santos dizia que toda grande época cultural era período de decadência política.

Atualmente venho percebido que o meu desinteresse em política aumenta proporcionalmente a cultura que consumo.

Lembro-me que, em carga comparativa, consumia assiduamente muito conteúdo político há dois ou três anos atrás. Atualmente tenho lido GK Chesterton, Dostoiévski, (Coletânea de Poesia Grega e Romana que não lembro o nome), Paulo Leminski (li Castro Alves, Machado de Assis, Cruz e Sousa, Vinicius de Morais e Olavo Bilac) e leio dois mangás (um pelo celular e o outro em mídia física).

Há, ao todo, um movimento em busca de boa cultura e um desinteresse proporcional em política. E a cada dia mais eu me desinteresso em utilizar meu vigor intelectual em jornais ou artigos. Não leio quase nenhuma novidade e sofro duma alienação terrível (mas consentida) em relação a contemporaneidade e os chamados assuntos obrigatórios. Não sofro, todavia, com falta de assunto no quesito social e garanto-lhes que consigo até falar mais e melhor.

Tenho também o novo hábito de fazer atividades físicas e de escrever contos de forma gradual. Tudo isso se reflete numa construção duma vida particular e inacessível a maioria das pessoas. Se os meus conterrâneos vão em direções de assuntos comuns e conhecimentos comuns, eu vou em direção a particularidade e acabo numa forma de isolação.

Quanto mais me interesso por cultura mais percebo que a política é, no geral, desinteressante e que os produtores da chamada "cultura política" são rasos e sem densidade vivencial. E quanto mais vou em direção a cultura: mais a minha subjetividade (vida interior) aumenta enquanto a subjetividade de outrem se coletiviza.