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quarta-feira, 27 de março de 2024

Acabo de ler "Uno y el Universo" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 



A leitura de Ernesto Sabato vem sido duma grande preciosidade em minha vida. Ernesto, junto a Ortega, apresentou-me a língua hispânica na potencialidade de sua beleza imortal. Os dois, Ortega e Ernesto, apresentam um espanhol estilisticamente rico e bastante poetizado. Engana-se quem crê que suas colocações intelectuais não sejam equivalentes: os livros deles são belos e conceitualmente ricos.


Ernesto trabalha numa via bastante difícil: precisa passar toda uma densidade conceitual, algo intelectualmente difícil, ao mesmo tempo que precisa desenvolver a beleza artística de quem usa a língua em si mesma como arte, algo artisticamente difícil. Sua obra, ao mesclar as duas, traduz-se num equilíbrio formidável que poucos intelectuais poderiam levar cabo.


Essa é uma obra bastante diversa. Sua abordagem traz uma série de assuntos que são tratados em textos que variam de tamanho e não há uma unidade estrutural plena e sistematizada. Ainda assim, a leitura e a compreensão não são minimamente prejudicadas pela natureza conjuntiva da obra. O que demonstra, mais uma vez, a grandeza desse gigante argentino.


A obra mesclará diversos assuntos: epistemologia, filosofia, história, surrealismo, política, teologia, poesia, crítica literária, etc. E o formato, absolutamente variável, traz um quê de humor refinado, de apologética, de polemismo, de prosa. Uma variação densa que dificilmente passaria despercebida.


Mesmo que exista, nessa versão, uma nota introdutória do autor dizendo que ele mudou de crença, não se pode negar que esse pequeno livro é bastante bem escrito e bem pensado. Revela já o estilo de um autor que se revelou a cada dia mais fantástico e de estatura universal.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Acabo de ler "La Cultura Occidental" de José Luis Romero (lido em espanhol)

 



José Luis Romero foi um dos mais grandiosos historiadores argentinos da história. Quanto mais o tempo passa, mais me interesso pela sua obra. Obra essa marcada pela qualidade e rigor ímpar. E, por essa razão, é o terceiro livro que leio dele. Pretendo analisar outros livros dele posteriormente.


Nesse livro, José Luis Romero, trata da questão da cultura ocidental. Sobretudo a questão da "decadência cultural" do Ocidente. Essa questão, para nós, ainda é mais acentuada graças a decadência dos EUA (nação ocidental) frente ao crescimento meteórico chinês (nação oriental). É uma pena que nosso grande historiador argentino não ter vivido o suficiente para analisar essa questão com sua aguda consciência, ainda mais com o acúmulo de dados que temos presentemente.


O Ocidente tem uma origem cultural bastante diversa e sincrética. Uma mistura da cultura germânica, (greco-)romana e hebraica-cristã em sua origem. O que já denota aí um aspecto híbrido, livre de um condicionamento puramente homogêneo. José Luis Romero considera o período da Idade Média o primeiro período da cultura ocidental por excelência. Já que a Idade Média (também chamada de Primeira Idade [Ocidental]) é a primeira configuração cultural ocidental e criação de sua própria singularidade.


Conforme o estrato social ia sendo alterado, a própria configuração cultural ocidental ia se modificando. Com a ascensão da burguesia e o domínio mais efetivo da natureza, as crenças metafísicas são trocadas pela mentalidade naturalista, os velhos gozos beatíficos são trocados pelo hedonismo. A própria percepção do que seria a mentalidade ocidental foi se desvinculado de sua formulação inicial.


A principal questão da cultura ocidental, e o motivo de tanta reflexão, é a sua atuação cada vez menos hegemônica. Não estamos muito satisfeitos com o nosso protagonismo global, e por isso nos perguntamos quem somos e o que está acontecendo com o nosso papel no mundo. Existem aqueles que apontam para uma separação ainda mais radical de nosso estado originário e aqueles que defendem um retornos às origens. Apontamentos que surgem em meio a tensão da crise.