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sábado, 30 de agosto de 2025

Acabo de ler "Filosofia do Direito" de Miguel Reale (parte 2)

 



Nessa parte do livro, Miguel Reale analisa a filosofia durante o período do positivismo e traça paralelos com a Idade Média.

Augusto Comte (1793-1857), um pensador do século XIX, é o pai do positivismo e tem uma lei de três tempos históricos como uma espécie de pedra angular do seu pensamento:

1. Teológico;
2. Metafísico;
3. Positivo.

Essa teoria influenciou drasticamente a história cultural e política do Brasil.

Augusto Comte tinha formação matemática e seu objetivo era o de dar à filosofia um grau de certeza semelhante aos das ciências físico-matemáticas. Em outras palavras, à luz dos fatos ou das suas relações. Ele tinha uma aversão à metafísica e ao conhecimento a priori.

Herbert Spencer, em seu First Principies (1862), apresentou uma teoria evolucionista derivada do positivismo. Ele chegou a crer que o que separava a filosofia da ciência era uma questão de grau. Enquanto a ciência era particularmente unificada, a filosofia era totalmente unificada. Ou seja, a diferença estava no grau de generalidade. Visto que a filosofia deveria ser uma enciclopédia das ciências ou uma sistematização das concepções Científicas. Assim podemos estabelecer que:

1. Cientista: trabalha em seu setor;
2. Filósofo: dá uma unidade provisória, revendo de tempos em tempos o progresso científico para dar uma nova unidade com base na composição unitária das pesquisas.


Essa forma de organizar o pensamento apresentava dois pontos de vista, um era o estático e o outro era o dinâmico.

— Ponto de Vista Estático:
- Hierarquia das Ciências;
- Unidade do Método;
- Homogeneidade do saber.

— Ponto de Vista Dinâmico:
- Convergência progressiva de todas as ciências no sentido da sociologia, ciência final e universal.

A filosofia, como resultante das ciências na unidade do saber positivo, oferece diretrizes seguras para a reforma e o governo da sociedade.

— Positivismo X Medievalismo:

No período medieval, a filosofia também apresenta um caráter instrumental. Ela é serva da teologia (ancilla Theologiae). Isso se deve a visão teocêntrica da vida e a compreensão do homem segundo verdades reveladas (Bíblia). Nesse sentido, a filosofia não pode contrariar a visão teológica e encontrava na teologia um limite negativo último. 

Enquanto na Idade Média a filosofia era subordinada à teologia. Na visão positivista, a filosofia deveria ser subordinada à ciência, visto que deveria unificar e completar os resultados da ciência e sempre partir de suas conclusões.

Temos aí uma filosofia que é a própria ciência em sua explicação unitária, o filósofo como um especialista em generalidades e a filosofia como expressão da própria ciência, confundindo-se essencialmente com ela.


sábado, 16 de agosto de 2025

Acabo de ler "Teoria Geral do Estado e Ciência Política" de Cláudio e Alvaro (Parte 24)

 


Nome:

Teoria Geral do Estado e Ciência Política


Autores:

Cláudio de Cicco

Alvaro de Azevedo Gonzaga


— Santo Tomás de Aquino:

- Monarquia Limitada pelo poder da Igreja, pelas cortes dos nobres, das universidades e das corporações das artes e dos ofícios (Monarquia Temperada);

- Direito a revolução dos súditos contra monarcas de tendências absolutistas anticatólicas;

- Limite ao poder legislativo do Estado: lex aeterna (Lei Eterna), lex naturalis (lei natural), lei universal, lei permanente e lei positiva (Direito Positivo).


— Dante Alighieri:

- Dois Sóis: o sol que ilumina a alma (Igreja), o sol que ilumina o corpo (Estado);

- Três ordens: filosófica, política e religiosa;

- Ordem Religiosa: revelação divina (Bíblia);

- Ordem Política: governabilidade e legitimidade de modo puramente humano;

- Ordem Filosófica: razão natural.


— Marsílio de Pádua:

- Restauração do absolutismo dos Césares;

- Defensor Pacis: José Pedro Galvão de Souza considerou a origem da ideia do Estado totalitário no fim da Idade Média;

- Opção pelo monismo: não reconhece outro ordenamento jurídico além do estatal (precursor do positivismo jurídico);

- Isso leva um ataque ao: direito canônico, privilégios universitários e corporativos, direitos costumeiros e todos os outros mecanismos de corpos intermediários;

- Beneficia o centralismo estatal.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Acabo de ler "La Cultura Occidental" de José Luis Romero (lido em espanhol)

 



José Luis Romero foi um dos mais grandiosos historiadores argentinos da história. Quanto mais o tempo passa, mais me interesso pela sua obra. Obra essa marcada pela qualidade e rigor ímpar. E, por essa razão, é o terceiro livro que leio dele. Pretendo analisar outros livros dele posteriormente.


Nesse livro, José Luis Romero, trata da questão da cultura ocidental. Sobretudo a questão da "decadência cultural" do Ocidente. Essa questão, para nós, ainda é mais acentuada graças a decadência dos EUA (nação ocidental) frente ao crescimento meteórico chinês (nação oriental). É uma pena que nosso grande historiador argentino não ter vivido o suficiente para analisar essa questão com sua aguda consciência, ainda mais com o acúmulo de dados que temos presentemente.


O Ocidente tem uma origem cultural bastante diversa e sincrética. Uma mistura da cultura germânica, (greco-)romana e hebraica-cristã em sua origem. O que já denota aí um aspecto híbrido, livre de um condicionamento puramente homogêneo. José Luis Romero considera o período da Idade Média o primeiro período da cultura ocidental por excelência. Já que a Idade Média (também chamada de Primeira Idade [Ocidental]) é a primeira configuração cultural ocidental e criação de sua própria singularidade.


Conforme o estrato social ia sendo alterado, a própria configuração cultural ocidental ia se modificando. Com a ascensão da burguesia e o domínio mais efetivo da natureza, as crenças metafísicas são trocadas pela mentalidade naturalista, os velhos gozos beatíficos são trocados pelo hedonismo. A própria percepção do que seria a mentalidade ocidental foi se desvinculado de sua formulação inicial.


A principal questão da cultura ocidental, e o motivo de tanta reflexão, é a sua atuação cada vez menos hegemônica. Não estamos muito satisfeitos com o nosso protagonismo global, e por isso nos perguntamos quem somos e o que está acontecendo com o nosso papel no mundo. Existem aqueles que apontam para uma separação ainda mais radical de nosso estado originário e aqueles que defendem um retornos às origens. Apontamentos que surgem em meio a tensão da crise.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "La Edad Media" de Jose Luis Romero (lido em espanhol)

 



Escrever sobre a Idade Média, sobretudo num país tão atrasado em conhecimentos históricos medievalistas como o Brasil, é uma tarefa um tanto quanto ingrata e que possibilita toda uma série de margem para más interpretações e birras geradas após anos de distorções ou má interpretações históricas.


Deve-se pontuar que:

1. Grande parte da interpretação histórica medievalista surge dum período que sucedeu logo após ela e, muitas vezes, com caráter notoriamente negativista sobre todos os seus mais diversos aspectos;

2. Uma nova interpretação acerca da Idade Média vem surgido com uma revisão bibliográfica e dos mais diversos  documentos, todavia é recente e não foi acoplado ao conhecimento acadêmico comum;

3. Parte da história da Idade Média se perde pois o foco eurocêntrico impede uma olhar mais sistemático;

4. Grande parte do mito de "Idade das Trevas" impede um olhar mais atento a esse período que, diga-se de passagem, foram três e não um.


O livro traz uma análise sobre os três períodos medievais. Tratando da dissolução do Império Romano, a forma com que o cristianismo impactou as mudanças do mundo e como o papado tentou recorrentemente reestabelecer um Império - a qual poderíamos chamar de Cristandade. As lutas recorrentes também buscavam cristianizar a cultura e manter o legado civilizacional romano.


Fora isso, vemos o desenvolvimento conflituoso entre muçulmanos e cristãos - e como Mohammed unificou seu povo e, consequentemente, possibilitou seu desenvolvimento. O desenvolvimento da burguesia enquanto classe e como a fragmentariedade territorial causada pela nobreza levou monarcas a fortalecerem a classe burguesa também é tratado aqui.


Esse livro é, mesmo que curto, bastante abarcante das problematicidades que apareciam na época e tenta, em seu curto espaço, apresentar uma exposição metódica da situação. Vale a pena ler.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Acabo de ler "O Outono da Idade Média (capítulo 1)" de Johan Huizinga

 



A Idade Média é, dentro os assuntos do debate nacional, um tema extremamente delicado. A razão principal dessa delicadeza se dá pelo fato da esquerda tem um estudo precário acerca do assunto. Usualmente essa mesma crê em mitos e factóides gerados não por estudiosos medievalistas sérios. Se o problema do debate do islamismo se dá pela ausência de uma revisão bibliográfica na direita, o contrário é verdadeiro no estudo medieval.

Esse é um livro carrega uma tradução mais precisa da decadência ou declínio do período medieval. Em vez de procurar o movimento que lhe sucederia, busca explicitar as razões que levaram ao falecimento do medievo. É interessante que, já na introdução, somos chamados a observar que o estudo da história não deveria ter um caráter voltado apenas aos movimentos nascentes. Os períodos de decadência e morte, bem compreendidos, são também úteis ao conhecimento e apreciáveis a existência.

Quando falamos de Idade Média, falamos dum contexto espaço-temporal em que tudo era preenchido por um simbolismo extenuante. Cada ato da vida, em si mesmo, não poderia deixar de ser colocado numa simbólica omniabrangente. Graças a tal modus pensadi, a própria forma de enxergar a vida adquiria um grau de excitação elevado - embora que, muitas vezes, para o prejuízo da razão. Os medievais buscavam simbolicamente a tudo distinguir, marcando até uma forma de "maniqueísmo inconsciente" que dava furor radical entre as diferenças da vida.

O leitor encantar-se-á, é claro, pela forma apaixonado, romântica e heróica que os medievais faziam qualquer ato da vida num salto simbólico e existencial. Mesmo que não se sinta muito disposto a ver excitações sentimentais como uma boa psicologia civilizacional. A nós, falta-nos encantamento. A eles, faltava-se uma certa frieza na análise de algumas partes da vida.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

TRANSFORMEI "O LIVRO DA INTENÇÃO" DE RAIMUNDO LULIO EM AUDIOLIVRO!

 



É com prazer que anúncio que acabo de transformar mais um livro em audiolivro. Sinta-se convidado(a) para ouvi-lo no Spotify ou no YouTube pelo canal "Latir contra os Grandes"!

Nesse livro, Raimundo Lulio trabalha sobre o ordenamento da vida em si e como mortificar os maus gostos e ascender na aspiração das coisas celestes. Um livro excelente a quem busca um maior relacionamento com o divino. Um grande clássico teológico da Idade Média. O livro poderá ser ouvido em estado completo no Spotify e em fragmentos no YouTube.

Spotify:

YouTube:

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Cadáver Minimal no Metaverso da Música


Demorei um tantinho pra chegar, mesmo assim cheguei bem mais cedo do que deveria. Tive que andar pelo local e pude avaliá-lo. Acabei gostando do ambiente logo de cara, ele é bonito por dentro e por fora. Creio que o local não agradaria um tradicionalista ferrenho preso no vigor das catedrais da Idade Média. Sorte minha, não sou tradicionalista. O local tem várias referências a esquerda e a direita. Um direitista ficaria irritado com a imagem de Simon Bolivar e verei nisso uma tentativa duma "pátria grande" ou interpretaria tudo como um sonho de um eterno terceiro-mundista.







Fiquei aguardando duas horas para que o auditório se abrisse. Entrando lá, comecei a reparar na indumentária do povo que ali se reunia. Percebi que as pessoas se portam de forma elegante, parecem todas terem formação acadêmica e/ou vieram de classes sociais médias e altas. Não que isso possa ser uma ilusão gerada pela necessidade de beleza dentro do evento. Quanto a união entre as vestimentas e a estética geral, o senso de estilo preenche todo o local, e agora me dou conta de que eu aparento ser o único que veio sozinho. Posso apreciar a beleza arquitetônica ao mesmo tempo que me dou conta de que estou inteiramente só.



As luzes vermelhas e brancas se encaixam. Todos aparentam ter mais de vinte e sete anos, embora tenham alguns que fogem da regra - alguns aparentam ser menores de dezoito e outros são evidentemente crianças acompanhadas pelos pais ou parentes. Posso testemunhar muitos casais, o que aumenta a certeza psicológica de que estou só. Junto o peso de estar só com o medo de não aparentar elegância ou sofisticação de caráter suficiente. Queria ter um livro para me omitir através dele, o ambiente aparenta ser tão acima de mim que me encurrala e me fere. Ler um livro traria a sensação de que há uma bolha restritiva ao meu redor. Estar escrevendo isso num caderno só me aumenta a distinção destoante e me focaliza, deixando-me para ser analisado por todas essas diferentes e estranhas pessoas que me circundam. Isso só traz um sentimento: de que o show comece logo e me tire da tortura do olhar alheio.


Com o acumular de tempo, vejo grandes grupos de pessoas se reunindo, solitários como eu talvez transmitam a ideia de impotência. Deveria ter utilizado uma roupagem social mais chique para me omitir na ambientalidade do recinto, teria feito isso se fosse possível: duvido que eu tivesse roupas boas para esse local, e agora começo a pensar no conselho de minha mãe de não ficar gastando todo meu dinheiro em livros e comprar mais roupas. Começo a nutrir uma dualidade: a primeira é que não me notem, a segunda é que alguém me note e se compadeça de minha solidão. Mesurando psiquicamente bem, o frio de lá fora era um pouco menos angustiante do que a sensação de "pressão social" que me aperta. Observando melhor: a maioria das pessoas têm uma coloração de pele bem mais clara que a minha. Pode-se notar que casais andam para lá e para cá, menos os grupos que ficam imobilizados em sua constante confabulação.



Observando agora os costumes de gênero: as mulheres aparentam usar majoritariamente saias, outras tendem a calças sociais. Os homens já são divididos entre os que usam calça jeans e os que usam calça social, alguns usam camisa polo e outros usam camisa social. Observei o vestuário até que a hora do evento se desse, quando finalmente pude subir, tirei foto de um pássaro gigante - duma longínqua ideia de liberdade - e perguntei-me se as cadeiras eram marcadas (queira Deus que não) quando cheguei ao local de apresentação.



Sentei-me num local determinado pelo nível de isolamento junto a capacidade ver melhor o palco. Espero que ninguém estranhe meu hábito de escrever ao mesmo tempo que ninguém mais escreve. Meu senso de anomalia se expande, só que a música me acalma. Em minha frente, a bandeira do Estado de São Paulo, a bandeira do Brasil e a bandeira da cidade de São Paulo permanecem imóveis, é atípico não ver elas tremulando pelo vento, embora seja mais atípico pensar que elas tremulariam num ambiente fechado - o nacionalismo faz a gente ter uma mística que pode ser meio burra. Minha localização? Estou bem mais à direita do palco do que o restante da plateia, sou uma espécie de lobo solitário nadando contra a maré. O que possivelmente é um ato de violência simbólica ou de deslocamento social, quem sabe os dois. Agora sinto algo diferente, sinto que deveria ter comido algo antes de entrar.


Grandes agrupamentos sociais se congratulam ao mesmo tempo em que me disfarço olhando para a arquitetura do local, não quero que percebam o grau de minha solidão. A música melosa não me ajuda, sinto-me mais só e mais apaixonado. Torno-me meio que tão meloso quanto a música do local é melosa. É mais sentimental significativo estar só do que ter companhia? Se a vida é uma condição em que se deve viver uma série de momentos, nem todos "acompanhadamente felizes", creio que tudo isso que sinto agora é um processo de vivência singular. Congratulo-me com a possibilidade de que devo viver esse momento porquê ele escapa daquilo que tenho controle ou de que vivi até agora. Não tenho que controlar e saber de tudo antecipadamente, isso me conforta tanto quanto a ansiedade que esse local me gera.


As músicas que só falam de amor, as pessoas que se encontram em festividade, um local que lembra um cinema com penumbra, a saudade de ter alguém - quem quer que seja - do meu lado. E, é claro, um tanto de fome. O tom melado da música me faz questionar o quanto eu gostaria de ser amado e preenchido por um afeto aconchegante. Deixa-me infeliz o afeto alheio, foda-se: estou aqui a trabalho e não para ser amado. Vem-me a frase: "esse ambiente é tão burguês quanto a burguesia pode ser, como pode me passar pela cabeça que eu consegui estar aqui de graça?". É de graça, só não é gratificante a sensação de isolamento que pulsa dentro de mim. Creio que o investimento financeiro possa ser burlado, só que há outras esferas que não podem ser burladas junto a eles. Estamos todos em igualdade de dinheiro na questão de entrar aqui, só que não estamos todos em igualdade de afeto. 


Enquanto pensava em minha gritante solidão, começo a ouvir uma música que conheço há tempos, mesmo que não tenha ouvido ela por desejo próprio. O que ouço? Ouço a música: "a alegria do pecado às vezes toma conta de mim". Aí vem uma questão de natureza teológica. Se teologicamente o pecado é a parcialização - redução - do ser, vem-me a pergunta: "por que tanto reclamo em vez de apenas me sentir feliz?". Sim, basta-me relaxar. Basta-me abrir-me a experiência, esquecer um pouco dos padrões que previamente espero. Com isso, meu corpo se sente cada vez mais leve e passo a sentir um tanto de acomodação. Do nado, percebo que meus olhos foram afetados por um movimento de intensidade. As luzes tornaram-se um pouco mais intensas e o local ligeiramente mais cheio. Creio que o show começará logo, vejo um acúmulo maior de pessoas que acenam freneticamente umas as outras. Se eu fosse conhecido por alguém, os meus escritos fanáticos seriam atrapalhados, vejo que valeu a pena estar só e não estar bêbado - não bebi nada, mesmo que tivesse gostado de ter bebido só para relaxar mais um pouco.


Penso agora numa reflexão sobre a natureza das músicas. Acredito que as músicas por vezes trazem a necessidade de beber. Nesse momento, não posso beber e tampouco acho que eu deveria relacionar música com bebida. Parece um imperativo dionisíaco correlacionar bebida com música e ambiente artístico com afeto. É um mal hábito, quiçá gerado pelo processo de endoculturação ou simplesmente pela boemia a qual me acostumei desde os dezesseis anos de idade. Poderia pensar mais sobre isso, só que agora o show começa estragando minha reflexão meditabunda. Descubro pelo apresentador que é a terceira noite do evento, uma pena: não fui em nenhuma outra. É a semifinal, meus caros, tão disputada quanto futebol. Um grande carnaval burguês no qual eu, lumpemproletariado, fui colocado para analisar em toda minha pequenez socioeconômica.


O apresentador cita várias pessoas de grandes feitos. Uma série de pessoas com as possíveis duas seguintes características: ricas e bem-sucedidas. Elas estão sendo analisadas por mim e minha impetuosa caneta. Isso é uma estranha forma de inversão de papéis, já que não sou rico e nem bem-sucedido, acho que a vida tem estranhos momentos de alteridade como esses. Quem são os citados? São juízes e bem-pensantes, integrados as maiores figuras das classes artísticas do país. Todos da platéia batem palmas pelos grandes nomes citados, só que vejo que minha consciência musical se perde em figuras centrais. Finalmente os músicos começarão a tocar, o que é uma coisa boa já haverá uma série de bandas. A primeira música é: "tem frevo".


Tem Frevo


A música é bem animada. Só que é muitas vezes cantada num tom muito rápido e a voz da cantora se perdia em alguns momentos. A música fala de um sucedâneo de sentimentos que se explodem, junto com o próprio batucar da música e a sua celeridade. O sentimento passado por ela se confundia com perfeição com o que o instrumental proporcionava. Mesmo com tudo isso, não achei "tão impactante", ao menos não criei uma relação de "intimidade" para com essa música. A próxima música é "tempo bom". Sinto que quero algo mais depressivo, só que aqui o que mais importa é a "felicidade" - ao menos é o que acho que virá, esse evento reúne várias escolas musicais e todas elas parecem mais ligadas ao rito carnavalesco. Preciso me divorciar de minha depressão e meu gosto por ela. 


Tempo Bom


Essa música já me invade pelo seu aspecto marcadamente introspectivo que é sucedido com uma indizível alegria. "Tá virando, já virou, tempo bom tá  pra chegar". A própria música parece ser composta como se "virasse". Ela parece meio que denominada por uma sensação fechada, contida e "lenta" que repentinamente transborda para algo mais explosivo. Eles souberam fazer com que o "tempo sentimental" fosse percebido com a música. Acabei gostando da técnica envolvida nela. 


Indas e Vindas


Já a música "Indas e Vindas" vem vestida com o grau de melancolia que eu quero, ela toca em conjunto ao ritmo de meu coração. "O que canta o amor, não é o canta a paixão, o que encanta o doce do seu coração?". "Não toque aqui, eu não sou de você, nem você é de mim". As minhas relações sintetizadas em um alguns versos: as inseguranças do afeto e a tentativa de exercer controle por um desejo que, no fundo, nem escolhemos ter só que temos que nos lidar. "Partiu um coração". Ah, como eu amo a dor. "Eu não vou lhe dizer, eu não posso explicar pra você". As coisas são complexas demais para serem explicadas, já que envolvem uma série de intercursos subjetivos que muitas vezes feririam a intimidade nossa com nós mesmos se contados.  "Vidas pra quê? Vidas por quê". Sim, fui tocado fundamentalmente em minha alma.


Ilogicamente


"As previsões não batem, as marés são outras". A música trabalha com a inversão da ordem, uma espécie de poesia que trabalha com a loucura do contraste. "Gênios emburrecidos, tolos geniais". "As noites tão quentes", "desertos nascentes", "anjos distraídos, veganos canibais", "ateus religiosos". Poder-se-ia dizer-se que ela fala de um mundo muito louco. O cantor de iniciar a música diz que ficou bastante tempo confinado por causa da pandemia, talvez a canção trate do rigor do confinamento e o efeito psicológico que ele teve nele e nas pessoas. Não sei, isso é uma tese minha, não posso afirmar. Porém o fato do músico tocar o instrumental sozinho tira seu "impacto", seria melhor se houvesse uma banda. A próxima música será: "sagrado serrado". Dessa vez, é de fato uma banda. Tomara que ela supere seus competidores.


Sagrado Serrado


Essa música é uma das mais líricas do evento. Ela traz uma melancolia reflexiva, bem meditabunda. Só que esse "pessimismo" não é ruim, é um pessimismo que encanta. Seria possível dizer que uma poesia bem cantada não é soa como um lacônico lamurio se muito bem escrita, aqui temos a síntese entre a perfeita beleza e a narrativa de uma consciência presa na incerteza. Com essa música, pude vislumbrar mais do grau de maestria no evento  e vi que ele é absurdo de bom. A forma com  que cada um compôs até agora, suas tentativas diferenciadas e com perspectivas bem diferentes umas das outras, tudo isso é vastamente interessante. 


Diante de Mim


Estamos chegando na metade do evento, essa já é a sexta música. Essa banda, ela é fantástica, já que há um "coro" nela - eu fiz coral por praticamente um ano de minha vida, então às vezes sou pego pela memória afetiva. Quatro cantores, cada um em sua parte e conjuntamente. O primeiro verso: "hoje eu acordei mais triste que gostaria, um grito preso insiste vivo muito forte". "Histórias lindas se eternizam quando bem contadas, histórias pobres carbonizam amarguradas". Será que essa música tem múltiplas camadas interpretativas? Eu poderia apostar que sim. Se eu pudesse chutar, o verso que acabei de citar conta o bom trabalho da própria música e a forma com que ele se eterniza agora com a sua realização. Já a segunda parte, deixa um péssimo sentimento nos rivais. Indiretas a parte, o grupo soube executar muito bem o trabalho coletivamente. Em outros momentos, a palavra "eu sinto muito por ser isso que temos que aprender, eu sinto mais de entender que só a dor é um motivo pra crescer": eles não foram arrogantes, foram emocionados e falaram sinceramente o que queriam. Eles também viram a própria dor e a possibilidade de crescimento diante da própria fragilidade, e a frase citada anteriormente "histórias pobres carbonizam amarguradas" também era uma auto-mensagem de reflexão existencial a si. "Eu sou todo amor, e este amor é meu". "A vida passeia, diante de mim, os meus olhos buscam os seus, já não sei se o destino é assim". Se a música "ilogicamente" se demarcou pela solidão do cantor guitarrista, essa foi o contrário: foi um conjunto harmônico, extremamente bem sintonizado entre si e uma excelente composição em letra ou em instrumental.


Anjo sem Asas


"Você me apareceu como um anjo sem asas, linda, delicada, parecia até voar/tão frágil que eu nem sabia como tocá-la, mas veio uma força em seu coração". Uma música sobre o amor, de forma profunda e não genérica, é uma raridade no oceano de vulgaridade. "Vamos namorar, vamos botar o pé na areia, vamos nos amar no mar, ficar assim a vida inteira". Outro ponto que curti nessa música foi a boa presença do guitarrista, não esperava um bom solo de guitarra nessa noite. A cantora demonstrou uma certa capacidade vocal em especial O conjunto da vocalista e do guitarrista se tornaram um tônus. Parece-me uma música que seria uma boa pedida se ouvir ao lado da namorada, da esposa ou da noiva.  


Entrepontos


Quando comecei ao ouvir essa canção, cheguei a pensar que a música falava de uma pessoa que contava a situação de seu próprio coração. Talvez seja projeção minha, pode ser que a canção descreva o coração de uma outra pessoa. Eu prefiro acreditar que a pessoa que o compôs falava de si mesma, sentir-me-ia mais encantado assim. "Tão cansado coração, faz concessão na transgressão", esse verso é denso: o coração que perdoa mesmo quando é transgredido. Estando cansado, põe-se a perdoar mais outra transgressão. Que intenso amor é esse? De um lado, queria sentir tão intenso amor; por outro me perco na percepção de que esse tipo de relação não seria saudável. Uma música que descreve o coração como pessoa, inserindo a expressão do afeto que se tem ao mesmo tempo que também fala de uma outra pessoa concreta. De fato, a atmosfera mudou: "em teus olhos o feitiço do perdão". Que ternura, imagina olhar para alguém e só por seus olhos se sentir tentado a perdoar. Um simples olhar, um olhar que a tudo muda. Certamente, uma excelente música e de profundidade inigualável. 


Trilha da cachoeira


"Suas asas pesadas escorrem nos meus ombros". "Leveza que boa com a mente", é uma música tensa e suave, levando a paz interior e que deságua o luto de minha alma. "Sai minha alma do corpo, levanta e vê o cansaço". Essa música me faz sentir como se eu estivesse sendo abraçado, creio que seja uma espécie de efeito terapêutico. A plateia explode depois da apresentação, só que a música continuava a tocar dentro de meu interior, eu não queria que ela acabasse.


Enquanto


"Os fortes perderam, foram invadidos, saqueados, enquanto vampiros comem pratos laqueados em seus jardins". O tom inicial é calmo, conduz-lhe na alteante sensação de crescente depressão. É como se eu fosse cercado, fechado num círculo e no meio dele começasse a surgir um angustiante sofrimento que é tão portentoso que alcança os céus em sua obscuridade. Eu não sei dizer a razão, mas de todo evento essa é a música que mais seriamente me impactou. Não é como se eu ficasse apenas triste, eu sinto literalmente desespero enquanto eu ouço essa música. Só que é completamente contraditório, sinto-me desesperado e encantado com meu próprio desespero e feliz por estar desesperado. A imagem de mundo destruído junto com o tom depressivo da música me deixaram não só hipnotizado, mas completamente apaixonado. Ela traz uma mensagem crítica que questiona a forma com que os poderosos gozam de uma boa vida enquanto os outros vivem nas cinzas do mundo destruído. Raramente vejo uma crítica social que, junto a ela, traga uma beleza imensa na forma com que é passada. "Não eram nevas, eram cinzas, e a guria em meio as cinzas". Dizem que sentir altos sentimentos é melhor do que nada sentir, a música despertou-me sentimentos tão profundos que eu sinto que meu universo se tornou mais rico, detalhado e multifacetado enquanto essa música tocava.


Solicitudes


A décima primeira música e penúltima música. Teremos uma dupla. "Sim, tudo vazio, o perene em si morreu", "não se nega o amor a vida, que ela toma o que é seu". Essa música, para mim, cai na temática do suicídio. Ao menos é o que eu consigo conjecturar com ela. A forma com que ela traz uma intensa descrição de um sofrimento abismal e o verso "não se nega o amor a vida, que ela toma o que é seu" se repete em minha cabeça, só posso pensar num "suicida terminal" próximo ao seu último desencanto ou ato final. Se essa interpretação ficou pessoal demais, peço-lhes perdão e licença poética. "De grão em grão a vida irá te mastigar". A depressão corrói a alma até o seu último respingo de espírito, essa letra manifesta sempre um cansaço exaustivo que gera até uma ansiedade em quem a ouve. "Se a solidão aperta o nó", "de onde vim, para onde vou, não viver sem ter o amor", "o cerco fecha, a porta trava e o Sol não brilha mais na cara": eu não consigo pensar em como uma letra pode ser tão bem composta. Tendo em vista que ela foi feita para demonstrar uma extrema infelicidade para com a vida, ela consegue fazer isso de forma completamente envolve e "tristemente motivante". Fora que o desempenho da dupla foi insano de bom. 


Chamamento



Última apresentação, décima segunda música. É um ode ao Brasil e identificação com a própria brasilidade: "se tiver que falar do amor, vou falar do Brasil". A música é nacionalista, reclama dos problemas sociais e, ao mesmo tempo que reconhece as várias mazelas, não deixa de amar o próprio país e chama a luta para melhorar o país. "Canto porque sou de lá, canto porque sou daqui": em nenhum momento há um abandono do país, já havíamos sido avisados pelo cantor que "pouco importa" a dor, o Brasil é o país que se ama e que se sofre por vários problemas, só que isso não nos faz desamá-lo. "Quem tirou da mesa o pão e o sal", essa é uma denúncia: o pão representa um alimento básico e o sal é o próprio tempero da vida. Ao terminar a música, somos saudados: "viva ao povo brasileiro, axé". É estranho observar que a última música apresentada é a música que mais parece ter um nível alto de "carnavalesquismo", e isso não pesa em nada no grau de sua sofisticalidade. 



No dia da apresentação, era aniversário do cantor Dorival Caymmi. O homem morreu em 2008, somos apresentados a uma sucinta descrição: sua música trabalhava com o cotidiano da Bahia e muitas vezes falando do seu amor pelo mar. Não que isso seja uma descrição simples, há de se dizer que ele chegou a um alto grau de abstração e descrição lírica nos dois pontos. Era uma autodidata que se apaixonou pela música quando ainda era criança, e com seu esforço renovou a música brasileira. Teremos algumas músicas dedicadas a ele agora, cantadas pelo seu próprio filho: Danilo Caymmi. Várias músicas que são passadas como o intuito de celebrá-lo, creio que será um cantor que eu voltarei a pesquisar várias e várias vezes. Queria ter conhecido Dorival, ao menos como ouvinte, antes dele morrer. Um das músicas que mais me impactaram foram essas: "Suíte do Pescador" e "Marina".



Ao sair do show, já penso em várias outras coisas. Foi-me uma vivência pesadamente significativa. Só os sentidos movem o coração, é pelo coração que queima que o intelecto age. Só aqueles que testemunham a luz do Sol podem se sentirem satisfeitos para meditar em suas cavernas. Não por mero acaso, o existencialismo trabalha em primeiro momento com o envolvimento existencial e só depois com o distanciamento crítico. É preciso estar pessoalmente envolvido para estar criticamente envolvido. Se meu coração não se move, meu espírito não se move. Se não há o dobrar dos joelhos, não há o voo espiritual do intelecto. Eu posso sentir que há sangue, que há vivência real, em cada música que aqui eu ouvi. Se eu não for igual, seu não puder derramar um pouco de sangue em cada ato, não estarei me projetando para fora e não estarei vivendo. O sentido da experiência, a significação de experienciar é sair de si.




Questiono-me o quão impactante eu tenho sido. O quanto eu tenho conseguido dar de mim. Não tenho me sentido satisfeito comigo mesmo. Eu sempre quero mais e o mais que eu quero parece não estar sendo concretizável. Quando estive aqui hoje, vi não só uma série de músicas, vi também uma série de histórias, de trajetórias, de movimentos. Só que o movimento é tão denso que me machuca. A solidão é tão perceptível que me destrói. A saudade é tão desastrada que me corta. A sensação é tão intensa que sinto vontade de que o sangue saia por cada olho meu mesmo que me cegue. Já que me é infinitamente melhor sentir do que não sentir. Nisso vem-me a noção de que devo me desconstruir. Devo criar uma série de novas experiências que me façam transcender de minha atual situação tal qual a experiência transcendental que hoje tive. Aquilo que me desconstrói é o que me renova. A serpente deve destruir a si mesma - a lei da troca equivalente - para se renovar. É por isso que eu vejo o símbolo do Ouroboros. 


Voltando pra casa, me pergunto quem sou e quem serei perante à morte. Se meu mundo era, no ano passado, ligado a uma relação pouco pessoal e nada "intimista", perdidas na virtualidade do mundo cibernético. Me perdi na tenacidade mesma dessas estranhas relações que facilmente se dissolviam. Hoje percebo que o "cordão relacional", a ligação existencial, quanto mais próxima, mais difícil é. Percebo que há um grau que me escapa, uma "força" ou "capacidade" que me foge. Ter uma capacidade de estar com o outro, de estar para o outro, de ser percebido ou relacionado com o outro... ainda me é difícil e o sentimento para com o outro escapa numa série de sutilizas que ainda não consigo ainda captar. Adentrar nesse reino sutil, de movimentos ínfimos que se perdem na minha capacidade perceptiva, é como olhar diretamente para o Sol depois de sair da caverna. Meus olhos queimam e fremem diante dessa nova realidade. É como se eu fosse um grande cegueta social. Meus olhos estão agora vermelhos e exaustos após tantos estímulos.



Se isso foi um extrato bancário, se é possível mesurar a infinidade da variedade incomensurável do que sinto: eu sinto dor e medo da realidade. Eu não sabia que a leitura poderia ser uma caverna e que a realidade externa tinha tantos estímulos que machucariam a minha própria autoestima e confiança em mim mesmo. Só que agora só me resta continuar, mesmo que eu seja a cobra alquímica que come a si mesma para o ciclo de renovação necessária. Eu terei que me destruir, eu terei que me digerir. Toda essa nova euforia, todo esse abatimento é como um longo processo de morte.


O medo me invade. Nutro "natural" desconfiança de caráter excessivo. Diz-se que o neurótico é composto por: inquietação, incerteza e insegurança o tempo inteiro. Eu duvido da exatidão dos trens, dos ônibus e dos metrôs. Eu duvido de meus pais. Eu duvido do valor objetivo do dinheiro. Eu duvido que meu cartão tenha dinheiro mesmo que tenha. Eu duvido que eu saiba a senha dele mesmo que eu saiba. Eu volto atrás o tempo todo, preciso conferir de novo e de novo, só pra por certo o que há de certo. Tudo isso leva a um gasto de energia psíquica bem maior do que deveria. Pergunto-me até quando sofrerei pelo o que não deveria. 


A diferença do medo para a ansiedade é que o medo é se encontra em algo real, de um objeto com "real valor objetivo". Já a ansiedade se refere a algo do campo da fantasia. Minha neurose escapa do campo pragmático e e tudo que tenho é dor. Até quando serei tão paranoico? Até quando me omitirei da realidade? Só que eu tenho que mudar. O tempo tá passando. E o pior de tudo é que eu tenho que "matar a mim mesmo" nesse processo evolutivo, tudo que até então constituía minha consagrada identidade e o chão que cobria meus pés. Tudo que vivi hoje me impactou e revelou uma coisa: eu tenho que mudar, mesmo que isso leve a autoantropofagia. Caminho rumo ao renascimento.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Acabo de terminar o curso "A Cristandade Medieval" de Carlos Nougué

 



A lógica catedrática que representa o profundo sentido da Idade Média é algo que fugimos, não só pelo horror que temos de coisas que consideramos fantasiosas. É também pelo simples fato de que tal padrão de vigor não é encontrado em nosso tempo atual em larga escala. Foge-se não só pela pequenez, foge-se igualmente pela grandeza.

Pressupor que somos superiores é ir contra o passado, só que num nível meramente reativo. Obscurece-se dada imagem para que ela não nos atordoe, leva-se a um nível em que a imagem obscurecida não pode mais ser levada a sério. Assim se conquista, através de gerações de alienidade, uma coisa de valor abjeto: desprezo pelo o que não se superou. Não por acaso, os filósofos do medievo tinham um grau técnico e harmonia lógica que hoje, com todo nosso aparato científico e pedagógico, não conseguimos superar.

A catedral é mais do que algo arquitetônico no sentido físico do termo, é um esforço arquitetônico de ordenabilidade em que o ser se eleva. Criar sistematicamente, progredir até os mais altos céus, esse era o lema do medievo e construções de nível abismal como a Suma Teológica e a Divina Comédia trazem esse significado.

Como sempre, impressiono-me com o grau que Carlos Nougué consegue colocar as coisas. Aspirando sempre aquilo que há de mais alto, não se deixando anuviar pelo o que há de supérfluo. Um grande curso que me ensinou o valor da busca diária pela elevação intelectualizante.