Mostrando postagens com marcador Marx. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Marx. Mostrar todas as postagens

domingo, 26 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 19)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 257 à 268). Um comportamento recente me vem chamando a atenção no momento em que faço a leitura e escrevo essa análise: Trotsky é descrito muitas e muitas vezes como um notório sabotador e de planos incongruentes, como se quisesse destruir a União Soviética e restaurar o capitalismo na Rússia. Essa forma de descrevê-lo, perdoem-me o tom, me parece traiçoeira e enganosa. Sobretudo com base em outras análises estudei sobre a União Soviética, não creio que Trotsky seja um antissocialista – e nem que Stalin o seja.


Uma condição bastante interessante da revolução russa foi a questão da relação problemática entre o proletariado e campesinato. Se é o proletariado o condutor da revolução e aquele para qual se destina o Estado socialista, qual seria a relação do proletariado com o campesinato? Por muito tempo, o próprio campesinato foi uma classe de muitos debates na União Soviética e teve que ser convencido – e muitas vezes lutou contra o regime – a aderir a mentalidade socialista. Os socialistas acreditavam que o campesinato era muito apegado a sua propriedade e, por vezes, adquiria comportamento reacionário.


Uma outra parte que surge desse capítulo é a questão da União Soviética ser um país – ou conjunto de países – agrário. Isto é, seria impossível manter o país seguro sem um desenvolvimento que garantisse a autonomia da Rússia frente aos seus rivais imperialistas, pois estes a sabotariam de todos os modos. O desenvolvimento foi, então, um dos pilares da autonomia soviética. Sem desenvolvimento econômico, sem comida, sem forças armadas: a autonomia é uma mera abstração e não uma existência efetiva. Nesse sentido, podemos ver que os soviéticos eram imensamente realistas.


A ideia de Trotsky era, segundo esse capítulo, a de fortalecer o comunismo de guerra. O que poderia levar a um levantamento duma nova guerra de classes – agora entre o proletariado e o campesinato. A ideia de voltar atrás, por um período provisório, permitiu um levantamento de forças e estratégias para essa delicada questão político-econômica.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 18)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 249 à 256). Essa parte é bastante interessante: a luta revolucionária na Rússia tem dimensões que usualmente não aparecem na análise da maioria das pessoas: as múltiplas intenções das alas bolchevistas, a intervenção externa, as alas revolucionárias que estavam em choque, dentre tantos outros fatores que dão ares muito mais complexos do que usualmente se supõe.


Stalin é aqui mencionado como organizador do Exército Vermelho, auxiliando fortemente em todos os locais em que se formava uma crise ao poder revolucionário. Ou seja, ele era o responsável por apagar a crise e impor a ordem. Com tamanha atuação, é impossível pensar em sua figura como a de alguém de menor importância para a Revolução Russa. Mesmo que, com o tempo, tenham tentado diminuir a dimensão de Stalin.


Deve-se a Stalin a formação geográfica dos países da União Soviética. Foi ele o "criador de povos". Ele trouxe uma política oficial, a partir do marxismo, para construir os diferentes povos soviéticos. Embora muito seja falado sobre a predominância russa e, até mesmo, daquele "imperialismo social" que os chineses acusavam a União Soviética de usar – tema pouco debatido nas academias nacionais.


De qualquer forma, é quase impossível não assumir posturas autoritárias num país fragmentado e em que o novo Estado deve reinvindicar para si uma nova forma de agir. Na luta pelo poder, sobretudo em períodos de grandes choques e com grandes problemas sociais a serem enfrentados, pode-se observar quase o mesmo em diferentes proporções. Ou seja, quase todas as posturas soviéticas não se dariam de diferentes modos em distintos regimes ou países, são quase como consequências naturais – embora existam alguns acidentes e particularidades próprias.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #5 - Eu já não leio Karl Marx

 Texto publicado em 23/06/2018


Há quem veja a história como um eterno círculo a repetir-se. Há quem veja a história como uma continuidade progressa. Outros veem como uma continuidade regressa. Particularmente, creio nas três visões. Todavia não sou um historiador, sou apenas um jovem adulto tentando entender o mundo.


Fumei um cigarro agora há pouco. Fumei na oitava série. Fumei no ensino médio. Fumei na faculdade. Parei de fumar várias vezes. O cigarro, quando entrou em minha vida, era um ineditismo. Agora é um recomeço e uma continuidade. É também um regresso para minha saúde. É o chamado eterno retorno. Voltar a fumar é meio ruim. Odeio o cheiro, mas logo deixarei de senti-lo. O cigarro é-me uma figura intermitente.


Tudo volta. Tudo volta sobre novas formas. E sei que sempre voltarei ao que outrora eu era. Tudo isso sobre um misto de nova forma e velha forma. Pois tudo volta e há de voltar.


Eu já não leio Marx. Fui irradiado com uma alienação burguesa e agora só me importo com a beleza das flores. Como eu poderia ler Karl Marx? Se o amargo café anima meu ânimo. Se a beleza das cores embeleza o mundo. Se os filmes de drama fazem meu ser chorar. Como eu poderia ler Karl Marx? Sou um alienado, um sentimental, um eterno romântico condenado. Eu já não tenho razão! Eu só tenho a chama da paixão!


Despolitizei-me: tornei-me o que eu era antes: um alienado político, um amante da vida, um apreciador dos sabores, um pequeno-burguês. Sou aquilo que meu antigo eu desprezaria, logo serei aquilo que meu novo eu desprezará. E assim vou: como um renegado que sempre reconstrói-se negando-se e aceitando-se.


Por que é tudo assim tão confuso? Não sei. Só sei que é sempre assim e assim sigo meu rumo: numa metaformoseação sem fim.