Qual a contraposição à mentalidade progressista? Seria um conservadorismo que se opõe, pura e simplesmente, às mudanças? Em primeiro lugar, é discutível que exista, no entendimento do brasileiro médio e até mesmo no entendimento do intelectual brasileiro médio, a capacidade de compreender a mentalidade conservadora. Hoje em dia existe uma maior capacidade intelectual de compreender a mentalidade conservadora, todavia até hoje estamos imersos numa confusão mental do que é verdadeiramente o conservadorismo.
O conservador não é um homem que quer paralisar as mudanças, muito menos é apegado às tradições. O tradicionalista acredita nas tradições. Para o conservador, a tradição tem valor instrumental e não essencial. Ou seja, não se escolhe a tradição por ela ser um valor essencial ou ser impossível de ser mudada, prefere-se a tradição por ela ter sido testada. Se há algo que a substitua e tenho passado pelos testes do tempo, esse algo é aderido. A questão do conservadorismo é a reforma gradualista da sociedade, isto é, o desenvolvimento da sociedade a partir duma sobriedade cética que deve mediar entre as políticas de fé (notoriamente experimentais) e as políticas de prudência (que já passaram pelo teste do tempo).
A questão da política conservadora é a questão duma política pautada pelo ceticismo e pessimismo político. O conservador seria aquele que compreende que existem limites naturais à capacidade humana de inteligir. Ou seja, existe um mundo complexo demais para ser moldado pelos intelectuais e suas ideias que são, no fundo, experimentais. Se uma ideia é experimental, um radicalismo experimentalista não pode ser levado a sério. A troca inconsequente de uma série de políticas experimentadas pelo tempo por políticas ainda não testadas pode ser catastrófica e levar ao declínio de toda uma série de construções humanas.
A verdadeira questão do conservadorismo é um ceticismo quanto à capacidade de reestruturar o mundo tal como queremos que ele seja. O conservador se opõe dialeticamente ao revolucionário e ao reacionário por eles serem radicais. Seja para o futuro, seja para o passado.
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