quarta-feira, 17 de julho de 2024
Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 3)
segunda-feira, 15 de julho de 2024
Acabo de ler "Sacred Chaos" de Françoise O'Kane (lido em inglês/Parte 3)
Como o lado sombrio pode ser confrontado? O Self é a experiência mais imediata do divino. Todavia esse divino não é uma divino tomado de forma "absolutamente boa", o "divino" abriga uma espécie de substância caótica que é tão psicologicamente importante quanto a parte "sagrada". A má relação entre os dois polos (trevas e luzes) leva a um deslocamento psíquico. Se a má relação causa deslocamento, então a confrontação não é psicologicamente adequada. É preciso que exista uma estabilidade e uma integração.
Vivemos numa sociedade ainda cristianizada e faz parte da nossa cultura a repressão da parte considerada ruim. Essa repressão alimenta a nossa sombra, fortalecendo-a inconscientemente. Não estamos nos afastando do "mal", mas colocando-nos impotentemente ante a sua secreta influência. Dentro do psiquismo, bem e mal fazem paradoxalmente uma unidade. Dentro da cultura cristã, aparecem como irreconciliáveis. A ideia de apagamento do mal pode levar paradoxalmente a um desequilíbrio mental e na ausência da percepção do mal que causa. O mal pode ser, então, racionalizado numa estrutura argumentativa (atacar homossexuais por eles não se adaptarem a estrutura reprodutiva da sociedade, por exemplo) que torne palatável ao ego – tornando a prática do mal como inconsciente a própria pessoa.
Só que falar de "integração da sombra" é algo simples, embora socialmente inadequado – defender que existe um mal dentro de nós e que ele deve ser usado e até mesmo aceito chega a soar absurdo para os "ouvidos mais leigos". Quando pensamos nos mecanismos sociais, eles até agora não demonstraram uma solução satisfatória para a utilização da energia sombria que existe em cada um de nós de uma forma que não seja socialmente tóxica. A utilização da energia sombria pode ser perigosa, mas o seu acúmulo também leva a disrupções sociais. Como já escrito anteriormente, a ideia de que temos que ser bons o tempo todo leva a um acúmulo energético negativo que consequentemente nos leva a ser inevitavelmente maus – e, ressalto mais uma vez, muitas vezes de forma inconsciente.
A imagem do divino (Imagino Dei) e a imagem do Self estão intimamente correlacionadas. A inexistência do mal na doutrina cristã – principal influência teológica da sociedade ocidental – na imagem de Deus leva a uma percepção deturpada da própria estruturação do psiquismo. Essa falha tem um efeito colateral na nossa sociedade. Ainda mais quando temos em mente que a ideia acerca do caos é atrelada ao feminino e o feminino não aparece na trindade. A ideia de "ordem" e "positivo" aparecem de forma inconscientemente maniqueísta na estrutura de pensamento teológico de muitas igrejas cristãs. O cristianismo ao dizer que o mal não está em Deus, cria uma visão em que o mal só pode ser banido para se aproximar de Deus.
A verdadeira natureza do Self está na completude da integração dos elementos, não podendo ser confundida com a negação dos elementos em prol de outros. A capacidade de compreender os diferentes polos do Self e de aceitá-los é de natureza essencial para a maturação do psiquismo. A negação só fortalece inconscientemente o lado que se reprime.
terça-feira, 9 de julho de 2024
Acabo de ler "Epic Win for Anonymous" de Cole Stryker (lido em inglês/Parte 5)
Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 2)
Nome completo do artigo: Queering Queer Theory, or Why Bisexuality Matters
Autoras: Laura Erickson-Schroth e Jennifer Mitchell
Uma orientação sexual invisível e estranha, presa e atacada por pessoas heterossexuais ou homossexuais, que insistem em encaixar bissexuais em sua ordem binária. A questão é: quando uma pessoa é forçada a ser ou se identificar como algo que não é acaba por sofrer. O sofrimento bissexual se dá ante a negação da sua própria existência, tal como se fosse "proibido de existir". E quando identificam alguém que é bissexual, mesmo no âmbito do debate público, logo insistem que essa pessoa é heterossexual ou homossexual.
Outra questão que surge na bissexualidade é a questão do privilégio. Para alguns homossexuais, as pessoas bissexuais gozam do privilégio de terem relações heterossexuais, elas podem esconder a sua própria bissexualidade. Em outros termos, bissexuais podem ser classificados, para algumas pessoas, como "traidores da causa LGBT". Para alguns heterossexuais, bissexuais escondem a sua homossexualidade ou estão num período de confusão. Existem aqueles que, aceitando a existência da bissexualidade, acusam bissexuais de serem promíscuos ou "levarem as doenças sexualmente transmissíveis de um campo para outro".
Com toda literatura científica do mundo contemporânea acerca da sexualidade, além das comprovações continúas da própria existência da bissexualidade, ainda há quem queira negar a nossa existência. A bissexualidade pode existir, pode até mesmo ser comprovada a cada segundo ou milésimo, mas não pode ser socialmente aceita por causa do discurso dominante. A razão da bissexualidade não ser socialmente aceita foi descrita na parte anterior a essa, mas torno a repeti-la: num mundo estruturalmente projetado para privilegiar heterossexuais, muitos não heterossexuais não querem se ver privados desse privilégio e preferem que a bissexualidade não exista, visto que uma vida pública – e até mesmo privada – heterossexual não seria comprovação autossuficiente de heterossexualidade.
Há uma chave dupla dos problemas bissexuais. O maior problema é a sua invisibilidade – por não ser socialmente aceito como existente – e o segundo maior problema são acusações de alto teor moralista e normativista. A acusação de que bissexuais são "incapazes de serem monogâmicos", imaturos e promíscuos. O fato é bissexuais existem num número igual ou superior ao número de homossexuais. Homossexuais e heterossexuais veem o mundo de forma binária pois isso é inerente a própria sexualidade deles, em outros termos, eles veem o mundo a partir de sua experiência pessoal – de forma empírica –, mas a experiência pessoal não é comprovação das suas teses. É impossível ver o que há dentro do outro, sobretudo a alguns aspectos que não são de natureza reproduzível.
Quando cobram uma estabilidade de bissexuais, cobram uma estabilidade pautada na visão monossexista. Isto é, no binarismo maniqueísta da sexualidade. Estabilidade seria ser "hétero ou homo", mas isso não faz sequer sentido. Estabilidade é continuidade de algo através do espaço-tempo e quem é bissexual é bissexual a vida inteira, logo a bissexualidade é uma sexualidade tão estável quanto a homossexualidade e heterossexualidade. A negação da bissexualidade é algo muito mais ditado de forma narrativa ou ideológica. E os argumentos não surgem pautados por uma pesquisa séria, mas através de uma linha se raciocínio turva que existe para defender um grupo de outro.
A questão apresentada pela bissexualidade é bem variada. Ela apresenta múltiplos caminhos que escapam ao controle, seja de heterossexuais, seja de homossexuais. É um tabu falar que bissexuais são vistos como inimigos de homossexuais e heterossexuais, mesmo que isso não seja conscientemente admito por nenhum desses grupos – além de certas pessoas que prezam pela sinceridade. Homossexuais precisam de uma visão de estabilidade da sua sexualidade para lutar contra o heterossexismo, mas isso leva a eles a atacarem bissexuais, visto que a bissexualidade pode ou poderia apresentar a hipótese de que a sexualidade é uma escolha e não algo essencial, isso favorecia a narrativa heterossexista e a sua normatização forçada. Fora isso, a visão poliamorista que muitos bissexuais apresentam feriu – e ainda fere – a imagem monogâmica que muitos homossexuais quem passar para tornar a homossexualidade mais socialmente aceita. Há também o fato de que homossexuais veem bissexuais como potenciais traidores pelo fato de que bissexuais podem entrar em relacionamentos heterossexuais.
segunda-feira, 8 de julho de 2024
Acabo de ler "DICTADURAS MILITARES Y LAS VISIONES DE FUTURO" de Gabriela Gomes (lido em espanhol/Parte 4 Final)
Um Estado é uma visão de um projeto e a realização de um espírito. A ausência de um projeto dificilmente levará a unidade nacional. Logo se faz necessário que a nação tenha um identificação coletiva baseada no cumprimento duma missão civilizada.
Quando os militares assumiram o poder do Chile, quiseram refundar a sociedade e até mesmo a sua mentalidade. A sociedade chilena era vista pelos militares como extremamente estatista, o que a deixa suscetível a mentalidade socialista. Os militares trataram logo de implementar medidas de descentralização, diminuição do gasto público e diminuição do Estado, deixando a iniciativa privada ser o principal motor econômico. Na Argentina, o projeto refundacional deixaria a cargo da iniciativa privada tudo que não ferisse a assim chamada segurança nacional.
Essas iniciativas demonstram o desprezo dos tecnocratas ante ao povo. Isto é, eles creem que o povo não pode governar por si mesmo. Antes disso, o povo deve se elevar a tal ponto que chegue ao desenvolvimento cultural compatível com o nível de um tecnocrata. Essa inferiorização separa o restante da sociedade dos tecnocratas, supostamente portadores de uma visão superior e responsáveis pelos rumos do país. O que não é outra coisa que escravidão política.
Na futurologia argentina, se planejou um desenvolvimento agroindustrial, em que haveria uma implementação de uma modernização industrial. Assim acreditavam que teriam um valor agregado. Além disso, acreditavam que só com o desenvolvimento de uma mentalidade científica-tecnológica seria possível que a Argentina se tornasse uma nação moderna. Graças a isso, investiram também na cibernética, seja no campo da educação (preparando as pessoas para o ano 2000), seja na própria indústria. Computação e informática também foram preocupações do regime chileno, visto que elas se tornariam os motores do desenvolvimento em tempos posteriores.
Olhando hoje, não vemos nem o Chile e nem a Argentina como nações desenvolvidas e capazes de fazer frente aos EUA e Europa – além de, é claro, a China. Apesar de várias boas intenções dos tecnocratas, creio que não foram completamente exitosos em suas intenções. Será que o custo política, social e cultural foi adequado? Promoveu-se a escravização política de sociedades inteiras na promessa de um "futuro melhor" em que essas duas nações seriam equiparáveis a Europa e Estados Unidos, mas se entregou duas nações dependentes e que não tiveram suas prometidas elevações.
domingo, 7 de julho de 2024
Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 1)
Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 4 Final)
Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity
É preciso que tenhamos uma capacidade de investigar a propagação da informação sobretudo em locais altamente descentralizados e desregulados da internet. Apesar da autora estar falando sobre o 8chan e a ausência de mecanismos de regulação para frear a propagação de mensagens tóxicas, a mesma realidade também é observável no Brasil – o movimento channer nacional não é tão fraco como se usualmente pensa. Se não há um mecanismo que identifique a linguagem de determinados grupos sociais, sobretudo grupos particularmente nocivos e criadores de movimentos antissociais, a própria sociedade acaba correndo riscos e sendo vítima da movimentação dessas pessoas.
É evidente que precisamos considerar os aspectos predecessores que os levaram a se tornar o que são e a própria humanidade dessas pessoas, mas elas devem ser presas ou tratadas. Ignorar esse fato é deixar que acumulem mais poderes e mais táticas, garantindo que criem metodologias sócio-colaterais cada vez mais sólidas e perniciosas ao funcionamento da própria sociedade. Assim sendo, temos que compreender que há uma codependência entre o online e o offline.
Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 3)
Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity
Atualmente se discute muito a questão dos efeitos tóxico-colaterais de certas mentalidades na sociedade. A propagação de ideologias tóxicas se dá muito pela possibilidade que a própria internet fornece. Estamos, como já alertado, presos no dilema da liberdade individual e da segurança pública. Se existem sites em que vemos uma constelação de postagens de conteúdo nocivo surgindo, o que poderíamos fazer se não combatê-los? As antigas soluções do liberalismo clássico muitas vezes desconsideram as implicações psicológicas e sociológicas do discurso e a sua influência no indivíduo concreto ou em agrupamentos sociais. As postagens tóxicas – e a propagação do ideário tóxico – tem efeitos sócio-colaterais, na esfera individual e social, podemos discordar sobre como lidar com isso, mas não podemos discordar que tal problema exista.
Hoje em dia precisamos pensar para além dos antigos dilemas e das antigas soluções. Além disso, devemos superar as barreiras ideológicas e propor uma solução que seja agradável ao bem comum. Não uma solução que seja exclusivamente coletivista ou individualista. Não se trata de esmagar o indivíduo ou a sociedade, mas se trata de colocar uma solução que possibilite o indivíduo viver ao mesmo tempo que cuide do anseio social.
Acabo de ler "Sacred Chaos" de Françoise O'Kane (lido em inglês/Parte 2)
A pergunta sobre todas as séries de fatores que levam a funcionalidade ou disfuncionalidade de um organismo são essenciais para compreender como fazê-lo funcionar de modo razoável. A questão que o autor dirige em seu estudo é: como o aspecto da sombra dentro do "self" pode nos ajudar a entender como curar uma pessoa ou atenuar o seu sofrimento? Outra questão: como algumas pessoas são mais "determinadas" em aspectos negativos do que outras? Existe uma correlação entre criação familiar e genética, mas é necessário uma análise mais múltipla para ser menos reducionista e mais completa.
Teoricamente falando, não há suficiência teórica. Por mais que tenhamos uma capacidade maior de análise devido ao ampliamento dos estudos, ainda se é impossível determinar todos os fatores que contribuem na formação de uma insalubridade psíquica de modo perfeito e, assim, gerar uma "sanidade universal". Aliás, a própria existência de uma sanidade universal é questionável, visto que podemos nos enganar diante das nossas próprias inconsistências teóricas inconscientes. A ideia de universalidade já é perigosa, a ideia de a possuir completamente é espinhosa e apresenta períodos de alta crise humanitária (a eugenia nazista é um concreto exemplo disso). A hipótese de total controle sobre as informações que nos faltam levam, de tempos em tempos, a autoenganos trágicos e a paraísos teóricos que se tornam infernos práticos.
Em outras palavras, o que é curar o psiquismo de alguém? Descobrir a falta original? Reestruturar a personalidade com um modelo ideal? Acrescentar o que faltou no desenvolvimento do(a) paciente? Colocar as pessoas nas normas que a sociedade considera majoritariamente como adequadas? Não há um modelo de um herói que tenha superado todos os aspectos sombrios da vida. Se olharmos para todas as pessoas que conhecemos, elas não são um exemplo universal de virtude. Se o começo da argumentação parte de uma abstração que não é verificável dentro da própria estrutura da realidade, como poderíamos pô-lo em prática se sequer temos um modelo palpável? Se estamos no reino da contingencialidade e da impefectude, como poderíamos exigir um padrão altamente idealista se a própria realidade se furta a nossa pretensiosidade? Não há modelo de virtude universal na realidade cotidiana, exigi-lo é sobrecarregar nós mesmos e as pessoas da nossa volta com uma abstração.
Atualmente vivemos numa sociedade baseada no crescimento, no desenvolvimento técnico e tecnológico – além do avanço científico para impulsionar esses dois. Nos tempos modernos, somos avaliados de acordo com a possibilidade de enquadramento na escala produtiva da sociedade e também no aumento dessa mesma produtividade. O parâmetro de normalidade se dá pela funcionalidade atrelada a essa mesma produtividade – "valor" e "agregação de valor" são duas noções que regem a contemporaneidade. É evidente que, se olharmos para outras sociedades e outros períodos históricos, temos outros quadros de normalidade – não há e nem nunca existiu um parâmetro universal de normalidade. Outro ponto central nessa análise: o que é "curar" alguém no sentido psíquico? A psiquê está sujeita a uma dialética que vai se alterando de tempos em tempos. Não se pode assegurar uma "estabilidade contínua", isto é, uma "estabilidade" que se dê até o fim da vida ou do momento da "cura" até o final da vida. Ou seja, a ideia de "cura definitiva" é um pouco deslocada da natureza humana. Ademais, a ideia de "cura" carrega valores humanos de forma latente, onde há uma "normalização" focada em normas humanas contextuais – circunscritas em nosso próprio contexto cultural e histórico. Sendo assim, a noção de melhora é relativa e não poderia ser justificada de todos os modos. Se não, teríamos que dizer absurdos como: "você está curado por estar adequado(a) à conjuntura dos valores sociais vigentes".
Quanto a cura se deve ter em conta de que o "Dark Self" é altamente irracional e emocional. Ele não pode ser excluído e é inerente a nossa própria humanidade. Além disso, o "Self" em si mesmo não contém juízos de valor sobre o que reside em sua interioridade. No Self, não há uma distinção entre "bem" e "mal" como há entre o "consciente" e "inconsciente". Pode-se teorizar-se que a sombra é dividida entre a "sombra pessoal" e a "sombra coletiva", logo ela está no "inconsciente pessoal" e no "inconsciente coletivo". Temos lados ruins particularmente nossos e outros que são comuns a humanidade em si mesma – embora esse lado ruim seja considerado ruim pela moralidade social vigente. Para a "cura" há a necessidade de que o ser reconheça a completude de si mesmo, levando a um processo de integração. A possibilidade de repressão não é funcional, visto que se a sombra continuar sendo reprimida, existe a possibilidade de que a sua "energia" se acumule até que se torne uma espécie de grito da alma. Visto que o lado negativo acumulado pode ser "engatilhado" pelas situações existenciais do mundo e a sombra se manifestar sem a que a gente consiga reprimi-la – e quanto mais energia negativa for acumulada, pior será a explosão que será desencadeada. A questão é: como integrar a sombra a nossa personalidade se não podemos manifestá-la? A sombra é a sombra, em primeiro lugar e antes de tudo, pelo fato de ser socialmente inadequada.
A sociedade contemporânea apresenta um problema radical para com a sombra e o aspecto sombrio do Self. A própria noção de que as redes sociais ampliam demasiadamente a nossa imagem social – tornando-a mais conhecida – e isso faz com que nos tornemos mais sensibilizados ante ao julgamento social, além de uma postura mais energética a adaptabilidade normativa, nos dá um delineamento dessa questão que se torna cada vez mais problemática. A exposição excessiva leva a uma postura mais rígida e mais autorepressiva, aumentando o "condicionamento social" e aumentando o acúmulo energético sombrio. Ao deixar públicos os nossos pensamentos, sentimentos e momentos vitais, tornamo-nos figuras públicas que são julgadas conforme os padrões que regem a sociedade. Como não podemos nos manifestar de modo incongruente aos anseios sociais sem sofrer represálias, acabamos por criar um reforço da normatização e postagens que refletem uma postura social adequada. Se a vida social fosse menos pública, isto é, se fosse mais privada, não teríamos todo esse impacto sobrecarregando nosso psiquismo.
Uma das possíveis soluções é a do equilíbrio enérgico. Em cada ação negativa, colocar uma regra que delimite o peso dessa ação, tornando-a não tão negativa quanto usualmente poderia ser. Uma energia positiva deve ser inserida na energia negativa quando essa é utilizada, assim os efeitos tóxicos – para si mesmo e para o outro – são controlados. Deixar a energia negativa acumulando é fortalecer o polo sombrio do Self e esse fator cumulativo pode levar a uma explosão que obscurece a própria capacidade de funcionamento usual. O fenômeno da regressão pode ser mais ou menos impactante a depender de todo contexto precedente e da boa capacidade de autorregulação psíquica. É preciso utilizar a energia negativa de forma controlada, isso é melhor do que esperar que ela "exploda". Todavia isso requer uma aceitação de que o "mal" está dentro de nós o tempo todo e que precisamos de um bom convívio – além de um convívio cético – com esse mesmo mal.
sábado, 6 de julho de 2024
Acabo de ler "Sacred Chaos" de Françoise O'Kane (lido em inglês/Parte 1)
O Self não faz divisão de valores. Ele é a totalidade, isto é, sejam compostos considerados pelo próprio "Ego" como bons ou ruins. Quando nossos valores, moralidade e virtudes entram em choque com uma realidade que nos nega, existe uma tentativa de puxar "os conteúdos caóticos" de dentro de nosso ser e pô-los em prática. O lado irracional e sombrio é inerente ao psiquismo, ele pode ser custosamente reprimido, mas não pode ser retirado. Ou seja, ele estará conosco onde quer que estejamos e poderá despertar quando menos esperarmos.
O eterno conflito da natureza humana, ele aparece diversas vezes durante a história. As linhas mais avançadas do cristianismo defenderam que o mal está circunscrito na esfera da ação moral, mas não é uma existência por si mesma. Por outro lado, existe uma versão maniqueísta em que há um dualismo no mundo. Um "deus bom" e um "deus mal", opostos dialeticamente. Existe a gnose que separa duas deidades, a material e a espiritual. Os problemas do mundo teriam surgido através da criação do mundo físico.
Ora, o elemento do caos – a ausência de regularidade e estabilidade – gera sempre uma outra percepção acerca da humanidade. Por exemplo, existe dentro da mentalidade revolucionária uma ideia positiva. Do caos, surgirá uma ordem mais justa, socialmente mais equilibrado e em que os recursos são dispostos de forma a favorecer o bem comum. Logo o caos é percebido instrumentalmente, o caos serve para a criação de uma ordem. O revolucionário não defende o caos pelo caos, mas a geração de um caos para a destruição da ordem existente. Isso tendo em vista uma nova ordem. Esse fenômeno pode ser enquadrado como uma espécie de "sedução sombria".
É possível dizer que existe um mecanismo de regressão. Essa regressão é, particularmente, enquadrada como um mecanismo de retornar a passos anteriores – idades mentais anteriores – para resolver um conflito presente. Isso leva a uma perda do "quadro psicológico" em sua inteireza. Isto é, se o psiquismo pode ser enquadrado como um quebra cabeças em que há graus maiores de consistência e inconsistência pelas partes que faltam ou estão devidamente integradas perante o aspecto momentâneo e dinâmico da vida. Quando entramos em crise, há um obscurecimento e perda quantitativa dos fragmentos que estavam integrados, o que leva uma perda qualitativa do autocontrole psíquico e da estabilidade mental. Usualmente levando a infantilização e imediatismo.
quarta-feira, 3 de julho de 2024
Acabo de ler "Epic Win for Anonymous" de Cole Stryker (lido em inglês/Parte 4)
A internet é a criação de vários projetos. Ela nunca foi muito unificada quanto a visão de seus portadores. Não há um senso dirigente geral. Existe apenas uma mescla de várias variações que saúdam umas as outras ou se afastam. Existe uma tradição virtual daqueles que não gostam do funcionamento da vida real: somos muitas vezes marcados por laços e traços de identidades que nos classificam, várias vezes de forma errônea, sendo julgados muitas vezes por condições que nem sequer fomos nós que escolhemos.
Qualquer um que tenha estudado, trabalhado ou vivido em sociedade sabe: somos classificados e hierarquizados o tempo todo. A existência de fóruns que permitam uma não identificação permitem que outros julgamentos possam vir a ser feitos. Esses julgamentos não se baseiam mais na beleza, no porte físico, na capacidade financeira ou na cor dos olhos. Eles pertencem exclusivamente ao âmbito das ideias. É assim que se pensava a Usenet e Futaba, e é assim que também se pensou inicialmente o 4chan.
Não existem muitas leis, nem muitas regras. Ninguém te conhece, nem te julga. Você pensa o que quer e joga aquilo que quer por lá. Não há muita restrição, tão somente interação. Esse seria o ambiente de possibilidade criativa perfeita, com toda envolvente dinamicidade de anônimos conversando entre si. Essa possibilidade de internet foi a internet que o mundo perdeu.
Acabo de ler "The Case Against Democracy" de Mencius Moldbug (lido em inglês)
Nome: The Case Against Democracy: Ten Red Pills Autor: Mencius Moldbug Vendo o interesse contínuo na Nova Direita Cultural e no Iluminismo...

-
Não sei o que ocorreu, mas estou vendo aqui que estou com mais de mil visualizações em um único dia. Para uma pessoa normal, isso seria moti...
-
Nome: Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente Autores: Dani Vas; Danilo Silva Guimarães. Existem muita...
-
O fato da bissexualidade não ser muito estudada leva a um desentendimento acerca da sexualidade humana. Isto é, a construção social visa a...