sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Acabo de ler "Project 2025" de John Madison (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

Project 2025

Democracy at Risk: TRUMP and the Future of U.S. Politics.


Autor:

John Madison


Aviso:

Essa análise vai do Capítulo 1 ao 4.


O desenvolvimento do Projeto 2025 tem chamado a atenção não só nos Estados Unidos da América, como também no mundo todo. Por tal razão, resolvi iniciar uma série de leituras para compreender mais sobre o tema. Para quem se interessar, todas as leituras correlatas ao Projeto 2025 serão lançadas com  o marcador "Project 2025", inclusive aquelas que são "expansões" para a melhor compreensão do debate. Recomendo também, antes da leitura de qualquer texto daqui, a leitura do "Agnosticismo Metodológico".


O próximo governo dos Estados Unidos tem os seguintes nortes: liberdade individual, governo limitado e soberania nacional. Existirão uma série de reformas. Sejam essas econômicas, militares, nas leis de migração, no tratante aos trabalhadores do Estado, na educação.


Algumas características:

– Desburocratização;

– Revisão das leis de imigração;

– Redução de impostos;

– Educação sem doutrinação e promotora dos valores americanos; 

– Reforma do sistema de saúde baseada em leis de mercado;

– Responsabilidade individual;

– Modernização das Forças Armadas e da Segurança Nacional;

– Competição com a China.


Uma das principais características que chamam a atenção no documento é a semelhança entre o que foi o governo de Ronald Reagan e o que será o governo de Donald Trump. Além disso, é dito que Ronald Reagan seguiu o planejamento de Heritage Foundation e que Donald Trump também seguirá. Embora sejam planos diferentes, adaptados a realidades históricas diferentes.


Quanto a divisão de poderes, serão estabelecidos limites constitucionais para o legislativo, para o executivo e para o judiciário. Além disso, o federalismo será reforçado para maiores ações locais e autonomia entre as regiões.


Cybersegurança:
Um dos campos mais mencionados no livro é a questão da cybersegurança. A modernização e o investimento nesse setor é crucial para lidar melhor com inimigos/competidores externos, como a Rússia e a China. Além disso, serão analisados crimes virtuais. Outra preocupação que surge é o 5G e a corrida tecnológica com a China. Sem a supremacia tecnológica americana, muito dificilmente os EUA manterá a sua soberania global. Outra questão que entrou é a biotecnologia.


Educação e Trabalho:

Existirá um programa educacional especial voltado a promoção da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática. Fora isso, se priorizará a maior escolha das famílias quanto a educação dos filhos e uma educação mais voltada as transformações que ocorrem no mercado de trabalho.


Reforma Econômica:
O programa econômico do segundo Governo Trump será muito semelhante ao que chamamos de "nacionalismo liberal" em alguns aspectos. Ou seja, um "livre mercado" mais interno. Terá uma desregulação para maior liberdade empresarial, diminuição de taxas para que os empreendedores ganhem mais estímulos para empreender, promoção de negócios e investimentos que tenham correlação com interesses americanos.


Forças Armadas:
Com o avanço da Rússia na Europa e com o desenvolvimento rápido da China, tornou-se necessário uma renovação das forças armadas americanas. Alguns pontos elencados são:

– Inovação tecnológica para manter soberania;

– Aumento das capacidades nucleares;

– Investimento em tecnologia espacial;
– Investimento em armas avançadas;
– Investimento em inteligência artificial;
– Investimento em computadores quânticos;
– Investimento em robôs;
– Investimento em hipersônicos.


China:

A China vem sido considerada uma crescente ameaça ao domínio americano. Seu desenvolvimento constante e a expansão da sua influência global tem sido não só má vista pelos EUA, como também é um ponto de interrogação quanto ao protagonismo que os EUA exerce no mundo. O documento cita alguns pontos que são observáveis na China e que levam os EUA a uma preocupação constante:
– Rápida modernização militar;
– Aumento da influência econômica;
– Ambições estratégicas;
– Rota da Seda e aumento da influência global da China;
– 5G e corrida espacial.


Segurança interna:

Em relação a segurança interna, a imigração e a infraestrutura adentram. Os EUA têm encontrado um problema constante com imigrantes ilegais e com infraestrutura sucateada. Problemas que se não forem corrigidos, podem levar a ruína do Estado americano. Para tal, o documento pontua algumas necessidades:

– Segurança nas fronteiras;
– Controle da imigração;
– Proteção da infraestrutura crítica;
– Maior capacidade de responder desastres.


Proteção Contra Influência Externa e Informação:

O documento também fala acerca da influência externa e dos serviços de informação para a segurança nacional. Além de não medir esforços sobre uma parceria com os aliados para o aumento da qualidade tecnológica para dar respostas rápidas contra agentes adversários. O autor lembra do período em que os EUA confrontou a União Soviética, também citou a era da guerra contra as ações terroristas e adentra na chamada "Segunda Guerra Fria" contra a China. Para uma maior segurança nacional, os seguintes movimentos serão tomados:

– Procurar a integridade de uma informação;

– Descobrir campanhas de desinformação e propaganda;

– Assegurar um sistema de votos seguro;

– Promoção da cultura da vigilância;

– Maior vigilância em redes sociais para possíveis táticas de subversão de agentes externos.


Respeito aos Direitos Civis:

A constante tensão entre a necessidade de proteger os Estados Unidos e os direitos civis para assegurar a liberdade dos indivíduos requer um questionamento frequente acerca das ações que serão tomadas para não prejudicar os lados dessa balança entre segurança e liberdade. O documento fala sobre transparência e respeito aos padrões de ética.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 5)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


Usualmente confundimos a nossa realidade espaço-temporal como uma realidade fixa. A razão disso é pelo fato de que estamos imersos nela, o que a torna imperceptível. O estudo da história e de outras culturas, por sua vez, ajuda na relativização das nossas noções enraizadas e, até mesmo, uma possibilidade de imaginar um outro mundo de possibilidades.


A divisão de tarefas dentro de uma sociedade é um produto recente de nossa história. É evidente que quanto mais tarefas desempenhadas por uma sociedade, maior será o nível de especialização e fragmentação das atividades entre distintos grupos e pessoas. Todo esse desenvolvimento prodigioso leva a melhoras quantitativas e qualitativas. Só que há um porém: essa riqueza que é gerada é concentrada nas mãos de um grupo minoritário da população.


A pergunta que temos que levantar é: como é possível que uma minoria de indivíduos detenham para si grande parcela de uma riqueza produzida por uma sociedade? A resposta é: a natureza das leis, na maioria dos casos, não serve ao interesse geral de uma sociedade, mas ao interesse da classe dominante.


A riqueza é criada pelo trabalho físico de vários trabalhadores. Só que não é a classe trabalhadora que recebe os benefícios da riqueza que ela produz. A riqueza é controlada pela classe dominante.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


O que diferencia o homem dos outros animais? Talvez as centrais diferenças dos homens para os outros animais está na forma com que vemos o mundo a nossa volta. Temos uma consciência mais elevada não só de nós mesmos, mas do mundo ao redor. Consciência suficientemente boa para poder moldar a realidade por meio da transformação do meio.


A animalidade tende, no geral, a se proteger do meio. A humanidade se distingue da animalidade geral pela alteração do meio. O progresso cultural não é apenas um progresso imaterial, é um progresso da humanidade em relação a alteração do meio. Alteração do meio com o propósito de atender as necessidades, sonhos e ambições dessa humanidade.


A humanidade altera os meios para comportar a própria humanidade. A humanidade transforma desejo em verdade. É evidente que falhamos e erramos diversas vezes nesse processo, mas o fato inegável é que a humanidade continua. Sempre em frente, alterando cada parte em prol dum objetivo.


A interação entre anseios humanos e meios gera diferentes formas de relação. Essas relações são pautadas pela distribuição dos recursos. A distribuição dos recursos é pautada, por sua vez, na capacidade de produzir.  Quando os meios de produção mudam, muda-se também a cultura. As forças de produção alteram sociologicamente as relações de produção.


Os idealistas acreditam que podem mudar o mundo pelos céus, os mecanicistas materialistas acreditam que a natureza humana não é modificável. A história demonstra que os meios de produção alteram a cultura.


A mentalidade também é preocupante nesse caso. A mudança tecnológica é muitas vezes paralisada em prol de um tipo de privilégio que não se quer perder. Então os poderosos se juntam e entravam o desenvolvimento da tecnologia. Não é um fatalismo tecnológico, existe também relações sociais que permeiam o avanço e o entrave.

sábado, 9 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


As ideias, por si mesmas, não possuem força de caráter suficiente para mudar o mundo. O comportamento humano depende muito das forças materiais. É a forma que os recursos são postos a nossa disposição que molda o nosso comportamento. Esse ponto de vista é chamado de materialista.


Marx encarava a história com um olhar de suspeita. Os idealistas e os religiosos criavam uma teoria histórica que lhe parecia imprecisa. Marx queria uma visão histórica que fosse mais científica para esmiuçar melhor as mudanças sociais. Uma teoria que não dependesse de "Deus" ou de "mudanças espirituais".


A mudança que Marx propôs seria uma mudança de um ponto de vista misticista do estudo da história para um ponto de vista científico do estudo da história. Uma melhora significativa no fazer histórico.


É evidente que Marx não foi o único materialista a pensar na natureza humana e em seu comportamento. Do mesmo modo que existe uma perspectiva de mudança social a partir de uma teoria mais progressista da história existe algo proporcionalmente inverso. Muitos falaram da natureza humana de modo determinista, sendo o homem agressivo, dominador, competitivo e ganancioso. A mulher, por outro lado, seria mansa, submissa, deferente e passiva.


A existência de múltiplas sociedades com modelos sociais distintos revela que a natureza humana é bem mais diversa e mutável do que inicialmente estamos dispostos a crer. Querer reduzir a sociedade ao nosso modelo é um reducionismo produzido pela nossa ignorância acerca da diversidade humana.


A natureza humana não pode ser imutável e, ao mesmo tempo, tão diversificada. Como a natureza pode ser "una" e "múltipla" ao mesmo tempo? Deve existir, é claro, um ponto de unidade que designamos de "natureza humana", todavia ela não se reduz a uma imobilidade. A "natureza humana" tem um império de singularidades e alternâncias de comprovações históricas múltiplas e irredutíveis.


O problema central de muitas teses materialistas de rivais de Marx está no fato de que eles confundiam a natureza humana com a própria natureza das suas sociedades. Eles entendiam o mecanismo da sociedade em que viviam. Só que eles não compreendiam as mais diversas outras sociedades para compreenderem que a natureza humana é múltipla e pode ser transformada.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


O desenvolvimento do capitalismo industrial trouxe enormes conflitos sociais. Todavia ele veio acompanhado de ótimos benefícios sociais também: pela primeira vez na história poderíamos nos defender de calamidades naturais. O problema é que esses benefícios sociais não estavam disponíveis para a ampla maioria da população. Muito pelo contrário, grande parte dos recursos e melhorias não foi só destinada a parcela mais rica da população, como em vários casos a vida dos trabalhadores piorou muito.


O desenvolvimento da civilização deveria trazer aumento do bem-estar geral, ampliando na vida de todas as pessoas a possibilidade de uma vida permeada de felicidade. Em vez disso, o capitalismo industrial brindou o mundo como uma gigantesca miséria e distorção social. O que era uma contradição: a maior salto de produção de riqueza veio acompanhado do maior salto de miséria.


Marx teve muitos contrapontos, seja na esquerda ou na direita. Muitos dos seus contrapontos de esquerda eram chamados de "idealistas" pelo próprio Marx. Marx chamava-os assim pelo fato de que as suas ideias estavam desvinculadas das condições de vida que as pessoas viviam. Suas propostas não estavam completamente erradas, mas eram isoladas da realidade e isso tirava a substancialidade e possibilidade de concretização real de seus propósitos.


A alienação pode ser descrita como muitos fenômenos. Creio que uma forma de definir a alienação é como uma incapacidade de compreender o processo socioestruturante em que a realidade se move. Para compreender uma estrutura, faz-se necessário uma sistematização do pensamento. Ter vários pontos isolados nos torna incapaz de ver a totalidade de fenômenos que se movem. É preciso um pensamento que se amplie, amplie-se no processo sistematizante duma compreensão cada vez mais rica dos fenômenos sociais. Desalienar-se seria um processo sem fim, tal como uma discussão aporética.


Essa elucubração acerca da alienação não explica a razão do surgimento da alienação. Onde surgiria esse fenômeno? Em que ponto ele surgiria? A alienação é um "ponto" em que a experiência real é ignorada em prol de um prazer momentâneo que não muda a condição precária da vida em si mesma. Ela pode ser forjada socialmente por meio da educação, da mídia, dos influenciadores. Ela pode ser forjada por uma vida dedicada a drogadição como escape da realidade. Estamos imersos num corpo social e esse corpo social determina, em parte, naquilo que creremos.


A última afirmação do parágrafo anterior é, no entanto, inconclusiva. Todos temos uma formação social e estamos dentro de uma sociedade, isso soa determinista. Se estamos determinados sociologicamente, como podemos, então, ter um pensamento fundamentalmente diferente da sociedade que nos originou? A resposta para essa pergunta é: aquilo que nos é passado por meio de uma série de propagandas e aquilo que ocorre na vida do dia a dia sempre se encontram em choque. É por isso que começamos a imaginar e a teorizar um mundo diferente do nosso e das crenças que nos passam.

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


Qual a necessidade de uma teoria? Quando falamos da necessidade de uma teoria, embora tenhamos que pensar na prática, temos um grande problema em mente. Hoje em dia se acredita que o marxismo é uma teoria obscura deixada apenas para alguns poucos intelectuais privilegiados que possuem uma capacidade intelectual suficientemente forte para compreender toda a sua estrutura em um nível suficientemente claro. Também existe o caso contrário que afirma que o socialismo falhou e falhará, que é um terraplanismo econômico e que está viciado numa mentalidade reacionariamente burocrática e totalitária.


O socialismo é descrito como muitas diferentes coisas. Uma das principais é a de que o socialismo está certo na teoria, mas falha na prática ou no dia a dia. Suas ideias seriam boas, até mesmo bem intencionadas. Só que a sua aplicação seria na melhor das hipóteses complicada e na pior das hipóteses uma loucura que nos colocaria no inferno terrestre.


Estamos envoltos em teorias sociais, algumas com esboços mais complexos em nossas mentes e outras com esboços menos complexos. Não há uma pessoa que tenha uma teoria acerca do funcionamento da sociedade. Todavia quando entramos em um debate nos separamos com aquela velha frase: "ah, mas isso é teoria". Chegamos a conclusão de que ter "teorias" é algo ruim e que deveríamos nos entregar a prática da vida real. Só que toda vida real está permeada por teorias. A diferença é que, na maioria das vezes, não percebemos que existem teorias dentro de nós. Meio que estamos socialmente criminalizando algo que nos é inato, deixando que tudo fique inconsciente e inconcludente dentro de nossas cabeças.


Os meios midiáticos têm, dentro de si, um escopo teorético que norteia o seu agir ideológico. Isto é, os meios comunicacionais não atuam por uma mera prática qualquer. Eles atuam tendo uma visão. Essa visão é, na maioria das vezes, não muito clara. Apresentam-nos visões sem pingos nos "is" como "o mercado reagiu mal", "temos que nos aliar ao Ocidente", "a educação deve ser mais voltada as demandas do mercado para que haja maior garantia de emprego". Tudo isso tem uma teoria por trás, mas esse debate nunca é esmiuçado e é sempre passado com a notoriedade de um bom especialista que diz tudo sem dizer a razão integral que move o seu dizer.


Qualquer pessoa que quer uma sociedade melhor, seja qual for a sua linha de pensamento, precisa de uma teoria. Essa teoria pode se aperfeiçoar com a prática, mas ainda assim se faz necessário uma teoria. Não reconhecer a necessidade de uma teoria é uma falha e impede o desenvolvimento do pensamento para uma condição de melhoramento social. Tudo ficaria como um monte de peças soltas espalhadas em nossa mente.


Quando pensamos no socialismo e em seu desenvolvimento, pensamos no surgimento do capitalismo industrial. Nele várias pessoas foram reduzidas a uma condição precariedade laboral. Dali surgiram uma série de lutas para a melhoria das condições de trabalho. Vários teóricos começam a esmiuçar as questões sociais e a contribuir, pouco a pouco, ao desenvolvimento de uma sociedade socialista em que poderíamos todos ter acesso a condições melhores de vida. Muitos dos nossos direitos foram conquistados com esses desenvolvimentos.

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 3 – Final)

 


Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them


Autor:

Deng Xiaoping


A mobilização de um país é um trabalho político. É criar uma unidade de vontade no meio de uma série de pessoas que estão inicialmente dispersas. Quando pensamos nisso, nos damos conta que é um esforço hercúleo para fazer valer uma vontade geral de realização em meio a uma inércia ou uma dispersão. Tal feito deve ser sempre considerado. Não é fácil pegar pessoas que, mesmo considerando a sua proximidade pela cultura, estão inicialmente longe umas das outras e colocá-las em prol de um objetivo comum.


Um dos maiores problemas que se desenvolveu nesse recrutamento foi o fato de que grande parte dos recrutados eram pessoas comuns. Essas pessoas comuns não estavam acostumadas a vida militar e as batalhas travadas durante a guerra. Houve um exercício educacional para habituar essas pessoas a essa nova realidade. Dando a elas unidade e disciplina.


Foi necessário criar, dentro daquele povo guerreiro que surgia, uma disciplina e um controle racional. Não só isso, era necessário que essas duas faculdades salutares ao exercício da guerra se encontrassem com um trabalho político. Ou seja, a arma não era só um objeto que estava agora em suas mãos, era também uma consciência política do dever que desempenhavam naquela ardua batalha que se travava.


Os comunistas chineses sabiam de algo que transcendia a mera luta em si. Eles sabiam que a consciência política é uma arma. A repressão e a coerção não podem gerar pessoas leais ao cumprimento de uma guerra. Uma luta ardorosa requer um forte compromisso com ideais a serem defendidos. Sem fortes ideais, o compromisso e a unidade são pífios.


Os novos ingressantes da batalha de libertação nacional tinham uma consciência do que enfrentariam diante daquelas trincheiras de sangue. Não só uma consciência da morte que permeava o local, eles também tinham a consciência acerca do grande objetivo que estavam traçando por meio dos seus corpos e mentes. Tornando-se, pouco a pouco, mais capazes de compreenderem a complexidade política da qual estavam envoltos.


Houve também um intercâmbio entre os soldados mais experientes e aqueles que entravam na batalha. Os soldados mais experientes lhes deram o conhecimento das habilidades militares. Também se supriu a necessidade de alimentação e roupa, para que todos se sentissem mais bem dispostos para a batalha. Um esforço de estabilização das forças armadas chinesas.


Pouco a pouco, os novos ingressantes foram aprendendo sobre a disciplina e o controle da racionalidade. A educação e a persuasão eram artes do convencimento daquilo que se almejava deles: a libertação do seu país e a segurança daqueles que amavam. Também foi necessário uma aproximação das famílias, o contato não foi cortado. As famílias os visitavam e os entretinham. Também haviam trocas de cartas de encorajamento. Tudo isso criou uma maior estabilidade mental e social para o prosseguimento daquela batalha.

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them

Autor:
Deng Xiaoping


Para sobreviver ao avanço japonês se fazia necessário uma alteração nos métodos de recrutamento. Não só isso, era necessário um movimento pedagógico para que o povo compreendesse que deveria repelir a agressão japonesa. A compreensão da necessidade da luta e um método de recrutamento para a gloriosa libertação nacional deveriam ser o foco do movimento de libertação nacional.

O movimento de recrutamento deveria ser, nas palavras de Deng, um movimento de agitação e propaganda. Esse movimento de propaganda teria: óperas, músicas, jornais, conversas privadas. Todo esse movimento de conscientização se demonstrou muito mais assertivo que um recrutamento movimento por coerção.

Outro movimento muito interessante foi o fato de que convidavam pessoas para jantares. Nesses jantares militares e civis se encontravam para conversar e compreender mais da natureza da guerra que estava em curso. Foi ali que o povo compreendeu que bons homens poderiam sim entrarem na guerra para defenderem o país e as pessoas que tanto amavam.

Uma das condições necessárias para a vitória da guerra contra o Japão foi a incorporação da guerrilha como uma prática. Isso enriqueceu demais a luta libertacional. O que se juntou a propaganda, a educação e a persuasão.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 1)



Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them

Autor:
Deng Xiaoping


Quem poderia ganhar uma batalha contra um inimigo formidável como o Japão naquela época (1938)? A questão não era tão somente encarada a curto prazo, mas a longo prazo. A batalha era também de resistência e de persistência. Mobilizar toda uma população não é tão fácil, mesmo durante um período de guerra. Ao contrário do que se espera, as pessoas não de movem tão facilmente mesmo quando são ameaçadas por um invasor externo.

A problemática chinesa se encontrava em três gravidades. Uma delas era que culturalmente se tinha a crença de que um bom homem não utilizava armas. Em segundo lugar, havia a educação das massas. Em terceiro lugar, o modo em que o recrutamento era executado poderia trazer um questionamento acerca da ética desse recrutamento, sobretudo por parte das famílias que criavam uma resistência ou de pessoas que se sentiam ou eram coagidas para lutar.

Durante esse período, encontraram-se uma série de erros. Um deles era a incapacidade que as pessoas tinham de compreender que o futuro do país estava na balança. A necessidade de combate exigia uma mobilização, não uma fuga. Ademais, o governo se demonstrava incapaz de aumentar a sua capacidade de defesa, o que fazia com que o povo ficasse insatisfeito perante a ausência de resultados.

As pessoas não compreendiam o que era que movia tantos homens. Elas não compreendiam aquele sentimento que muitos homens compartilhavam na luta contra o inimigo. Elas não compreendiam o amor que eles tinham pela sua nação e por suas famílias. Ou seja, elas não compreendiam a fé que movia as suas almas. A partir dessa descrença, não poderiam compreender a unidade das forças armadas e o povo. As forças armadas, quando bem pensadas, tem uma unidade para com o seu povo: eles querem a proteção do povo e da nação que tanto amam. Muitos não só odiavam as forças armadas, como odiavam ter entrado nelas.

A guerra se trata de variáveis combinações. É preciso ensinar o povo a necessidade de autodefesa. Combater o inimigo interno e externo. Educar sobre a necessidade da luta. Vencer argumentativamente, militarmente se necessário, os colaboradores do adversário. Aumentar os números e vencer através da persistência e da resistência.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Acabo de ler "New Libertarian Manifesto" de Konkin III (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

New Libertarian Manifesto

Autor:
Samuel Edward Konkin III


Quando pensamos em libertarianismo podemos cair numa armadilha. Ao termos em conta a opressão do Estado, muitas vezes decaímos num desvio. Esse desvio está em mais de preocupar com a consistência da teoria libertária do que uma prática ou ação libertária. Com esse erro, pensamos mais na "perfeita idealidade" do que queremos conceber do que na concepção em si. O libertarianismo se torna, por fim, num esforço abstracionista e isolado no terreno da mente.

O esforço agorista vai em direção a outro sentido. Esse sentido não é só teórico, ele é um exercício prático que se transforma em algo teórico no processo de seu exercício. A questão é: uma sociedade livre, sem Estado, requer pessoas que possuam conhecimento do que estão fazendo e que aprendam com a prática do que fazem. Lacunas teóricas são consideradas, mas elas fazem parte do processo de aprendizagem. A liberdade sempre é assim, o preço da liberdade é a eterna vigilância.

A liberdade implica um risco e esse risco é o risco até mesmo de uma possibilidade de agressão. A defesa duma sociedade livre é algo que deve ser corretamente considerado, mas sem cair na reformulação do Estado enquanto agente de proteção dessa sociedade. E os inimigos internos e externos nos tentarão conforme nos dediquemos a essa sociedade e a essa prática.

A liberdade apresenta rápidos crescimentos materiais e não materiais, já que a liberdade é uma expressão artística não violenta. Todavia precisamos cuidar para que essa sociedade não se autodestrua no processo. 

sábado, 2 de novembro de 2024

Acabo de ler "New Libertarian Manifesto" de Konkin III (lido em inglês/Parte 1)



Nome:
New Libertarian Manifesto

Autor:
Samuel Edward Konkin III

Não importa qual vertente teórica esteja estudando, a coerção sempre aparece como fator notório no campo de análise. A forma como devemos lidar com a opressão, nas linhas que estamos, é variável. Alguns buscam catalogar o que seria uma boa coerção, outros tentam colocar uma coerção mínima. Existem aqueles que compreendem que toda relação humana envolve um jogo de poder. Há aqueles que querem abolir a coerção. Essa variedade não pode ser ignorada e nem abolida do debate.

Qual seria a fonte primordial da opressão? Se não a fonte primordial, qual seria a pedra angular ou, precisamente, aquilo que faz com que uns possam se sobrepor aos outros nas relações sociais? Se existe um fator decisivo na balança da opressão, esse fator decisivo é o Estado. Por tal razão, não convém a nós perguntar se o Estado deve ser alterado, se o Estado deve ser mudado e, se me permitem ir mais longe, se o Estado deve acabar? Esse livro fala sobre estratégias e táticas para acabar com o Estado, mesmo que isso soe um absurdo para alguns.

Konkin III tem um ponto: ele defende uma mudança cataclismática e uma grande estratégia. O que ele propõe, em outros termos menos brandos, é uma revolução. Uma revolução diferente da maioria das revoluções, já que seria uma revolução contra o Estado. Uma proposta bem ousada, já que o Estado sempre é utilizado para beneficiar um grupo e atacar outro. Muitos revolucionários, na sanha de mudar o mundo, recorrem ao Estado para os seus propósitos. Konkin segue uma linha diferente, não podemos mudar o mundo por meio do Estado pois o Estado é propriamente o culpado do mundo assim estar.

A pergunta que virá a muitos é: por qual razão o Estado? O Estado é propriamente a instituição da coerção, a centralização da imoralidade, o aparelhamento do roubo e do assassinato, a coordenação da opressão numa escala inconcebível para criminosos menores. O Estado representa um poder que é grande demais para qualquer pessoa, um poder que sempre poderá ser usada contra nós, um poder tamanho que nenhum de nós deveria possuir. Naquele tempo em que esse documento foi escrito, o Estado já tinha matado mais do que qualquer período da história; o Estado tinha roubado mais do que em qualquer período da história; o Estado já tinha iludido mais que em qualquer período de irracionalidade da história.

O que foi o século XX? O século XX foi o século em que a guerra matou mais que todas as anteriores. Em que as taxas e a inflação roubaram mais do que já foi produzido. Em que as mentiras políticas, em que a propaganda e em que a "educação" confundiram mais do que qualquer superstição na história.

Qual seria a solução para todo esse poder sempre distorcido pela natureza do Estado? Confiar ao Estado maiores possibilidades de distorções futuras com nossos nobres ideais? O Estado é a distorção, ele sempre distorcerá. A ação revolucionária não pode, por sua vez, se embasar no uso do Estado pois o Estado sempre a distorcerá.

O chamado de Konkin não é um chamado para ocupar o Estado com propostas reformistas. Não é o de criar um "Estado revolucionário". O chamado de Konkin é por uma unidade revolucionária de libertários que não aceitam a principal raiz de distorções: o Estado. Para tal, o libertário deve viver de forma alternativa ao poder do Estado. O movimento libertário deve ser um movimento de criação de alternativas ao Estado para destruir o Estado.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 7 – Final)

 


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


Para Murray, existem dois paralelos. A história da ação não-estatal, marcada por uma cooperação e competição. A história estatal, marcada pelo domínio e uso da força. Essas duas histórias sempre se cruzam, ora tendendo para um lado, ora tendendo para outro.


Os argumentos que o Murray utiliza contra o Estado são, é claro, bastante interessantes. Há uma verve libertária inegável. Embora se possa afirmar que exista uma simplificação dos fenômenos sociais e psicológicos. Além do Estado, existem opressões sociais. O Estado pesa muito no exercício dessas opressões, todavia elas não necessariamente precisam do Estado para existirem. De qualquer forma, pensar num mundo sem Estado e estabelecer uma crítica ao Estado é de suma importância para o debate e Murray não pode ser simplesmente ignorado ao fazer isso.

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 6)


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


Recebemos, inúmeras vezes, a ideia de que o Estado é um instrumento de primeira categoria na alavancagem da ordem social e da civilização. Seria essa informação verdadeira? Existem vários Estados através do mundo. As relações entre diferentes Estados gasta muito tempo e energia. Se uma área é inabitada, por exemplo, um Estado poderá requerer monopólio sobre ela. Se outro Estado a quer, se estabelece um conflito. O Estado quer o monopólio de força e violência, para extrair recursos e utilizá-lo como bem queira. Em relação ao Estado, a história demonstra que os períodos de paz são mais episódicos e singulares do que os períodos de guerra. Os últimos são sempre mais constantes.


Quando pensamos nos cidadãos de todo mundo e a natureza de guerra contínua dos Estados entre si, podemos levantar a seguinte pergunta: quem, de fato, se interessa pela guerra? Não é possível que um Estado represente a totalidade dos interesses dos seus cidadãos. É impossível que todos os cidadãos de um determinado país estejam, por assim dizer, particularmente interessados na guerra e a apoiem de fato. A concordância de um cidadão com o seu Estado nunca se dá de maneira integral e nunca se dá em todos os tempos.


O Estado não tem uma legitimidade perfeita e plena tal como sempre alega em sua autodefesa. O Estado tem, no máximo, uma aprovação temporária e parcial. Quando o Estado começa a tomar ações por aqueles que ele julga seus representados, geralmente ele se julga acima desses representados em expressar os seus verdadeiros desejos. Já que é da natureza do Estado não representar integralmente os desejos de seus representados, mas o desejo daqueles que estão ancorados em suas estruturas de poder.


Talvez seja um absurdo anunciar isso, mas o Estado deve constantemente se reinventar para demonstrar que possui alguma legitimidade. Já que o que interessa ao Estado é manter essa mesma legitimidade para gozar do benefício de usurpar os seus cidadãos. A razão das pessoas quererem manter o Estado está mais ligada aos seus interesses do que os interesses da coletividade. E os interesses dos dirigentes do Estado ora menos ora vai contra os interesses daqueles que são considerados cidadãos do próprio Estado.

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 5)

 


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


O Estado quase sempre acaba de duas maneiras: (I) ao ser conquistado por outro Estado pela guerra; (II) ao ser derrubado por um grupo de revolucionários. Quando o povo se move nessas duas direções, seja para o combate do Estado inimigo, seja para a revolução, movem-se pela crença de que, no fundo, estão se dirigindo para a realização da própria vontade ou para defenderem a si mesmos.


O ilusionismo coletivista sempre é, historicamente, um dos principais meios de mobilização. A palavra "nós" é algo muito difícil de se conceituar com precisão. Sim, fazemos parte de uma formação específica e estamos situados no espaço-tempo. Nossa língua talvez seja igual e quiçá tenhamos pontos semelhantes. Todavia pegar uma série de características comuns e, a partir disso, criar uma unidade perfeita de coesão é um salto argumentativo tremendo. Existem pontos, em cada indivíduo, de conexão ou de separação. No máximo, podemos falar de interesses semelhantes ou próximos em dados pontos em alguns momentos. Não há nem coletividade e nem individualidade plena.


O momento em que isso, o ilusionismo coletivista, mais ocorrer é durante uma guerra ou durante uma revolução. O Estado está particularmente interessado na guerra, já que é a partir dela que ele pode utilizar um dos maiores mecanismo de autopreservação que possui: a crença dos indivíduos de que a sociedade existente e o próprio Estado são uma mesma identidade e, portanto, possuem os mesmos fins.


Seríamos nós o Estado? Há um entretanto particularmente interessante. Se o Estado somos nós, por qual razão o Estado está mais preocupado em punir crimes contra a existência de si próprio do que crimes cometidos de um cidadão para outro? Ora, todo crime dentro do Estado, sendo a sociedade o próprio Estado, seria um crime contra o Estado e teria igual valor, não?

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


A relação do Estado com intelectuais é bastante complexa. Duma série de conceitos ou políticas criados, inclusive para reduzir o tamanho ou o poder do próprio Estado, todas sempre se demonstraram falhas em frear o Estado em sua expansão. Quando conceberam a democracia moderna, pautando o poder pelos "anseios do povo", acreditaram que a tirania seria freada. Todavia esse mecanismo se tornou um mecanismo dentro do poder de repressão do próprio Estado. De modo semelhante, a ideia de direitos naturais se tornou algo que o Estado mesmo deveria promover. O utilitarismo se tornou uma justificação para as ações do Estado.


O propósito inicial da constituição americana era, por exemplo, limitar a possibilidade de tirania que o Estado poderia causar caso fosse deixado livre. Todo cidadão americano identificava, na constituição, os limites que asseguravam a sua vida da tirania. Só que havia um porém: ao identificar na constituição do Estado a própria segurança contra o poder do Estado, ele legitimou a existência do Estado. O Estado, por sua vez, aproveitou-se disso para sorrateiramente justificar a sua existência e ação através do tempo. O Estado conseguiu isso através da chamada "revisão judicial". Essa "revisão judicial" ampliava a ação do Estado conforme o tempo passava com base em revisões que seriam supostamente feitas para que o Estado cumprisse a sua própria função.


As raízes da expansão do Estado americano estavam contidas na própria crença de que a constituição era legítima. Crer na constituição do Estado americano era acreditar, por pressuposto, na legitimidade do Estado americano. Só que há um problema nessa legitimidade: o Estado só pode fornecer essencialmente algo que ele proibiu ou limitou os outros de fornecerem por si mesmos. Se o Estado é de fato bom nisso, por que as suas funções não são voluntariamente aceitas? Ao acreditar na arbitrariedade e na contingência do Estado americano, o americano passivamente autorizou a existência do Estado.


Se a existência do Estado americano era justificável pela as suas decisões serem ínfimas, não atacando liberdades essenciais concernentes aos indivíduos, o rumo americano foi logo mudado. O Estado americano foi fundado com a premissa de que ele seria diferente de todos os outros, essa diferença estava em seu tamanho enxuto. O seu tamanho era enxuto pois os outros Estados tinham feito enormes tiranias e ações arbitrárias em nome seus cidadãos. O caminho pro Estado americano se refundar e expandir o seu tamanho se encontrava dentro da própria legitimidade que os americanos davam e dão a constituição.


Quem poderia, dentro dos Estados Unidos, decidir k quão pequeno o Estado pode ser com base na constituição? Em última instância, esse papel depende da Suprema Corte. Só a Suprema Corte pode vetar uma decisão e só dependeria dela interpretar se algo é um aumento nocivo do Estado ou se algo é uma função natural do Estado. Nenhum outro cidadão deteria tal função, nenhum outro grupo, apenas os próprios burocratas que estavam mais interessados em seus próprios interesses enquanto grupo burocrático do que nos interesses de cidadãos particulares.


Quando pensamos no Estado, geralmente pensamos nas condições mais ilustres acerca da dignidade que ele supostamente tem. O problema é que o Estado não é e nem pode ser confiável. O Estado tem poderes que nenhum cidadão privado, por assim dizer, poderia exercer. Esse poder está nas mãos de pessoas que são movidas pelos mesmos interesses do cidadão comum, isto é, a maximização do seu próprio bem-estar. Quando alguém adquire poderes acima dos normais, essa pessoa sempre se corromperá por se habituar ao uso de um poder que, para começo de conversa, deveria ser proibida de obter. O aumento da tirania do Estado não é um acaso ou uma deturpação, ele é a própria natureza do Estado. Já que o Estado é, em si mesmo, corrupto. E a tendência do uso do seu poder corrupto é a corrupção e o aumento das justificativas dessa corrupção.

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome:

Anatomy of the State



Autor:

Murray N. Rothbard

Quando um grupo de indivíduos se apodera do poder de dado território, ele precisa conseguir o aval da maioria da população. Esse aval não é conseguido só em processos de governos democráticos, esse processo é necessário em qualquer governo. A busca por legitimidade e legitimização é inerente a perpetuação de qualquer Estado, seja qual for o seu modelo organizacional.

Essa legitimidade é conquistada usualmente pelo fato de que o Estado busca importantes grupos sociais, extraindo apoio dos líderes desses grupos sociais. É pegando para si as lideranças dos grupos que compõem o território que o Estado é legitimado. Esse processo, mais uma vez, não é só dentro do regime democrático, mas dentro de qualquer regime.

Conquistar o apoio das "lideranças", dando-as um título de nobreza ou algum cargo estratégico, o Estado não poderia deixar de pensar nas grandes maiorias. As grandes maiores não se convencem unicamente com a participação dos seus representantes. A aprovação social de um indivíduo pode mudar. Para conseguir o apoio da maioria, o Estado apela para os meios ideológicos. Ele convence a maioria das pessoas que a existência do Estado é inevitável, que ela é boa ou prudente.

Para a tarefa de convencer a população do território acerca da importância do Estado, o Estado busca auxílio de intelectuais que convençam o homem médio a confiar nele. A aliança dos intelectuais e do Estado é bastante antiga, o intelectual precisa de um anteparo financeiro e o Estado precisa convencer a população da necessidade da existência do próprio Estado. Os intelectuais servem ao Estado convencendo as pessoas, moldando a assim chamada "opinião pública".

É evidente que o intelectual não necessariamente precisa do Estado para sobreviver e para desempenhar as suas atividades. Só que há um porém: a vida do intelectual, o seu sustento, é incerto. A maioria da população não considera a importância intelectual e isso faz com que a sobrevivência, dentro de uma sociedade de mercado, seja incerta e sempre volátil. Por outro lado, o Estado não só está convencido da importância dos intelectuais, como quer eles do seu lado e oferece aos intelectuais a comodidade necessária.

Os intelectuais, não sendo bobos, se ancoram no Estado para poderem darem continuidade as suas existências. Para tal, criam vários argumentos através da história. A ideia de que o imperador/rei tinha sido eleito por Deus; a ideia de que os nobres eram uma elite de pessoas notáveis; a ideia de que o Estado reuniu ao seu redor os melhores especialistas para tratar dos problemas públicos. Tudo isso consta. Acima de tudo, o Estado seria inevitável, em último caso, visto que o mundo tem muitos males.

O maior alicerce do Estado, como apontado por Rothbard, é o de transformar o roubo não sistemático e privado em algo mínimo. O Estado seria, então, um mecanismo avançado de roubo que não permite que existam outros mecanismos que pratiquem a sua função primordial (roubar).

Existe outro mecanismo que o Estado utiliza para manter a sua legitimidade. As pessoas têm uma predisposição natural para amarem os seus locais de nascença. Esse sentimento natural se confunde com o apoio ao Estado. Muitas guerras, movidas por interesses escusos entre diferentes Estados, são manipuladas para que o povo acredite que é uma luta entre dois povos e não uma luta entre dois grupos com interesses distintos. Essa manipulação é toma forma de nacionalismo.

É claro que, após tantos e tantos anos de estatismo, isso gera um hábito. Muitas vezes, não questionamos a realidade ao nosso redor pelo simples fato de que ela nos aparece como sendo natural e não forjada por construções sociais. A forma com que nos assimilamos hoje ao Estado se dá de semelhante maneira: nossos pais eram governados pelo Estado, os pais dos nossos pais eram governados pelo Estado, assim foi sucessivamente. Nossa mente simplesmente concebe que: se o Estado apresenta continuidade no espaço-tempo, ele não pode ser uma produção artificial. O Estado, para nós, aparece como uma figura tão natural quanto qualquer outra coisa que esteja a nossa volta.

O pensamento que o Estado utiliza para se legitimar ante aqueles que condenam a sua existência é, muitas vezes, um apelo ao passado e a sua própria longevidade histórica. Se a maioria das pessoas se habituou as práticas dos diferentes Estados, como é que poderíamos considerar a sua existência estranha ou indesejável? Os intelectuais que possuem visões antiestatais são considerados como estranhos, estando longe dos anseios da maioria e o Estado usa essa maioria, que raramente pensa acerca da natureza do processo que levou a formação do próprio Estado, contra essa minoria. Desse modo, o antiestatista é classificado como uma pessoa com visões demasiadamente românticas, um insano, um perverso, dentre outras classificações pejorativas ou idealistas.

A justificação da existência e perpetuidade do Estado pode variar de época em época a depender do contexto, tempo e local que se situe. Ele pode advir da vontade divina, do absoluto ou das necessidades materiais das forças produtivas. De qualquer modo, não importa o argumento utilizado: o Estado sempre encontrará uma justificativa para existir e perpetuar a sua existência, não importa por qual meio retórico. Só que esse vaivém demonstra algo: que o Estado é, propriamente, uma construção social e depende de uma sociedade que justifique essa construção para existir.

A principal razão do Estado moderno é a justificação por meio das suas nobres causas. O Estado estaria acima das preocupações mesquinhas que motivam as ações de indivíduos particulares. É ele que promove tudo o que é bom para o bem-estar coletivo enquanto os outros só pensam em si mesmos. Não há, além do Estado e dos seus nobres burocratas, qualquer pessoa que tenha os anseios filantrópicos, por mais mínimos que sejam. Uma narrativa completamente falsa, mas que não deixa de ser convincente.

Outra razão do Estado existir, agora que não somos mais dominados por uma razão teológica, é a ciência. O Estado é a mais científica das organizações. Além disso, a ciência só existe por causa da organização do Estado. O Estado tem as melhores pessoas, as pessoas mais bem-intencionadas, em promover a melhor administração possível para a resolução de tudo. A ciência não existe sem o Estado. Ora, isso é outra alegação falsa. Completamente parcial e viciosamente narrativista.

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome:

Anatomy of the State



Autor:

Murray N. Rothbard


Nós nascemos sem nada no mundo. O estado natural do homem é a pobreza. A única forma de conseguir recursos é se mobilizando na produção, transformando a realidade e fazendo trocas por outros produtos. Só assim podemos transformar o espaço e aumentar o padrão de nossas vidas. Em certo sentido, o único meio de sobreviver é se envolvendo na dinâmica produção-troca de nossa sociedade.

Antes da sociedade de mercado, existiam outros meios de conseguir algo dentro de um espaço. Um dos meios era a chamada "lei da selva", onde homens disputavam entre si os recursos do espaço. A ausência do duplo mecanismo produção-troca fazia com que a disputa não fosse algo bom, mas sim uma batalha pela sobrevivência. Se pensarmos na anterioridade, a competição de mercado será vista como um mecanismo infinitamente mais civilizado do que a luta de todos contra todos.

Existem dois meios de se conseguir algo. Existe o já mencionado "meio econômico": baseado na produção e troca. O outro meio não é o econômico, mas se manifesta a partir da força. Isto é, você pode usar a força e violência para forçar os outros a darem os recursos, produções e serviços deles para você. Esse último meio é chamado de "meio político".

O "meio econômico" seria ditado pela lei natural. Você produz ou oferece algo, recebe algo por meio dessa troca voluntária. O outro meio, o "meio político", seria essencialmente autoritário. Seria um meio parasitário. Para conseguir fazer isso por um longo tempo, seria necessário colocar um monopólio. Esse monopólio apresentaria algo que só um grupo de indivíduos poderia suprir.

Se nos perguntarmos o que é o Estado, o Estado seria exatamente isso: a sistematização dos meios de parasitagem ou a organização do "meio político". O Estado é, por natureza, predatório. Só que um predador não pode ser tolerado facilmente, para ser tolerado ele precisa fazer com que a vítima não tenha uma defesa natural contra ele. Para tal, ele fornece uma "segurança" – ele ataca ladrões menores para poder ser o único ladrão – a sua vítima.

O nascimento do Estado não estaria muito ligado ao contrato social, mas sim a um grupo de conquistadores e dominadores. Esses conquistadores e dominadores fariam uma guerra, venceriam e tomariam conta do território, resolvendo seus "problemas de segurança". Ou seja, ele atacaria os "vilões menores" e estabeleceria uma coerção mais aceitável, uma violência menos brutal e mais sistemática. A natureza do Estado é de oferecer de forma sistematicamente mais organizada uma espécie de "repressão civilizada" e mascarar essa "repressão civilizada" com manipulações que façam que a vítima esqueça a sua real natureza.

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


O questionamento de Rothbard começa com uma simples, mas complexa, questão: o que é o Estado? A natureza do Estado é apresentada por diversos prismas: ele é descrito como a apoteose da sociedade; é descrito como amável, todavia ineficiente para cumprir os fins sociais; descrito como necessário para cumprir os fins sociais. A identificação da sociedade com o Estado cresceu junto a noção de democracia, na qual se chegou a conclusão de que nós somos o governo.


Quando falamos a palavra "nós", camuflamos certo aspecto da linguagem e encobrimos a natureza do Estado. Adentramos num reino de diluição em que nós mesmos nos tornamos "parte" do Estado. Assim adentramos, sem perceber, que aquilo que o Estado faz ou pode fazer tem nossa concessão. O que significa que as ações do Estado são nossas ou possuem, em automático, a nossa aprovação.


Para Rothbard, adentraríamos em águas amargas. Quando, por exemplo, o Estado nazista matava seus próprios cidadãos judeus, os judeus estavam concedendo a própria morte? Então não seria um projeto genocida imposto arbitrariamente por uma sociedade tirânica, mas um processo em que os judeus tiravam a própria vida em massa. É a partir disso que podemos ver que essa identificação automática do Estado e sociedade pode ser não só potencialmente nociva, como escandalosamente perigosa.


Não podemos ser "o governo", nem "o Estado". Se 70% da população decide matar 30% da população, isso não é de forma alguma um processo voluntário em que aqueles 30% de pessoas estão cometendo suicídio em massa. Genocídio ainda é genocídio, não importa se justificado pela via democrática ou pela maioria da população concentrada numa figura autocrática.


Se o Estado não é uma organização em que nós somos integralmente participantes, o que é o Estado? Basicamente o Estado é, de forma breve, uma organização que detém o monopólio de força e violência em determinado território. O Estado é a única organização social dentro de uma sociedade que não obtém as suas receitas através de uma troca voluntária de produtos ou serviços, mas através do uso da coerção. É o Estado que prende todos aqueles que estão contra ele, seja por uma série de motivos que são considerados pela própria preservação do Estado.

Acabo de ler "The Case Against Democracy" de Mencius Moldbug (lido em inglês)

  Nome: The Case Against Democracy: Ten Red Pills Autor: Mencius Moldbug Vendo o interesse contínuo na Nova Direita Cultural e no Iluminismo...