domingo, 1 de junho de 2025

Acabo de ler "Devil's Bargain" de Joshua Green (lido em inglês)

 


Nome:

Devil's Bargain — Steve Bannon, Donald Trump, and the Storming of the Presidency


Autor:

Joshua Green


Resolvi fazer complementos e hipóteses para o livro nessa análise, visto que os leitores já devem estar entediados com análises que ficam na mesma tonalidade e repetindo os mesmos eventos sem uma mudança qualitativa ou um acréscimo substancial. Esse blog não pode correr o risco de se tornar tediosamente repetitivo.


Os Estados Unidos, nos tempos atuais, se estabelecem mais como uma incógnita do que como uma estabilidade. A razão dessa incógnita é o fato de que os Estados Unidos estão num processo de autoquestionamento em relação aquilo que lhe fundou: a crença na ordem liberal (e o apego a ela). É disso que surgem movimentos que trazem ora um aspecto mais reacionário e ora um aspecto mais progressista. Não há ainda um desenho total de um Estados Unidos pós-ordem liberal. É por isso que pensadores e políticos como Christopher Lasch, Bernie Sanders e Patrick J. Deneen — além de várias pensadores progressistas pós-liberais ou conservadores pós-liberais — são de suma importância.


Creio que muitos americanos já estão estudando e pensando num Estados Unidos pós-ordem liberal (POL). A alt-right pega a sua influência de teorias que foram retiradas por sua toxicidade. Vários progressistas inspiram-se no modelo chinês e soviético ou num socialismo liberal ou, mais propriamente, num socialismo de mercado. Alguns conservadores aproximam-se do comunitarismo. De qualquer forma, há sempre uma tentativa de introduzir elementos que não se correlacionam com o modelo da ordem liberal e que, muitas vezes, demonstram-se antagônicos a essa ordem. Aparentemente, os americanos andarão entre o sincretismo e a síntese até formarem um quadro novo.


Enquanto iniciativas de uma política antimigração levantam sérias suspeitas de como os Estados Unidos racialmente vê pessoas de uma coloração não-branca e pessoas do Sul Global, pouco a pouco a China vai se consolidando com uma referência e como um modelo para um mundo pós-ordem liberal. Se os próprios Estados Unidos possuem dúvidas em relação ao seu próprio modelo, e eles são os principais representantes desse modelo, a China e o modelo chinês pouco a pouco assumem uma possibilidade no imaginário de muitas nações. Além disso, o crescimento das questões raciais levará um desenrolamento em que as pessoas verão, a cada dia, os Estados Unidos como um país racista e que odeia aqueles que, até então, o veem como um modelo e uma referência.


A Europa está fazendo um afastamento gradual dos Estados Unidos. Japão e Coreia do Sul vão, pouco a pouco, deixando as suas richas com a China. Austrália, mesmo de longe, toma precauções com o crescente isolacionismo econômico e político dos Estados Unidos. O Canadá, outrora um gigantesco parceiro historico dos americanos, vai se redesenhando politicamente e procurando um modelo em que ele se conecta mais com o mundo e tem uma preocupação mais soberana.


Creio que o leitor não sabe, mas o trumpismo e a sua mensagem já são, em si mesmos, um ceticismo americano para com o que é ou o que foi os Estados Unidos. Steve Bannon, de formação católica tradicionalista, já está ciente da forma com que os americanos estão ressentidos e questionantes. Os fundamentos centrais dos Estados Unidos vão, pouco a pouco, sendo vistos como um entrave. O que dá uma possibilidade de um anticapitalismo e um antiliberalismo de direita ou de esquerda. Quanto mais essa dúvida existencial e identitária surge e se consolida, mais os Estados Unidos posicionam-se ambiguamente, tornando-se um mistério que levanta a tempestade da dúvida no mundo.

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