Nome:
Everything Trump Touches Dies: A Republican Strategist Gets Real About the Worst President Ever
Autor:
Rick Wilson
Esse livro foi o livro que me fez apaixonado pela escola conservadora americana. Talvez seja porque eu vivo numa realidade em que a linguagem é demasiadamente formal e o grande público não chega a ter uma proximidade do conteúdo produzido por intelectuais — a linguagem acadêmica mata muito dessa possibilidade. Talvez seja pelo fato do livro ser engraçadíssimo e quebrar muito da nossa noção de uma linguagem engessada e burocrática foi o que me aproximou dele. Há por todo esse livro uma sinceridade que transborda, seduz e faz rir a cada momento. É um livro que pode ser considerado popular e erudito ao mesmo tempo sem um aspecto contradizer o outro.
Esse livro trata de uma questão bastante complexa: o que fazer quando tudo aquilo que ajudamos a construir é destruído por aqueles que deveriam estar do nosso lado? É por essa razão que esse livro é uma porta para uma perspectiva diferente. Ele traz a perspectiva de um conservador, de um homem que foi filiado, por muito tempo, ao Partido Republicano. E que viu o Partido Republicano trair todos os seus valores históricos por uma horda de fanáticos que se mexiam como manequins através de um hipnotismo conspiratório. Lembra-me um pouco do drama de Trotsky na União Soviética, e isso abre uma pergunta interessante: seria o conservador antitrumpista um trotskista de direita?
O que determina os princípios de um conservador? A aversão a ideia de que o Estado é a política, através da força da engenharia social, pode trazer o paraíso para Terra; a ideia de que a natureza humana é passível de erros e que nenhum ser humano é um anjo; a ideia de um Estado pequeno para se evitar a tirania do Estado em sua acumulação constante de poder; a defesa da liberdade de expressão, peça fundamental para o funcionamento do autogoverno; o império da lei para que não impere o império da força; o constitucionalismo que separa os poderes para que nenhum homem seja rei; o federalismo que fragmenta as esferas de decisão, aumentando a eficiência e reduzindo a concentração de poder. Trump e a sua trupe não são a encarnação de nada disso, mas justamente vão no sentido oposto de tudo isso.
Rick Wilson escreveu um livro controverso. Mesmo sendo um republicano de coração, de intelecto e de alma, ele precisou expor uma série de mentiras que levaram o Partido Republicano a se tornar o que se tornou. Para ser exato, o Partido Republicano se tornou, pouco a pouco, antirepublicano. Uma paródia de si mesmo e de tudo que veio a historicamente representar em seus momentos mais belos. Uma série de acontecimentos levam a uma perda contínua dos valores historicamente apreendidos. Tudo culminará na eleição da figura mais grotesca já criada pela história americana: Donald Trump.
A mensagem que Rick Wilson tenta trazer é uma mensagem de resgate. É o de trazer de volta o coração e a mente conservadora. De sair das fantasias políticas e embarcar nas vias tradicionais dos princípios conservadores. Em outras palavras, um resgatamento da crítica conservadora ao acúmulo sem fim do poder. O retorno da prudência. A noção de que as ideias têm consequências. Não caindo nos infortúnios das ideias perigosas das paixões passageiras.
Os Estados Unidos enfrentam o drama do império. Todo país que comporta vários povos dentro de si é espiritualmente um império. Ser um império é diferente de ser imperialista. Ser imperialista é defender uma posição beligerante, onde todos os outros ao redor devem der submissos. Ser um império, no sentido espiritual, é tão somente possuir vários povos. Por muito tempo, havia um ímpeto de ser tão somente uma república comercial. De ter só boas relações comerciais e seguir somente os próprios objetivos sem interferir no exterior. Os Estados Unidos deixaram-se, então, serem absorvidos pelas ideias imperialistas. As ideias imperialistas que eles mesmos deixaram de seguir para se tornarem o que são — o que levou ao abandono do Antigo Regime.
O Partido Republicano, pelo bem que se diga, buscou utilizar o ódio remanescente como estratégia eleitoral. Todavia esse ódio adentrou, pouco a pouco, em suas veias. Mesclando-se, pouco a pouco, como a sua própria natureza. Muitos conservadores, não gostando do rumo do movimento republicano, acabaram por deixar o partido. O que vem substituído os mais notáveis conservadores são os nacional-populistas de verve trumpista que entram em seu lugar.
O fim do livro é um alerta e uma esperança. Está na hora dos conservadores e daqueles que querem ser sinceramente conservadores aceitarem as batalhas perdidas. Aceitarem o casamento gay e a legalização da maconha, por exemplo. Mas o livro todo é sobre isso, de tornar o Partido Republicano conservador novamente. Com um respeito pela imigração, pelo livre-mercado e pelo livre-comércio e pela liberdade individual. Rick Wilson é um conservador clássico na época do conservadorismo populista, do nacional-populismo e da alt-right. O que Rick Wilson traz é a essência conservadora adapta aos tempos modernos, se demonstrando absolutamente capaz de articular os princípios conservadores de forma sólida.