quinta-feira, 15 de maio de 2025

Acabo de ler "Love letter to America" de Tomas Schuman (lido em Inglês)

 



Nome:
Love letter to America

Autor:
Tomas Schuman (Yuri Bezmenov)


Você já pensou nas táticas de subversão empregadas, dia após dia, para alterar a mentalidade de um país? E se você recebesse, em primeira mão, a forma e o conteúdo tático de tais táticas de subversão? Você acreditaria ou diria que tudo isso é uma teoria da conspiração? E a questão que vem a seguir: será que todo o conteúdo do que recebeu é uma teoria da conspiração? O que faria a seguir? Deixaria que a mensagem se espalhasse ou simplesmente jogaria fora? Guardaria tudo para si?

Enquanto estudava o conservadorismo americano para compreender a anatomia do debate público, além do plano do Project 2025, acabei por me deparar com algumas fontes que afirmavam que havia um plano de subversão em curso nos Estados Unidos. Como já investigava a ideia de Segunda Guerra Fria, tive que estudar os arquivos do Hoover Institution e ver fontes de táticas empregadas dentro do contexto da Primeira Guerra Fria.

Vamos fazer uma breve recapitulação:

  • A notícia sobre o Project 2025 abalou o mundo inteiro;
  • Daquele período em diante, minha busca foi entender como pensavam e como estrategicamente agiriam os conservadores e anticomunistas nos Estados Unidos;
  • Entrei em contato com vários conteúdos diferentes, mas de alguma forma enquadrados, cujo os mais proveitosos foram os da Hillsdale College, da The Heritage Foundation, do Hoover Institution;
  • As fontes me apontaram que precisava ter um conhecimento maior acerca do debate público americano, além de uma perspectiva histórica mais bem delineada;
  • As fontes indicavam uma Segunda Guerra Fria ou uma tentativa de recriar um novo quadro em que uma Segunda Guerra Fria seria possível;
  • Vídeos como "America's Civil Cold War" da Heritage Foundation foram um marco na análise, o que me levou a buscar compreender o aspecto da Primeira Guerra Fria como um dos pontos essenciais;
  • Li mais livros de conservadores para compreender o que eles acreditavam, o que estava — segundo eles — sendo ameaçado e o que eles fariam para impedir isso;
  • Me dispur a estudar livros sobre como está funcionando o Partido Republicano atualmente;
  • Agora estou analisando livros, documentos e artigos a respeito da Primeira Guerra Fria;
  • Além de dados econômicos para saber qual o plano a ser empregado para que os Estados Unidos supere a China nessa batalha que além de econômica é existencial.

Existem algumas questões que precisam ser cautelosamente abarcadas nesse percurso:

  1. Teorias da conspiração não são uma novidade salutar nesse debate;
  2. Não existe uma teoria da conspiração que exista em absoluto sem nenhum dado que seja observável nos fatos, mesmo que em escala menor;
  3. O uso de técnicas de preenchimento ficcional podem muito bem levar uma mistura de informação real com falsa;
  4. É preciso ler muito para relativizar e depurar a informação que se recebe;
  5. É preciso separar um argumento antiesquerdista concreto da negação do aquecimento global, posturas anticientíficas gerais e teorias conspiratórias.
Outros apontamentos, agora sobre táticas empregadas, devem ser:

  1. A defesa da liberdade não pode ser confundida com a pura destruição dos inimigos, você não pode criar um Estado autoritário ou totalitário para impedir o surgimento de um Estado autoritário ou totalitário;
  2. O ataque sistemático contra grupos minoritários ou desfavorecidos (pof exemplo, LGBTQIAPN+, mulheres e negros) leva a um empobrecimento ético e moral da causa defendida;
  3. Teorias da conspiração levam a um empobrecimento epistemológico dos argumentos apresentados e levam a uma perda de confiança do público — sobretudo o especializado — para com os argumentos apresentados;
  4. A criação de um Estado policial, mesmo que supostamente temporário, leva a uma perda da capacidade da sociedade civil e envereda a um caminho pernicioso;
  5. A perseguição de intelectuais de esquerda ou portadores de ideias mais liberais em nome do combate a ideologias subversivas e/ou para levar a uma suposta "liberdade intelectual que se quer preservar" pode levar ao fim mesmo dessa mesma liberdade e criar uma versão de um autoritarismo/totalitarismo de direita.

Em outras palavras, mesmo que as alegações da direita americana sejam justas, elas recriam em sua própria versão aquilo que eles querem combater, levando a auto-anulação dos princípios que se dispuseram a proteger. A defesa da liberdade intelectual não pode ser feita enquanto se censura salas de aulas, ela seria mais bem feita se os pais e os alunos pudessem escolher mais livremente o tipo de conteúdo intelectual que querem ver. O ataque ao autoritarismo crescente do institucionalismo não pode ser feito pela criação de outro institucionalismo. A perseguição de determinados grupos como "naturalmente de esquerda" não é baseada se não no preconceito. A luta contra posturas discriminatórias tem uma concepção que, muitas vezes, até mesmo foge de padrões de esquerda ou de direita, não podendo ser colocados aprioristicamente como meramente subversivos — veja a luta para pessoas de raças diferentes poderem se casar como um exemplo histórico disso.

O autor aparece mostrando certas características que podem levar a conclusão de uma subversão, mas elas denotam um certo simplismo. Por exemplo, certos estilos musicais e grupos são colocados como úteis a causa socialista, mas não são úteis em sua total dimensão. É impossível, no comportamento humano, determinar absolutamente os resultados das variáveis comportamentais, embora se consiga gerar algum grau de inquietação e caos com eles.

Outros pontos elencados pelo autor, como a forma que a mídia se porta, demonstra mesmo um viés. De fato, as atrocidades cometidas pelos Estados Unidos da América são mais amplamente vistas do que as atrocidades que cometeram a URSS. Também são mais vistas, hoje em dia, as atrocidades cometidas pelos Estados Unidos do que as que a China faz. Essa lente de observação deve ser vista e questionada.

De todo modo, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética empregaram modos de manipulação e subversão do debate em outros países — e também no próprio. O mal está em todo lugar, inclusive em todos os espectros ideológicos e sistemas. Alguns tenderam a ser mais sanguinolentos que outros. E isso deve ser observável para além do maniqueismo que favorece o lado que temos uma maior aproximação, se não a ausência de auto questionamento pode nos levar a um processo de monstrificação inconsciente.

Minha impressão geral é: de fato, é um livro interessante e vale a pena lê-lo. Mas é preciso lê-lo com um certo afastamento das conclusões mais maniqueístas. E, não, estou longe de querer dizer que a União Soviética era santinha.

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