quinta-feira, 30 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 23)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 305 à 332). Essa é a última parte do Instituto Marx Engels Lenin, aborda todo o período da Segunda Guerra Mundial e termina nela mesma. Ou seja, o período pós-guerra não é abordado. O que não diminui o texto em sua qualidade, embora eu preferisse que fosse até o final da vida de Josef Stalin.


Lendo esse importante documento, vejo que Stalin não foi só um importante líder, mas igualmente um importante teórico do marxismo. As suas análises, bastante acuradas, muitas vezes demonstraram um desenvolvimento da teoria marxista-leninista em novos graus. O que refuta, mais uma vez, a ideia falsa de que Stalin não tinha um desenvolvimento teórico do marxismo e que não era suficientemente inteligente.


De fato, Stalin foi um estrategista, um político, um intelectual e um homem bastante ilustre – em todos os aspectos possíveis. Hoje em dia a sua imagem é marcada por uma negatividade maior do que se espera, sobretudo graças à imensa confusão informacional que temos diante de nossos olhos. Olhar para outro lado, ver outras informações, apurar e depurar os dados, é hoje de suma importância. A batalha das narrativas usualmente caem na falsificação e tribalização dos dados, das informações e das teorias. O que um grupo social apoia se torna suficiente para a validação de uma narrativa e tal condição leva a uma perda da qualidade da vida intelectual verdadeira em sua busca incessante – e sempre ilimitada – pela verdade que sempre será inabarcável.


Diante de nossa finitude, devemos nos manter vestidos com o manto da humilde, negar as narrativas e ajoelharmo-nos diante do infinito que nunca poderemos abarcar. Só assim seremos intelectuais completos, visto que aceitaremos humildemente que somos necesariamente incompletos e que nada que façamos chegará a totalidade. Assumir a totalidade é psicologicamente negá-la.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 22)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 289 à 304). Aqui estamos no pipocar da Segunda Guerra Mundial e em que se concentrava a União Soviética naquele período de extremos e radicalismos. Ao contrário do que se esperava, a União Soviética buscava a paz – para o seu autodesenvolvimento – e as potências imperialistas estavam divididas: França, EUA e Inglaterra tinham a sua neutralidade e o eixo fascista queria a sua empreitada expansionista. É evidente que a postura das primeiras só reforçou o ímpeto das segundas.


Naquele período, a União Soviética já tinha a sua coletivização e mecanização dos campos. Essa foi uma das pedras angulares que permitiram que a União Soviética tivesse autossuficiência para encarar a agressão nazista. Sem essa preparação, não haveria possibilidade real de que a União Soviética sobrevivesse. O que demonstra que, apesar da turbulência, tal procedimento foi necessário.


É preciso ter em mente que Stalin compreendia a natureza cultural da revolução socialista. Não bastava que o proletariado junto ao campesinato assumisse os meios de produção e criasse o Estado socialista. Para um país socialista se faz necessário uma mentalidade social socialista. Não se trata da mentalidade de um grupo de pessoas socialistas, mas que o próprio povo se faça socialista. É por isso que escrevi "mentalidade social socialista" e não apenas "mentalidade socialista". Logo o povo inteiro se colocaria nos estudos do marxismo-leninismo e tal processo seria ajudado, promovido e impulsionado pelo próprio Estado soviético.


Stalin também falou da necessidade da União Soviética superar todos os outros estados. Só pela superação contínua das potências capitalistas poderia se falar da vitória do socialismo. O socialismo demonstraria a sua superioridade em todos os setores como principal propaganda da superioridade do sistema socialista. Essa seria uma "resposta pacífica" e "propaganda suficiente" da superioridade socialista. É por isso que Stalin promoveu uma espécie de competição de produtividade e qualidade, o sistema que mais oferecesse vantagens ganharia.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 21)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 279 à 288). Aqui estamos, novamente, no prelúdio da segunda guerra mundial. Já tínhamos visitado esse período turbulento da história da humanidade pela brilhante análise de Emil Ludwig, todavia voltamos a ela com base no Instituto Marx Engels Lenin. Estamos, mais uma vez, na questão camponesa e na coletivização dos campos.


A questão da coletivização dos campos tinha a ver com a sua produtividade para dar sustentação à pátria socialista. Isto é, garantir a autossuficiência da União Soviética, permitindo um desenvolvimento autônomo de suas políticas internas. Sem essa autonomia, a própria capacidade de uma política econômica de natureza socialista seria severamente prejudicada, visto que a negociação com as potências socialistas envolveria uma certa submissão aos seus interesses que eram contrapostos aos interesses socialistas.


Os camponeses tinham uma visão de apego às suas terras. Anos de dominação czarista e a própria tradição campesina criaram essa mentalidade. O que as autoridades soviéticas e o movimento socialista tentaram demonstrar é que a qualidade de vida seria infinitamente superior se industrializada e mecanizada. A resistência se dava mais pela superstição e pelo medo de perder tudo novamente. Tais crenças geraram um período de turbulência interna, mas a ausência de sua resolução geraria um atraso no desenvolvimento econômico soviético e, igualmente, uma insuficiência que prontamente serviria para o ataque externo. Essa dupla fragilidade (interna e externa) geraram a pressão para uma política mais intensiva.


Evidentemente que esse período, bastante frágil e complexo, quando resolvido, gerou a possibilidade de um aumento de produtividade na agricultura e, mais tarde, seria esse mesmo desenvolvimento que sustentaria a União Soviética contra a agressão nazista. Os custos da realpolitik muitas vezes requerem um grau de crueza na condução de nossas ações.

domingo, 26 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 20)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 269 à 278). Nesse capítulo, a questão tratada é o desenvolvimento do Estado socialista. Se na parte anterior, ficava cada vez mais claro que a União Soviética deveria desenvolver métodos que assegurassem a sua autonomia, nesta parte vemos quais foram as decisões tomadas em prol da construção da pátria socialista.


Em primeiro lugar, é impossível garantir que o país trabalhe com fome. Os métodos empregados pelos camponeses eram frágeis e pouco técnicos. Não poderiam servir para alimentar as massas proletárias e nem garantir a subsistência das forças armadas revolucionárias. O desenvolvimento do campo – a coletivização, maquinização e tecnicalização – se demonstrou uma das mais urgentes necessidades.


Por outro lado, um país precisa aumentar a sua produtividade com recorrência. Sem um aumento de produtividade, é impossível aumentar o bem-estar populacional. Ou seja, a própria ampliação do acesso a bens e serviços requer o aumento da produtividade. Para tal, se faz necessário a utilização de um maquinário que eleve a capacidade produtiva do país. Essa luta pela construção duma indústria – sobretudo a pesada – que desse suporte a construção do maquinário que seria empregado pelo campesinato e proletariado foi igualmente necessária.


Além disso, um país ameaçado pelas pretensões imperialistas européias requeria uma indústria militar sofisticada. A defesa da pátria socialista requeria um desenvolvimento militar ordenado e disciplinado. Logo houve a criação duma indústria bélica que ia em direção a proteção do país e a preparação com o inevitável conflito que se daria pela própria natureza do imperialismo.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 19)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 257 à 268). Um comportamento recente me vem chamando a atenção no momento em que faço a leitura e escrevo essa análise: Trotsky é descrito muitas e muitas vezes como um notório sabotador e de planos incongruentes, como se quisesse destruir a União Soviética e restaurar o capitalismo na Rússia. Essa forma de descrevê-lo, perdoem-me o tom, me parece traiçoeira e enganosa. Sobretudo com base em outras análises estudei sobre a União Soviética, não creio que Trotsky seja um antissocialista – e nem que Stalin o seja.


Uma condição bastante interessante da revolução russa foi a questão da relação problemática entre o proletariado e campesinato. Se é o proletariado o condutor da revolução e aquele para qual se destina o Estado socialista, qual seria a relação do proletariado com o campesinato? Por muito tempo, o próprio campesinato foi uma classe de muitos debates na União Soviética e teve que ser convencido – e muitas vezes lutou contra o regime – a aderir a mentalidade socialista. Os socialistas acreditavam que o campesinato era muito apegado a sua propriedade e, por vezes, adquiria comportamento reacionário.


Uma outra parte que surge desse capítulo é a questão da União Soviética ser um país – ou conjunto de países – agrário. Isto é, seria impossível manter o país seguro sem um desenvolvimento que garantisse a autonomia da Rússia frente aos seus rivais imperialistas, pois estes a sabotariam de todos os modos. O desenvolvimento foi, então, um dos pilares da autonomia soviética. Sem desenvolvimento econômico, sem comida, sem forças armadas: a autonomia é uma mera abstração e não uma existência efetiva. Nesse sentido, podemos ver que os soviéticos eram imensamente realistas.


A ideia de Trotsky era, segundo esse capítulo, a de fortalecer o comunismo de guerra. O que poderia levar a um levantamento duma nova guerra de classes – agora entre o proletariado e o campesinato. A ideia de voltar atrás, por um período provisório, permitiu um levantamento de forças e estratégias para essa delicada questão político-econômica.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 18)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 249 à 256). Essa parte é bastante interessante: a luta revolucionária na Rússia tem dimensões que usualmente não aparecem na análise da maioria das pessoas: as múltiplas intenções das alas bolchevistas, a intervenção externa, as alas revolucionárias que estavam em choque, dentre tantos outros fatores que dão ares muito mais complexos do que usualmente se supõe.


Stalin é aqui mencionado como organizador do Exército Vermelho, auxiliando fortemente em todos os locais em que se formava uma crise ao poder revolucionário. Ou seja, ele era o responsável por apagar a crise e impor a ordem. Com tamanha atuação, é impossível pensar em sua figura como a de alguém de menor importância para a Revolução Russa. Mesmo que, com o tempo, tenham tentado diminuir a dimensão de Stalin.


Deve-se a Stalin a formação geográfica dos países da União Soviética. Foi ele o "criador de povos". Ele trouxe uma política oficial, a partir do marxismo, para construir os diferentes povos soviéticos. Embora muito seja falado sobre a predominância russa e, até mesmo, daquele "imperialismo social" que os chineses acusavam a União Soviética de usar – tema pouco debatido nas academias nacionais.


De qualquer forma, é quase impossível não assumir posturas autoritárias num país fragmentado e em que o novo Estado deve reinvindicar para si uma nova forma de agir. Na luta pelo poder, sobretudo em períodos de grandes choques e com grandes problemas sociais a serem enfrentados, pode-se observar quase o mesmo em diferentes proporções. Ou seja, quase todas as posturas soviéticas não se dariam de diferentes modos em distintos regimes ou países, são quase como consequências naturais – embora existam alguns acidentes e particularidades próprias.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 17)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 237 à 248). Infelizmente o livro consta com um erro de impressão, logo o capítulo "V" dessa parte aparece duas vezes seguidas. Com palavras exatamente iguais e a mesma quantidade de páginas. Logo foram seis páginas lidas e mais seis páginas ignoradas para poupar tempo e porquê eu não analisaria duas vezes o mesmo capítulo.


A questão tratada nesse capítulo é: qual caminho revolucionário deve ser seguido, isto é, o de uma revolução democrática burguesa ou uma revolução socialista proletária? O caminho da revolução russa – de índole marxista-leninista – vai na direção da revolução socialista proletária. Os revolucionários bolchevistas chegaram à conclusão de que era melhor uma revolução de caráter socialista pela impossibilidade de saber se uma revolução socialista seria possível posteriormente. Como era apenas uma vaga hipótese, resolveram pegar primeiramente o poder para si em vez de entregá-lo aos burgueses.


É interessante a ideia de "marxismo criativo" de Stalin contra o "marxismo dogmático" de Trotsky. O marxismo de Stalin poderia indicar que o socialismo é possível num país só ou que a Rússia poderia indicar o caminho socialista através de sua revolução. Enquanto o de Trotsky dependia da revolução em países desenvolvidos – visto que a Rússia não poderia se sustentar sozinha graças ao seu parco desenvolvimento.


Em relação ao desenvolvimento socialista na Rússia, creio que ele teve altos custos. Custos impostos pelas duas guerras mundiais, pela guerra civil, pela sabotagem interna, pela luta para efetivar o poder revolucionário, pela corrida armamentista e pela corrida espacial. De uma forma ou de outra, a União Soviética sempre se viu eternamente ameaçada pelo conflito interno ou externo, nunca podendo ter tempo livre para um exercício tranquilo de sua auto-organização.

terça-feira, 21 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 16)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 233 à 236). Mais uma vez, nos deparamos com a pergunta: quem foi Stalin? Essa pergunta, repetida infinitamente, tem um esforço mais pedagógico do que uma função de mantra. Nossa investigação, até o presente momento, nos indica alguns posicionamentos:

1- Stalin foi mais relevante do que se supõe;

2- Stalin foi um revolucionário ativo e que participou em posições estratégicas cruciais;

3- Stalin não era um homem inculto, muito pelo contrário;

4- Stalin tinha notável domínio acerca da teoria marxista;

5- Stalin foi um homem disciplinado e estudioso;

6- Stalin foi um hábil estrategista geopolítico, compreendendo as distintas nacionalidades e seus respectivos problemas.


Ora, é um quadro infinitamente distinto do qual usualmente pintam. Stalin foi formador de muitas nacionalidades soviéticas e promoveu a elevação delas a povos reais. Isto é, ajudou no desenvolvimento de sua autonomia. O seu desenvolvimento, por sua vez, era mais benéfico que o estado anterior de submissão ao império czarista. Só esse fato já demonstra a genialidade de Stalin na compreensão dos povos que existiam ao redor da Rússia e a sua capacidade de compreensão geopolítica elevada.


Outra condição: Stalin não era muito dado a violentas abstrações. Enquanto Trotsky falava sobre a necessidade duma revolução permanente e priorizava a revolução europeia, Stalin falou sobre a capacidade russa de ter a sua própria revolução e criar um desenvolvimento socialista. Ou seja, não caiu na vaga hipótese duma revolução proletária na Europa – condição essa que nunca chegou a ocorrer de fato e que demonstra a capacidade política de Stalin de não cair em abstrações e hipóteses demasiadas.


É fato notável que Stalin não era incompetente. E se ele usou teorias e técnicas de adversários, isto não é um ponto negativo: reconhecer o mérito de rivais, apesar da discordância pontual, não é só maturidade política, também é sinal de maturidade intelectual. Dito isto, a forma de Stalin aparece de forma nova: uma muito mais benigna e menos violentada pelo ressentimento político.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 15)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 229 à 232). Com a derrota da primeira revolução russa, algumas conclusões foram tomadas:

1- Era necessário uma expansão do conhecimento doutrinal da doutrina bolchevique por parte dos trabalhadores;

2- Dominar o processo revolucionário era de suma importância para garantir a permanência e vitória plena da própria revolução;

3- O partido que liderasse a revolução também seria o partido que dominaria o Estado revolucionário que surgiria dessa mesma revolução.


Ora, a política não é uma arte fácil. Ela é bruta e ao mesmo tempo sutil. O "sutil" empregado aqui está no sentido "esotérico" de "mundos sutis", isto é, mundos que precisam de alto conhecimento para se compreender a sua dinâmica processual na totalidade ou quase totalidade de sua inerente complexidade. Os bolcheviques, sobretudo os seus líderes, habituados na leitura dum pensador tão complexo quanto Marx, não seriam incapazes de compreender tamanha necessidade. Além disso, a política é bruta pois se dá em paralelo a dinâmica dos desejos que se conflitam e dos poderes que se anulam. O acúmulo do poder também é, por sua vez, a possibilidade de efetivação do próprio desejo.


Todos aqueles que batalhavam naquele período turbulento queriam o poder para efetivar o próprio desejo. As múltiplas versões revolucionárias, as versões reformistas e até mesmo as reacionárias. Todas queriam o poder para realizar o próprio desejo. Seja o desejo de sua classe, de seu grupo, de sua religião, de seu povo ou um desejo de natureza pessoal. Essa é, em si mesma, a natureza do poder e do seu conflito que é sempre intrínseco e, quiçá, necessário.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 14)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 219 à 228). O que são as questões doutrinais? Meras abstrações? Norteadores da conduta ontológica da humanidade? Vulgaridades perante a prática? Algo que esquecemos quando começamos a agir verdadeiramente? Creio que, com base numa série de estudos, posso afirmar que as questões doutrinais sempre pesam radicalmente na conduta humana. Ao menos naquelas pessoas que, conduzidas pelo uso da razão e pela busca de uma vida de significado, buscam viver uma vida de propósito e missão.


Numa revolução em que as próprias ideias anteriores são atacadas e se busca colocar um sistema de ideias novo para que a máquina do Estado se renove ou se mude as questões políticas e quais ideias políticas vão ser aplicadas são de importância vital. Isto é, era da natureza mesma desse processo uma disputa doutrinal entre os revolucionários e uma batalha pela hegemonia para a condução do poder. E a luta doutrinal não se fazia só entre marxistas, liberais, monarquistas, reacionários e conservadores. A luta também era entre aqueles que posteriormente seriam chamados de "sociais-democratas" e aqueles que são anarquistas, socialistas revolucionários e também os chamados trotskistas.


Stalin, assim como todos envoltos nesse processo de radicalização para uma mudança, buscou uma forma de defender as suas ideias. Foi combatente fiel. Lutou contra trotskistas, socialistas revolucionários, anarquistas e sociais democratas. Combateu aquilo que chamou de "burguesia democrática" e outras tendências que estariam mais para a esquerda legalista e outras tendências revolucionárias.


Veja que a luta entre cristãos e gnósticos, nos primeiros momentos de nosso século, também carregava forte aspecto doutrinal. Na revolução francesa, a luta doutrinal também era bastante característica. A humanidade, sempre narrante, briga por suas narrativas de tempos em tempos. Daí o aspecto conflitual das ideologias, religiões, ideias e doutrinas que se chocam com uma periodicidade fulminante e que são um fato histórico em todas as épocas.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 13)

 


Nessa parte, começamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 211 à 218). Na outra, de Emil Ludwig, tínhamos uma análise de um observador não-marxista. Agora temos uma análise marxista e uma pequena biografia de Stalin. Seria Stalin um diminuto revolucionário de menor importância que subiu ao poder por mero acaso e depois arrombou o poder com a sua mesquinhez? Talvez esse, como muitos incitam por aí, não seja o caso.


A vida de Stalin é notória. Como já escrito anteriormente, sua inteligência já era maior que a média e ele era um diligente estudante. Tanto que foi colocado num seminário de uma Igreja Católica Ortodoxa. Seu rumo se desviou conforme entrava em contato com a literatura revolucionária, isto é, uma literatura considerada subversiva. Não só marxista, mas também de índole nacionalista. Os problemas da Geórgia lhe eram comuns, seja na esfera empírica, seja na epistemológica.


O contato com a literatura marxista lhe eram satisfatórios. Conheceu a literatura produzida por Marx e Engels, mas não só eles. A literatura bolchevique e, sobretudo, os escritos de Lenin lhe eram bastante comuns. O contato com a obra de Lenin foram profundos em suas vida e na condução da ala revolucionária que escolheu: o marxismo. Com o tempo, tornou-se um grande e inegável apologista do marxismo.


A atividade de Stalin como propagador, agitador, defensor, escritor, estrategista e líder revolucionário é de importância vital para o crescimento do marxismo no extinto Império Russo. Graças a ele, as zonas dominadas pelos czaristas foram influenciadas pelo marxismo. Sem ele, dificilmente essa atividade teria dado frutos. Tal noção básica, após anos de esforço de apagamento, foi se desfazendo com o tempo. Hoje é preciso acima de tudo recordar o papel de Stalin no maior acontecimento do século XX.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 12)

 


Essa é a última parte de Emil Ludwig, indo da página 185 à 208. Aqui termina a triunfalmente rica e arguta análise de Ludwig. E talvez seja penoso: quem teve contato com o brilhantismo de Ludwig quereria que ele não só analisasse até aqui – parando na Segunda Guerra Mundial –, mas todo o governo stalinista. O que é uma pena: terminamos com um gostinho de quero mais.


A União Soviética não se preparou para o domínio territorial ou a depressão do território alheio. Pelo contrário, preparou-se para a defesa do seu território e o da sua causa dentro do seu território. Não era um regime – ao menos na época de Stalin – dedicado à contínua expansão de suas terras. Hitler e Mussolini, por outro lado, tinham ambições expansionistas megalomaníacas e não tardaram em adentrar num estado de delírio imperialista. Movidos por suas vaidades e crenças de superioridade, atacaram sistematicamente, seja fisicamente, seja verbalmente, seja teoricamente, vários povos, nações, identidades.


Hitler não pôde se paralisar. Seus desejos de dominação cresciam dia após dia como numa inflação narcisista. Ele não se preparou para se defender, preparou-se para atacar e destruir. É característico do fascismo uma exaltação da guerra pela guerra. Não por acaso, o fascismo sempre faz pipocar a mais vergonhosa barbárie incivilizada e incivilizatória. Sua agressividade, sempre incontinente, é um sinal de temor para todos. Não por acaso, todos odeiam fascistas – a exceção, é claro, são os próprios fascistas.


A comparação entre fascismo e socialismo é errônea. Mesmo que ambos apresentem aspectos semelhantes, essa semelhança se dá mais por acidente do que por substância. Essa compreensão hoje em dia é crucial, sobretudo numa época em que tanto a esquerda quando a direita se dedicam a espelhar o velho fantasma do fascismo para caluniar o lado adversário em vez de se dedicarem num debate honesto – o fascismo, por exemplo, destacava-se por ser contrário a ambos os espectros políticos de forma simultânea e tinha ao mesmo tempo características de ambos.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 11)


Essa é a penúltima parte de Emil Ludwig, indo da página 169 à 184. Nesse capítulo, Ludwig analisa o fenômeno bolchevista. Podemos dizer que a sua análise é bastante positiva e ele via com olhos bem treinados a esse fenômeno. Isto é, embora considerasse o empreendimento totalitário e coletivista, acreditava que muitos de seus aspectos eram renovadores e positivos.


Ludwig chega a traçar uma linha de desenvolvimento histórico, colocando o bolchevismo – uma expressão do marxismo – como parte da linha evolutiva das ideias humanas e, por conseguinte, uma concretização das  aspirações da humanidade. Ludwig também dirá que muitas vezes as ideias surgem mais como teses e só posteriormente adquirem forma concreta por meio de uma prática política. Também deixará claro que a forma radical usualmente cai pouco a pouco e é gradualmente implantada por meio de reformas.


De qualquer forma, se pegarmos a Revolução Francesa e os seus lemas, veremos uma incapacidade de realização plena daquilo que a revolução se propôs a fazer. A Revolução Francesa tinha três ideias: liberdade, igualdade e fraternidade. A única que ela pode conceber – e não de modo pleno – foi a da liberdade. E essa liberdade era circunscrita à própria capacidade econômica do sujeito que a exercia. Logo era válida perante a lei e inválida perante a realidade do universo de possibilidades da maioria absoluta das pessoas.


Fundamentalmente falando: a Revolução Francesa fracassou por causa de sua tendência abstrata. A liberdade, a igualdade e a fraternidade professadas eram falhas a partir do momento em que a liberdade era unicamente garantida pela lei e a igualdade era só perante essa mesma lei. A fraternidade em si mesma é impossível no regime econômico liberal. Não há como garantir liberdade sem garantir a igualdade econômica. Uma igualdade meramente perante a lei é uma abstração: o próprio poder econômico corrompe e distorce essa mesma igualdade. Ou seja, o regime burguês falsifica a si mesmo enquanto o regime proletário tenta efetivar concretamente aquilo que se propõe a fazer.

domingo, 5 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 10)

 


Esse trecho ainda é o de Emil Ludwig. Vai da página 161 à 168. Nessa parte, Emil nos dá pistas de suas ideias em relação à União Soviética e Stalin: existe uma dualidade, essa dualidade é entre a alta admiração e, ao mesmo tempo, o desgosto. Emil Ludwig é um anticoletivista e, portanto, não pode ser descrito como um comunista. Emil tinha uma visão bastante complexa, cheia de detalhes, acerca da União Soviética. Sendo admirador de suas proezas e contrário aos aspectos totalitários.


Emil Ludwig, sendo um homem bastante culto, consegue filosoficamente delinear pontos de concordância e disconcordância. Algo que falta aos intelectuais mais inaptos, todavia que não faltaria a um grande intelectual. É desse dissecamento, dessa capacidade de sutileza, dessa visão de traços, que surge uma rica análise. A análise de um doutrinador ou de um doutrinário é sempre simplista, visto que concorda ou discorda dogmaticamente em blocos, como numa unidade de fé. Algo bastante comum em nossos intelectuais mais fracos, mas igualmente comum no mundo todo.


Emil conheceu Stalin e esteve na União Soviética. Ele pôde ver de perto tudo o que acontecia. Esteve livre para analisar tranquilamente. E graças a isso a sua visão é favorecida. Emil via em Stalin as características típicas de um autocrata asiático: a de um ditador parcimonioso e acostumado a uma análise crítica e estratégica da situação política. O Stalin visto por Ludwig não se surpreenderia com seus aliados, com o povo ou com seus admiradores. É da natureza dos homens a volatilidade e tudo pode ir da água pro vinho e do vinho pro abate. Graças isso, confiava mais em manter o bem-estar geral e em manter uma rígida política de controle social.


Manter um progresso contínuo, um bem-estar relativo e uma política de controle social. Essa linha – também vista na China – é a garantia da permanência no poder. Para Emil, Stalin sabia da falsidade de seus seguidores. Essa diferença crucial demonstra a frieza e, ao mesmo tempo, a expertise de Stalin. Algum dia, compreenderão a genialidade da análise política de Emil Ludwig e a genialidade política de Stalin.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 9)

 



Essa parte também foi escrita por Emil Ludwig, é concernente às páginas 153 à 160. Ter um governo não basta, ter um Estado não basta. Se não há um princípio que regulamente as atividades, não há garantia de poder – e nem da continuidade desse poder. O poder, para ser harmônico, depende dum comportamento estrutural. Esse comportamento estrutural é estruturalizado nas ideias dos detentores do poder. Se cada um seguir aquilo que quer, de forma individualizada, reina o caos e não a ordem – a ordem dos detentores do poder. É próprio de um grupo detentor do poder criar regras que garantam a própria funcionalidade da sociedade em correlação aos seus interesses, o Estado soviético seguiu essa mesma lógica essencial à natureza mesma do poder.


Se o Estado burguês é caracterizado por garantir a inviolabilidade da propriedade privada dos meios de produção como aspecto majoritário e motor da atividade econômica, o Estado soviético, sendo proletário e campesino, teria um fundamento oposto, ou seja, a propriedade coletiva/comum dos meios de produção como aspecto majoritário e motor da atividade econômica. Isto é, um regime que dialeticamente é montado para estruturar um Estado contrário ao Estado burguês. A oposição – a completa inversão de valores que se demonstram contrários à ordem até então instituída – é evidente por si própria.


Enquanto que o Estado burguês se caracterizará por uma igualdade no âmbito da lei – embora não possa cumprir isso com perfeição graças a distorção econômica criada pela desigualdade socioeconômica –, o Estado proletário terá não só a igualdade no âmbito da lei, como a igualdade no âmbito da economia – embora as elites tenham burlado muito desse aspecto. É evidente que um indivíduo mais rico tem acesso a melhores recursos que um indivíduo mais pobre. O Estado burguês, junto a ideologia burguesa, justifica essa mesma desigualdade como natural, mesmo quando essa corrompe a própria igualdade perante a lei instituída pelo próprio Estado burguês. É por isso que o Estado operário buscará impedir que exista uma economia baseada na desigualdade, visto que a própria desigualdade corrompe.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 8)

 


Mais uma parte de Emil Ludwig, essa vai da página 123 à 152. O que demonstra a genialidade de Stalin? Talvez seja o fato dele não ter dado crédito à esperança trotskista de que existiria uma revolução na Europa – o que de fato não houve – e muito menos tenha gastado os já cansados cidadãos soviéticos na expansão brutal do socialismo – o que aumentaria a hostilidade dos países em relação à União Soviética. Todavia não se resume a isso: a forma com que ele assumiu o poder, como o manteve, como realizou os planos, como concretizou o que concretizou, tudo isso demonstra o pleno vigor dum homem metódico e determinado.


Stalin nunca foi um covarde e nem um incompetente. Sua vida demonstra que era um homem comprometido com a causa socialista, embora divergisse do rumo socialista de outros teóricos socialistas de seu tempo – inclusive no seio da própria União Soviética. Chamá-lo de traidor ou ver em sua concretude política a imagem dum capitalista é o mesmo que um delírio. Acusá-lo de ser semelhante ao Hitler é o mesmo que mau-caratismo ou argumentação alucionatória. Hitler e Stalin tinham gênios distintos e planos ainda mais distintos, distintíssimos por sinal.


Hitler criou um aparato governamental que era visto por vários cidadãos de seu país como algo tenebroso e que só serviria para a sua destruição ou opressão. Stalin, por sua vez, criou um aparato governamental que fez o povo inteiro se identificar como parte constituinte do Estado – poder-se-ia dizer-se: "o Estado somos nós". Enquanto Hitler oprimia minorias por simples diferenças, Stalin acolhia-as e empregava-as na máquina soviética. Enquanto Hitler destruía parte da educação para elitizá-la, Stalin ampliava a educação e a melhorava substancialmente. Enquanto Hitler queria criar um sistema na imagem e semelhança de seu narcisismo, Stalin criava um sistema que valia por uma construção coletiva e não pelo peso de uma figura excêntrica.


Existem tantas distinções que não poderíamos categorizar o regime soviético como semelhante ao nazismo, mesmo que os dois tenham um caráter "coletivista" e "totalitário".

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 7)

 



Continuando, mais uma vez, a parte de Emil Ludwig, estamos nas páginas 109 à 122. Nessa parte temos a acentuação do conflito de Stalin e Trotsky, indo até a expulsão de Trotsky do país e, posteriormente, adentrando no conflito da União Soviética com a Alemanha nazista. É evidente que, nesse conflito, temos mais o aspecto da luta pelo domínio do poder interno na União Soviética do que a luta da União Soviética contra a Alemanha Hitlerista.


É interessante: o poder tem uma natureza que é paradoxal. Ao mesmo tempo que apresenta uma sutileza que é regida pelas múltiplas contrariedades que carrega, existe uma outra colocação, esta é o de sua brutalidade. Algo que só alguém de olhos bem treinados poderia entender, num esforço de grau simetricamente parecido ao do exercício esotérico. Trotsky e Stalin tinham o mesmo objetivo: o de trazer luz a um mundo socialista. E, mesmo assim, caíram um contra o outro como dois predadores de objetivos opostos. Como poderíamos explicar tamanha contradição? Talvez pelo próprio impulso de governar, de mandar, de estar na liderança. Mesmo num regime de comunidade, de governança coletiva, de cooperativismo, a natureza humana ainda pesa e ainda se faz escutar por meio da sua influência incontornável.


Outro ponto salutar: a capacidade de manter o socialismo no país requisitava uma harmonia de interesses. Sem essa harmonia, manter o socialismo no país seria algo absurdamente difícil. Uma tarefa quase impossível, para não dizer ingrata. É dessa dualidade – manter o desejo político dum projeto de poder comum ao mesmo tempo em que se lida com as múltiplas versões desse mesmo projeto por diferentes pessoas que se antagonizam – que surge a anatomia do poder soviético e a sua carga de repressão. Olhando minuciosamente, o aumento do poder repressivo do Estado soviético para manter o próprio Estado soviético não é um mero acidente em sua substância, mas a própria substância do mesmo Estado soviético. Tal como é a substância de qualquer modelo de Estado, isto é, a mesmíssima substância de autoconservação. Uma das naturezas do Estado é a de manter a própria natureza do Estado.

sábado, 4 de maio de 2024

Acabo de ler "Kage no Jitsuryokusha - Vol VI - Aizawa Daisuke" (lido em espanhol)

 


A obra de Shadow Garden continua bastante interessante, embora não tenha o ar de glória que tinha em seus primeiros volumes. Para ser mais exato, o enredo desse aqui me passou quase que indiferentemente. O que não é um bom sinal, embora a história da light novel ainda me encante e eu queira ler os volumes posteriores para ver no que vai dar.


Quanto ao volume existe um recurso que me chamou muita atenção nesse volume, existe uma série de piadas que remetem ao nosso mundo. Isso faz com que o autor possa dar pistas sobre a sua própria vida intelectual. Essas referências, muitas vezes literárias, que aparecem em forma de piada, com nomes trocados, servem para demonstrar a erudição do autor. Um recurso bem inteligente, bem colocado e, por sinal, bastante inusual. Demonstra a genialidade dum escritor que rompe paradigmas com a sua obra que sempre quebra os clichês da indústria cultural nipônica.


Uma correlação que se poderia traçar é: a obra tem o aspecto sombrio das obras modernas (Chainsaw Man, Demon Slayer e Jujutsu Kaisen) junto ao humor de Konosuba. Essa correlação cria quebras interessantíssimas: o aspecto sombrio é bem preservado, sendo típico da nossa contemporaneidade (The Boys e Deadpool são fenômenos evidentes disto), ao mesmo tempo em que o humor se mantém intacto com a sua fórmula já montada desde o primeiro volume.


Creio que o autor seguirá uma linha em que a fórmula vá, pouco a pouco, sendo atenuada. O protagonista já não é mais completamente inconsciente das mentiras que contou. Sobretudo do fato de que as mentiras que contou eram, por estranho acaso, uma verdade neste mundo em que agora está. Uma continuidade dessa linha seria equívoca, visto que o próprio enredo vai em direção contrária. O que me pergunto é: como o autor conseguirá atenuar o efeito cômico dessa fórmula que utilizou nos primeiros volumes e que agora não apresenta mais um sentido e que perdeu seu efeito? Essa resposta será dada pouco a pouco e isto revelará o vigor artístico e narrativo dessa obra que ainda tem muito potencial. 

Acabo de ler "The Case Against Democracy" de Mencius Moldbug (lido em inglês)

  Nome: The Case Against Democracy: Ten Red Pills Autor: Mencius Moldbug Vendo o interesse contínuo na Nova Direita Cultural e no Iluminismo...