Essa parte também foi escrita por Emil Ludwig, é concernente às páginas 153 à 160. Ter um governo não basta, ter um Estado não basta. Se não há um princípio que regulamente as atividades, não há garantia de poder – e nem da continuidade desse poder. O poder, para ser harmônico, depende dum comportamento estrutural. Esse comportamento estrutural é estruturalizado nas ideias dos detentores do poder. Se cada um seguir aquilo que quer, de forma individualizada, reina o caos e não a ordem – a ordem dos detentores do poder. É próprio de um grupo detentor do poder criar regras que garantam a própria funcionalidade da sociedade em correlação aos seus interesses, o Estado soviético seguiu essa mesma lógica essencial à natureza mesma do poder.
Se o Estado burguês é caracterizado por garantir a inviolabilidade da propriedade privada dos meios de produção como aspecto majoritário e motor da atividade econômica, o Estado soviético, sendo proletário e campesino, teria um fundamento oposto, ou seja, a propriedade coletiva/comum dos meios de produção como aspecto majoritário e motor da atividade econômica. Isto é, um regime que dialeticamente é montado para estruturar um Estado contrário ao Estado burguês. A oposição – a completa inversão de valores que se demonstram contrários à ordem até então instituída – é evidente por si própria.
Enquanto que o Estado burguês se caracterizará por uma igualdade no âmbito da lei – embora não possa cumprir isso com perfeição graças a distorção econômica criada pela desigualdade socioeconômica –, o Estado proletário terá não só a igualdade no âmbito da lei, como a igualdade no âmbito da economia – embora as elites tenham burlado muito desse aspecto. É evidente que um indivíduo mais rico tem acesso a melhores recursos que um indivíduo mais pobre. O Estado burguês, junto a ideologia burguesa, justifica essa mesma desigualdade como natural, mesmo quando essa corrompe a própria igualdade perante a lei instituída pelo próprio Estado burguês. É por isso que o Estado operário buscará impedir que exista uma economia baseada na desigualdade, visto que a própria desigualdade corrompe.
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