sexta-feira, 1 de abril de 2022

Notas do Gamesolo #2 - Continue a Zerar

 


Um dos fatos mais impressionantes sobre o Digimon Rumble Arena, é que ele é o único jogo de luta que de fato gosto. Não me lembro de ter zerado nenhum outro jogo de luta, apesar de ter jogado Super Smash Bros no N64 com uma certa constância, mas nunca com o mesmo gosto. Recentemente zerei a "campanha" da Renamon. Além de ter uma estética foda, a nossa querida digimon é apelona pra diabo.





Gosto dela pelo fato de que seu ataque e o território que ele abarca é grande, além do fato de serem uma espécie de vários espinhos que literalmente combam o adversário. O único problema é que ela enche a barra do adversário facilmente, possibilitando a digievolução.




Mas nem só de Renamon viverá o homem. Também fiz a "campanha" do Guilmon. E mais tarde farei a "campanha" do Terriermon - e, se você não jogou Digimon Rumble Arena no PS1, a razão dessa escolha talvez não lhe seja tão óbvia: ao zerar com Renamon, Guilmon e Terriermon liberamos Impmon. 



Eu já consegui desbloquear o BlackWarGreymon. Para desbloqueá-lo é simples: zere o jogo com qualquer Digimon sem morrer. Aliás, eu não queria estragar o saudosismo de vocês, só que alguém precisa colocar um pouco de senso na cabecinha: Digimon Tamers é o melhor Digimon. E encerro aqui meu comentário. 

quinta-feira, 31 de março de 2022

Psicologia Aplicada de Freud - Capítulo 1: A Vida de Sigmund Freud (pág. 9 a 29)

 



A compreensão do fenômeno da psicanálise não seria completa sem a vida que teve o seu fundador. Não por acaso, esse livro se dedica a ela nas primeiras páginas. E, sem querer ser puxa-saco, que baita vida, meus caros.

A vida de Freud é um exemplo: ele é símbolo de uma resistência. Só que essa resistência se manifesta multiplamente: resistência intelectual, resistência em autocompreensão, resistência investigativa, resistência amorosa. Freud não era um acadêmico que buscava a compreensão da realidade exterior sem compreender a realidade interior. Talvez, por isso, tenha manifesto uma genialidade difícil em nossa época de baixa autocompreensão.

Freud era perseguido por várias vias: pela Igreja Católica, que o julgava perverso; pela academia mecanicista, organicista e darwinista que não aceitava o fato de que a sua suposta racionalidade perfeita inexistia por causa da natureza mesma da mente humana que é ditada majoritariamente por fenômenos inconscientes; e, por fim, pelos nazistas que odiavam Freud pelo simples fato de ser judeu. Nada disso o impediu de continuar, muito pelo contrário: serviu-lhe de força motriz.

Freud viveu perseguições que o seguiram por toda vida, só que no final dela de natureza maior: a barbárie nazista buscava-lhe incessantemente. As dores da primeira guerra não foram suficientes, tinham que ser maiores por causa de Hitler e o ressentimento alemão. Mesmo assim, Freud continuou. Claro que não sem a pressão. Seus livros foram queimados, amigos e familiares perseguidos. Sua atividade foi cerceada.

Com tudo isso, esse homem ergueu o mundo que o odiou e o tiranizou em suas costas e caminhou com ele em sua notável produção intelectual, que se tornou ainda mais notável no período de maior ausência e precariedade. Ele encarou o mundo, dentro e fora de si. Seguiu o lema filosófico do Oráculo de Delfos: "conhece-te a ti mesmo". Com isso, foi magistral, seja no sentido de autocompreensão ou de compreensão da realidade exterior.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Notas do Gamesolo #1 - Digimon Rumbe Arena

 



Não me lembro muito bem em que ano joguei Digimon Rumble Arena pela primeira vez. Não me lembro também da idade, mas eu deveria estar com 10 ou 11 anos. No dia, um amigo de minha irmã mais velha trouxe um PS1 aqui em casa. O jogo que, de longe, mais curti era exatamente ele. Até hoje é um dos meus jogos favoritos, chego a zerá-lo quase uma vez por ano.



Era uma boa época. Ninguém falava de sexo ou namoro como pauta existencial absoluta, boletos ainda não existiam e eu tinha pesadelos com a imagem do zumbi que apareceu no jogo do Resident Evil - e não com a política nacional ou internacional. Minha maior frustração era ter apanhado do amigo de minha irmã durante aquela gameplay. Sinto saudades de quando o maior drama existencial era a pergunta se zumbis eram reais.





Quando conheci o jogo, conheci o 3D. Na época, só tinha jogado Super Nintendo, Mega Drive, Master System e Nintendinho. Jogos 3D eram puramente revolução, ao menos em minha cabeça oca e de baixo orçamento. Já havia PS2, já havia até Xbox 360. 

quinta-feira, 24 de março de 2022

Verdetextomania #1 - MEU DEUS DO CÉU, COMO EU ODEIO TEOLOGIA!

 


>abra um livro de um teólogo

>comece a ler

>"pô, que legal o pensamento teológico"

>frases legais, maneiríssimas

>de repente, uma citação

>aparece um número: "1", "2", "3"

>cada um desses números fazem referência a um capítulo e versículo da Bíblia

>"lá vamos nós, né, mêo?"

>abre a sua bibliazinha

>procura o capítulo

>procura o versículo

>lê

>menos de dez palavras depois, outra citaçãozinha da Bíblia

>"ah, mas ele vai citar a Bíblia diretamente, não é?"

>NÃO

>vamos lá, pega a Bíblia de novo

>a primeira citação foi ao antigo testamento

>essa é do novo testamento

>vai lá, vamos pro Novo Testamento, lê o versículo

>"ah, mas eu não entendi direito"

>lê todo capítulo então, por que não?

>volta pro livro do teólogo

>menos de cinco palavras depois, outra citação

>"ah, tá muito chato esse negócio de abrir a bíblia o tempo inteiro"

>beleza, pega a Bíblia do app do seu celular

>mas eu não tenho a Bíblia no meu celular

>baixa lá o aplicativo

>pô, mas o livro bíblico citado não aparece no aplicativo da Bíblia

>você baixou a Bíblia protestante, baixe a Bíblia católica

>leia o capítulo e o versículo

>na Bíblia do celular é mais rápido

>foi mais rápido, né?

>tá pegando o jeito, safadinho

>você passou da primeira página do livro do teólogo

>agora pega a segunda página

>sete citações indiretas a bíblia

>você olha no campo de referências

>elas indicam cada capítulo e versículo específico

>você terá que ir no seu celular de novo

>vai e olha cada um

>dez minutos depois, você sai da segunda página após ter lido cada capítulo da Bíblia citado indiretamente

>faça isso na terceira, quarta, quinta, sexta página

>meu Deus do céu, que burocracia sem fim

>uma hora e meia de leitura

>você só leu dez páginas do livro

>"por que esse santíssimo autor não citou a Bíblia diretamente?"

>"ah, ele é um erudito na Bíblia, né, mêo?"

>você acaba desistindo do livro do seu querido teólogo

>você joga álcool no livro

>você queima o livro

>você para tudo após xingar o autor mil e quinhentas vezes

>agora você vai lá e assiste um anime

>é menos burocrático, é mais fácil

SIM, EU ODEIO TEOLOGIA!

TOLERÂNCIA MODERNA É AUTOMARKETING MORAL DE CHARLATÃES!




Só existe um tipo de aceitação: aquele que você aceita o que rejeita. Quando um esquerdista ou liberal abre a boca para falar de "aceitação", só fala em coisas que ele aceita e quer que sejam aceitas, mas nunca de coisas que não aceita e que, para processos de abertura fática, deveria aceitar. Logo isso não é aceitação, é imposição. Longe de ser uma alteridade, é um imposição em que se força algo que já se crê. Todo discurso se estrutura numa falsidade: além de não ensinar tolerância real, ensina-nos intolerância. Uma pessoa que crê num estado laical, onde a religião é puramente privada e de deliberação pessoal não é uma pessoa tolerante por defender isso, já que defende algo que já aceita e acredita. Tolerância seria ele aceitar que existem estados de índole religiosa e que isso depende da autodeterminação do povo que assim o quis. Seria tolerância se ele aceitasse pessoas de índole monárquica religiosa e aceitasse a ideia de que pessoas podem viver num estado religioso confessional.

TOLERÂNCIA É DIFERENTE DE ACEITAÇÃO!

Toleramos só aquilo que não gostamos, não existe tolerância para aquilo que já aceitamos. Um homem que come tortas de limão por gostar delas não é uma pessoa tolerante com tortas de limão, já que as ama. Do mesmo modo, um homossexual que diz ser tolerante com a comunidade homossexual está em contradição consigo mesmo - como tolera algo que faz parte? Quem pede tolerância, quer que as pessoas que não aceitam o que elas são ao menos a ignorem. Quem quer aceitação, quer que as pessoas que a odeiam as aceitem. Só que quem quer tolerância e aceitação quer, usualmente, uma condição passiva do próximo: ela só recebe o ordenamento daquele que exige, sem que haja um feedback de sua parte.

NÃO CAIA NAS BOBAGENS MODERNOSAS!

Qualquer pessoa que se diz aberta, está fechada. Abertura é um processo de negação de si mesmo, depois da abertura vem a integração: aquilo que se era rejeitado passa a integrar o horizonte de consciência do sujeito. Só que depois que foi aceito, não é mais abertura: tornou-se parte integrante do sujeito. Abertura é sempre negação de si, alteridade para com aquilo ou a pessoa que se nega. O resto é falsidade pura, automarketing moral. E o que define o automarketing moral é a própria falsificação do discurso que altera as coisas do que são para o que gostaria que se fosse. Quando você ver grupos "tolerantes" e "abertos", saiba que não têm nada de tolerância ou abertura.

A COMPREENSÃO DE ATO E POTÊNCIA!

Ato é aquilo que já foi realizado, potência é aquilo que pode ser. Uma árvore é potencialmente uma cadeira até que se torne uma cadeira em ato. Quando se tem uma abertura, "atualiza-se a potência". Aquilo que "poderia ser" torna-se aquilo que "se é". É por isso que a abertura começa com uma negação de si mesmo e depois uma integração que se torna parte constitucional de si mesmo. Só que depois que se integra, não é mais aceitação. Aceitação é processo, depois dela não é mais aceitação, é um enraizamento. Quem fala de tolerância, aceitação e abertura usualmente não defende esse processo para si mesmo: defende-o para o outro, o outro que sempre deve subordinar-se a sua "visão superior de mundo". É um processo de dominação com duplipensar (1984), onde se defende exatamente o oposto do que se defende: "fechamento é abertura", "tolerância é o que se aceita". Uma loucura conduzida em larga escala por charlatães.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Acabo de ler "Homens sem Mulheres" de Haruki Murakami



Ler Haruki Murakami é sempre uma tarefa grata. O autor, já indicado ao prêmio Nobel de literatura, é simplesmente um gênio inigualável que goza de um estilo potente, sobretudo no aspecto subjetivo.

O livro conta com uma série de contos de homens que não têm mulheres. Não no sentido que não possuam nenhuma relação social, sexual ou romântica com mulheres. É no sentido de que o relacionamento não entra num tom mais perpétuo, num "relacionamento mais sério" (não, não vou entrar na polêmica do relacionamento aberto ou poliamor). Se questiona sobre o casamento, casar ou não tem a ver com isso, só que não inteiramente. De qualquer modo, são homens que não possuem um relacionamento muito estável.

Talvez o livro vá de encontro com a vida pós-moderna ou líquida, já que o termo modernidade líquida não é o mesmo que "pós-moderno" (esse pressupõe superação da modernidade). Ele vai de encontro com as relações de hoje: sempre mutáveis, com poucos laços duradouros e condições de "fidelidade única". Não poderia ser diferente, é um retrato das relações contemporâneas, de nossa sociedade - aqui sem nenhum juízo de valor do relacionamento ideal ou normativo ou o que quer que seja.

É impossível ler sem sentir nada, já que tudo em Haruki Murakami é descrito com uma subjetividade. Essa subjetividade que nos assombra ou nos encanta é o principal aspecto desse grande autor. Eu não deixei de sentir em nenhum momento, Haruki Murakami me prendeu a cada conto e cada um entregou uma sensação diferente, mesmo que a experiência central (homens sem mulheres) permanecesse a mesma.

Acabo de ler "As Crônicas de Nárnia Vol. 1: O Sobrinho do Mago" de C. S. Lewis

 



"— Riam sem temor, criaturas. Agora, que perderam a mudez e ganharam o espírito, não são obrigados a manter sempre a gravidade. Pois também o humor, e não só a justiça, mora na palavra" (Aslam).
Apesar da aparente simplicidade, o livro é bastante complexo e, como não haveria deixar de ser, esconde uma "mensagem cristã criptografada". O livro tem uma lição moral que quer conduzir o jovem leitor - ou o "velho leitor", como em meu caso - para um entendimento cristão de mundo.
Por um lado, o livro apresenta um conflito quase que cósmico entre uma figura de uma rainha de gelo (Jadis) contra um Leão bem próximo ao fogo (Aslam). Jadis representa não só a figura de Satã, mas bem simboliza a idolatria e o Estado-Deus. Jadis é tirânica e se julga além de qualquer coisa "fortuita" como as emoções e ambições humanas. Já Aslam crê na liberdade, não por acaso uma de suas frases, citada bem no começo, fala sobre o riso e a liberdade de rir. Aslam não se impõe, mesmo sendo imponente, pois crê na liberdade. A salvação traz não somente o paraíso da ausência de escassez, também traz o paraíso do sorriso e do riso. Aslam, tal como Verbo Divino (Jesus Cristo), produz um mundo pelo seu canto majestoso ("no princípio era o verbo", já dizia a Bíblia). Já Jadis representa a gravidade, onde toda ação tem um preço e tudo se correlaciona a um poder gravitacional - lógica da escassez, diferente do paraíso.

André, tio do protagonista, mexe com algo que não sabe e acaba por trazer o mal para a Terra. Digory e Polly, nossas duas crianças, em sua pureza, vão acabar por impedir o mal. As ambições de André, o feiticeiro, acabam dando errado e ele acaba por descobrir que o mal é sempre ligado numa lógica dura, numa lógica de coração de pedra em que a ambição do mais forte recai sobre o mais fraco e o mais fraco se curva - diferentemente do bem, movimento pela graça, que ama todas as criaturas em igualdade e as ela quer bem, não por algo prévio e sim pelo amor. De tal modo, Aslam (figura cristã) é o amor e Jadis (figura satânica) quer só o próprio benefício, abusando dos mais fracos. Simples, mas complexo.