quarta-feira, 6 de abril de 2022
Diário /sig/ #1
Acabo de terminar o curso "A Cristandade Medieval" de Carlos Nougué
A lógica catedrática que representa o profundo sentido da Idade Média é algo que fugimos, não só pelo horror que temos de coisas que consideramos fantasiosas. É também pelo simples fato de que tal padrão de vigor não é encontrado em nosso tempo atual em larga escala. Foge-se não só pela pequenez, foge-se igualmente pela grandeza.
Pressupor que somos superiores é ir contra o passado, só que num nível meramente reativo. Obscurece-se dada imagem para que ela não nos atordoe, leva-se a um nível em que a imagem obscurecida não pode mais ser levada a sério. Assim se conquista, através de gerações de alienidade, uma coisa de valor abjeto: desprezo pelo o que não se superou. Não por acaso, os filósofos do medievo tinham um grau técnico e harmonia lógica que hoje, com todo nosso aparato científico e pedagógico, não conseguimos superar.
A catedral é mais do que algo arquitetônico no sentido físico do termo, é um esforço arquitetônico de ordenabilidade em que o ser se eleva. Criar sistematicamente, progredir até os mais altos céus, esse era o lema do medievo e construções de nível abismal como a Suma Teológica e a Divina Comédia trazem esse significado.
Como sempre, impressiono-me com o grau que Carlos Nougué consegue colocar as coisas. Aspirando sempre aquilo que há de mais alto, não se deixando anuviar pelo o que há de supérfluo. Um grande curso que me ensinou o valor da busca diária pela elevação intelectualizante.
terça-feira, 5 de abril de 2022
Intimidação a Si #1 - A Fuga da Terapia
"Viver fugindo de minha própria realidade é, notoriamente, o meio de sublimação que meu aparelho mental encontrou para fugir da limitude de minha angústia. O meu medo direcionado à psicólogos e psiquiatras era e sempre foi o medo da autodescoberta. Por conseguinte, uma defesa repressiva mental para fugir do inferno da revivência do trauma. Por vezes, é preciso dizer a verdade mais cruelmente íntima, mesmo que a revivência traumática seja inicialmente bestialogicamente enfadonha".
Verdetextomania #2 - MINHA NOSSA, COMO EU ODEIO SER FALHO
>2022
>seja eu
>tímido e introvertido
>more na capital mais badalada do Brasil
>isso mesmo, São Paulo, mas conhecido como Sampa
<não é estranho que São Paulo seja um nome masculino e Sampa um nome feminino?
<São Paulo é drag queen e tem nome artístico feminino?
<pouco importa
>nesse dia, tal como outros, encaminhava-me para andar de trem
<era a estação João Dias ou Santo Amaro?
<pouco importa
>andei normalmente
>normalmente ao meu modo
>cabeça inclinada pra baixo
>com a sensação de paz de que o mundo poderia explodir a qualquer momento
>ao menos isso é normal para mim, que sou ansioso em ambientes sociais
>subindo a escada, vejo um homem velho
>boné, roupa vermelha, shorts jeans
>ele simplesmente olha pra trás
>sim, bem na minha direção
>penso: "mas o que a foda?"
>ele continua olhando pra mim
>ele simplesmente sorri pra mim
>não entendi direito
>isso era uma forma dele dizer expressionalmente que me curtia?
>ele queria me pegar?
>ele queria me beijar?
>ele queria me dar?
>ele queria me comer?
>tudo isso passou em minha cabeça a mil por hora
>eu acabo ficando enrubescido
>como estava subindo
<sim, não tenho paciência para escada, mesmo que seja rolante
>acabei tropeçando e quase caindo
>o senhor de idade olha pra frente
>ouço algumas risadinhas
>quando termino de subir, ando rápido
>passo pelo senhor
>olho pra trás
>ele olha pra mim também
>nossos olhos se encontram
>ele sorri de novo
>sorrio de volta
>corro
>pego o trem que já ia partindo
>sinto-me um idiota por ser tímido e introvertido
>só um único olhar me desconcerta
Anos e mais anos, mas a nerdice não sai de mim. Já namorei, já perdi a virgindade bocal e sexual, conquanto não perdi a timidez de uma criança que ainda se espanta em demasia com o mundo. Pois é, meus caros, não sejam tão falhos quanto eu.
Acabo de ler "Dossiê China" do jornal Gazeta do Povo
Quando vi esse PDF sendo anunciado, logo pensei que seria uma boa baixá-lo, apesar de eu não ser lá tão chegado ao "conservadorismo-liberal" que domina o jornal Gazeta do Povo. Só que como era um "livro" sobre a China, a curiosidade bateu mais forte.
Pensar sobre a China é sempre algo difícil. Ela vive um regime bem diferente daquele que é vivenciado no "Ocidente" - entre aspas, já que não há um consenso sobre o que seria o "Ocidente" e eu não tenho tempo para discutir sobre isso - e tem valores diferentes dos nossos. Não por acaso, sofro por uma imensa curiosidade pelo o que ocorre lá, informando-me por múltiplas fontes. Não sou um sujeito impressionável, só que a China sempre me impressiona.
Algo interessante de se observar, é que quase a maior parte do livro se passa pelo "regime comunista inicial" da China, sobretudo na era de Mao Tsé-Tung. Talvez seja pelo fato de que nesse período, ela tenha sido mais ferozmente anticapitalista e, posteriormente, tenha aderido a um hibridismo econômico. De qualquer forma, vários planos de Mao Tsé-Tung foram um desastre em níveis gerais: econômicos, humanos, alimentares e ambientais.
Ao terminar o livro, tendo a uma tendência de condenar umas partes do regime chinês atual. Só que não tudo, visto que o livro nem de longe me convenceu a adentrar no universalismo liberal e eu ainda acredito que o regime político depende da autodeterminação dos povos e não em fetiches ocidentais que adquirem tons de universalidade. De qualquer forma, o livro me abriu ao entendimento de alguns erros do regime chinês e até mesmo um tanto de sua história presente e passada.





.jpeg)