segunda-feira, 25 de abril de 2022

Intimidação a Si #3 - Medo de Palhaço




1. Tenho medo de palhaços. Se a minha essência é palhaçada, nada que digo é palpável ou substancial. É tudo mera zombaria de minha imitação deformada. Sendo sempre cômico, nada que vem de mim é amável e nada se espera de mim além disso: meu amor causa risada, meu choro causa risada. Se até minha tragédia é piada, como posso desejar uma mulher ou um homem bonito?


2. Vendo-me desproporcional, vendo-me como calvo, toda forma que me vem é ridícula. Sou sempre deformado, calvo e feio, sempre propício ao circo. Sou ridículo e ridicularizável. Essa é a minha maldição: ninguém vê no palhaço mais do que objeto de riso. 


3. Toda vez que me lembro de um palhaço, a próxima forma que me vem a mente é de minha imagem de criança a chorar. Só posso sofrer bullying e toda minha seriedade é convertida em burrice, já que só posso ocasionar risada e a seriedade escapa de minha essência cômica. É por isso que travo ao ver uma mulher bonita: sou a piada e não o mágico.


4. Nasci em dez de dezembro, o destino tira sarro de mim. No dia do palhaço, vejo que só posso ser feito de piada. Faço todos tirem, menos a mim mesmo. Lembro-me até mesmo de uma tia que fazia todos rirem, só que quando fez uma cirurgia para agradar a si mesma, morreu.


5. O palhaço não pode ser academicamente sério, toda teoria descamba na essência em que o veem e na essência que ele mesmo se coloca - mesmo que inconscientemente. E quando rirem de suas ideias, ele se lembrará palhaço e eternamente palhaço. O palhaço não pode ser sexualmente desejado. Ele tem que parecer disforme e tudo que faz beira a disformidade. Só o que me sobra é a frase: "você faz as pessoas rirem, Gabriel". Eu não posso fazer as pessoas me amarem, me desejarem ou até me acharem inteligente. Estou sempre numa palhaçada unidimensionalmente trágica.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Intimação a Si #2 - E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim?




1. Imerso em tensionalidade, busco um pouco de fuga no sossego. A música sacra se encontra ao lado de minha libidinosidade deturpada. Amá-lo é ofender a quem amo, não amá-lo é negar a profundidade do que sinto. 

2. O que sobra de minha leitura? Talvez a realidade a qual me choco. Amo-o como amo a catedral. Só que pode o inferno posicionar-se tal como se fosse o céu? Por um lado, a construção de uma vivência super-egóica, por outro a romântica-sexual que, tal como um Deus-Vivo, a tudo evade. Nada pode deter o amor que sinto, só a ansiedade neurótica do condicionado que condiciona sempre ao enquadro.

3.  Se ele é bom ator, ator o suficiente para separar o teatro da vida, como eu que pouco sei de teatro posso alcançá-lo nessa originalidade que ao palco se sobressai pelo coração pulsante que a vida deseja e a sociedade escapa? Quero-o. Desejo-o tanto quanto sinto que a minha carne é de carne. Só que o que temo é esse corpo imaterial a qual chamamos de sociedade. 

4. Sinto que meu coração que hoje se homorromantiza fosse tão de fogo quanto o coração queimante de Agostinho de Hipona era de fogo. E quando ele está a queimar meu coração até meu corpo se queima e sente a minha alma. Tão empírico quanto Aristóteles meu corpo pulsiona, tão idealístico quanto Platão minha alma transcende e aos céus se direciona. A metafísica celeste e a homossexualidade dançam numa dialética que ao meu coração agrada!

5. E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim? Com o bater do martelo, vem-me só o desejo de para sempre amá-lo.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Verdetextomania #3 - Looping do Multiverso Musical

 


>seja eu
>ouça uma música
>passe a gostar dela
>ouça infinitamente
>ouça com a fúria de mil sóis de fogo se chocando com mil sóis de gelo
>enjoe
>procure a versão acústica
>procure a versão metal
>procure a versão punk
>procure a versão com voz masculina
>procure a versão com voz feminina
>procure a versão com violino
>procure a versão com violino elétrico
>procure a versão música clássica
>procure a versão remix
>procure a versão cover de banda famosa
>procure a versão cover amadora
>procure diferentes versões de shows ao vivo
>procure a versão ao vivo inicial
>procure a versão ao vivo mais recente
Meu Deus do céu, estou no looping do multiverso musical.

Acabo de ler "O Inconsciente" de Rudolf Allers

 



Pensar a partir de diferentes pontos de vista pode ser uma tarefa difícil, sobretudo para aqueles que se enraízam num modo de pensar. Só que é sempre importante uma abertura, sobretudo para aquele que quer pensar com real liberdade - o condicionante é o que afeta a liberdade de inteligir.

Esse é o primeiro texto que leio de Rudolf Allers. Ele foi algo de diferente, já que o autor tem um posicionamento contra Freud, porém me abriu espaço para um entendimento maior da própria obra de Freud. Rudolf Allers fez parte do primeiro grupo do fundador da psicanálise, é por isso que suas críticas são, para mim, de vital importância. Embora eu tenha visto um caráter religioso como "fator afetante". Allers afastou-se de Freud tal como Alfred Adler. Outro dado importante: Allers foi mestre de Viktor Frankl, figura intelectual que me é de maior referência.

O que se pode dizer do livro? Allers critica a forma que Freud vê o mundo, talvez por causa do catolicismo e, por outro lado, pela sua percepção da teoria do inconsciente sendo encontrada - mesmo que sem maior capacidade teorética - em outros pensadores bem mais antigos que Freud. Ele vê um caráter inovativo na obra de Freud, só que não o vê como absolutamente novo. Mesmo que a teoria antiga do inconsciente não seja tão bem formada como a de Freud. Uma de suas principais críticas a Freud e Jung, por exemplo, está na postura naturalista - por excelência, antirreligiosa - que relativiza o grau de verdade religiosa (Jung) ou mesmo "exclui o pensamento religioso" (Freud).

Mesmo não sendo tão apegado ao pensamento religioso de forma confessional ou até mesmo relativizando a religião como adesão subjetiva, vejo que Rudolf Allers consegue explicar com certa clareza as ideias de Freud e elegantemente tentar refutá-las utilizando-se de seu arcabouço erudito. Não só isso, compreendi mais Freud e a psicanálise com a ajuda dele e nisso lhe sou grato.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Diário /sig/ #4

 


Nesse sábado, eu acabei saindo e voltando só segunda de madrugada. Como fiquei um tempão fora, acabei não treinando. Por um lado, creio que consegui sair um pouco da internet e estabelecer relações com pessoas reais. Por outra, menosprezei minha saudade. Só voltei a treinar hoje, então é por isso que houve um hiato temporal. 




Acabei de sair do banho. Estou meio triste porque acabei vendo pornografia por esses dias e isso atrapalha meu desenvolvimento pessoal. Hoje retomo algumas coisas. A vida de estudos, por exemplo. Quero também dar prosseguimento ao curso que estou fazendo do Carlos Nougué, quem sabe no próximo dia, e imprimir velocidade no livro que aluguei da biblioteca. Hoje mesmo terminei um capítulo do Psicologia Aplicada de Freud. Quero aproveitar esse resto de semana para treinar, estudar e desenvolver minha espiritualidade com intensidade.

Psicologia Aplicada de Freud - Capítulo 2: A Relação dos Sonhos com o Inconsciente da Mente



Nesse capítulo, somos apresentados ao ID (princípio de prazer), Super Ego (vigilante da moralidade) e Ego (princípio de realidade). Eles nos ajudam a compreender ainda mais o drama mental que passamos, em suma maioria das vezes inconsciente. E já que a maior parte dos nossos dramas se passa inconscientemente, estudar eles dá um certo grau de autonomia e autocompreensão.

Outro tema abordado, já sendo o principal, é de que nossos sonhos nos dão a pista de como está a nossa situação mental. Só que para a interpretação correta dos sonhos, outras coisas devem ser conhecidas: a própria vida do sujeito que é analisado. Já que existem coisas que existem, só que não temos acesso direto por estarem depositadas em nosso inconsciente. Elas não são só memórias, são igualmente pensamentos e sentimentos que guardamos por serem fortemente traumáticos demais para conseguirmos lidar.

Freud queria adentrar nesse estranho mundo do proibido. Para tal, buscou diferentes métodos: hipnose, interpretação dos sonhos e associação livre. Como a natureza desse proibido se revela na própria vivência pessoal, ele é variável e requer dado grau de formação específica - seja para análise do outro e de nós mesmos. Esse proibido é verificado endogenamente e/ou exogenamente. Todo esse drama ocorre sempre, de formas variáveis, com ou sem a nossa abertura a (auto)análise.

De qualquer forma, é magistral a forma que Freud abordou tal problema. Tendo em mente que a maioria deles não está sobre nosso controle direto e temos que aplicar grande esforço, a psicanálise torna-se uma vitória no campo da (auto)compreensão humana e uma realização pessoal naquele que a pratica, já que esse tem acesso a frase do Oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo". A psicanálise é o esforço e a coragem de enfrentar o drama interior sabendo que ele é de difícil acesso e requer tempo, embora a "salvação" sempre seja algo de gratificante.

Martelo de Rosas

Ele não é de forma alguma um martelo maquinal. Ele é um laborioso e artístico artesão a destruir com a arte os limites duma sociedade petrificada em ilusão. É Dionísio com rigorosidade de um Apolo revolto. Ele é um novo Lutero atualizado a contemporaneidade. E em teus olhos substanciosos de águia encontro um conforto místico que me distancia da pulsão de morte. Com seu tocar, o eterno e o temporal se encontram em dualidade harmônica, levando a sensação de que o trivial possa se encontrar com a equidistante beleza do arroubo poético.


Seus pregos são como rosas duma revolução com que ele demarca o novo tempo. É confuso e transcendente a forma com que ele marca cada tempo com a pregada duma rosa numa selva de concreto que se esqueceu da beleza de sua íntima natureza. Em tuas mãos sente-se ao mesmo tempo o cansaço para com o mundo e a capacidade de amor para com esse mesmo mundo. Em teus beijos encontro o retorno a aurora do passado juvenil a retornar no meu ser envelhecido, restaurando-me o conforto maternal uterino e a percepção de que ainda se vale a pena viver mesmo que só mais um pouco.

No teu abraço todo restante se dissipa, já que já não me importa mais nada que com ele não esteja. No teu dormir vejo a humanidade que um dia abandonei e me esqueci. É como se houvesse volta numa revolta que se apaixona pelo novo ao mesmo tempo que confere gosto num mundo antigo que se desgosta. Ele é o martelo do paradoxo, o marteleiro das rosas. E em cada prego rosado encontro o amor abandonado dum desejo juvenil de outrora.