segunda-feira, 25 de abril de 2022

Acabo de ler "História da Psicanálise" do Dr. Anselmo Matias Limberger

 



Estudar psicanálise vem sido um processo de expansão do horizonte de consciência, ao menos o é em meu caso. Como trabalhei com um autor tradicionalista em meu TCC, e Freud está longe de ser um tradicionalista - seria melhor colocá-lo como "antitradicionalista" -, vejo que venho desenvolvido muitos questionamentos e descobertas intelectuais.

Estudar psicanálise sempre se torna algo que envolve autoconhecimento. É por isso que fico cada vez mais receoso. Talvez meu ego venha trabalhado para que eu não tenha a revivência do trauma, coisa que seria explicável pela própria teoria psicanalítica. Quanto mais estudo, mais percebo que tenho que avançar. E venho descoberto muita coisa sobre mim mesmo e me tornado mais empático, embora mais consciencioso com a atuação alheia - sim, tornei-me mais crítico e, quiçá, um pouco mais chato.

Uma das coisas em que fui mais impactado é com a "doutrina da vontade". Longe de pensar que um melhor controle da vontade seria autossuficiente para a propulsão de um melhor viver, questiono-me sobre a nossa capacidade de "controlar" essa vontade que nos escapa. Se grande parte da vontade escapa ao nosso controle devido ao fato do inconsciente, só se pode haver mais poder sobre a vontade quando a autocompreensão aumenta. Só que nossa autocompreensão é algo de que nós próprios inconscientemente fugimos. Tudo isso impacta fortemente a forma com que vejo o mundo.

Também ficar catalogando as ações humanas e tentar entendê-las por véus ocultos se tornou uma mania a qual não consigo fugir. E embora fosse mais fácil não prestar atenção, minha atenção expandiu-se e continua a expandir-se em demasia. Torno-me aquela medonha pessoa que parece atenta para os movimentos mais sutis, causando um pouco de medo - e o medo de ser julgado é algo demasiadamente humano. Tenho medo de causar receio com minha própria pessoa. Ainda bem que a psicanálise me deixa, ao mesmo tempo, mais empático.

No fim de tudo, vejo que me tornei um tanto mais adulto e capaz de ter um maior controle sobre a minha vida. Embora também mais cético.

Intimidação a Si #3 - Medo de Palhaço




1. Tenho medo de palhaços. Se a minha essência é palhaçada, nada que digo é palpável ou substancial. É tudo mera zombaria de minha imitação deformada. Sendo sempre cômico, nada que vem de mim é amável e nada se espera de mim além disso: meu amor causa risada, meu choro causa risada. Se até minha tragédia é piada, como posso desejar uma mulher ou um homem bonito?


2. Vendo-me desproporcional, vendo-me como calvo, toda forma que me vem é ridícula. Sou sempre deformado, calvo e feio, sempre propício ao circo. Sou ridículo e ridicularizável. Essa é a minha maldição: ninguém vê no palhaço mais do que objeto de riso. 


3. Toda vez que me lembro de um palhaço, a próxima forma que me vem a mente é de minha imagem de criança a chorar. Só posso sofrer bullying e toda minha seriedade é convertida em burrice, já que só posso ocasionar risada e a seriedade escapa de minha essência cômica. É por isso que travo ao ver uma mulher bonita: sou a piada e não o mágico.


4. Nasci em dez de dezembro, o destino tira sarro de mim. No dia do palhaço, vejo que só posso ser feito de piada. Faço todos tirem, menos a mim mesmo. Lembro-me até mesmo de uma tia que fazia todos rirem, só que quando fez uma cirurgia para agradar a si mesma, morreu.


5. O palhaço não pode ser academicamente sério, toda teoria descamba na essência em que o veem e na essência que ele mesmo se coloca - mesmo que inconscientemente. E quando rirem de suas ideias, ele se lembrará palhaço e eternamente palhaço. O palhaço não pode ser sexualmente desejado. Ele tem que parecer disforme e tudo que faz beira a disformidade. Só o que me sobra é a frase: "você faz as pessoas rirem, Gabriel". Eu não posso fazer as pessoas me amarem, me desejarem ou até me acharem inteligente. Estou sempre numa palhaçada unidimensionalmente trágica.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Intimação a Si #2 - E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim?




1. Imerso em tensionalidade, busco um pouco de fuga no sossego. A música sacra se encontra ao lado de minha libidinosidade deturpada. Amá-lo é ofender a quem amo, não amá-lo é negar a profundidade do que sinto. 

2. O que sobra de minha leitura? Talvez a realidade a qual me choco. Amo-o como amo a catedral. Só que pode o inferno posicionar-se tal como se fosse o céu? Por um lado, a construção de uma vivência super-egóica, por outro a romântica-sexual que, tal como um Deus-Vivo, a tudo evade. Nada pode deter o amor que sinto, só a ansiedade neurótica do condicionado que condiciona sempre ao enquadro.

3.  Se ele é bom ator, ator o suficiente para separar o teatro da vida, como eu que pouco sei de teatro posso alcançá-lo nessa originalidade que ao palco se sobressai pelo coração pulsante que a vida deseja e a sociedade escapa? Quero-o. Desejo-o tanto quanto sinto que a minha carne é de carne. Só que o que temo é esse corpo imaterial a qual chamamos de sociedade. 

4. Sinto que meu coração que hoje se homorromantiza fosse tão de fogo quanto o coração queimante de Agostinho de Hipona era de fogo. E quando ele está a queimar meu coração até meu corpo se queima e sente a minha alma. Tão empírico quanto Aristóteles meu corpo pulsiona, tão idealístico quanto Platão minha alma transcende e aos céus se direciona. A metafísica celeste e a homossexualidade dançam numa dialética que ao meu coração agrada!

5. E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim? Com o bater do martelo, vem-me só o desejo de para sempre amá-lo.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Verdetextomania #3 - Looping do Multiverso Musical

 


>seja eu
>ouça uma música
>passe a gostar dela
>ouça infinitamente
>ouça com a fúria de mil sóis de fogo se chocando com mil sóis de gelo
>enjoe
>procure a versão acústica
>procure a versão metal
>procure a versão punk
>procure a versão com voz masculina
>procure a versão com voz feminina
>procure a versão com violino
>procure a versão com violino elétrico
>procure a versão música clássica
>procure a versão remix
>procure a versão cover de banda famosa
>procure a versão cover amadora
>procure diferentes versões de shows ao vivo
>procure a versão ao vivo inicial
>procure a versão ao vivo mais recente
Meu Deus do céu, estou no looping do multiverso musical.

Acabo de ler "O Inconsciente" de Rudolf Allers

 



Pensar a partir de diferentes pontos de vista pode ser uma tarefa difícil, sobretudo para aqueles que se enraízam num modo de pensar. Só que é sempre importante uma abertura, sobretudo para aquele que quer pensar com real liberdade - o condicionante é o que afeta a liberdade de inteligir.

Esse é o primeiro texto que leio de Rudolf Allers. Ele foi algo de diferente, já que o autor tem um posicionamento contra Freud, porém me abriu espaço para um entendimento maior da própria obra de Freud. Rudolf Allers fez parte do primeiro grupo do fundador da psicanálise, é por isso que suas críticas são, para mim, de vital importância. Embora eu tenha visto um caráter religioso como "fator afetante". Allers afastou-se de Freud tal como Alfred Adler. Outro dado importante: Allers foi mestre de Viktor Frankl, figura intelectual que me é de maior referência.

O que se pode dizer do livro? Allers critica a forma que Freud vê o mundo, talvez por causa do catolicismo e, por outro lado, pela sua percepção da teoria do inconsciente sendo encontrada - mesmo que sem maior capacidade teorética - em outros pensadores bem mais antigos que Freud. Ele vê um caráter inovativo na obra de Freud, só que não o vê como absolutamente novo. Mesmo que a teoria antiga do inconsciente não seja tão bem formada como a de Freud. Uma de suas principais críticas a Freud e Jung, por exemplo, está na postura naturalista - por excelência, antirreligiosa - que relativiza o grau de verdade religiosa (Jung) ou mesmo "exclui o pensamento religioso" (Freud).

Mesmo não sendo tão apegado ao pensamento religioso de forma confessional ou até mesmo relativizando a religião como adesão subjetiva, vejo que Rudolf Allers consegue explicar com certa clareza as ideias de Freud e elegantemente tentar refutá-las utilizando-se de seu arcabouço erudito. Não só isso, compreendi mais Freud e a psicanálise com a ajuda dele e nisso lhe sou grato.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Diário /sig/ #4

 


Nesse sábado, eu acabei saindo e voltando só segunda de madrugada. Como fiquei um tempão fora, acabei não treinando. Por um lado, creio que consegui sair um pouco da internet e estabelecer relações com pessoas reais. Por outra, menosprezei minha saudade. Só voltei a treinar hoje, então é por isso que houve um hiato temporal. 




Acabei de sair do banho. Estou meio triste porque acabei vendo pornografia por esses dias e isso atrapalha meu desenvolvimento pessoal. Hoje retomo algumas coisas. A vida de estudos, por exemplo. Quero também dar prosseguimento ao curso que estou fazendo do Carlos Nougué, quem sabe no próximo dia, e imprimir velocidade no livro que aluguei da biblioteca. Hoje mesmo terminei um capítulo do Psicologia Aplicada de Freud. Quero aproveitar esse resto de semana para treinar, estudar e desenvolver minha espiritualidade com intensidade.

Psicologia Aplicada de Freud - Capítulo 2: A Relação dos Sonhos com o Inconsciente da Mente



Nesse capítulo, somos apresentados ao ID (princípio de prazer), Super Ego (vigilante da moralidade) e Ego (princípio de realidade). Eles nos ajudam a compreender ainda mais o drama mental que passamos, em suma maioria das vezes inconsciente. E já que a maior parte dos nossos dramas se passa inconscientemente, estudar eles dá um certo grau de autonomia e autocompreensão.

Outro tema abordado, já sendo o principal, é de que nossos sonhos nos dão a pista de como está a nossa situação mental. Só que para a interpretação correta dos sonhos, outras coisas devem ser conhecidas: a própria vida do sujeito que é analisado. Já que existem coisas que existem, só que não temos acesso direto por estarem depositadas em nosso inconsciente. Elas não são só memórias, são igualmente pensamentos e sentimentos que guardamos por serem fortemente traumáticos demais para conseguirmos lidar.

Freud queria adentrar nesse estranho mundo do proibido. Para tal, buscou diferentes métodos: hipnose, interpretação dos sonhos e associação livre. Como a natureza desse proibido se revela na própria vivência pessoal, ele é variável e requer dado grau de formação específica - seja para análise do outro e de nós mesmos. Esse proibido é verificado endogenamente e/ou exogenamente. Todo esse drama ocorre sempre, de formas variáveis, com ou sem a nossa abertura a (auto)análise.

De qualquer forma, é magistral a forma que Freud abordou tal problema. Tendo em mente que a maioria deles não está sobre nosso controle direto e temos que aplicar grande esforço, a psicanálise torna-se uma vitória no campo da (auto)compreensão humana e uma realização pessoal naquele que a pratica, já que esse tem acesso a frase do Oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo". A psicanálise é o esforço e a coragem de enfrentar o drama interior sabendo que ele é de difícil acesso e requer tempo, embora a "salvação" sempre seja algo de gratificante.