sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 2)
Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 1)
Nome:
Anatomy of the State
Autor:
Murray N. Rothbard
O questionamento de Rothbard começa com uma simples, mas complexa, questão: o que é o Estado? A natureza do Estado é apresentada por diversos prismas: ele é descrito como a apoteose da sociedade; é descrito como amável, todavia ineficiente para cumprir os fins sociais; descrito como necessário para cumprir os fins sociais. A identificação da sociedade com o Estado cresceu junto a noção de democracia, na qual se chegou a conclusão de que nós somos o governo.
Quando falamos a palavra "nós", camuflamos certo aspecto da linguagem e encobrimos a natureza do Estado. Adentramos num reino de diluição em que nós mesmos nos tornamos "parte" do Estado. Assim adentramos, sem perceber, que aquilo que o Estado faz ou pode fazer tem nossa concessão. O que significa que as ações do Estado são nossas ou possuem, em automático, a nossa aprovação.
Para Rothbard, adentraríamos em águas amargas. Quando, por exemplo, o Estado nazista matava seus próprios cidadãos judeus, os judeus estavam concedendo a própria morte? Então não seria um projeto genocida imposto arbitrariamente por uma sociedade tirânica, mas um processo em que os judeus tiravam a própria vida em massa. É a partir disso que podemos ver que essa identificação automática do Estado e sociedade pode ser não só potencialmente nociva, como escandalosamente perigosa.
Não podemos ser "o governo", nem "o Estado". Se 70% da população decide matar 30% da população, isso não é de forma alguma um processo voluntário em que aqueles 30% de pessoas estão cometendo suicídio em massa. Genocídio ainda é genocídio, não importa se justificado pela via democrática ou pela maioria da população concentrada numa figura autocrática.
Se o Estado não é uma organização em que nós somos integralmente participantes, o que é o Estado? Basicamente o Estado é, de forma breve, uma organização que detém o monopólio de força e violência em determinado território. O Estado é a única organização social dentro de uma sociedade que não obtém as suas receitas através de uma troca voluntária de produtos ou serviços, mas através do uso da coerção. É o Estado que prende todos aqueles que estão contra ele, seja por uma série de motivos que são considerados pela própria preservação do Estado.
terça-feira, 29 de outubro de 2024
Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 3)
Nome:
Heretics
Autor:
G. K. Chesterton
Não há nada que seja desinteressante, a não ser a pessoa que, por falta de imaginação, considera tudo desinteressante. A pessoa que julga tudo desinteressante, crê que está acima de todas as coisas. E, por crer que está acima de tudo, impiedosamente não se abre a experiência do fantástico que a vida apresenta. Essa ausência de abertura, que conduz a ausência de fantástico, reduz a sua capacidade de percepção e a torna uma pessoa previsível e tediosa, numa estrutura rígida e estéril.
A questão que não estamos vendo não é a grandiosa imaginação de quem vê o mundo como algo a ser moldado por si. Aqueles que veem o mundo como algo a ser moldado por eles não possuem a humildade para compreender que a capacidade humana de apreender a totalidade dos fatos não lhes pertence. O que falamos é de outro tipo de imaginação, uma imaginação humilde que compreende que a humildade é o primeiro degrau da inteligência e do saber. É só com a humildade que podemos ver que o mundo é mais do que pensamos sobre ele, visto que não podemos abarcar o mundo em sua complexidade. Essa humildade nos permite ver que não vemos todos os detalhes, que a correlação dos fatos e objetos possivelmente nos escapa.
Quando dizemos que tudo é poético, as pessoas veem isso como uma linguagem comum ou, pura e simplesmente, um exercício de demagogia. A realidade é que não enxergamos o que está em nossa vida com os olhos de quem se admira, visto que nos julgamos acima de tudo o que está em nossa volta. O fantástico pode estar em tudo, inclusive no que é comum. Essa ausência de espantamento do intelectual moderno o leva a se afastar de tudo que está em sua volta. A arrogância lhe impede de ver o mundo, lhe conduz a querer mudar tudo. Só que ele não conseguiria, visto que isso requeriria mais do que a sua capacidade, a possibilidade de mudar o mundo requer uma inteligência sobrehumana, que não é acessível a nenhum intelectual ou burocrata.
A incapacidade de sentir a concretude de tudo por causa das abstrações que antecedem a própria existência da concretude é um mal de nossa intelectualidade desvairada. Ela indica tudo numa idealidade de quem foge. Foge da vida. Foge do próximo. Tudo está preso num esquematismo mental psicologista. Só que esse psicologismo é mais um retorno a si do que uma abertura ao entendimento do mundo, pois o mundo nos escapa. Não podemos compreender o mundo, mas podemos amar o que está a nossa volta se nos abrirmos a esse amor. Amor esse que não podemos, de fato, compreender. A existência de uma verdadeira inteligência está ligada a uma humildade em que, no fim, não compreende o mistério profundo que a ata, mas magneticamente a conecta com tudo.
É preciso compreender: há diferença em um estudo que torne tudo pequeno e um estudo que torne tudo grande. A simplificação para a compreensão é apenas um reducionismo para ser digerido por massas, mas não por homens e mulheres conscientes e sujeitos de si. O homem e a mulher aspiram a grandiosidade de uma vida mágica, mágica por ser concreta e fantástica em simultâneo.
domingo, 27 de outubro de 2024
Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 2)
Nome:
Heretics
Autor:
G. K. Chesterton
Se pudéssemos olhar todos os problemas do mundo, talvez chegássemos a algumas questões. Chegaríamos a essas questões na medida em que olhássemos para o quão problemático o mundo moderno é e o quão imersos em problemas o homem moderno está. Como resolveríamos isso? Há quem diga que o que nos falta é realismo. Só que existe outro apontamento: somos pouco idealistas demais para sermos realistas. Podemos até ter motivos para olhar para a realidade, mas não temos ideias suficientemente fortes para tentar resolvê-los.
Anteriormente a negação vinha acompanhada de uma afirmação. A afirmação era prévia até a propriamente o que se negava. Hoje adentramos, cada vez mais profundamente, numa era em que buscamos atacar os defeitos do mundo sem nada que possamos colocar no lugar. Em outros termos, temos um inferno sem ter a possibilidade de um céu. Todo defeito é destacado com os arroubos meteóricos de uma retórica detalhada, mas toda virtude aparece sem coloração num quadro vago.
Houve um tempo em que aparecia diante se nós uma questão. Essa questão era uma pergunta cósmica acerca do sentido geral da existência. É nessa questão última que se revela cosmologicamende o sentido geral da existência. O sentido geral da existência subordina todas as outras questões, visto que todas as outras questões são secundárias. Com o tempo, quisemos nos libertar do peso da religião. Para tal, chegamos a conclusão de que não importava a filosofia ou a religião de alguém – tudo é relativo. Com isso, pulamos da pergunta para a resposta, resposta essa que seria singular. Essa forma de pensar levou a um não-pensar, visto que era a pergunta em si que possibilitava a nossa capacidade de resposta. Agora o que nos aparece não é a questão e nem a resposta. Estamos apenas por aí, vagando nesse universo de vácuo.
Pense, por exemplo, nas discussões modernas. Perguntamo-nos acerca do que é a liberdade, acerca do que é a educação, acerca do que é o progresso. Só que nos esquivamos, sempre e eternamente, sobre qual é a natureza do bem. Somente a natureza do bem pode nos dizer o que é a boa liberdade, o que é a boa educação, o que é o bom progresso. Sem sabermos primeiramente o que é essencial, não temos uma direção. A ausência de direção nos joga, novamente, ao acaso. Sempre estivemos andando em um labirinto, só que, graças aos nossos modernos sensos, estamos pela primeira vez andando num labirinto com a ausência de uma lanterna.
Falamos bastante em progresso e nos julgamos progressistas. Quanto mais progressista é alguém, mais essa pessoa é supostamente boa. Todavia o que define algo como um progresso? Se o progresso não tem uma finalidade, se não estamos caminhando para algum lugar, não podemos sequer medir se estamos indo bem ou mal em nossa caminhada. Não há como acreditar que tudo é relativo e dizer que estamos indo para o progresso, visto que o progresso, em si, seria relativo. Se o progresso é relativo, estamos indo pra qualquer lugar e isso não indica coisa alguma.
Para sabermos o que estamos fazendo, para sabermos para onde estamos indo, para sabermos se estamos bem ou mal, precisamos de um sentido. Progresso não pode significar que estamos mudando de direção a cada brisa de vento, mas precisamente que estamos indo a uma direção. Essa direção indica uma moralidade e indica uma fé quanto a essa moralidade.
Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 1)
Nome:
Heretics
Autor:
G. K. Chesterton
Há um tempo atrás, na história do homem, falava-se da importância das ideias e do que pensamos no universo. Hoje em dia, não cremos na importância das ideias – visto que são relativas – e nem cremos que a forma com que as pessoas pensam no universo é importante. No geral, tendemos a crer que a visão de alguma pessoa acerca de todos os pequenos detalhes da vida são importantes, mas a visão geral que ela tem da vida não importa.
A vida é definida por uma cosmologia. Sem cosmologia, não há base que se assente a vida. O que teríamos, sem uma cosmologia, não seria uma visão concreta. O que teríamos seria um monte de pontos soltos ligados pelas circunstâncias. Nenhuma consistência filosófica, apenas um punhado de ideias sobre alguns acasos.
Em tempos anteriores, questionava-se a razão de só pessoas consideradas ortodoxas poderiam falar sobre a natureza do homem. Após isso, liberais liberaram todas as heresias da Terra para que todos fossem livres para conversar sobre a natureza do homem. O resultado? Bem... Ninguém mais fala da natureza do homem e chegou-se a conclusão de que, no fundo, isso não importa.
Antes da revolução das ideias, todos tinham medo de se confessarem ateus. Depois da revolução das ideias, o homem colheu todo fruto da liberdade e não era mais sequer um heresiarca. Não há mais heresiarcas pois ninguém crê na importância das doutrinas, não havendo doutrinas não pode haver heresiarquia, visto que ninguém discorda sistematicamente de nada pois ninguém crê sistematicamente em algo.
O resultado de uma vida sem sentido, uma vida sem cosmovisão, não é uma "produtividade", mas sim a negação e a inércia. Hoje se fala muito de produtividade, crendo que o homem se levantará e produzirá mais no vazio da sua existência atual. Do que adianta a um niilista construir um palácio se ele não vê sentido algum nessa ação? Toda ação é previamente envolta na ausência de causa.
Acabo de ler "Campus Battlefield" de Charlie Kirk (lido em inglês/Parte 16 - Final)
Nome:
CAMPUS BATTLEFIELD
HOW CONSERVATIVES CAN WIN THE BATTLE ON CAMPUS AND WHY IT MATTERS
Autor:
Charlie Kirk
A sociedade precisa de amplos pontos de vista e um debate aberto para que o exercício do autogoverno seja melhor. Quando adentramos num mundo em que todo mundo se isola em viés de confirmação e temos diferentes bolhas batalhando entre si, acabamos por cair numa sociedade tribalizada. Se faz necessário uma abertura cultural.
Não há muito o que dizer do final desse livro. Além do fato de que ele foi bastante interessante de se ler. Quanto o último capítulo, ele é mais uma propaganda das ações do grupo do que um capítulo argumentativo. Todavia recomendo a leitura do livro para se compreender mais da realidade política dos Estados Unidos da América.
Acabo de ler "Campus Battlefield" de Charlie Kirk (lido em inglês/Parte 15)
Nome:
CAMPUS BATTLEFIELD
HOW CONSERVATIVES CAN WIN THE BATTLE ON CAMPUS AND WHY IT MATTERS
Autor:
Charlie Kirk
A distorção se tornou uma gravidade nos ambientes universitários. A diversidade, por exemplo, não é enquadrada mais como poderia ser, mas como apenas um monte de pessoas de diferentes quadros geográficos, sexualidades, gêneros... Mas todas com as mesmas ideias.
Hoje em dia, se pode dizer que a "separação dos poderes" é algo ofensivo. Como chegamos a tal ponto de distorção argumentativa? Aparentemente, tudo adentrou numa nova era linguística em que tudo o que aparece, em aparece numa forma intoxicada pelas distorções mais profundas para fins narrativo-ideológicos.
O debate, tal como alertado na análise anterior, é previamente moralizado de forma excessiva. É evidente que a modalidade do debate deve ser assegurada, todavia há uma questão: a própria moralização do debate é feita para fins imorais. A moralização não existe para que o debate seja bom ou para que não entremos num extremismo anti-humanitário, a moralização é feita como uma criminalização de outros pontos de vista antes mesmo que eles sejam anunciados. Só pontos de vista daqueles que iniciaram essa campanha "moralizatória" são possíveis dentro desse debate regulado pela falsa moralização.
A questão não é a defesa de gente racista, de gente LGBTfóbica ou, simplesmente, a defesa de pessoas intolerantes. A questão é que a arma da moralização para combater determinados comportamentos é usualmente utilizada não só para criminalizar o bestialógico nazismo e/ou o supremacismo branco, é utilizado para censurar todos aqueles que possuem apontamentos liberais clássicos ou conservadores. Até pontos de vista mais tradicionais, associados a uma mentalidade religiosa, podem ser potencialmente censurados. Entregam-nos, dia após dia, falsas noções do que se quer fazer. Depois disso, acabam atacando grupos a mais nesses pacotes de expansão não anunciados, mas previamente deliberados.
Não é um acaso que a palavra "fascista" acabou sofrendo uma relativização terminológica tão imensa nos últimos anos. Ela foi relativizada para posteriormente ser aplicada a uma série de grupos que precisamente nada têm a ver com o fascismo. Se o fascismo hoje abarca uma série de agrupamentos não-fascistas, quando existe uma pressão para combater o fascismo, adentramos num ataque a uma série de grupos que mesmo não sendo fascistas precisam ser combatidos – seja pela força aparato repressivo do Estado, seja pela força da sociedade organizada.
Pense na união dessas ações: relativização terminológica do fascismo + nova classificação de vários grupos como fascistas + necessidade de combater o fascismo. O que teremos, nessa conjuntura, não é uma sociedade melhor e "menos fascista", mas sim uma sociedade que reprime vários grupos não-fascistas e, até mesmo, antifascistas com a alegação de que eles são fascistas. Se isso ocorre, temos uma engenharia social monstruosa e a criação de um Estado policial que em nome de combater o totalitarismo adentra cada vez mais em seu próprio totalitarismo.






