domingo, 27 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 6)

 


Nome:

The Dark Enlightenment


Autor:

Nick Land


A dialética é a unidade dos opostos. No marxismo, comentado por Nick Land, há uma prévia antecipação da natureza das condições materiais e o avanço das contradições sociais. A superestrutura, por assim dizer, é a plataforma da dominação social. Nessa plataforma, podem ser encontrados: a dialética da reconstrução, a articulação do antagonismo, a polarização, a estruturação binária e a reversão.


A Catedral, comentada anteriormente, em suas diversas estruturas (acadêmica, midiática, nas artes, na saturação política) apresenta uma crítica social e um caminho igualitário numa lógica teleológica. Internalizando a ideia marxista de prever as condições materiais e o avanço das contradições sociais. A Catedral é identificada como progressista.


Nick Land nota diferenças sociais na esquerda e na direita. A esquerda segue uma lógica: mais dialética é mais política, mais política é mais progresso, mais progresso é mais migração social para a esquerda. A direita, por outro lado, apresenta outra lógica: menos dialética, menos argumentação, menos subdivisões e uma condução política descoordenada. A direita se refugia na economia e na sociedade civil — aqui poderíamos sugerir que, na esquerda, sociedade e Estado tornam-se basicamente o mesmo.


A direita tende a uma ideia de liberdade negativa, de uma sociedade livre e não-argumentativa: que cada qual, em sua propriedade, decida o que quer fazer sem ter que conversar com o outro.  Essa tendência da direita (faça os seus próprios assuntos), pode ser como uma depressão, uma regressão e uma despolitização quando analisada pela lente progressista.


No mundo de hoje, apesar de todos os esforços da direita para que o mundo se tornasse mais individualista, existe a dialética entusiasmada. Onde tudo é dramatizado. Existe uma rede de jornalistas, de legisladores, de juízes, de ativistas comunitários e de agentes revolucionários a transformarem a televisão e a internet em um grande drama em que todos os atos humanos serão analisados.


Nessa transformação do mundo em um Reality Show Hegeliano, contradições sociais são antecipadas, casos antagônicos são articulados e a resolução institucional é esperada. É dessa forma que a Catedral transmite sua mensagem e se conecta com o povo.

sábado, 26 de julho de 2025

Novo Weblivro do Medium

 


Funk Buda:

https://medium.com/@cadaverminimal/list/ba695f314465


Em primeiro lugar, agradeço a quantidade de visualizações no webantilivro Harmonia da Dissonância. Ele foi um dos livros que escrevi no Medium que mais foram lidos. Embora eu possa dizer que a polêmica precedeu a compreensão da obra. O que eu posso dizer é: não ganhei nenhum centavo, apenas uma esquerda me acusando de ser de direita e uma direta me acusando de ser de esquerda — o que não é uma grande novidade para mim.


Trabalhar em um projeto tão parcamente compreendido, por um tempo tão longo para algo nem tão pretencioso, foi divertido. A Harmonia da Dissonância era sobre a utilização de Inteligências Artificiais, Arquétipos da Manipulação e da Engenharia Social, cultura channer e debate público brasileiro. Abarcava uma série de assuntos e tentava exprimir isso com algumas doses de humor e sátira. 


O livro foi "projetado" para ter múltiplos caminhos. Se existiu um lado que serviu para satirizar o debate, também existiu o lado que servia para apresentar algumas críticas sociais. Além disso, as técnicas apresentadas, quando juntadas lado-a-lado com uma IA, possibilitavam — e ainda possibilitam — uma análise não só da cultura channer, como também um meio de enxergar a história, a sociedade e a política.


Creio que graças a essa fusão de IA e livro gerou um desentendimento num redditeiro que veio aqui dizer que todos os textos — escritos desde 2021 — eram gerados por IA. Foram mais de 30 textos, então resolvi desativar temporariamente todos os comentários. Desde já, aviso que eu nunca usei IA em nenhum texto desse blogspot, a não ser naquele em que eu trollo redditeiros dizendo que odiar IAs não fará com que eles vendam a sua "arte". Se bem que, nos dias de hoje, o redditeiro acredita profundamente que qualquer texto com mais de três linhas foi escrito por uma IA.


De qualquer forma, eu deixo aqui um devido esclarecimento: o nicho desse blog é underground, o nicho do Medium também é underground. O Blogspot se concentra em copiar o estilo intelectual e o pensamento de quem está sendo analisado — pouco importando a linha política — e o Medium se concentra em textos/weblivros com diferentes estilos de escrita e visões artísticas.


Eu não escrevo visando compreensão ou aumento de número de leitores, e é exatamente por isso que nunca publiquei algum conteúdo pago. Eu não espero ser compreendido e amado. Eu não espero que as pessoas gostam do que escrevo. Eu apenas escrevo pois gosto de escrever. É isso e tão somente isso. Então não exija que eu me ajoelhe diante de um grupo ou uma ideia, isso jamais acontecerá.


O meu novo weblivro é um escrito que mistura o estilo acadêmico com o estilo de wikis satíricas. Ele visa se afastar muito do debate mainstream e de ser, dalguma maneira, engraçado. Eu sei que pelo fato dele ser "hostil" a esquerda e a direita, ele terá pouquíssimos leitores. E tudo bem. Para mim, escrever é me aliviar dos sentimentos que carrego e não uma forma de ascensão social. Não escrevo nada para obter lucro — seja social, seja financeiro.


Após eu me formar em filosofia e depois me pós-graduar em neuropsicanálise clínica, anuncio-vos que adentro em minha terceira faculdade, vou cursar Direito. Muito em breve, trarei análises a respeito disso.


Encerro dizendo que sou um sujeito solitário, disfuncional e de poucos leitores. Só em ocasiões extremamente raras alguém conversa comigo sobre os meus escritos. Nem a minha família lê o que eu escrevo. Porém tenho um enorme benefício: sou um escritor que é sincero e que pode ter liberdade intelectual — mesmo que eu sofra com as angústias das minhas dúvidas e com o isolamento social. Espero continuar sendo esse eterno Cadáver Minimal que vos escreve.


Muito obrigado a todos!

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 5)

 


Nome:

The Dark Enlightenment


Autor:

Nick Land


Muitas palavras são ditas dentro do debate público: sociedade fechada, sociedade aberta, sociedade cosmopolita e sociedade civilizada. Usualmente atribuímos a nós, os ocidentais, todos os méritos e as glórias de ter uma sociedade aberta. Esse quadro, embora falso, tem um efeito propagandístico excelente.


O mundo ocidental, apesar de toda a propaganda, é um local onde barbarismo foi extremamente normalizado. Há toda uma retórica política e um incentivo econômico a disfuncionalidade, sem nenhum avanço para o impulso ao autodesenvolvimento. No Ocidente, a civilização colapsou fundamentalmente.


Existe um colapso, cada vez maior, das áreas urbanas — esse colapso se dá sobretudo nos Estados Unidos. A desintegração da urbanidade, da civilização urbana, é uma expressão geográfica de um problema social ocidental. Se em países asiáticos as regiões urbanas crescem e prosperam, no Ocidente há um retorno ao campo acompanhado pela suburbanização da área urbana. Há um cansaço do ocidental diante dos enormes centros de concentração de gente.


Os problemas raciais não cessaram de existir. Muito pelo contrário desigualdades históricas continuam persistindo. Porém há uma incapacidade de resolver esse problema. Não há uma síntese que comporte uma solução dialética e que resulte num apaziguamento das relações raciais. Muito pelo contrário, cresce o fantasioso nacionalismo tribal. Porém agora vemos várias sessões de nacionalismo tribal (o de esquerda, o de direita, o do branco, o do negro) emergindo e se solidificando na esfera do discurso — neotribalismo ou neofeudalismo, qual a possibilidade histórica do amanhã?


Por outro lado, as pessoas discordam cada vez mais. Estão, na verdade, cada vez mais isoladas e antagônicas em posicionamentos viscerais. Discordam do desenvolvimento urbano, das escolhas escolares, do porte de arma, da forma de segurança, do sistema de encarceramento, da política, da distribuição social. Enquanto isso, a principal função do conservadorismo moderno é ser humilhado e a principal função do liberalismo moderno é ser o proponente neopuritano da verdade espiritual.  Mesmo com os progressistas e os conservadores discordando cada vez mais, há ainda um ponto em comum: o abandono da esperança.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

Acabo de ler "ANTI-AMERICANISME?" de Alain de Benoist (lido em francês)

 

Nome:

ANTI-AMERICANISME ?


Autor:

Alain de Benoist


Os Estados Unidos surgiram no novo mundo graças a imigração europeia. Em parte, ele foi visto como o regenerador da humanidade e, ao mesmo tempo, como a Nova Jerusalém. Em outra parte, como um modelo de república universal e portador dum destino manifesto. Era disso que surgia a Doutrina Monroe.


Conforme essas ideias iam crescendo, dando luz ao excepcionalismo americano, acreditava-se cada vez mais na validação universal do americanismo e esse modo de vida deveria ser imposto por toda a Terra. Desse unilateralismo messiânico, surgia o hegemonismo.


Os Estados Unidos tiveram que confrontar em seu caminho a União Soviética. Essa força antagônica e de ideias solidamente opostas. Após isso, houve finalmente a tão sonhada universalização americana. Os Estados Unidos surgiram triunfantes, logo após a guerra fria, como força principal. Seu modelo técnico-financeiro ressoava lado a lado com a dominação planetária do capital.


Hoje em dia, os Estados Unidos são a principal força de desestabilização do mundo e também são a principal razão da brutalização internacional. É evidente que a perda da hegemonia é um dos fatores, mas o universalismo americano e a imposição desse também são fatores principais.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 4)

 

Nome:

The Dark Enlightenment


Autor:

Nick Land


Nick Land é um excelente comentador da obra de Mencius Moldbug. A ligação entre os dois é sempre colocada dentro desse livro, visto que Nick Land o cita o tempo inteiro. O que demonstra algum grau de proximidade e respeito.


O interessante é notar que, apesar do que dizem os intelectuais de esquerda, Mencius Moldbug não é um supremacista branco e tampouco um antissemita. Algo que eu vi muitas pessoas, sobretudo as de esquerda, associarem a ele.


A questão tratada nessa parte do livro é o universalismo, uma das crenças que compõem a fé e a doutrina democrática-igualitária moderna. Também há a questão do nacionalismo branco, no qual Mencius Moldbug afirma categoricamente não fazer parte. Embora existam também outros assuntos na estrutura desse capítulo.


A Catedral, comentada na análise anterior, apresenta-se com um mandato divino para afirmação da sua fé, uma fé que ela julga ser autoevidente e autoconfirmada — embora ela reprima qualquer questionamento a essa mesma fé. É interessante observar que a Catedral aparece com a social-democracia e uma economia cada vez mais corporativista, com uma tendência evidentemente de terceira posição e que tem uma semelhança com o fascismo, ao mesmo tempo que aparece atacando os neofascistas. Os neofascistas se correlacionam com a questão do nacionalismo branco — visto que muitos neofascistas são nacionalistas brancos.


Ao mesmo tempo que o nacionalismo branco vai crescendo na parte norte do planeta graças as imigrações em massa e as políticas ilustradas do multiculturalismo, cresce uma guerra ao politicamente incorreto — imagine quando eles descobrirem que existe uma esquerda politicamente incorreta (a alt-lefty) que vem surgindo. Essa guerra ao politicamente incorreto é fruto de uma inquisição de natureza quase religiosa, visto que o progressismo moderna é uma laicização de ideias religiosas. Essa guerra gera um aumento da database, ao mesmo tempo em que a sanha paranoica e conspiracional leva a um fechamento intelectual em que ver nuances dentro do debate — sobretudo quando essas nuances se dão em distintos grupos de direita — se torna cada vez mais difícil.

Acabo de ler "L'IDEE D'EMPIRE" de Alain de Benoist (lido em francês)

 


Nome:
L'IDEE D'EMPIRE


Autor:


Alain de Benoist


Nesse artigo, Alain de Benoist fala sobre a questão da unidade política. Aqui trata questões sobre nação, pátria e império. A questão não é só o sentido etmológico de cada palavra, mas também a correlação de cada palavra como uma forma de organização política estrutural.




A questão central apresentada é: qual a diferença entre a nação e o império? É apenas uma questão de nome ou está na própria estruturação política que cada uma assume? Qual é o melhor modelo para a Europa?




Em primeiro lugar, é preciso explicar certos termos. A nação vem do "de natio" que quer dizer "de nascença". Já a pátria vem dos pais. Império vem do sentido de comandar. Cada qual apresenta um significado distinto, mas a configuração histórica que cada uma apresentou é mais reveladora que a simples menção dos seus nomes.




O império é um princípio ou uma ideia espiritual ou política-jurídica. Ele não se resume a ideia uma mera função material ou de ser uma entidade geográfica. Ele é a pujança de um comando, uma pujança espiritual. O império unifica num sentido superior, sem suprimir a diversidade e a cultura, sem destruir etnicamente o seu povo. O princípio imperial permite a multiplicidade de diversos elementos, visto que possui um princípio superior que é anterior a essa diferenciação. O império é mais uma harmonia cósmica do que uma entidade meramente política. Um império pode até mesmo aceitar diferenças jurídicas.




A nação, por outro lado, tem uma tendência a centralização e homogeneização, a unidade territorial também deve ser acompanhada com a uniformidade das normas jurídicas. Usualmente isso termina com a dissolução ou o esvaziamento das estruturas intermediárias.



Alain de Benoist crê numa ideia de império europeu, visto que uma nação européria seria a dissolução das identidades de múltiplos povos em prol duma homogeneidade. Um federalismo imperial seria mais próprio a forma da Europa.



sexta-feira, 18 de julho de 2025

Acabo de ler "DEMOCRATIE REPRESENTATIVE ET DEMOCRATIE PARTICIPATIVE" de Alain de Benoist (lido em francês)

 


Nome:

DEMOCRATIE REPRESENTATIVE ET DEMOCRATIE PARTICIPATIVE


Autor:

Alain de Benoist


Nesse texto, Alain de Benoist dá uma verdadeira aula sobre os diferentes tipos de democracia e defende a democracia direta. Alain de Benoist compreende a democracia representativa como a democracia liberal ou a democracia burguesa.


Para ilustrar o caso, os defensores da democracia representativa são Locke e Hobbes. Em Locke, a delegação do poder é parcial, resguarda-se as liberdades individuais. Em Hobbes, a delegação do poder é total. O defensor da democracia direta ou orgânica é Rousseau, para Rousseau a democracia é antagonista de regime representativo. Toda representação representa uma dissolução ou abdicação do poder democrático e da soberania popular.


No regime democrático, a identidade dos governados é a dos governantes, a vontade popular é a lei, há a igualdade substancial dos cidadãos, todos são membros de uma mesma unidade política e observa-se a vontade geral da nação. Essa descrição parece ser abstrata pois está longe da realidade vivencial das pessoas do mundo em que vivemos. Falamos muito da política, mas estamos virginalmente longe dela.


O que temos hoje, nas democracias liberais, é um déficit democrático e uma crise de representatividade (gerada pela lógica mesma da democracia liberal). Ao mesmo tempo, a classe política se tornou uma oligarquia com interesses próprios e indiferente aos fins específicos da atividade política (o de servir aos interesses orgânicos da população). 


Ao mesmo tempo, cresce-se a fala a respeito da legalidade do sistema. As regras jurídicas formais são reforçadas pelo seu mero aspecto legal e/ou formal. O fim específico da atividade política — servir ao interesse orgânico da população — é completamente ignorado. As instituições devem ser respeitadas para existirem por si mesmas, pouco importando se cumpram a sua devida especificação e correlação com os anseios populares. Aparece a legitimidade pela legitimidade, onde cada instituição é respeitável por si mesma pouco importando se ela cumpre a sua devida funcionalidade. A funcionalidade de uma instituição, num país verdadeiramente democrático, não é ditada tão somente pelo seu aspecto legal, visto que é a vontade popular que modifica e controla o seu funcionamento, podendo modificar e controlar até mesmo o seu aspecto legal.


A democracia, quando substancial, correlaciona-se com quatro fatores intrinsecamente correlacionados:

1. A vontade geral;

2. Constituição;

3. As leis;

4.  Servir ao bem comum.

Todavia adiciona-se um fato: a constituição, as leis e o serviço ao bem comum são determinados e modificados pela vontade geral.


A democracia liberal e/ou representativa vem apresentado vários defeitos.  Esses defeitos são de natureza inerente a própria democracia liberal e/ou representativa, mas também gerados em parte pela situação do mundo moderno. Vivemos num mundo de constante mundialização, de transnacionalização, de desintegração das ideologias da modernidade e em que a legalidade institucional vem se tornado um mero simulacro. Os poderes políticos se direcionam para a mundialização e transnacionalização sem se importar com os anseios do próprio povo.


A democracia de base, ou a democracia orgânica, apresenta-se como uma solução: ela aumenta a iniciativa pública e a responsabilidade para com a coisa pública (espírito republicano). A democracia de base ou orgânica pertence a um povo republicano, e um povo republicano é consciente e soberano. Ele pode se manifestar a favor ou contra, dar ou recusar consentimento.


Atualmente, vivemos num mundo com um sistema político liberal. E o sistema político liberal estimula indiretamente uma apatia política, uma abstenção da vontade em prol de gestores, de experts e de técnicos. O que é, em si mesmo, desejável para elites que querem governar sem a anuência e sem a perturbação do povo, visto que atualmente elas não se veem como parte dele.


Alain Benoist apresenta uma possibilidade de resolução de conflitos: a democracia participativa, direta. Visto que participação é um ato individual de um cidadão como membro de uma coletividade populacional. O pertencimento justifica a cidadania, a cidadania justifica a participação.