segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Acabo de ler "A Ausência de Mr Glass" de Chesterton!



    Acabo de terminar de ler esse maravilhoso livreto escrito por Chesterton. É engraçado a forma com que ele desmonta a grande cientificidade do Dr. Orion Hood, personagem de grande severidade intelectual, porém incapaz de se utilizar do senso comum. A própria natureza abstrata de seu pensamento acaba por se tornar porcamente abstrata: se a abstração é a capacidade humana de divorciar objetos de um conjunto estrutural para encará-los sob o microscópio da razão, tal capacidade se perde quando o todo estrutural se perde e se foca só no objeto. O objeto não faz sentido fora de sua estrutura. O abstratista perde-se em sua abstração. Se torna muito capaz de reconhecer um árvore, mas pouco capaz de saber que se encontra numa floresta ao passear por uma floresta - reconhecer-se numa floresta ao caminhar por uma floresta é uma capacidade simples, mas o intelectual preso na abstração não consegue mais perceber o óbvio: ele reduziu o mundo ao conhecimento que abstraiu.


    Esse livro, apesar de cômico, revela uma profunda lição: a inteligência se perde na parcialização. A incapacidade de absorver a estrutura do real por causa de uma simplificação complexa é por demasiado característica em muitos intelectuais. É como, por exemplo, o economicista querendo compreender a realidade do pensamento através unicamente da estrutura econômica; ou do religioso que quer aplicar unicamente um padrão metafísico para compreender o mundo quantitativo; ou, quiçá, daquela galera que acredita fielmente tão apenas no padrão biológico para legitimar as suas crenças - esquecendo do psíquico, do social e do espiritual. De qualquer forma, tudo isso só leva uma simplificação grosseira da realidade total: o saber é dialógico, não só no sentido humano de contato, mas também pelo fato de se comunicar com outros saberes para ser construído de fato. O saber é uma floresta e não uma árvore. O microscópio da razão utilizado para apreender uma árvore é interessante e necessário, mas não devemos pegar uma árvore e pensar que estamos a ver a floresta inteira. Não querendo criar um paradoxo, mas já criando: é preciso reaprender a ser "comum" para ser inteligente sem ser grosseiro.

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