sábado, 13 de agosto de 2022

Acabo de ler "O alienista" de Machado de Assis

 



Quando nos deparamos com um clássico, dependemos de um espírito que a ele se abra e entregue-se. Por muito tempo, o humor de Machado de Assis foi-me estranho. Hoje, com maior maturidade do espírito, dou-me a vôos mais altos e constantes. Sinto-me feliz por ter compreendido e rido bastante com essa pequena obra.

A questão fundamental é a definição da loucura. O alienista busca uma "explicação cabível" ao entendimento da loucura. Hipoteca-se sobre a proporcionalidade, depois desenvolve-se na argumentação contrária. A trama se desenvolve como uma arguta crítica ao senso de sanidade e insanidade, além da mediocridade do senso comum e da idolatria científica dos pedantes. Gerando casos extraordinários de comicidade mórbida. A surpresa é característica presente dum roteiro que se engendra tendo como inimigo a monotonia e a padronicidade. Nota-se que Machado de Assis não era outra coisa se não um gênio.

É incrível como surge a "Casa Verde" e qualquer motivo leva ao encarceramento da pessoa. Todos eram alvos. Todos eram tidos como patológicos em dados comportamentos. Chega-se até num ponto em que a grande maioria da população da cidade estava internada. Só que toda essa incomensurável jornada termina com o alienista descobrindo que, em todo esse tempo, o louco era ele e não o outro - nesse caso, todos os outros.

A enunciação duma política experimental totalitária que cultua a ciência e a ausenciação de um ajuizamento da maioria é uma temática interessante. O livro poderia ser facilmente enquadrado nos grandes livros de distopia. Pode-se falar que o livro que tenho em mãos é um clássico da distopia da saúde mental. E, vejam só, é um clássico inigualável em sua riqueza. Termino o livro maravilhado com a agudeza do espírito do autor. Deu-me boas risadas e um bom entendimento crítico que me será útil até a consumação de minha vida.

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