domingo, 30 de janeiro de 2022
Solidão em Solitude
sábado, 29 de janeiro de 2022
Éramos dois, e daí?
Você me contava do seu desejo de virar socióloga. Era de esquerda juvenil, adolescente lutando contra o tédio. Tão desafiadoramente bonita quanto inteligente e simpática. Revelei a ti o meu amor quando já era tarde, tinha vergonha metódica de mim e não queria lhe envergonhar com minha obscura imagem social. Por um momento, éramos dois, mas depois de alguns meses, já não éramos nada.
Eu te diverti com meu humor adolescente de anarquista niilista e rebelde sem causa. Pagando-lhe bebidas na esperança que transfigurasse a sua lesbicalidade e bissexualidade. Me aproximando com distâncias calculadas e passos patéticos que geraram tragédias insensatas. Eu sumi por sete anos, em crises sem fim, falei-lhe que era teu amigo, mas e daí? Eu sumi. Sumi e voltei transfigurando proximidade em distância abjeta e sem explicação sensata.
Você jogava videogame em minha casa. Na doce infância era tão bom, só que eu era idiota e inadequado demais para a pré-adolescência. Como consequência de meu desenquadro, criei em você a vergonha que lhe permitiu o afastamento adequado. Éramos dois, e daí? Daí que sumi sem nunca mais falar contigo. Daí que lhe achei um cara que preferiu a sociedade a amizade dourada.
Nos pegamos três ou duas vezes. Dormi contigo, em teu quarto. Sua mãe trouxe pizza, sem pensar em sexo homossexual de dois caras bissexuais que não davam pinta de nada. Éramos dois, éramos dois amigos e coloridos adolescentes numa época de liberalidade sexual. Quem você é agora? Você se assumiu ou ainda isola o fato sexual de sua família com ocultamentos constantes de sua inconstância inata?
De pastor você foi a ateu convicto. Íamos ao puteiro em apostasia à faculdade. Conversávamos muito. Você voltou a ser pastor, traiu o puteiro, o anarquismo, o ateísmo e a mim. Éramos dois, e daí? Daí que nunca mais falamos e eu até hoje não me lembro de seu sobrenome.
Eu era tão católico quanto um católico deve ser. Num retiro vocacional buscando irmão ser. Te vi algumas vezes em conversas doutrinais que foram fáceis de esquecer. Lia "Ordem Nova", o reacionarismo era moda, a monarquia voltava em mentes e não em regimes. Sempre quis te comer, sobretudo quando bebíamos na igreja. Eu fiquei sabendo, você beijou garotas e eu beijei rapazes. Éramos perfeitamente heterossexuais e completamente bissexuais.
Em Santa Catarina foi um horror, afastado da família e da cidade que morei com louvor. Identidade em choque em novo mundo cultural. Você foi padre, agora era homossexual e casado. Eu? Eu era o cara que ia em retiros vocacionais e militava no movimento negro. E mesmo você sendo casado com outro homem, desejei que fosse meu próprio homem. Treinamos juntos, sugeri poliamor e um dia no pós-treino você me chupou. Eu fui pra São Paulo, você lá permaneceu. Ficou onde fui, para permanecer de onde era. Eu voltei pra São Paulo, para permanecer de onde vim. Éramos dois, e daí? E daí que ainda penso em você.
Eu lia Olavo de Carvalho, você lia Nietzsche. Eu era Apolo e você era Dionísio. Só que eu tinha um Dionísio oculto e você tinha um Apolo oculto. Pegamos duas mulheres, mas quando a pegamos, uma das duas não estava presente e nem conhecíamos a outra que estava por vir. Pegamos a mesma flor e depois a outra flor, em perfeita conformância com a igualdade do sabor. Você me apresentou a social, eu te apresentei a transexual. Você me apresentou a Dionísio e eu te apresentei ao tradicionalismo. Éramos loucos sem tirar e nem pôr, talvez seja por isso que você foi um dos únicos que ficou.
Borboletas no Estômago e Esqueletos no Armário
Todo dia que desfilo, lembro de esqueletos gritando e batendo no meu armário. Na performance contínua, extraío o que é do outro, extraío o absorvido e não absolvo meu espírito acorrentado. As eternas borboletas que estão no meu estômago não encontram espaço além do interior de meu interior, clamam por ajuda de meu corpo que resiste a corrente de meu pensar preservado. É sempre essa confusão, num rolo de constante desilusão. A vida virou um teatro em que sou ator. Sempre ator. Nunca autor ou autora. Sou o imaginado, não sou nunca a imaginação. Já que a imaginação não tem limite concebível e adentra no não-inteligível. Um imaginário é aquele que internamente sofre dentro da coisa imaginada. Imaginar-se é construir-se em desconstrução, ser imaginado é ser marginalizado pelo dedo do criador precário.
Sigo sempre triste ao saber, que não sou o que sou, sou o enquadro teatral de um pensamento outrora forjado. Os esqueletos de meu armário, batem todas as noites, nunca me deixando dormir com profunda tranquilidade. Até quando eles me recordarão que em mim há menos espaço para as borboletas do que para o outro? O outro que adentra pela noite, o outro que esmaga a borboleta imaginária. Ressentidas caveiras, não se esquecem nunca da tenra mocidade que era ingênua o suficiente para não ser teatralmente vivenciada, eles não vão sempre me dizer que o imaginário é o que sou e que não sou o objeto imaginado. Minha atitude prostituta de forma oculta, oculta as borboletas que gritam silenciosamente em meu útero. Meu ser fálico faliu dentro do caixão que lhe deram aos poucos para que eu soubesse: serei sempre morto-vivo, já que quem vive dentro do caixão não vive. Eterno zumbi a caminhar nos limites inteligíveis e pré-ordenados pelas elites grã pensantes numa tradição atroz e retrógrada que confronta a liquicidade condenando o mundo a se congelar numa nova Idade de Gelo.
Minha expectativa não é o ideal, é um sonho socioeconômico realizável. É o que espero todos os dias ao voltar de meu trabalho performático é um pouco de respeito a minha atitude condicionada. Eu espero respeito por não ser quem sou, espero respeito por obedecer o limite da faixa. Trabalho alienantemente de me configurar ao meu enquadro. E é por isso que toda vez que adentro em meu quarto, esqueletos batem em busca de sair de meu armário. Tudo é performance, tudo é socialmente calculado. Em todo cálculo, viso privar a liberdade da borboleta que vive no armário de meu estômago nauseado. O que tenho que confessar, o que tenho que verdadeiramente falar, é sempre cortado pelo limite do enquadro.
A regra máxima é sempre econômica. É sempre mais austera que a própria austeridade. É a privação do ser para a prostituição do ser. É buscar o viável. É buscar sempre o viável e esquecer o inviável. Esquecendo-se de si em busca do pré-configurado. O preconceito contra si é a segurança de uma prisão preventiva que se molda dentro do molde do corpo, para que a alma psíquica não se exploda em imaginatividade manifesta.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
Acabo de adquirir "Sob a Máscara: as polêmicas de Orlando Fedeli e Fernando Schlithler contra Olavo de Carvalho"
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
Há um buraco no meu peito!
Há um buraco no meu peito amargo. Há um buraco que ninguém mais vê. Ninguém mais vê, ninguém nunca viu absolutamente nada. Ando a sangrar a cada dia, ando padecendo a cada instante. Em cada camiseta, há um sangue invisível escorrendo do meu peito. Eu tenho fôlego, folego o suficiente para caminhar sem coração. Sou esperto o suficiente para dizer que em palavras sutis, vejo conjurações. Conjurações diabólicas do inferno que são os outros. Tudo que quero hoje é chorar, tudo que quero hoje é esquecer até da mais feliz reminiscência, já que mesmo nelas me mergulho em ressentimento.
sábado, 22 de janeiro de 2022
Você já conhece o estilo gamer Sergio Moro?
Vamos lá, em primeiro lugar, temos que nos ater as mãos: elas devem estar invertidas. Jogar com mãos invertidas pode parecer um erro, mas demonstra habilidade fora do comum. Imaginem só: "eu sou tão bom que jogo com o controle invertido". Essa é uma imagem de segurança e demonstra uma postura de quem enfrenta inimigos com as mãos nas costas em meio a porradaria.
O segundo passo? Mensagem nacionalista. Além de jogar bem, a ponto de usar mãos invertidas, você precisa demonstrar que tem uma forte paixão pelo Brasil. Coloque uma mensagem nacionalista. Diga o quanto ama o Brasil e quanto quer defender ele. Só que você não é um defensor qualquer, você é o defensor das mãos invertidas. Você tem garra, coloca uma dificuldade pra si mesmo apenas para demonstrar mais poder e desdenhar os adversários.
Em terceiro lugar, coloque uma mensagem para algum inimigo ou opositor. Só que demonstre que você é inteligente, que manja das referências simbólicas da cultura gamer e junte-as a realidades políticas locais. Desse jeito, haverá um desaforo sutil, próprio de pessoas inteligentes.
Esse foi, meus caros, o método gamer Sergio Moro.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Acabo de zerar Zelda Skyward Sword no Wii
É difícil expressar com palavras do quanto me sinto ao terminar esse belo jogo. Apesar da maioria das pessoas dizerem que o Wii é/foi um console fraco, é possível ver que ele trouxe beleza inigualável perante os adversários de sua época - e nisso há uma velha frase de Dostoiévski demonstra toda razão (ou seria o amor?) do mundo: "a beleza salvará o mundo".
A Nintendo nesse jogo se esforçou em cada detalhe, não que seja o jogo perfeito, mas é um jogo extremamente belo. Chega a ser mais bonito que muitos jogos de Xbox 360 e PS3. O que a Nintendo não podia fazer por hardware, fez por esforço. Eu nunca cansei de notar, enquanto estive jogando, em cada esplêndido detalhe.
É um jogo difícil, requer muitas pausas e demora-se pra chegar em uma conclusão em vários momentos. Demorei mais de 50 horas pra zerar o jogo, foi árduo o meu esforço. Mesmo assim, o jogo é mais que um jogo, é uma experiência poética, é uma experiência mística. Resolver os enigmas, pensar logicamente, dar o enquadramento certo na espada, pensar e pensar de novo e de novo. Sim, é exaustivo, só que infinitamente recompensador. O próprio Ganon - vilão principal - reconhece isso em palavras mais ou menos assim: "você é um exemplar de sua espécie".
Wii é um dos meus consoles favoritos, desde que o comprei, só me vejo satisfeito. Jogos como Mario Galaxy e The Legend of Zelda Skyward Sword ficarão marcados eternamente em minha memória. E digo isso sem eufemismo algum.