sexta-feira, 3 de março de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de C. G. Jung: Capítulo 2: Carl Gustav Jung e Sigmund Schlomo Freud"

 



Jung e Freud eram, ao mesmo tempo, pesquisadores originalíssimos no campo da medicina e psiquiatria. Também compreendiam que havia mais no aparelho mental do que de fato estávamos propensos a acreditar. As teorias de Jung, até aquele momento, complementavam e endossavam a de Freud. Não por acaso surgiu a relação que os dois nutriam durante um bom tempo.


Jung viu em Freud a coragem intelectual que não viu em seu próprio pai. Freud representou-lhe a potência da figura paterna que lhe faltava. Nisto Freud virou simultaneamente Mestre e Pai. Jung virou seu Discípulo e seu Filho. Tão logo para virar o príncipe da psicanálise. Essa relação tão terna logo viraria um jogo cruel.


Jung gostava de estudar os fenômenos espirituais, acreditava no inconsciente coletivo - legado psíquico da humanidade - e também tinha uma teoria mais geral da libido. Já Freud via isso como traição a sua teoria, não gostava dos fenômenos espirituais - tidos como arcaicos - e tampouco gostava do rumo que as teorias de Jung iam tomando. Tudo isso levou a uma separação radical entre os dois que eram outrora tão próximos.


Uma história interessante, seja a nível biográfico, seja a nível intelectual. Certamente pode levar a questões que revelam a densidade psíquica de ambos e  o que ambicionavam em suas vidas. Também se poderá ver as limitações que cada um apresentava e as suas fraquezas, seja como seres humanos, seja como intelectuais.


O que demonstra que a vida intelectual não é só um apanhado de observações de homens distantes. Ela é carregada de afetos de todos os tipos. E as crenças, igualmente depositárias de identidade (eu plural), afetam-nos de modo que nem sempre conscientemente sabemos.

quinta-feira, 2 de março de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada: C. G. Jung - Capítulo 1: a vida de Carl Gustav Jung"

 



A vida de Jung é um grande mistério. Estudá-la pode levar a um estranhamento, podendo-se crer que ele seja um simples louco ou uma espécie de místico. Na primeira, tem-se o descrédito acadêmico como conclusão. Na segunda, chega-se a conclusão de que ele era um homem que chegou no patamar mais alto da religiosidade.


De qualquer forma, ignorar Jung não chega a ser de longe uma opção. Seus estudos são notórios, há necessidade de se pontuar sobre ele, mesmo que seja para se pontuar contra ele. Jung carrega aquilo que chamamos de inevitável. E todos aqueles que estudam, são obrigados a olhá-lo, mesmo que seja com desgosto. Porém aqueles que o estudam, podem aprender muito com a genialidade dele. Já o contrário é bem incerto.


Jung é um homem que sintetizou ciências naturais, filosofia, psiquiatria, espiritualismo, religiões. É um homem do tamanho dum universo inteiro. Difícil de ser compreendido até mesmo por seus próprios seguidores devido a complexidade de sua inteligência. A forma que muitos acadêmicos o viram foi espantosa, sobretudo numa época em que os assuntos espirituais entravam em declínio. As suas respostas suavam como um desafio ou um anacronismo.


Ignorando-se as polêmicas, Jung foi um homem capaz de estudar como ninguém os fenômenos da consciência, contribuindo com noções que até hoje são basilares à psicologia. Criou até mesmo uma escola de psicologia inteira. Talvez nos falte, ainda hoje, um olhar mais aberto para com tudo aquilo que ele nos proporcionou com seu vigoroso gênio.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud - Considerações Finais"

 



Chegamos finalmente na análise do capítulo final. Optei por fazer uma análise em forma de série para testar um formato mais expansivo de análise. Um formato em que fosse possível ter "textos maiores" no diminuto espaço que essa plataforma permite. Para tal, selecionei alguns livros em que se poderia aplicar tal formato de "análise em série". (Pretendo fazer outras).


Neste capítulo, somos apresentados a conclusão do que chegou a ser a obra de Freud. Quais seriam as mudanças paradigmáticas apresentadas pela conjunção de sua obra. E, certamente, Freud realmente foi propulsor duma revolução paradigmática em vários campos devido a sua mudança de fontes.


Até no tempo de Freud, a psicologia - além de outras áreas do conhecimento humano - eram reflexos do pensar teológico. A principal mudança que Freud promove é uma psicologia baseada não em fundamentos sobrenaturais, bíblicos ou religiosos. Tal troca foi de fundamental importância para o desenvolvimento da psicologia moderna, não só dela como também de outras partes do conhecimento humano.


Freud também trouxe um olhar mais aprofundado na sexualidade. Tema muito essencial e pouco estudado. O que o colocou numa série de polêmicas devido a mentalidade pouco dialógica da época. Essa também foi uma contribuição de Freud.


Outra, a que mais me encanta, é a noção de que muito de nós nos escapa. E que devemos estudar metodologicamente a nós mesmos para que não sejamos controlados pelas nossas parcelas inconscientes. Esse entendimento possibilita um desenvolvimento rumo à maturidade e maior integração unitária de nossa consciência. 


Esse livro é bastante simples, porém coeso e apresenta uma série de informações que podem levar o leitor ter um olhar mais próximo da psicanálise e, quem sabe, tornar-se um dia um psicanalista.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Kage no Jitsuryokusha - Vol IV - Aizawa Daisuke" (lido em espanhol)

 



Para quem esteja meio perdido: cada novela apresenta dois arcos distintos, o anime adaptou duas novelas (logo quatro arcos). Ao terminar essa novela, estou quatro arcos adiantado ao anime. Este por sua vez, assim espero, adaptará a terceira novela, com base também no mangá.


Nesse volume, somos apresentados ao arco em que ocorre uma guerra civil no Reino de Oriana e um arco em que Shadow retorna ao Japão. No final, somos alertados pelo autor que a sua receberá uma adaptação em anime.


Quanto a esse volume: gostei mais do primeiro arco do que do segundo. Embora nenhum se compare em nível dramático ao final do terceiro volume da novela. Não há um grande vilão a ser apresentado no final do volume dessa novela, o que impacta negativamente. Embora esse volume também traga a questão do multiverso e que a Seita já está informada disso. Agora o Jardim das Sombras conta com essa informação e ainda por cima adquiriu tecnologia avançada do outro mundo graças a viagem do Shadow ao Japão.


Aparentemente o próximo volume contará o impacto da tecnologia avançada no mundo em que Shadow se encontra e uma história que estará no Reino de Midgar. Ao menos é isso que indica o caminho tomado pelo autor.


Essa novela me pareceu mais um esquentamento do que virá a seguir do que um volume impactante de fato. Mesmo que essa preparação não deixe de ser interessante, não me foi muito ao gosto. Gostarei de ver como tudo isso impactará no próximo volume da novela.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

VOCÊ JÁ IMAGINOU COMO SERIA O INFERNO?

 



Neil Gaiman não só imaginou, como escreveu um dos contos mais memoráveis de toda a história - ao menos na visão deste que vos escreve. E sabe qual a melhor parte de estar no inferno? Nenhuma, né, meu/minha caro/cara. O bom mesmo é você saber que o projeto LATIR CONTRA OS GRANDES está de volta e com um "conto de terror" de arrepiar, seja no YouTube ou no Spotify!


Ouça agora mesmo essa maravilha diabólica:


YouTube:

https://youtu.be/kDTEN2SlS2k


Spotify:

https://open.spotify.com/episode/41aRTGka60Otca4Ub1Om5F?si=c26tooFeQ_SEgA5Arl9GUw

Acabo de ler "Kage no Jitsuryokusha - Vol III - Aizawa Daisuke" (lido em espanhol)

 



Existem sutilezas que só uma pessoa habituada aos múltiplos caminhos da inteligência poderiam chegar. Uma dessas capacidades é a capacidade de sintetizar a universalidade de um saber numa única obra. Isto é, traduzir todo seu conhecimento sistemático numa unidade ordenada capaz de abordar múltiplos pontos de forma coesa. Um ponto em que a diversidade heterogênea encontra uma síntese fulminante, em que todas as fragmentárias partes adentram como uma só. Essa seria a unidade do conhecimento, a iteração dos saberes.


Ora, se você se pergunta a razão de eu estar fazendo essa introdução numa abordagem mais ligada à epistemologia em vez duma simples crítica literário, já respondo: esse livro, bastante conexo, demonstra uma inteligência formidável que dificilmente poderia ser apreciada de forma correta por olhos mais desatentos. O autor conseguiu de forma simultânea aplicar toda uma capacidade narrativa, junto a um imaginário fantástico - que demonstra e demanda por sua vez um conhecimento de mitologia comparada - ao lado dum conhecimento de economia.


Nessa história, vemos uma dramaticidade em que Shadow aparentemente trai suas companheiras do Jardim das Sombras. Isso gera um grande conflito psíquico e identitário nas pobres donzelas. No final, tudo se ajeita de forma brilhante. Todavia o objetivo de Shadow, homem ininteligível, era de fato as trair. Só que o autor colocou de forma brilhante toda essa confusão e, mais uma vez numa solução que é boa para os personagens e intrigante para o leitor, deu-nos um show de lore. O personagem central não sabe o que faz, as personagens secundárias também não compreendem e acham que compreendem. Toda essa sutil trama se revela ao leitor como numa quebra sutil de quarta parede em que, no fim de tudo, rimos de tal desfecho e deslumbramo-nos intelectualmente da capacidade do autor.


Com certeza essa é uma das obras mais fantásticas de toda a cultura nipônica e, certamente, uma das que mais me interessei. Tanto que li esse livro inteiro em um único dia. Espero que, se alguém ler essa análise, tenha o coração tocado e também vá ler a pequena novela ou assistir o anime.

Acabo de ler "Kage no Jitsuryokusha - Vol II - Aizawa Daisuke" (lido em espanhol)

 



Para aqueles que se perguntam até onde o anime adaptou, a resposta está aqui: até o segundo volume da pequena novela. Não saberia dizer ao certo onde o anime está em paralelo ao mangá, visto que não o li. Recomendo que, a quem interessar, busque ler a pequena novela e não o mangá. Ela é o material original, já o anime e o mangá são adaptações. Todavia sintam-se livres para decidir se preferem uma experiência mais literária pela pequena novela ou mais "artística" pelo mangá.

Também é válido dizer que: se você não tem interesse em ter a mesma experiência que já teve através do anime, será melhor que busque o terceiro volume da pequena novela logo de imediato. Eu optei por ter o contato com o conteúdo que já sabia previamente por dois motivos:
1. Para ter uma experiência diferente onde poderia imaginar as cenas por mim mesmo;
2. Para treinar o meu espanhol.

Nesse volume, o enredo toma proporções ainda maiores. O autor teve de dar continuidade a certos planos sem que o aspecto cômico ou o aspecto mais sério fossem priorizados de forma a apagar o brilho do outro. Isto é, o pano de fundo tenebroso continua a ganhar saltos de detalhes sem o conhecimento do protagonista. Dessa forma, a seriedade e a qualidade da obra se aprimoram sem alterar a substancialidade e originalidade estabelecidas no volume anterior.

Shadow continua sendo só um homem vivendo o sonho puramente egoísta de ser uma espécie de Batman enquanto o mundo ao seu redor sofre com uma tensão que não lhe afeta em quase nada - seja pelo seu poder absoluto, seja pela sua alienação em relação ao ambiente circundante. Esse aspecto ininteligível não é captado por ninguém, já que esses atribuem intencionalidades muito mais complexas e grandiloquentes que o protagonista de fato almeja. Essa falta de conexão e inteligibilidade permeia toda a obra e dá o charme que lhe é próprio.

Certamente uma história que vale a pena rever, já que ela traz uma realidade psíquica muito mais detalhada do que é possível num anime - onde as emoções dos personagens devem ser muito mais subentendidas por causa de sua forma menos explícita.