quinta-feira, 30 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 21)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 279 à 288). Aqui estamos, novamente, no prelúdio da segunda guerra mundial. Já tínhamos visitado esse período turbulento da história da humanidade pela brilhante análise de Emil Ludwig, todavia voltamos a ela com base no Instituto Marx Engels Lenin. Estamos, mais uma vez, na questão camponesa e na coletivização dos campos.


A questão da coletivização dos campos tinha a ver com a sua produtividade para dar sustentação à pátria socialista. Isto é, garantir a autossuficiência da União Soviética, permitindo um desenvolvimento autônomo de suas políticas internas. Sem essa autonomia, a própria capacidade de uma política econômica de natureza socialista seria severamente prejudicada, visto que a negociação com as potências socialistas envolveria uma certa submissão aos seus interesses que eram contrapostos aos interesses socialistas.


Os camponeses tinham uma visão de apego às suas terras. Anos de dominação czarista e a própria tradição campesina criaram essa mentalidade. O que as autoridades soviéticas e o movimento socialista tentaram demonstrar é que a qualidade de vida seria infinitamente superior se industrializada e mecanizada. A resistência se dava mais pela superstição e pelo medo de perder tudo novamente. Tais crenças geraram um período de turbulência interna, mas a ausência de sua resolução geraria um atraso no desenvolvimento econômico soviético e, igualmente, uma insuficiência que prontamente serviria para o ataque externo. Essa dupla fragilidade (interna e externa) geraram a pressão para uma política mais intensiva.


Evidentemente que esse período, bastante frágil e complexo, quando resolvido, gerou a possibilidade de um aumento de produtividade na agricultura e, mais tarde, seria esse mesmo desenvolvimento que sustentaria a União Soviética contra a agressão nazista. Os custos da realpolitik muitas vezes requerem um grau de crueza na condução de nossas ações.

domingo, 26 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 20)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 269 à 278). Nesse capítulo, a questão tratada é o desenvolvimento do Estado socialista. Se na parte anterior, ficava cada vez mais claro que a União Soviética deveria desenvolver métodos que assegurassem a sua autonomia, nesta parte vemos quais foram as decisões tomadas em prol da construção da pátria socialista.


Em primeiro lugar, é impossível garantir que o país trabalhe com fome. Os métodos empregados pelos camponeses eram frágeis e pouco técnicos. Não poderiam servir para alimentar as massas proletárias e nem garantir a subsistência das forças armadas revolucionárias. O desenvolvimento do campo – a coletivização, maquinização e tecnicalização – se demonstrou uma das mais urgentes necessidades.


Por outro lado, um país precisa aumentar a sua produtividade com recorrência. Sem um aumento de produtividade, é impossível aumentar o bem-estar populacional. Ou seja, a própria ampliação do acesso a bens e serviços requer o aumento da produtividade. Para tal, se faz necessário a utilização de um maquinário que eleve a capacidade produtiva do país. Essa luta pela construção duma indústria – sobretudo a pesada – que desse suporte a construção do maquinário que seria empregado pelo campesinato e proletariado foi igualmente necessária.


Além disso, um país ameaçado pelas pretensões imperialistas européias requeria uma indústria militar sofisticada. A defesa da pátria socialista requeria um desenvolvimento militar ordenado e disciplinado. Logo houve a criação duma indústria bélica que ia em direção a proteção do país e a preparação com o inevitável conflito que se daria pela própria natureza do imperialismo.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 19)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 257 à 268). Um comportamento recente me vem chamando a atenção no momento em que faço a leitura e escrevo essa análise: Trotsky é descrito muitas e muitas vezes como um notório sabotador e de planos incongruentes, como se quisesse destruir a União Soviética e restaurar o capitalismo na Rússia. Essa forma de descrevê-lo, perdoem-me o tom, me parece traiçoeira e enganosa. Sobretudo com base em outras análises estudei sobre a União Soviética, não creio que Trotsky seja um antissocialista – e nem que Stalin o seja.


Uma condição bastante interessante da revolução russa foi a questão da relação problemática entre o proletariado e campesinato. Se é o proletariado o condutor da revolução e aquele para qual se destina o Estado socialista, qual seria a relação do proletariado com o campesinato? Por muito tempo, o próprio campesinato foi uma classe de muitos debates na União Soviética e teve que ser convencido – e muitas vezes lutou contra o regime – a aderir a mentalidade socialista. Os socialistas acreditavam que o campesinato era muito apegado a sua propriedade e, por vezes, adquiria comportamento reacionário.


Uma outra parte que surge desse capítulo é a questão da União Soviética ser um país – ou conjunto de países – agrário. Isto é, seria impossível manter o país seguro sem um desenvolvimento que garantisse a autonomia da Rússia frente aos seus rivais imperialistas, pois estes a sabotariam de todos os modos. O desenvolvimento foi, então, um dos pilares da autonomia soviética. Sem desenvolvimento econômico, sem comida, sem forças armadas: a autonomia é uma mera abstração e não uma existência efetiva. Nesse sentido, podemos ver que os soviéticos eram imensamente realistas.


A ideia de Trotsky era, segundo esse capítulo, a de fortalecer o comunismo de guerra. O que poderia levar a um levantamento duma nova guerra de classes – agora entre o proletariado e o campesinato. A ideia de voltar atrás, por um período provisório, permitiu um levantamento de forças e estratégias para essa delicada questão político-econômica.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 18)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 249 à 256). Essa parte é bastante interessante: a luta revolucionária na Rússia tem dimensões que usualmente não aparecem na análise da maioria das pessoas: as múltiplas intenções das alas bolchevistas, a intervenção externa, as alas revolucionárias que estavam em choque, dentre tantos outros fatores que dão ares muito mais complexos do que usualmente se supõe.


Stalin é aqui mencionado como organizador do Exército Vermelho, auxiliando fortemente em todos os locais em que se formava uma crise ao poder revolucionário. Ou seja, ele era o responsável por apagar a crise e impor a ordem. Com tamanha atuação, é impossível pensar em sua figura como a de alguém de menor importância para a Revolução Russa. Mesmo que, com o tempo, tenham tentado diminuir a dimensão de Stalin.


Deve-se a Stalin a formação geográfica dos países da União Soviética. Foi ele o "criador de povos". Ele trouxe uma política oficial, a partir do marxismo, para construir os diferentes povos soviéticos. Embora muito seja falado sobre a predominância russa e, até mesmo, daquele "imperialismo social" que os chineses acusavam a União Soviética de usar – tema pouco debatido nas academias nacionais.


De qualquer forma, é quase impossível não assumir posturas autoritárias num país fragmentado e em que o novo Estado deve reinvindicar para si uma nova forma de agir. Na luta pelo poder, sobretudo em períodos de grandes choques e com grandes problemas sociais a serem enfrentados, pode-se observar quase o mesmo em diferentes proporções. Ou seja, quase todas as posturas soviéticas não se dariam de diferentes modos em distintos regimes ou países, são quase como consequências naturais – embora existam alguns acidentes e particularidades próprias.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 17)


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 237 à 248). Infelizmente o livro consta com um erro de impressão, logo o capítulo "V" dessa parte aparece duas vezes seguidas. Com palavras exatamente iguais e a mesma quantidade de páginas. Logo foram seis páginas lidas e mais seis páginas ignoradas para poupar tempo e porquê eu não analisaria duas vezes o mesmo capítulo.


A questão tratada nesse capítulo é: qual caminho revolucionário deve ser seguido, isto é, o de uma revolução democrática burguesa ou uma revolução socialista proletária? O caminho da revolução russa – de índole marxista-leninista – vai na direção da revolução socialista proletária. Os revolucionários bolchevistas chegaram à conclusão de que era melhor uma revolução de caráter socialista pela impossibilidade de saber se uma revolução socialista seria possível posteriormente. Como era apenas uma vaga hipótese, resolveram pegar primeiramente o poder para si em vez de entregá-lo aos burgueses.


É interessante a ideia de "marxismo criativo" de Stalin contra o "marxismo dogmático" de Trotsky. O marxismo de Stalin poderia indicar que o socialismo é possível num país só ou que a Rússia poderia indicar o caminho socialista através de sua revolução. Enquanto o de Trotsky dependia da revolução em países desenvolvidos – visto que a Rússia não poderia se sustentar sozinha graças ao seu parco desenvolvimento.


Em relação ao desenvolvimento socialista na Rússia, creio que ele teve altos custos. Custos impostos pelas duas guerras mundiais, pela guerra civil, pela sabotagem interna, pela luta para efetivar o poder revolucionário, pela corrida armamentista e pela corrida espacial. De uma forma ou de outra, a União Soviética sempre se viu eternamente ameaçada pelo conflito interno ou externo, nunca podendo ter tempo livre para um exercício tranquilo de sua auto-organização.

terça-feira, 21 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 16)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 233 à 236). Mais uma vez, nos deparamos com a pergunta: quem foi Stalin? Essa pergunta, repetida infinitamente, tem um esforço mais pedagógico do que uma função de mantra. Nossa investigação, até o presente momento, nos indica alguns posicionamentos:

1- Stalin foi mais relevante do que se supõe;

2- Stalin foi um revolucionário ativo e que participou em posições estratégicas cruciais;

3- Stalin não era um homem inculto, muito pelo contrário;

4- Stalin tinha notável domínio acerca da teoria marxista;

5- Stalin foi um homem disciplinado e estudioso;

6- Stalin foi um hábil estrategista geopolítico, compreendendo as distintas nacionalidades e seus respectivos problemas.


Ora, é um quadro infinitamente distinto do qual usualmente pintam. Stalin foi formador de muitas nacionalidades soviéticas e promoveu a elevação delas a povos reais. Isto é, ajudou no desenvolvimento de sua autonomia. O seu desenvolvimento, por sua vez, era mais benéfico que o estado anterior de submissão ao império czarista. Só esse fato já demonstra a genialidade de Stalin na compreensão dos povos que existiam ao redor da Rússia e a sua capacidade de compreensão geopolítica elevada.


Outra condição: Stalin não era muito dado a violentas abstrações. Enquanto Trotsky falava sobre a necessidade duma revolução permanente e priorizava a revolução europeia, Stalin falou sobre a capacidade russa de ter a sua própria revolução e criar um desenvolvimento socialista. Ou seja, não caiu na vaga hipótese duma revolução proletária na Europa – condição essa que nunca chegou a ocorrer de fato e que demonstra a capacidade política de Stalin de não cair em abstrações e hipóteses demasiadas.


É fato notável que Stalin não era incompetente. E se ele usou teorias e técnicas de adversários, isto não é um ponto negativo: reconhecer o mérito de rivais, apesar da discordância pontual, não é só maturidade política, também é sinal de maturidade intelectual. Dito isto, a forma de Stalin aparece de forma nova: uma muito mais benigna e menos violentada pelo ressentimento político.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 15)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 229 à 232). Com a derrota da primeira revolução russa, algumas conclusões foram tomadas:

1- Era necessário uma expansão do conhecimento doutrinal da doutrina bolchevique por parte dos trabalhadores;

2- Dominar o processo revolucionário era de suma importância para garantir a permanência e vitória plena da própria revolução;

3- O partido que liderasse a revolução também seria o partido que dominaria o Estado revolucionário que surgiria dessa mesma revolução.


Ora, a política não é uma arte fácil. Ela é bruta e ao mesmo tempo sutil. O "sutil" empregado aqui está no sentido "esotérico" de "mundos sutis", isto é, mundos que precisam de alto conhecimento para se compreender a sua dinâmica processual na totalidade ou quase totalidade de sua inerente complexidade. Os bolcheviques, sobretudo os seus líderes, habituados na leitura dum pensador tão complexo quanto Marx, não seriam incapazes de compreender tamanha necessidade. Além disso, a política é bruta pois se dá em paralelo a dinâmica dos desejos que se conflitam e dos poderes que se anulam. O acúmulo do poder também é, por sua vez, a possibilidade de efetivação do próprio desejo.


Todos aqueles que batalhavam naquele período turbulento queriam o poder para efetivar o próprio desejo. As múltiplas versões revolucionárias, as versões reformistas e até mesmo as reacionárias. Todas queriam o poder para realizar o próprio desejo. Seja o desejo de sua classe, de seu grupo, de sua religião, de seu povo ou um desejo de natureza pessoal. Essa é, em si mesma, a natureza do poder e do seu conflito que é sempre intrínseco e, quiçá, necessário.