segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Acabo de ler "Barbaria em Berlim" de G. K. Chesterton



     Acabo de ler "Barbaria em Berlim" de G. K. Chesterton.


    Nesse livro podemos ver o posicionamento de Chesterton na primeira guerra mundial e como as suas previsões serviram até mesmo para se chegar a Alemanha nazista - a qual ele não esteve vivo para ver por completo, mas que antecipou com clareza. Esse livro não demonstra só um mero posicionamento antiprussiano, mas também um posicionamento antirracista.


    Chesterton sempre foi um excelente analista do pensamento. A razão dele ter se colocado como antiprussiano se dá pela incapacidade que a Prússia tinha de adotar padrões necessários a vida civilizada real. Em outras palavras, a Prússia se entregava a parcialismos grosseiros que achavam que era inovações, quando eram, na verdade, apenas uma limitação de uma consciência precária. Um desses era a ideia e o ato constante de fazer promessas e traí-las, encontrando nisso uma suposta compreensão científica e civilizacional. Um desses parcialismos era o teutonismo, teoria pra lá de racista.


    Para Chesterton, havia-se a diferença entre o "bárbaro pré-civilizado" (bárbaro negativo) e o bárbaro que, com suas ideias tortas, poderiam destruir a civilização (bárbaro positivo) com seus modos e pensamentos. Quando a Prússia criou o seu modo de agir grosseiro, ela propriamente criou um patriotismo que queria destruir as outras pátrias por acreditar que só ela mesma era uma pátria. Mais uma vez, noção parcial e bárbara. Mais uma vez, pensamento que gera ação destrutiva, expansionista e belicosa. E a cereja do bolo do pensamento da Prússia nessa época (que também seria a cereja do bolo da Alemanha nazista) era a sua teoria racial que distorcia tudo para "propósitos de raça". Racismo é, propriamente, um reducionismo de raça - bem ao contrário do biopsicossocial e espiritual - e esse parcialismo grosseiro gerou uma série de desastres pelo mundo. É isso que Chesterton sabiamente enfrentou.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Acabo de ler "Como se Levanta um Estado" de Oliveira Salazar



     Acabo de ler "Como se Levanta um Estado" de Oliveira Salazar.


    Isso é apenas a análise de um livro e de um pensamento. Não estou defendendo coisa alguma - e muito menos defenderia uma ditadura.


    Poder-se-ia dizer que a crítica do integralismo ao nazismo, ao comunismo e ao fascismo está na natureza totalitária que esses regimes possuem. O integralismo, ao contrário do senso comum, possui aspecto autoritário e não totalitário, isso decorre de sua natureza corporativa que reconhece outros poderes além dos seus. Há, então, uma fragmentariedade do poder e não uma totalidade absoluta do poder que caracterizaria o totalitarismo que é, como já diz o próprio nome, totalitário.


    A crítica ao sistema democrático do integralismo se dá de outra forma: a democracia é tão fragmentária em seus interesses que começou a criar vários polos de fragmentos que, por sua própria natureza fragmentária, impossibilitam a condução política. Para o integralista, o poder deve ser autoritário para que haja real liberdade. Visto que, na ordem democrática, o poder se paralisa ante aos vários fragmentos que brigam entre si. E se o resultado do dogma liberal "não há liberdade contra a liberdade" leva a própria autoanulação dessa mesma liberdade, a crítica de Salazar poderia se dizer certeira.


    Se a liberdade democrática se divide em múltiplos poderes partidários e esses múltiplos poderes partidários tornam incapaz a própria realização de qualquer um desses múltiplos poderes partidários... Não há liberdade democrática, já que ela é processualmente contraditória consigo mesma. Essa é a hipótese salazarista. Salazar buscou em seu livro defender o valor do trabalho, atacar a plutocracia, defender a família e sua subsistência, a religião, a virtude e o a nação. Sua mentalidade antiliberal e antissocialista é hoje, para maioria de meus contemporâneos, uma incógnita e um caminho até mesmo impossível. De qualquer forma, gostei de ler o livro.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Acabo de ler "Literacia no Islã"

 


“Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o homem de algo que se agarra. Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que ensinou através do cálamo, Ensinou ao homem o que este não sabia.” (Alcorão 96:1-5) 


    Acabo de ler "Literacia no Islã". Documento de caráter histórico, mas também teológico. Fortalece ainda mais o meu respeito por essa admirável tradição religiosa e a necessidade de diálogo e abertura.


    A primeira palavra revelada para Muhammad é "lê". A leitura é o primeiro milagre: a importância da leitura se dá como ato primordial no Alcorão. Poder-se-ia dizer que a literacia - arte do letramento, da interpretação, da escrita, da compreensão - é parte constitutiva da religião islâmica. É baseado nesse mandamento divino que Muhammad seguiu a sua vida criando condições de estudo, em diversos círculos, por onde passava para que a religião aumentasse. 


    O Islã é tão impulsionado pela literacia que diz até mesmo que Alá facilitará o paraíso para aquele que estudar. A busca por conhecimento facilita o paraíso. Essa característica marcante fará com que a educação islâmica entre em complexidade constante, sempre aumentando o número de tópicos e aprimorando a técnica intelectual de passagem de conhecimento. Aprendia-se com enfoque no Alcorão, mas também buscava-se o conhecimento em outras partes. Tal fato é tão constante que enquanto o conhecimento no mundo europeu ficava restringido a certos círculos religiosos, Bagdá tinha as suas bibliotecas públicas que possibilitaram o estudo de forma mais comum, abrangente e democrática. 


    Quando Bagdá foi atacada, parte dos livros que ali estavam se perdeu. E muitos de seus moradores tinham livros como aspecto lendário. O amor ao conhecimento era transbordante, transbordante a ponto de se tornar até mesmo uma regra estética da cidade. Uma frase de brincadeira ilustra brilhantemente esse pensamento: “É uma antiga doença no Iraque - as pessoas gastam seu dinheiro em livros, não em comida”. Poder-se-ia dizer que a frase de Cristo: "Jesus respondeu: :Está escrito: 'Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'" (Mateus 4:4) é aplicada ao mundo islâmico num sentido intelectual-espiritual. 

Acabo de ler "A Cruz Azul" de Chesterton


 "— Você atacou a razão — disse o Padre Brown. — Isso é má teologia"


    Acabo de ler "A Cruz Azul". Esse é o primeiro conto em que o Sherlock Holmes católico, o Padre Brown, aparece. Ele descobre tudo mais pela introspecção sobre a natureza humana do que por uma metodologia científica - apesar de não negá-la. 


    Na teologia cristã, até a onipotência divina obedece a lógica. E isso se dá por uma razão precisa: a esperança superará o desespero por causa da esperança ser um fim supremo e a desesperança ser só a privação da esperança. A aparente desordem será um dia compreendida e quem crê em Deus crê na ordem, mesmo que esteja na mais profunda noite do espírito, na mais profunda depressão: um dia tudo há de ser salvo. E a salvação da criação é o mais profundo desejo cristão. É por isso que tudo nesse conto não parece ter sentido até chegar ao final. E no final tudo é salvo, tudo é ordenado, por uma boa razão: o fim da humanidade é retornar ao Jardim do Éden, para viver o paraíso da perfeita plenitude.


    Poderia dizer muitas coisas, mas seria privar esse magnânimo conto de falar por si só:


"— Ah! Sim, esses infiéis modernos apelam para a sua razão; mas quem seria capaz de olhar para aqueles milhares de mundos e não sentir que podem existir universos maravilhosos acima de nós, onde a razão é completamente irracional?"


"— Não — disse o outro padre —, a razão é sempre racional, mesmo no último limbo, na fronteira perdida das coisas. Eu sei que as pessoas acusam a Igreja de desvalorizar a razão, mas na verdade é o contrário. Sozinha na Terra, a Igreja torna a razão realmente suprema. Sozinha na Terra, a Igreja afirma que o próprio Deus é limitado pela razão." 


"O outro padre ergueu a face austera para o céu cintilante e disse: — Além disso, quem sabe se naquele universo infinito?..."


"— Infinito apenas fisicamente — disse o pequenino padre, voltando-se com energia energia em seu banco —, não infinito no senso de escapar das leis da verdade"


    O que há de se afirmar é que: o ser é. O sofrimento terá fim. É isso que aprendi com esse conto. O fim é a ordem suprema. O mal acabará. Essa é a razão da esperança e do caminhar. Essa é a fé cristã: o fim de tudo é a felicidade.

sábado, 14 de agosto de 2021

A fim de ler artigos católicos?


     Sou o tipo de idiota que fica feliz com pequenas coisas. E gostaria de dizer que acabo de conhecer um site muito interessante cheio de artigos católicos para se baixar e se inteirar pela fé católica. Isso mesmo, você poderá conhecer um bom site tomista e baixar artigos de graça:

http://filosofante.org/filosofante/

    Eu já estou fazendo o meu compilado de artigos para eu ler nas horas vagas. O autor deles é o mesmo que escreveu sobre a teologia da inquisição de Tomás de Aquino.

Acabo de ler "O Carisma de São Domingos"

 


"Sua cela é o mundo, e o oceano é o seu claustro"

Mateus de Paris


    Acabo de ler "O Carisma de São Domingos" do Frei M. D. Chenu OP


    Ler um livro - ou, nesse contexto, um livreto - que trata da história da Igreja e a forma como que ela se organiza ou se organizou é sempre um trabalho grato. Já que não ensina tão apenas uma erudição vácua, mas uma possibilidade real de aprendizagem não só histórica, como também evangélica.


    A imagem de Igreja meramente estática é perfeita e cabível para quem não conhece a sua história. Sim, a Igreja é sempre estática, mas também é sempre nova. Ela é algo sempre velha e sempre nova. Já que o Cristo é o mesmo, mas o homem que caminha com ele é sempre outro. Escrevi em uma de minhas anotações acerca desse pequeno livreto que: tradição é caminhada. E creio que essa frase possa dizer que tradição é transmissão e até mesmo expressão. A tradição não é uma mera expressão ritualística, ela é também uma ideia que pode assumir até mesmo outra forma de ritual. Visto que a essência da tradição é a ideia. E o contato e relação da ideia com o mundo é sempre renovado com uma nova forma de expressão.


    Chesterton define o movimento dos frades como algo revolucionário na sua biografia sobre Santo Tomás de Aquino. O antigo religioso construía o seu mosteiro longe do povo para viver em intensidade evangélica e vivia numa rígida hierarquia. O novo religioso viverá ao lado do povo para convertê-lo, o novo religioso será dinâmico e menos hierárquico. O novo religioso acrescentará o voto de pobreza ao lado do voto de castidade e obediência. Coisa que será encarada como uma forma de heresia e tentará até se proibir, mas logo se foi aceita essa "revolução religiosa". Chesterton diz graciosamente que se tornar um frade era como se anunciar comunista - ao menos para efeito cômico, alegórico e poético. Só que tal piada tem um fundo de verdade amplo e histórico. Os frades eram reformadores sensatos e compreenderam a necessidade histórica. São Francisco e São Domingos são sempre exemplos clássicos por sua eternidade e beleza. Sua "revolução" é eterna, já que é assentada em Cristo Rei.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Terminei de ler "Fé Cristã, Razão e Secularismo: uma síntese do pensamento de Joseph Ratzinger"

    Terminei de ler "Fé Cristã, Razão e Secularismo: uma síntese do pensamento de Joseph Ratzinger" escrito por Heber Ramos Bertuci.


    A teologia que é o discurso sobre o divino é algo que sempre houve, houve até mesmo antes do surgimento do cristianismo, mas que é característica distinta da religião cristã devido a sua qualidade, quantidade e intensidade. O cristianismo desde o seu nascimento buscou a aproximação com a filosofia, sempre fusionando a mentalidade grega com a hebraica. Tal caldo cultural possibilitou o surgimento do discurso cristão enquanto tal. Apesar das constantes brigas e intrigas: o cristianismo é uma religião intelectual e sempre o foi. 


    Poder-se-ia dizer várias razões para se falar da intelectualidade cristã, mas deveríamos visar em primeiro lugar o básico. O que são as "religiões do livro"? São as três religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Nessas religiões, só se é possível ser verdadeiramente fiel se se for alfabetizado. Decorre-se desse fato a necessidade de se alfabetizar para se religiosizar. Já que todas essas religiões requerem a leitura de seu livro religioso. Começa-se a partir daí o desenvolvimento intelectual cristão: o contato com a sua religião depende da leitura de um livro. Só que quem quer se tornar mais cristão, inserir-se-á num esforço erudito de leitura comparada acerca de sua religião. A meditação cristã é, também, caracterizadamente intelectual: lê-se e reflete. É por isso que as pessoas cursam teologia, estudam teólogos, leem comentaristas bíblicos, estudam história da Igreja, buscam entender a vida de grandes santos. 


    Os primeiros cristãos entregavam-se a apologética (defesa da fé) já de maneira intelectual. A própria noção de teologia cristã é assim dita: 

"Assim, a Fides et Ratio conceitua que a teologia no sentido cristão: trata-se da '... elaboração reflexiva e científica da compreensão da palavra divina à luz da fé...'". 

    O cristianismo nunca se furtou ao debate intelectual e sempre produziu grandes intelectuais. E a doutrina cristã sempre se ampliou e ainda se amplia em constante evolução intelectual.