The Reagan Revolution
Autora:
Prudence Flowers
O surgimento da chamada "New Right" (Nova Direita), ou direita religiosa ou conservadorismo social, foi marcado por uma série de acontecimentos. No geral, além do tradicionalismo moral, essa direita se opõe ao grande governo e a importância do Estado de bem-estar social.
Quando pensamos sobre a New Right, também pensamos em Ronald Reagan. E aqui cabe um aviso: Ronald Reagan, ao contrário da noção popular, não era um mero ator de filmes B. Ele tinha dupla formação em economia e sociologia. Tendo sido formado pela Eureka College. Além disso, há o fato dele ter atuado em cinquenta filmes. Ter sido, na primeira parte da vida, um democrata que apoiou Franklin Delano Roosevelt (FDR). O mesmo FDR que criou o New Deal e que aumentou bastante o tamanho do governo em suas áreas de atuação.
É fato conhecido que Ronald Reagan trabalhou para a GE (General Electric), onde tinha que ler conteúdo anticomuninista, anti-New Deal e revistas conservadoras influentes (como a National Review do William F. Buckley Jr.). As falas de Ronald Reagan refletiam as posições da GE: anti-regulação, anti-sindicato e anti-welfare (contra o Estado de bem-estar social). O que se tornou algo crescentemente político.
Naquele tempo, alguns setores conservadores se opunham ao FDR, o New Deal e o keynesianismo. Eles viam esse programa como corrompedor do capitalismo laissez-faire e da mão invisível do mercado. Eles opunham o Estado de bem-estar social com a caridade privada, a comunidade e a iniciativa individual. Além disso, viam que o New Deal refletia a centralização de poder dos países comunistas. Eles viam no Partido Republicano um espaço pró-mercado, para defender o governo pequeno, para propor pautas anti-regulação e para se opor ao Estado de bem-estar social.
Vamos ver um quadro mais geral dos Estados Unidos e da direita americana.
É evidente que nem todo republicano e nem todo conservador era assim. Por exemplo, Dwight D. Eisenhower — ex-presidente dos Estados Unidos — defendia o chamado "republicanismo moderno". Ele propôs a expansão do Estado de bem-estar social, investimento em infraestrutura, uma defesa cautelosa dos direitos civis, criou a NASA e conciliou os princípios conservadores com a aceitação prática do papel do governo federal nas necessidades sociais.
Um dos elementos a serem mencionados é o Barry Goldwater (escritor do livro The Conscience of a Conservative). Ele defendeu a privatização dos programas de segurança social, os programas populares do governo, o New Deal e disse que o movimento dos "Civil Rights" (direitos civis) deveriam ser matéria dos estados — Goldwater perderia para o sucessor de Kennedy, Lyndon B. Johnson (conhecido pela "Guerra à Pobreza"). No mesmo período, Nelson Rockefeller falou sobre o Partido Republicano estar sendo tomado por fanáticos.
Richard Nixon (Republicano), quando eleito defendeu leis de proteção ambiental, a criação de novas agências federais, a renda universal básica, inicialmente aprovou medidas para acabar com a discriminação sexual e de raça, tendo apoiado até ações afirmativas e cotas. É importante lembrar os republicanos rockefellerianos que defendiam o planejamento familiar, as legislações protegendo o meio ambiente e os direitos civis. Além disso, existiam feministas republicanas (ERA: Equal Rights Amendment), que defendiam o direito ao aborto, ações afirmativas e um financiamento federal para o cuidado de crianças.
Esse quadro, bastante interessante e até estranho ao brasileiro médio, sobretudo para a esquerda que odeia o Partido Republicano e não conhece as diferentes vertentes conservadoras.
Quando a chamada Nova Direita (New Right) surgiu, eles fundaram várias organizações, institutos e think tanks. Dentre eles, está a The Heritage Foundation — conhecida pelo Project 2025 —, o The Committee for the Survival of a Free Congress e o The National Conservative Political Action (NCPAC). Eles defendiam hma moralidade tradicional, condenavam as mudanças sociais, sexuais e de gênero que surgiram após a segunda guerra mundial. Defendiam os valores da família tradicional, sendo evangélicos conservadores ou brancos cristãos fundamentalistas.
Um dos fatores centrais para a vitória neoconservadora foi a Electronic Church de Pat Robertson (Christian Broadcasting Network). Ali existia uma rede de televangelistas que tinham alguns focos e pautas. Eles condenavam a segunda onda do feminismo e a liberação gay. Acreditavam que a segunda onda do feminismo era anti-família, anti-criança e pró-aborto. Além disso, houve quem equiparou a homossexualidade à pedofilia.
Reagan conseguiu se eleger como a figura da Nova Direita (New Right), trazendo o neoconservadorismo para o mainstream, unindo diversas facções do Partido Republicano, energizando o tradicionalismo moral e terminando com a coalizão do New Deal.