quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #7 - Uma Reflexão-Desabafo de um Millennial Cansado

Publicado em 31/07/2018

 

Muitas vezes, pego-me pensando na realidade vivencial de meus colegas. Acabo por sofrer um processo de distanciamento do quadro social em que, supostamente, estaria devidamente encaixado.


Trabalhei por cerca de três meses numa associação que envolvia bastante militância política (no movimento negro). Havia uma coletividade ululante dentro de lá. Tudo era um arcabouço de crenças comuns, intelectuais comuns, ações comuns e gostos comuns. Todo movimento conduzia a uma uniformização para com a coletividade. Tal situação fazia com que o meu psicológico deteriorasse e que eu me sentisse totalmente deslocado naquele lugar que, perdoem-me o termo, mais parecia um hospício ou um recanto de bárbaros.


Mas tal movimento de coletivização e destituição da personalidade não é só presente em grupos organizados presencialmente. A mesma é possível dentro de ambientes que encaixam na chamada sócio-virtualidade. Vejo sempre grupos sócio-virtuais criando uma tribalização que sufoca toda individualidade de seus membros. E, quando me deparo com tal situação, acabo por sair de todos esses grupos. É muito comum que nesses grupos aja sempre uma grave repressão para qualquer entonação discordante.


Para mim, é muito claro que a maioria das pessoas que falam sobre criação da personalidade falam de forma mentirosa ou ingênua (para não dizer burra). Usualmente a formação da personalidade dá-se numa adequação a um dado agrupamento que suga a personalidade da pessoa e insere-a numa personalidade coletiva: assim é no movimento negro, no movimento LGBT, no movimento feminista e, em muitos casos, em movimentos religiosos (mais seitais do que religiosidade) e "conservadores" (com aspas para afastar do verdadeiro conservadorismo).


Para muitas pessoas, uma pessoa só possui "personalidade" quando se assume como mulher, negro, LGBT, hinduísta, asiático e passa a viver numa luta histórica e contemporânea entre seus iguais. Tal crença contraria a própria personalidade pois a mesma depende de seu aspecto individual, de sua autoconsciente e capacidade de delimitação e de escolhas próprias.


Surpreendendo-me com tais casos acabo por me afastar da maioria dos agrupamentos sociais; todavia é-me bastante comum ser surpreendido com críticas de pessoas que, ao inserirem-se em minha rede social ou em minha vida, acabam por me repreender por algumas atitudes. O que sinto e o que posso sentir é: um misto de medo e enojamento. Há também uma tristeza em ver pessoas com tanto potencial que se abdicaram de sua própria existencialidade para viverem em nome duma coletividade.


De qualquer forma, desculpem-me por atordoá-los com um assunto para lá de maçante. Espero que, todavia, tenha lhes dado alguma felicidade ou identificação para com o assunto (se é que isso é possível).

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