terça-feira, 19 de outubro de 2021

Acabo de ler o Alcorão da Introdução à Segunda Surata.




    Acabo de ler o Alcorão da Introdução à Segunda Surata.

 
    "Não há imposição quanto à religião, porque já se destacou a verdade do erro" Surata 2:256.
A maioria das pessoas que desconhecem o Islã sempre o têm de forma negativa, encarando-o como uma fábrica de lunáticos fanatizados. Alguns chegam a loucura de pensar numa ditadura islâmica de nível global, onde islâmicos dominariam o mundo. Só que isso é longe de ser uma verdade, está mais para o contrário da verdade. O Islã é uma religião fantástica com uma riquíssima teologia e uma grandiosa forma de ver o mundo. O "versículo" que postei já demonstra que: não há, na teologia islâmica, apoio a conversão forçada. Tudo isso é, na verdade, um devaneio duma direita delirante.

    Inicialmente ler livros islâmicos e o Alcorão era uma pequena curiosidade intelectual como outra qualquer, mas ao me deparar com tal cultura, desgustei-a de tal modo que o seu gosto ficou em minha boca e, dentro dela, adentrou suavemente na interioridade de meu coração. Logo meu coração palpitava em amor a essa cultura tão nobre e tão bela. Tornei-me, então, amante de tal cultura que expandiu o horizonte de minha consciência a um mundo tão novo quanto belo. A minha cultura religiosa adquiriu uma nova forma, mais aberta, mais crítica e, no entanto, também mais apaixonada pelo estudo religioso comparado.

    A experiência de ler o Alcorão e escritos muçulmanos transcendem cada vez mais aquele respeito abstrato que se aplica a todas coisas na cultura pós-moderna. A experiência agora não é mais de uma tolerância a qual se admita como melhor forma de ver diferentes culturas no seio duma sociedade aberta. Eu não "tolero" o Alcorão e o muçulmano, eu os amo. Aquilo que se ama está acima daquilo que se tolera, já que só se tolera o mal e eu não vejo o Islã como mal. Eu vejo o Islã como um bem.

    É preciso parar de ver sombras munidas de preconceito previamente postos. Já que essas sombras só garantem a obscurantização da razão, razão que é substituída por uma vontade não-dialogante e seitizante. É preciso aumentar os limites do inteligível para que sejamos verdadeiramente livres.

sábado, 16 de outubro de 2021

Essa é, meus amigos e amores, a Loucura Verde.

  


    O sangue que verve em meu coração, tornou-se lágrima e habitou em minha face. Habitou de forma amarga, molhando-me como uma chuva na madrugada. Esse sangue lagrimoso tornou-se texto, fez-se verbo como Cristo fez-se carne, num paradoxo um tanto contrário. Transmitindo a alma de minha alma, habitava não mais em mim, mas habitava entre nós. E agora o sangue de meu coração tornou-se parte de todos e quando eu vi, eu já não era, mas todos aqueles que vivem em mim eram em mim - e por eu não ser só a mim mesmo, senti-me não mais impotente, mas senti-me feliz. Eu era o @Jesus Gabriel , eu era a Valen, eu era o Victor e também me era.


    Se meu coração for puro, tudo será puro. Se Halaal é o que é permitido e halaam o proibido, pouco agora importa. Se meu coração for puro, tudo é halaal. Se meu coração for mal, tudo é halaam. E eu queria que tudo fosse, pois eu não mais era importante. Eu queria não ser o ser que fixa o próprio ser, mas queria a poesia do Gabriel, a maturidade do Victor e arte da Valen. Então, finalmente, sendo eu e não me sendo, senti-me tão livre que era pobre de mim, mas ao mesmo tempo tudo me era. E eu queria sistematizar tudo em mim, não como se eu fosse tudo, mas como se eu fosse parte. Sai de mim, e assim por diante disse: faça o que tu queres, pois há de ser tudo da lei. Então eu não era mais a lei de mim, a lei que julga, a lei que condena, mas a lei do amor que a tudo se abre. Pois o amor é de fato princípio, já que princípio é tudo aquilo que pode ser aplicado sem nunca gerar contradição: e aplicando o amor tudo fui salvo de meu inferno.


    O Gabriel com medo, o Gabriel fragilizado, o Gabriel que não se entrega, de repente, altera-se e pela loucura é guiado numa jornada de ID e loucura verde, já que sensata. Ancorei-me não em meus medos, mas nos desenhos da Valen. Ancorei-me não em minha tristeza, mas na poesia do enfrentamento de Gabriel Jesus. Busquei sabedoria, não em mim, mas no Victor. E todas as minhas contradições lá estavam: poesia, putaria, erotismo, teologia, filosofia e literatura. Não mais numa luta de contrários, já que o amor é princípio e o princípio verdadeiro supera a contradição da consciência.


    Eu busquei, eu busquei a feminilidade da Valen. Eu busquei, como um louco, entrar no mundo de Gabriel Jesus. Eu busquei entender a Dionísio e o seu vinho bacanal pelo o Victor. E por amar a todos, fui salvo, não por mim, mas por eles e o amor que sinto por eles e esse amor gerou poder e mais poder e meu ser já não era tentativa, meu ser era e simplesmente era, não por eu ser a mim, mas por eu ser a Valen, o Victor e o Gabriel Jesus.


    Só o amor salvará o mundo, só o amor precede a razão e a minha razão era insuficiente e fui salvo não por ela, mas fui salvo precisamente dela. Essa é, meus amigos e amores, a Loucura Verde.

Acabo de ler "Teoria da Literatura" de Roberto Acízelo de Souza.




    Acabo de ler "Teoria da Literatura" de Roberto Acízelo de Souza.

    Sempre passei pela ala que focalizava a teoria literária com enorme desinteresse. Nunca pensei que um dia eu estudaria teoria literária e curtiria. Esse livro me entregou parte de um conhecimento que eu quero continuar a ter como salutar pelo resto de minha vida, já que eu amo a ficcionalidade, a escrita poética ou artística. Estudar teoria literária me ajuda a compreender um universo que já amo, que é a literatura. Só que ele aprofunda o conhecimento da literatura e é basicamente isso que eu precisava hoje.

    Um dos trabalhos que quero fazer é relacionado a vida intelectual como uma relação não só de adquirir conhecimento seja prático ou teorético, mas como algo profundamente relacional e profundo. Quero desenvolver a ideia da vida intelectual como uma relação que se trava, um processo não só de conhecimento, mas de convivência. Só que até ler esse livro eu não sabia como eu faria isso e graças a ele, tudo parece se esclarecer.

Acabo de ler "Sobre o Desapego" do Mestre Eckhart.




Acabo de ler "Sobre o Desapego" do Mestre Eckhart.

Esse livro só ressalta um ponto teológico que já tinha em mente há algum tempo: Fé é Desordem, ao menos inicialmente.

O mais incrível desse livro é que ele faz o seu discurso teológico elencando não a humildade como principal virtude, mas o desapego. O autor realmente defende o desapego acima da humildade e até mesmo do amor. A forma com que faz isso é genial e brilhante.

Se Deus é infinito e absoluto, nada pode retê-le. Se nada pode retê-lo, e o homem tem como objetivo principal de vida reter o seu Criador, então ele deve adquirir partículas de Deus. Só que aí vem o problema: se Deus é infinito, se Deus é tudo, tal abertura não é uma abertura que se faça momentaneamente: aquele que quer abraçar a Deus, deve abrir-se infinitamente. Daí vem a natureza desordenada do estudo teológico: aquele que quer a Deus, deve buscá-lo eternamente. O estudo teológico abarca o absoluto por querer abarcar a tudo e só pode abarcar a tudo aquele que se abre a tudo.

Para o estudo teológico, não há contingencialidade adequável, já que o ser deve se abrir ao ser que lhe que é inabarcável. É próprio do diálogo com Deus ser o diálogo com o Outro, já que Deus é o Outro em absoluto: a convivência com Deus é, em si, abertura permanente para esse Outro que é o Outro absolutamente. É incrível que tal percepção encontrava-se na obra de Gustavo Corção ("A Descoberta do Outro").

Sei que alguém dirá: "como a fé é desordem se o fim da fé é a ordenação da alma?". A alma ordena-se na medida em que abarca o infinito, logo o primeiro impulso da fé não é o universo já inteligível, mas aquilo que se deve inteligibilizar. O que marca a fé é a desestruturação do pensamento pela abertura epistêmica que, em primeiro lugar, causa desordem e só depois causa uma adequação ordenadora que deixa o ser, enfim, aliviado momentaneamente. É o desapego, seja a nível doutrinal ou em qualquer outra instância, que abre o ser ao absoluto. Fé é desordem e só a contínua abertura desordenada pode ordenar o homem.

Acabo de ler "Opúsculos sobre as origens da Ordem dos Pregadores" do Beato Jordão de Saxônia.




    Acabo de ler "Opúsculos sobre as origens da Ordem dos Pregadores" do Beato Jordão de Saxônia.

    "Porque na nossa peregrinação aqui na terra (Sl. 118,54), desde quando o coração do homem é mau, inclinado aos vícios, negligente e preguiçoso em relação às virtudes, temos necessidade de que nos encorajem, que o irmão venha em auxíliodo irmão(Prov.18,19) e que, por sua solicitude, a caridade sobrenatural ilumine o ardor do espírito que o langor de nossa própria negligência faz desaparecer cada dia"

    Se há algo admirável em uma pessoa, é o fato dela criar e viver o seu próprio sistema, de forma autêntica e sincera, sem corromper-se pelas pressões mundanas que afunilam a consciência e entorpecem o espírito duma vaidade que o leva a negação de si mesmo. Se Deus é "aquele que é", o homem só pode ser "aquele que pode/poderia ser", já que o mundo é, necessariamente, confrontante. E o homem tem que vencer o mundo, não importa o que escolheu ser.

    O modus vivendi é algo que foi deixado para lá e isso prova que nossa sociedade não é tão diversa quanto deveria, visto que há uma uniformização que é aderida para fins de homogeneidade. Se assim é, é por causa da crescente pressão social liga a publicalização duma série de dados que fazem com que a vida seja analisada de todas as formas e assim continuamente julgada. De qualquer forma, cabe ao homem num ato de liberdade e razão escolher ser e lutar para ser, já que isso é melhor do que apenas se contingenciar com base na conveniência de momentos sociais que flutuam ad aeternum.

    O futuro só cabe aos que ousaram. É por isso que o modus vivendi de Domingos de Gusmão é sustentado até hoje e até hoje dá frutos: a autenticidade é eterna, o tempo comum é medíocre, temporal e supérfluo. Aquele que se adapta ao próprio tempo só pode morrer ao lado de seu tempo, a própria percepção temporal humana só surge pelo fato da humanidade estar além de qualquer tempo - já que se ela se ligasse terminantemente ao próprio tempo, seria tal como qualquer outra espécie. Não seja medíocre, viva seu próprio sistema.

Acabo de ler "Crônica da estação das chuvas" de Nagai Kafu.




    Acabo de ler "Crônica da estação das chuvas" de Nagai Kafu.

    É um livro bem peculiar, centra-se na vida de uma prostituta que abandonou a casa dos pais. A prostituição é, inclusive, a chave de sua liberdade e independência econômica - se é que a gente possa ligar a prostituição a isso.

    Eu gosto muito de ler livros japoneses. É sempre uma experiência diferente, já que o que mais consumo do Japão é anime e jogo. Só que cada setor do Japão parece ser carregado de alguma peculiaridade que distingue. Os jogos japoneses, os animes japoneses, os livros japoneses... Todos eles habitam locais diferentes e possuem formas distintas. Os livros são fantasticamente adultos, com nuancidades incríveis. Os animes encantam e animam. Os jogos são obras de arte completas.

    Ler um livro japonês não é o mesmo que ver um anime. O personagem quase nunca está no ensino médio ou, talvez, num mundo fantástico e medievalesco. Só esse fato já altera tudo. Creio que, conforme cresço, mais a literatura se assenta ao meu espírito. Muitas vezes os animes repetem tantos clichês que se tornam enfadonhos, já a literatura japonesa preza por uma originalidade e maturidade. Não que eu queira bancar o "adultão", mas por vezes animes cansam e assistimos mais por hábito do que qualquer outra coisa. Já com os livros, tal fenômeno nauseabundo não ocorre.

    Esse é um livro bastante boêmio e profundo, se você já foi de "noitadas" - e no sentido mais "picante" ou "adulto" (se bem que o sexo, em si, nada tem de extremamente adulto) -, você se identificará muito com o livro e a forma - para alguns decadentes - dos personagens. Talvez esse livro seja um dos que mais bem descreve a vida adulta "boêmia" e o comportamento dos adultos em suas noitadas. Ver como o tempo passa e como a noitada influência na personagem principal é uma experiência assustadora, mas igualmente maravilhosa. Traz aquela reflexão: "toda essa 'coisa' valeu a pena?". E é o pensamento que carrego, também, para muitas de minhas noitadas. Só que o autor está certo, dalguma maneira algumas pessoas possuem uma aura ligada a esse tempero do tempo noturno e a frase: "o presente é o que você vê", é o que mais me marcou.

Acabo de ler "O que é Filosofia" de Caio Prado Jr.




    Acabo de ler "O que é Filosofia" de Caio Prado Jr.

    Uma das maiores questões que tive em minha mente ao ler esse livro foi: se a ideia de Karl Popper da ciência é baseada na falseabilidade/refutabilidade em que um "dado" só é científico se continuar dando certo nos contínuos testes que se sucedem ad infinitum e a ideia do círculo de Viena era a de que a ciência de embasava no critério da verificabilidade em que um "dado" é científico se apenas verificado se poderia dizer que: o critério de Popper é o mundo multiforme e mutável de Heráclito e o critério do Círculo de Viena é a própria imobilidade do ser de Parmênides? Deixemos isso para depois, não nós percamos em divagações.

    É interessante observar que a filosofia é inerente a condição humana e é eterna. Filosofar é ter o pensamento como objeto de estudo. A filosofia é o metaconhecimento, é pensamento analisando o pensamento. Coisa que envolve um grau de abstração maior, mas ainda assim comum a especie humana. Filosofar é o conhecimento do conhecimento. É por essa razão que um inteligentinho, ao dizer que a filosofia acabou, acaba caindo na própria filosofia: sendo a filosofia uma discussão do conhecimento sobre o conhecimento, até a antifilosofia é filosofia. Quando alguém diz que filosofia é inútil, faz filosofia. Decorre-se disso que: a filosofia não é somente eterna, é inevitável. Seja em qualquer área do pensamento.

    Veja que: a discussão do conhecimento químico gera a filosofia da química, a discussão do conhecimento matemático leva a filosofia matemática. Toda discussão que tem por objeto o conhecimento de uma matéria gera o conhecimento do conhecimento, gerando assim a filosofia. A filosofia é inevitável. Enquanto houver homem, haverá filosofia. Tendo isso em mente, qualquer discussão visando o fim da filosofia é por si mesma filosófica. Condenar a filosofia é cair em autocontradição. E é por isso que a filosofia é apaixonante.