segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Acabo de zerar Ocean's Heart!





    Esse é um dos melhores jogos indies que já joguei. O fato dele remeter aos clássicos jogos do The Legend of Zelda é um adicional enorme. E o jogo cumpre seu papel de ser um jogo "estilo Zelda". Seu universo é riquíssimo e realmente vale a pena saber de sua história e fazer várias de suas missões secundárias.

    O jogo é visualmente belo, relembrando a era 16 bits (alô, Mega Drive e Super Nintendo), só que conta com efeitos visuais aprimorados. Quando joguei, senti uma enorme nostalgia que foi cumprida em cada longa hora do jogo. Tive que muitas vezes pensar, anotar, revisar pensamentos, olhar para as anotações e aprender um pouco mais de coordenadas - tudo o que eu faria jogando Zelda. Um simples diálogo muda tudo e "escutar atentamente os NPCs" é de importância crucial. Sério mesmo, já ignorei diálogos e acabei tendo que voltar atrás apenas para ler mais minuciosamente.

    O jogo em si não é tão longo, mas como você se perde em missões secundárias - que recompensam acentuadamente -, você acaba por jogar por horas e horas e dias e mais dias. Se eu pudesse dar uma dica, essa dica seria: faça as missões secundárias, simplesmente faça. A experiência das missões secundárias favorecem muito a jogabilidade geral do jogo.
Se eu tivesse que dar uma experiência negativa, essa seria: seus chefes são fáceis demais e a necessidade de pensar estrategicamente quase some do mapa mental quando falamos da dificuldade dos chefes - não que isso afete muito negativamente, mas é um fator que é importante para mim. Os chefes viram monstros padrões com algumas adições visuais.
É um jogo que vale muito a pena jogar e que roda em quase toda carroça que você ousar colocar o joguinho. Esse comentário é importante: seu PC fraco que só não morreu por sua piedade e falta de grana será "revitalizado" com essa experiência de gameplay.

    Sem dúvida é um jogo fantástico, com um enredo fascinante, que sabe entregar uma boa experiência geral e que entretém por dias. No final, ao olhar por tudo que chegamos a passar na história e gameplay, temos a sensação feliz de missão cumprida. Nos integramos no jogo e tornamo-nos participantes dele de forma definitiva. Amei!

domingo, 5 de dezembro de 2021

Acabo de ler: "Em busca de rigor e misericórdia" de Lobão.





    Creio que Lobão seja um autor de estilística fascinante, uma vida pujante e de uma originalidade inequívoca.

    "Eu precisava mergulhar em questionamentos como: por que os intelectuais brasileiros são, em sua esmagadora maioria, tão unívocos e quase sem qualquer nuance de pensamentos?; por que esse deserto de opções ontológicas?; por que tudo que não se coaduna com esse monomaníaco pensamento reinante vira um tabu a ser perseguido e eliminado, jamais ponderado e discutido?; por que os debates, já tão escassos em outras eras, foram aterrados na vida pensante brasileira?; por que todo pensador, artista, produtor de alguma cultura no Brasil, caso não esteja atrelado aos cânones do mainstream, à ortodoxia pouco esclarecida de nossa intelligentsia, é, via de regra, tratado como um pária, como irrelevante, como um inimigo candidato a se tornar um nada?".

    A consciência de que vivemos num país recheado de bovinidade é, de longe, a que mais nos enche de temor. Em nosso estado atual, é-se impossível sequer um debate real, já que isso sugere uma série de estudos de cânones contraditórios que ninguém se atreveu a estudar por motivos de adesão ideológica-identitária. E, se estudou, estudou sem o menor "constrangimento" de tentar entender, já que o objetivo do estudo de um pensamento contrário é, quase sempre, a refutação ou a recusa a priori. Quando não, vê-se a "leitura camisinha" que tem por objeto o comentário de um autor que se gosta sobre um que não se gosta.
 
    "A solidão é a matéria escura da coletividade. Quem se nutre na solidão se torna um mundo, uma entidade que injeta sabedoria e oferece possibilidades múltiplas à coletividade. Meu insight partia da percepção de que nossa condição básica, a solidão, tem peso infinitamente maior naquele cujo ofício é contemplativo, criativo, o que a torna grande companheira".

    A vida intelectual não pode se curvar de forma abjeta a uma reprodução sem fim de consensos coletivos sem perder a sua autenticidade crítica. O que se vê é uma substituição da mentalidade crítica por um consenso social, isso anula a verdadeira forma de analisar a intelectualidade.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Acabo de ler "O Prazer de Pensar" de Theodore Dalrymple.



    Um livro fantástico que conta histórias e experiências de Dalrymple com livros. Como a vida de Dalrymple é fantástica, envolvendo uma série de histórias icônicas com o proibido e aquilo que é politicamente nocivo ou desastroso - sua vivência em países em guerra e em ditaduras é própria e ele foi a esse tipo de país apenas para saber como ali se era (loucura, inteligência ou gosto pelo perigo?) -, há uma série de construções que demonstram como a curiosidade de Dalrymple é avançada e como ele lê diversas coisas que são tão variadas que ninguém saberia dizer a unidade de sua biblioteca.


    Se, no Brasil, vivemos num debate pouco dialógico em que um não lê o canon do outro - esquerdistas só leem esquerdistas, direitistas só leem direitistas, cristãos só leem cristãos de sua denominação e por aí vai -, o pensamento de Dalrymple vai além e a sua erudição demonstra uma leitura constante de obras de esquerda, mesmo que ele "seja de direita". E, seu pessimismo, é desenvolvido com uma boa razoabilidade.


    Com uma excelente prosa, Dalrymple demonstra ser um dos maiores escritores conservadores da atualidade. Uma inteligência pouco igualável e, possivelmente, de uma pessoa única. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Acabo de ler "Qualquer Coisa Serve" de Theodore Dalrymple.

 


    Acabo de ler "Qualquer Coisa Serve" de Theodore Dalrymple.

    "Não odeio religião - na verdade, sou mesmo a favor dela. Assemelho-me a Gibbon, que ao tratar do sincretismo religioso romano declarou, admirado, que o povo achava que todas as religiões eram igualmente verdadeiras, que os filósofos as julgavam igualmente falsas e que os magistrados as consideravam igualmente úteis, sem porém haver qualquer conflito sobre o assunto. Ou seja: a religião era útil por melhorar o comportamento humano e mantê-lo lícito".

    Dalrymple é um dos escritores que mais gosto devido a sua escrita sarcástica que, muitas vezes, leva-me a várias risadas durante a leitura. O mais interessante é que Dalrymple é um homem que dá análises de situações extremas que, por sua extremidade, sempre levam ao aguçamento de minha curiosidade.

    Grande parte da escrita de Dalrymple se deve ao seu contato direto, sua experiência pessoal, com criminosos, com ditaduras e com países subdesenvolvidos que sofrem de violência extremada. E não para por aí, a própria vida investigativa de Dalrymple contempla o estudo de várias experiências perigosas que tomaram forma de literatura. Estudar a questão do mal é, para ele, um assunto sempre novo e interessante.

    Creio que as várias experiências com "o problema do mal" que Dalrymple vivenciou o levaram ao seu ceticismo político e seu pessimismo antropológico, tornando-o um intelectual conservador. Não um intelectual conservador qualquer ou algum fanático político. Dalrymple está longe de ser um reacionário bolsonarista ou coisa análoga, muito pelo contrário: ele é um brilhante intelectual, com uma erudição vastíssima e um reportório argumentativo inigualável. Não só isso, como já disse anteriormente: muito de seu posicionamento intelectual surge de uma experiência direta com o problema tratado.

    Não me senti nem minimamente entediado em nenhum momento da leitura da obra, sempre fiquei impressionado pela riqueza vivencial e intelectual de Dalrymple. E, mais do que isso, tive muitas boas risadas com o sarcasmo do autor.

Aquisições - "I Ching" (Livro das Mutações)




    Adquiri o "I Ching", o clássico monumental da filosofia chinesa. Livro que vem com comentários que ajudam no entendimento da obra, além do prefácio de Jung. O livro possui 527 páginas.
    "I Ching, considerado o mais antigo livro chinês, é também o mais moderno, pela notável influência que tem exercido na ciência, na psicologia e na literatura do Ocidente, devido não só ao fato de sua filosofia coincidir, de maneira assombrosa, com as concepções mais atuais do mundo, como também por sua função como instrumento na exploração do inconsciente individual e coletivo".
    Esse livro é, com certeza, uma das maiores e mais importantes aquisições de minha biblioteca.

Aquisições - "A Torá Comentada"




    Acabo de adquirir "A Torá Comentada". Livro bilíngue em hebraico e português. Possui 1.057 páginas e vários comentários que explicam os livros que constituem a Torá (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) - além de, claramente, a própria Torá que vem junto ao livro. Certamente é, em minha biblioteca, um dos maiores livros teológicos em nível de páginas e profundidade. Ao lado dele: "Judaísmo e Messianismo" de Rav. Maorel Melo (1.014 páginas) e Carta aos Romanos de Karl Barth (854 páginas).

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O Trágico Fulminante #1 - Sou um reacionário digital!


    

    A internet já foi incrível. Ao menos, em minha visão amargurada pela idade, a internet foi incrível. Lembro-me de que, quando jovem, acessava a minha net discada e ficava aguardando o carregamento de vídeos do animatunes e mundo canibal. Toda essa espera, gerava uma expectativa que, usualmente, era correspondida com minhas risadas durante o vídeo - mundo digital era tão reacionário que não se resumia ao YouTube. Naquele tempo, não se tinham propagandas em vídeos e todo mundo tinha um discurso mais ou menos politicamente incorreto. Não, isso não era gerado por um consciente fanatismo político de ódio conjurado, mas duma ação mais ou menos "natural" e "inconsciente". Havia-se politicamente incorreto sem militância politicamente incorreta, já que o politicamente incorreto não tinha forma ativa e pensada, era só o "discurso normal" e "corrente". Hoje, o politicamente incorreto é um fetiche intelectual entre vários outros fetiches tão idiotas quanto. Quando havia propaganda, era uma coisa interna do próprio produtor cultural previamente combinada. Seria reacionário de minha parte propôr que era melhor assim? Acessava uma carralhada de sites que, em minha concepção, eram incríveis.

    Passei horas a fio lendo artigos da Desciclopédia, vendo o humor refinado de Felipe Neto no "Não Faz Sentido" e aprendendo a ser um "hater". Naquela época, o "hater" era uma pessoa que lia e correspondia o mundo com o seu ódio refinado, ódio que advinha de tempos de sofisticação na arte do ódio. Era-se preciso odiar tudo que era gostado por uma maioria que acreditávamos ser burra menos capacitada intelectualmente: Restart, Cine, Funk e outras coisas que nós, em nosso reacionarismo inconsciente e "natural", tínhamos o dever moral de odiar. Não que a gente odiava, o ódio era apenas um fetiche expressivo do qual ninguém poderia escapar sem deixar de ser um pleno cidadão cibernético. E pensar que tudo isso seria levado a uma problematização esquerdizante constante, hoje se vê um discurso de esquerda adornando até mesmo a retórica de fãs fanatizados pelo Kpop. Na verdade, quando odiávamos algo, odiávamos por não considerarmos "profundo" e "inteligente o suficiente". Em meu tempo, o funkeiro não nos responderia citando a Escola de Franque, o Fruta Frankfurt.

    O mais icônico disso, era que éramos todos normativistas incomensuráveis. Queríamos a gramática normativa e exigíamos que a leitura fosse algo habitual. Odiávamos por uma simples crase, atacávamos por uma mera confusão momentânea de "mais" e "mas". A palavra "analfabeto" aparecia em quase todos os sites como se fosse onipresente. E sei que isso era meio que idiota de nossa parte e que estávamos meio errados nisso, só que tínhamos isso como um esforço civilizatório que almejava a elevação da cultura humana. Anseio que era bom, embora delirantemente excessivo. Hoje, nessa nova grande era cibernética, odeia-se qualquer coisa que tenha mais de três linhas. O novo cidadão cibernético é aquele que lê pouco - ao menos não lê textos que possuam mais de três linhas, embora seja vítima um consumidor de microleituras que se sucedem nauseabundamente -, escreve informalmente e odeia qualquer escrita formal. Escrever formalmente é sempre, sempre e sempre um pedantismo odiável e execrável a ser condenado pela Inquisição Digital. Se alguém aparecesse, em meu antigo tempo, dizendo que não lia mais de três linhas, era chamado de imbecil ou qualquer outra coisa que afigure alguém desprovido de inteligência. Não mais, não mais hoje: o progresso é tanto que a leitura contínua é dispensável e tudo deve se reger por memes e microleituras. A microleitura e não aquela babaquice reacionária que chamamos de livro, é o auge, o ponto culminante do pensamento humana dessa civilização cibernética-progressa. No meu tempo não, a gente discutia por linhas e mais linhas, horas sem fim. Parecíamos como que desocupados que se ocupavam de abstrações que, hoje, soam tão desnecessárias quanto imprudentes. Em meu tempo - e parece que não sou mais do tempo em que vivemos, parece até mesmo que fiquei preso num passado como um louco delirante - não se podia e nem se devia resumir todas as linhas políticas num meme que tinha, como fim, o cômico. Aquele que postasse memes o tempo todo, acreditando ganhar o debate, seria chamado de "pomba-enxadrista".

    Não é que o cômico não existisse, não é como que fôssemos pessoas pedantes presas num verborreia vergonhosa, o cômico só era cômico por sua sofisticação e sua oposição declarada. Era preciso ser sofisticado, escrevendo corretamente e dando críticas que eram feitas por eruditismo. A gente "adorava" demonstrar que odiávamos, só que odiávamos com uma substancialidade que hoje é estranha aos novos cidadãos digitais. Não que a gente fosse pedante, era apenas a nossa forma expressiva. Expressar-se longamente, demonstrando um "poderio intelectual", era considerado melhor. Hoje não, hoje o progresso afirmou que o desenvolvimento dialógico não poderia ter mais de três linhas e que tudo poderia ser resolvido com memes de uma única frase que tem, por objetivo, reduzir realidades monumentais em apenas microleituras de efeito cômico e satirizante. Hoje a microleitura é tão presente quanto onipresente. Tal como é a pornografia que estende o seus braços não só para pessoas com mais de dezoito anos, já que o progresso civilizacional exige que pessoas com cada vez menos idade possam "gozar pra valer" com a nossa civilização progressista hiperssexualizada e hipergâmica. Ah, meus velhos tempos, se alguém fosse tão hiperssexualizado e hipergâmico, acreditaríamos que ele estava preso nalgum estado delirante e hipnótico que o fizesse repetir: "sexo", "sexo" e "sexo" como um mantra religioso. Isso, ao contrário de hoje, diagnosticar-se-ia como "idiotice".

    Como tudo se moderniza, para o bem e para o mal, e como o novo se torna velho e o velho reacionário, virei um reacionário digital. Quando vejo alguém reduzindo discursos políticos a memes condensados com microleituras, afeto-me por tamanho "reducionismo". Quiçá, seja eu, um imbecil que só entende coisas quando escritas com "longevidade". A microleitura não me agrada, os memes muito menos. Sou antiquado demais para me acostumar com tanta microleitura dispersa e que me parece "superficial" - perdoem-me pelo meu reacionarismo antiquado. Quando vejo que a internet agora se limita a duas grandes corporações: Google e Facebo..., ah, perdoem-me, todo mundo agora tem direito a nome social e o Facebook, em sua pós-modernidade, descobriu-se feminino e chama-se agora "Meta". Como ia dizendo, nessa civilização progressa, o monopólio tornou-se o cume da civilização cibernética e agora tudo é "Google" e "Meta". Ah, os tempos modernos... Em meu reacionarismo ululante, em meu reacionarismo fanático, não curto que as coisas se resumam a esses progressistas monopólios que reduzem o mundo digital a quase duas empresas. Eu devo ser um "pequeno burguês" clamando a favor das pequenas propriedades privadas em bravatas contra o comunismo monopólico virtual. Ah, em meu tempo, em minha mocidade, o comunismo não era um monopólio de grandes corporações digitais, mas uma propriedade comum e popular - ah, como as concepções ideológicas se atualizam com o passar inexorável do tempo.

    Eu me tornei um reacionário cibernético, não por escolha, mas por um amor a uma antiguidade participante de um certo período temporal de minha vida. Olhar que o mundo cibernético saiu de uma rede de sites ligadas a uma certa individualidade humana - e, talvez, garantidora da singularidade humana - para um grande corporativismo que parece mais ser uma guerra fria de "Meta" e "Google", desagrada-me. Ver discursos políticos reduzidos a microleituras que tem sempre, simplesmente sempre, um "efeito cômico" - ou seria "efeito memético"? - que reduz realidades intelectuais a um fantochismo grosseiro onde se destrata o "inimigo" com piadinhas cheias de estereótipos me deixa enojado. Eu sempre quis argumentar e discutir, mas cada argumento que solto em linhas é respondido com "mais de três linhas, eu não leio". Já que mais de três linhas, hoje, é pedantismo. Tudo com mais de três linhas é "textão". Ah, como era bom ir na Desciclopédia e ver artigos com mais de dez parágrafos para dar risadas e mais risadas. Se classifico meu tempo como "bom" ou "melhor", talvez seja pelo fato de que estou ficando velho e reacionário.

    É, meus caros, tornei-me um odiável reacionário digital, sonhando com os áureos tempos de outrora. Se eu disser que a internet hoje é decadente, que a monopolização dos sites por dois grandes agrupamentos que entram numa constante "guerra fria" me dá nojo, que microleituras me parecem nauseabundas e desgostosas, que tudo ter formato de meme é algo meio forçado e que estamos sendo vítimas de uma constante bestialogização, talvez eu não soe só antiquado, como velho e um emissor daquilo que se chama de um "discurso de ódio". Pena dizer isso, só que é exatamente isso que "vejo" - ou "sinto" - na internet moderna - é insuportável acessar qualquer site. Acho que, no fim, terei de voltar para as cavernas trevosas chamadas livros - essas coisas reacionárias que possuem textões, já que tem mais do que três linhas - e dialogar com autores através de escritas em meus cadernos. Serei um eterno lunático em manifesta solidão, um homem que vive na "Idade das Trevas", um autoexilado do mundo virtual por seu reacionarismo ululante, fanático, odiável, trágico e deprimente. Sim, meus caros, eu sou um reacionário digital.