domingo, 5 de dezembro de 2021

Acabo de ler: "Em busca de rigor e misericórdia" de Lobão.





    Creio que Lobão seja um autor de estilística fascinante, uma vida pujante e de uma originalidade inequívoca.

    "Eu precisava mergulhar em questionamentos como: por que os intelectuais brasileiros são, em sua esmagadora maioria, tão unívocos e quase sem qualquer nuance de pensamentos?; por que esse deserto de opções ontológicas?; por que tudo que não se coaduna com esse monomaníaco pensamento reinante vira um tabu a ser perseguido e eliminado, jamais ponderado e discutido?; por que os debates, já tão escassos em outras eras, foram aterrados na vida pensante brasileira?; por que todo pensador, artista, produtor de alguma cultura no Brasil, caso não esteja atrelado aos cânones do mainstream, à ortodoxia pouco esclarecida de nossa intelligentsia, é, via de regra, tratado como um pária, como irrelevante, como um inimigo candidato a se tornar um nada?".

    A consciência de que vivemos num país recheado de bovinidade é, de longe, a que mais nos enche de temor. Em nosso estado atual, é-se impossível sequer um debate real, já que isso sugere uma série de estudos de cânones contraditórios que ninguém se atreveu a estudar por motivos de adesão ideológica-identitária. E, se estudou, estudou sem o menor "constrangimento" de tentar entender, já que o objetivo do estudo de um pensamento contrário é, quase sempre, a refutação ou a recusa a priori. Quando não, vê-se a "leitura camisinha" que tem por objeto o comentário de um autor que se gosta sobre um que não se gosta.
 
    "A solidão é a matéria escura da coletividade. Quem se nutre na solidão se torna um mundo, uma entidade que injeta sabedoria e oferece possibilidades múltiplas à coletividade. Meu insight partia da percepção de que nossa condição básica, a solidão, tem peso infinitamente maior naquele cujo ofício é contemplativo, criativo, o que a torna grande companheira".

    A vida intelectual não pode se curvar de forma abjeta a uma reprodução sem fim de consensos coletivos sem perder a sua autenticidade crítica. O que se vê é uma substituição da mentalidade crítica por um consenso social, isso anula a verdadeira forma de analisar a intelectualidade.

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