sábado, 19 de fevereiro de 2022

Acabo de ler "Tudo o que você precisou desaprender para virar um idiota" do Meteoro Brasil

 



Definir o livro é bastante difícil, já que ele se lida com uma série de áreas que são bastante diferentes. Logo é um livro em que cada parte apresenta, em si, um gosto diferente. Embora seja possível construir uma relação geral do objetivo central do livro.

O livro é bastante interessante, particularmente me interessei mais pela parte que tratou do aspecto do "meme" - o qual, em meu tempo de vida atual, considero um mal - e de suas implicâncias negativas. A própria ideia de reprodutibilidade máxima é o farol do esvaizamento conteudístico contemporâneo. Não por acaso, canais do YouTube se esforçam na mera feitura de vídeos de reação a conteúdos simplórios ou de caráter jornalístico. Essa é a razão de eu odiar a internet moderna.

Várias explicações são interessantes. Como sou um típico leitor alienado que prefere tudo escrito a em vídeo, preferi esse formato aos vídeos do Meteoro Brasil - que infelizmente se tornou um grande canal de react aos dados da atualidade e perdeu a feitura de vídeos de maior qualidade, seja em roteiro, seja em edição. De qualquer modo, como já dizia o não tão velho ditado: "na vida o que interessa é dinheiro no bolso e os problemas são eternos".

A sensação que tenho ao terminar o livro é a que detenho uma maior gama de conhecimento geral sobre vários assuntos e que a leitura foi, sim, proveitosa.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Novas aquisições!




Ganhei recentemente dois livros. "Grandes Contos" de H. P. Lovecraft, é um livro extremamente belo, de capa grossa e com 1.174 páginas do gênio do terror. Já o outro "200 crônicas escolhidas", possui 488 páginas e é do brilhante Rubem Braga, um dos melhores cronistas brasileiros.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e as Relíquias da Morte" de J. K. Rowling

 



Toda jornada tem seu fim, embora essa possa se tornar eterna no meu coração e no de muitos. Pelas minhas contas, li todos os livros em PDF, juntando todas as páginas de todos os livros: foram 2.260 páginas. Não me arrependo de nenhuma maneira por nenhuma delas, rejubilo-me.

“E o conhecimento dele permaneceu lamentavelmente incompleto, Harry! Aquilo a que Voldemort não dá valor ele não se dá sequer o trabalho de compreender. De elfos domésticos e contos infantis, amor, lealdade e inocência, Voldemort não entende nada. Nadinha. Que todos tenham um poder que supere o dele, um poder que supere o alcance da magia, é uma verdade que ele jamais compreendeu"
"É uma coisa curiosa, Harry, mas talvez os que têm maior talento para o poder sejam os que nunca o buscaram"
"Você é o verdadeiro senhor da Morte, porque o verdadeiro senhor não busca fugir da morte. Ele aceita que deve morrer, e compreende que há coisas piores, muito piores do que a morte no mundo dos viventes"
Dumbledore

A maior lição que temos de extrair de Harry Potter é a de que o amor é o maior poder. O amor anula a contradição, e por Voldemort não compreender o amor: fragmentava-se tolamente em itens amaldiçoados. Voldemort temia a morte, era temeroso e supersticioso. Seu medo se tornou em mal e quando a morte lhe sobreveio, a sua figura no outro mundo não era a de uma pessoa completa, mas a de uma criança deformada. Já que Voldemort nunca cresceu, estagnou em seu medo e criou uma longa crença narcisista sobre si mesmo, sem jamais compreender-se.

Por outro lado, Harry Potter nunca se julgou digno. Nunca desejou um poder imenso. E por não desejar: nunca se fragmentou em atos tolos. Quando se entregava a algo, era verdadeiro. Era de fato livre. Não estava aqui ou ali, onde estava é onde estava. As suas ações não se perdiam em multifacetagens diabólicos. Por amar, por aceitar a morte, era mais poderoso que Voldemort: aceitar que a vida é o que é leva ao melhor encaminhamento vocativo da vida. Ao aceitar a morte, aceita-se que se deve viver integralmente, de forma sã. O poder do amor é a união do sujeito no todo. Nenhum tirano compreenderia.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" de J. K. Rowling

 



"– E como é que se divide a alma? – Bem – respondeu Slughorn, constrangido –, você precisa compreender que a alma deve permanecer intocada e una. A divisão é um ato de violação, é contra a natureza."
"Contudo, se encaixava perfeitamente: com a passagem do tempo, Lorde Voldemort parecia ter se tornado menos humano, e as transformações que ele sofrera só me pareciam explicáveis se sua alma estivesse mutilada além da esfera do que chamaríamos de maldade normal...”

O livro nos introduz mais a vida de Voldemort. Não só de forma meramente biográfica, mas ao modus pensandi do icônico vilão que, para atingir a imortalidade, maculou a própria alma. Há também o fascínio pelo mal que atraí Harry a magia das trevas pelo Príncipe Mestiço - (spoiler) que, mais tarde, descobre-se que nada mais é que o próprio Snape. De qualquer forma, a relação com o Snape é ambígua: Harry conheceu e o admirou sem saber que estava a receber um conteúdo de um professor que ele próprio odiava. A relação com Snape (spoiler) é ambígua: admira-o sem saber que é ele, sabe que ele foi responsável por revelar a profecia que levou à morte dos seus pais e é o próprio Snape que mata Dumbledore. Todas essas ações carregam substancialiadade a obra, enriquecendo os personagens e dando um peso realístico dificilmente realizável em obras de menor peso.

O discurso sobre o "um e o múltiplo" me encantou, sobretudo quando se fala da divisibilidade da alma que é a sua corrupção em caráter maior. A divisão da alma, da psiquê, do espírito ou como quer se ouse chamar, é um absurdo trágico. O ser dividido é inautêntico e sofredor. É um ser que está sempre em parte, sofrendo pela mutilação de seu ser que nunca encontra paz. Tal assunto é encontrado na mais alta filosofia, teologia e, igualmente, na literatura e na mística. Nesse livro, vê-se a mística em Harry Potter, duma forma nunca dantes vista dentro do mundo de nosso querido bruxo. E o poder do amor (ou seria "Amor"?) é visto como o equilíbrio desejável, a união do ser consigo mesmo e o laço verdadeiro, o verdadeiro poder: não se pode unir pelo medo, o medo só consegue pressionar com força em determinado tempo e um dia esse mesmo aspecto tensional o arrefece. Logo há ilusão de poder, poder esse que será destruído por sua natureza corrupta e inatural. Não se pode perpetuar a corrupção, já que ela é de aspecto degradante. Onde não há liberdade, há uma gravidade que só pode ser respondida com outro jogo gravitacional de relações, relações essas marcadas pelo o que há de mais baixo.

"o último e maior de seus protetores morrera, e ele estava mais sozinho do que jamais estivera"

Esse livro é de suma importância para Harry Potter. Nele, ele se torna adulto. O mundo protegido por seu padrinho, pai, mãe e até mesmo Dumbledore entrou em colapso. Nas ruínas, ele terá que agora em diante buscar a própria solução, não mais como um menino, mas como um homem legítimo dentro de sua responsabilidade em ação humana. Nisso está a compreensão do livro: o rito de passagem da adolescência para a vida adulta em que se tem que se lutar para conseguir o que se quer. É por isso que esse livro é um dos mais bonitos da franquia, embora recheado duma morte nada agradável. Morte essa de alta significação: o tempo de ser protegido e ter o risco atenuado passou, agora é necessário ser adulto e arcar com as consequências de uma teia embaralhada de alta complexidade irresoluta.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e a Ordem da Fênix" de J. K. Rowling




Esse livro apresenta um tamanho maior que o seu anterior, o que torna surpreendente a evolução da autora como um todo, já que ela evolui e muito a sua capacidade narrativa e de construção de universo literário. E é sempre incrível ver como as peças se encaixam nos livros de nosso bruxo predileto.


Apesar de alguns dizerem que é um prólogo ou preparamento aos outros livros, não posso concordar com essa frase e tenho lá as minhas razões. Creio que cada produto cultural apresenta um processo que é diferente, já que a intencionalidade não é a mesma. É preciso ver além daquilo que é demonstrado no corpo total da obra, analisando ela em seu conjunto e em sua parte. A parte reflete o produto total, porém deve também ser analisada por si mesma.


Nesse livro, vemos um Harry mais sentimental e preocupado com as consequências de suas ações. Ele vai, aos poucos, tomando maior consciência de si e revisando seus atos em uma postura autocrítica, sobretudo no final da obra. A relação com os outros personagens igualmente aumenta em substância. Os personagens ganham peso psíquico, histórico e atitudinal. Com a história ganhando cada vez mais complexidade, sentimo-nos satisfeitos com o desenrolar da trama, embora não possamos nos sentir tão felizes com o desenrolar das ações inconsequentes de Harry - ele é adolescente, isso pesa ao seu favor. O que se pode esperar é um desenvolvimento posterior, já que ele se depara (spoiler) com a morte de seu padrinho e terá que arcar com essa responsabilidade.


O que temos nesse livro é: alta densidade política, os sentimentos que são desenvolvidos e a própria caracterização de um mundo cheio de perigo. Tudo isso é de suma importância para o desenvolvimento de cada personagem, já que tudo se torna cada vez mais sério e toda ação termina em consequências trágicas ou dificilmente contornáveis. Harry tem que se desenvolver mesmo que seja à força e começa a entender melhor que o mundo não é tão colorido e que o heroísmo tem um preço que foge do pacote fechado de "felizes para sempre". Termino o livro com a boa sensação de que me deparo com uma obra cada vez mais adulta.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Solidão em Solitude




Nos últimos tempos, venho me relegado a transformar solidão em solitude - triste tarefa que demonstra a presente decadência de minha figura. A leitura dos livros de Harry Potter vem sido o meu alívio, também retornei ao estudo de obras de caráter mais teórico e abstrato. Nelas encontro um aconchego de um mundo fantástico ou uma elevação teorizante que me livram da crueza do mundo real. Mesmo isso sendo obtuso e até mesmo alienante, venho visto na figura de Snape um pouco de mim: arrogante, sem relações de concreta amizade ou de amor, solitário, sofreu bullying na infância e adolescência. 

De qualquer forma, tenho muito de semelhante e queria estabelecer relações aproximadas. Algumas ideias não m

Te calham pelo meu ressentimento, alguns traços se encaixam mais pelo meu sofrimento do que por minha real adesão. Sei que não posso renegar o meu passado e parte de minha revolta contra esse mundo parte dele. Sei que, no fim, relações se esgotam e pessoas se afastam. Por outro lado, estou tão perturbado que igualmente me afasto. É como se uma paisagem turva se apresentasse a tudo que meus olhos tocam e que meu coração deseja. O desejo se choca com a incorrespondência e todo contato cai na percepção que todo contato é ilusão, sempre caio e me afogo na desilusão. Estou ficando cansado demais para sentir, já que todo sentir é decepcionante.

O que sinto presentemente é um hiato. Hiato esse que se caracteriza não por uma forma ou deforma, mas por uma nuvem fantasmagórica que em parte revela o que já foi e em outro projeta em fragmentos o que virá. Não sei se sou forte o suficiente para isso. Por vezes, penso que nada mais importa. Às vezes quero que tudo se acabe, já tive mais do que o suficiente. O prazer de tentar, a força de se seguir, a coragem para prosseguir, tudo isso se esvai a cada dia e arrasto-me como se eu fosse manco.

sábado, 29 de janeiro de 2022

Éramos dois, e daí?

 Você me contava do seu desejo de virar socióloga. Era de esquerda juvenil, adolescente lutando contra o tédio. Tão desafiadoramente bonita quanto inteligente e simpática. Revelei a ti o meu amor quando já era tarde, tinha vergonha metódica de mim e não queria lhe envergonhar com minha obscura imagem social. Por um momento, éramos dois, mas depois de alguns meses, já não éramos nada.


Eu te diverti com meu humor adolescente de anarquista niilista e rebelde sem causa. Pagando-lhe bebidas na esperança que transfigurasse a sua lesbicalidade e bissexualidade. Me aproximando com distâncias calculadas e passos patéticos que geraram tragédias insensatas. Eu sumi por sete anos, em crises sem fim, falei-lhe que era teu amigo, mas e daí? Eu sumi. Sumi e voltei transfigurando proximidade em distância abjeta e sem explicação sensata.

Você jogava videogame em minha casa. Na doce infância era tão bom, só que eu era idiota e inadequado demais para a pré-adolescência. Como consequência de meu desenquadro, criei em você a vergonha que lhe permitiu o afastamento adequado. Éramos dois, e daí? Daí que sumi sem nunca mais falar contigo. Daí que lhe achei um cara que preferiu a sociedade a amizade dourada.

Nos pegamos três ou duas vezes. Dormi contigo, em teu quarto. Sua mãe trouxe pizza, sem pensar em sexo homossexual de dois caras bissexuais que não davam pinta de nada. Éramos dois, éramos dois amigos e coloridos adolescentes numa época de liberalidade sexual. Quem você é agora? Você se assumiu ou ainda isola o fato sexual de sua família com ocultamentos constantes de sua inconstância inata?

De pastor você foi a ateu convicto. Íamos ao puteiro em apostasia à faculdade. Conversávamos muito. Você voltou a ser pastor, traiu o puteiro, o anarquismo, o ateísmo e a mim. Éramos dois, e daí? Daí que nunca mais falamos e eu até hoje não me lembro de seu sobrenome.

Eu era tão católico quanto um católico deve ser. Num retiro vocacional buscando irmão ser. Te vi algumas vezes em conversas doutrinais que foram fáceis de esquecer. Lia "Ordem Nova", o reacionarismo era moda, a monarquia voltava em mentes e não em regimes. Sempre quis te comer, sobretudo quando bebíamos na igreja. Eu fiquei sabendo, você beijou garotas e eu beijei rapazes. Éramos perfeitamente heterossexuais e completamente bissexuais.

Em Santa Catarina foi um horror, afastado da família e da cidade que morei com louvor. Identidade em choque em novo mundo cultural. Você foi padre, agora era homossexual e casado. Eu? Eu era o cara que ia em retiros vocacionais e militava no movimento negro. E mesmo você sendo casado com outro homem, desejei que fosse meu próprio homem. Treinamos juntos, sugeri poliamor e um dia no pós-treino você me chupou. Eu fui pra São Paulo, você lá permaneceu. Ficou onde fui, para permanecer de onde era. Eu voltei pra São Paulo, para permanecer de onde vim. Éramos dois, e daí? E daí que ainda penso em você.

Eu lia Olavo de Carvalho, você lia Nietzsche. Eu era Apolo e você era Dionísio. Só que eu tinha um Dionísio oculto e você tinha um Apolo oculto. Pegamos duas mulheres, mas quando a pegamos, uma das duas não estava presente e nem conhecíamos a outra que estava por vir. Pegamos a mesma flor e depois a outra flor, em perfeita conformância com a igualdade do sabor. Você me apresentou a social, eu te apresentei a transexual. Você me apresentou a Dionísio e eu te apresentei ao tradicionalismo. Éramos loucos sem tirar e nem pôr, talvez seja por isso que você foi um dos únicos que ficou.