segunda-feira, 9 de maio de 2022

Acabo de ler "A sexualidade segundo a teoria psicanalítica freudiana e o papel dos pais neste processo" de Elis Regina e Kênia Eliane

 



Estudar psicanálise não é algo fácil e demora a vida toda. Como não sou nenhuma espécie de ser com aprendizado linear, resolvi complementar a leitura. Fora que ler artigos acadêmicos aprimora a capacidade de fazer bons artigos acadêmicos - o que pra mim é essencial.


Esse livro aborda as cinco fases do desenvolvimento: oral, anal, fálica, latência e genital. O interessante é que elas são explicadas tendo como objetivo de ser usadas na pedagogia e no aconselhamento dos pais. A razão é de que não de quer uma pessoa que cresce com traumas e complexos. Ver a psicanálise como uma ferramenta do desenvolvimento infantil é fantástico e muito útil, sobretudo pelo fato de que demonstra a amplitude da psicanálise.


Outro fato importante a ser comentado: as fases do desenvolvimento psicossexual são bem interessantes de serem analisadas. Aprendemos que a sexualidade é muito mais genitalidade e que somos seres sexuais desde o início de nossas vidas. Fora que temos que nos lidar com os nossos desejos e aprendendo como são, aprendemos a mesurá-los.

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Cadáver Minimal no Metaverso da Música


Demorei um tantinho pra chegar, mesmo assim cheguei bem mais cedo do que deveria. Tive que andar pelo local e pude avaliá-lo. Acabei gostando do ambiente logo de cara, ele é bonito por dentro e por fora. Creio que o local não agradaria um tradicionalista ferrenho preso no vigor das catedrais da Idade Média. Sorte minha, não sou tradicionalista. O local tem várias referências a esquerda e a direita. Um direitista ficaria irritado com a imagem de Simon Bolivar e verei nisso uma tentativa duma "pátria grande" ou interpretaria tudo como um sonho de um eterno terceiro-mundista.







Fiquei aguardando duas horas para que o auditório se abrisse. Entrando lá, comecei a reparar na indumentária do povo que ali se reunia. Percebi que as pessoas se portam de forma elegante, parecem todas terem formação acadêmica e/ou vieram de classes sociais médias e altas. Não que isso possa ser uma ilusão gerada pela necessidade de beleza dentro do evento. Quanto a união entre as vestimentas e a estética geral, o senso de estilo preenche todo o local, e agora me dou conta de que eu aparento ser o único que veio sozinho. Posso apreciar a beleza arquitetônica ao mesmo tempo que me dou conta de que estou inteiramente só.



As luzes vermelhas e brancas se encaixam. Todos aparentam ter mais de vinte e sete anos, embora tenham alguns que fogem da regra - alguns aparentam ser menores de dezoito e outros são evidentemente crianças acompanhadas pelos pais ou parentes. Posso testemunhar muitos casais, o que aumenta a certeza psicológica de que estou só. Junto o peso de estar só com o medo de não aparentar elegância ou sofisticação de caráter suficiente. Queria ter um livro para me omitir através dele, o ambiente aparenta ser tão acima de mim que me encurrala e me fere. Ler um livro traria a sensação de que há uma bolha restritiva ao meu redor. Estar escrevendo isso num caderno só me aumenta a distinção destoante e me focaliza, deixando-me para ser analisado por todas essas diferentes e estranhas pessoas que me circundam. Isso só traz um sentimento: de que o show comece logo e me tire da tortura do olhar alheio.


Com o acumular de tempo, vejo grandes grupos de pessoas se reunindo, solitários como eu talvez transmitam a ideia de impotência. Deveria ter utilizado uma roupagem social mais chique para me omitir na ambientalidade do recinto, teria feito isso se fosse possível: duvido que eu tivesse roupas boas para esse local, e agora começo a pensar no conselho de minha mãe de não ficar gastando todo meu dinheiro em livros e comprar mais roupas. Começo a nutrir uma dualidade: a primeira é que não me notem, a segunda é que alguém me note e se compadeça de minha solidão. Mesurando psiquicamente bem, o frio de lá fora era um pouco menos angustiante do que a sensação de "pressão social" que me aperta. Observando melhor: a maioria das pessoas têm uma coloração de pele bem mais clara que a minha. Pode-se notar que casais andam para lá e para cá, menos os grupos que ficam imobilizados em sua constante confabulação.



Observando agora os costumes de gênero: as mulheres aparentam usar majoritariamente saias, outras tendem a calças sociais. Os homens já são divididos entre os que usam calça jeans e os que usam calça social, alguns usam camisa polo e outros usam camisa social. Observei o vestuário até que a hora do evento se desse, quando finalmente pude subir, tirei foto de um pássaro gigante - duma longínqua ideia de liberdade - e perguntei-me se as cadeiras eram marcadas (queira Deus que não) quando cheguei ao local de apresentação.



Sentei-me num local determinado pelo nível de isolamento junto a capacidade ver melhor o palco. Espero que ninguém estranhe meu hábito de escrever ao mesmo tempo que ninguém mais escreve. Meu senso de anomalia se expande, só que a música me acalma. Em minha frente, a bandeira do Estado de São Paulo, a bandeira do Brasil e a bandeira da cidade de São Paulo permanecem imóveis, é atípico não ver elas tremulando pelo vento, embora seja mais atípico pensar que elas tremulariam num ambiente fechado - o nacionalismo faz a gente ter uma mística que pode ser meio burra. Minha localização? Estou bem mais à direita do palco do que o restante da plateia, sou uma espécie de lobo solitário nadando contra a maré. O que possivelmente é um ato de violência simbólica ou de deslocamento social, quem sabe os dois. Agora sinto algo diferente, sinto que deveria ter comido algo antes de entrar.


Grandes agrupamentos sociais se congratulam ao mesmo tempo em que me disfarço olhando para a arquitetura do local, não quero que percebam o grau de minha solidão. A música melosa não me ajuda, sinto-me mais só e mais apaixonado. Torno-me meio que tão meloso quanto a música do local é melosa. É mais sentimental significativo estar só do que ter companhia? Se a vida é uma condição em que se deve viver uma série de momentos, nem todos "acompanhadamente felizes", creio que tudo isso que sinto agora é um processo de vivência singular. Congratulo-me com a possibilidade de que devo viver esse momento porquê ele escapa daquilo que tenho controle ou de que vivi até agora. Não tenho que controlar e saber de tudo antecipadamente, isso me conforta tanto quanto a ansiedade que esse local me gera.


As músicas que só falam de amor, as pessoas que se encontram em festividade, um local que lembra um cinema com penumbra, a saudade de ter alguém - quem quer que seja - do meu lado. E, é claro, um tanto de fome. O tom melado da música me faz questionar o quanto eu gostaria de ser amado e preenchido por um afeto aconchegante. Deixa-me infeliz o afeto alheio, foda-se: estou aqui a trabalho e não para ser amado. Vem-me a frase: "esse ambiente é tão burguês quanto a burguesia pode ser, como pode me passar pela cabeça que eu consegui estar aqui de graça?". É de graça, só não é gratificante a sensação de isolamento que pulsa dentro de mim. Creio que o investimento financeiro possa ser burlado, só que há outras esferas que não podem ser burladas junto a eles. Estamos todos em igualdade de dinheiro na questão de entrar aqui, só que não estamos todos em igualdade de afeto. 


Enquanto pensava em minha gritante solidão, começo a ouvir uma música que conheço há tempos, mesmo que não tenha ouvido ela por desejo próprio. O que ouço? Ouço a música: "a alegria do pecado às vezes toma conta de mim". Aí vem uma questão de natureza teológica. Se teologicamente o pecado é a parcialização - redução - do ser, vem-me a pergunta: "por que tanto reclamo em vez de apenas me sentir feliz?". Sim, basta-me relaxar. Basta-me abrir-me a experiência, esquecer um pouco dos padrões que previamente espero. Com isso, meu corpo se sente cada vez mais leve e passo a sentir um tanto de acomodação. Do nado, percebo que meus olhos foram afetados por um movimento de intensidade. As luzes tornaram-se um pouco mais intensas e o local ligeiramente mais cheio. Creio que o show começará logo, vejo um acúmulo maior de pessoas que acenam freneticamente umas as outras. Se eu fosse conhecido por alguém, os meus escritos fanáticos seriam atrapalhados, vejo que valeu a pena estar só e não estar bêbado - não bebi nada, mesmo que tivesse gostado de ter bebido só para relaxar mais um pouco.


Penso agora numa reflexão sobre a natureza das músicas. Acredito que as músicas por vezes trazem a necessidade de beber. Nesse momento, não posso beber e tampouco acho que eu deveria relacionar música com bebida. Parece um imperativo dionisíaco correlacionar bebida com música e ambiente artístico com afeto. É um mal hábito, quiçá gerado pelo processo de endoculturação ou simplesmente pela boemia a qual me acostumei desde os dezesseis anos de idade. Poderia pensar mais sobre isso, só que agora o show começa estragando minha reflexão meditabunda. Descubro pelo apresentador que é a terceira noite do evento, uma pena: não fui em nenhuma outra. É a semifinal, meus caros, tão disputada quanto futebol. Um grande carnaval burguês no qual eu, lumpemproletariado, fui colocado para analisar em toda minha pequenez socioeconômica.


O apresentador cita várias pessoas de grandes feitos. Uma série de pessoas com as possíveis duas seguintes características: ricas e bem-sucedidas. Elas estão sendo analisadas por mim e minha impetuosa caneta. Isso é uma estranha forma de inversão de papéis, já que não sou rico e nem bem-sucedido, acho que a vida tem estranhos momentos de alteridade como esses. Quem são os citados? São juízes e bem-pensantes, integrados as maiores figuras das classes artísticas do país. Todos da platéia batem palmas pelos grandes nomes citados, só que vejo que minha consciência musical se perde em figuras centrais. Finalmente os músicos começarão a tocar, o que é uma coisa boa já haverá uma série de bandas. A primeira música é: "tem frevo".


Tem Frevo


A música é bem animada. Só que é muitas vezes cantada num tom muito rápido e a voz da cantora se perdia em alguns momentos. A música fala de um sucedâneo de sentimentos que se explodem, junto com o próprio batucar da música e a sua celeridade. O sentimento passado por ela se confundia com perfeição com o que o instrumental proporcionava. Mesmo com tudo isso, não achei "tão impactante", ao menos não criei uma relação de "intimidade" para com essa música. A próxima música é "tempo bom". Sinto que quero algo mais depressivo, só que aqui o que mais importa é a "felicidade" - ao menos é o que acho que virá, esse evento reúne várias escolas musicais e todas elas parecem mais ligadas ao rito carnavalesco. Preciso me divorciar de minha depressão e meu gosto por ela. 


Tempo Bom


Essa música já me invade pelo seu aspecto marcadamente introspectivo que é sucedido com uma indizível alegria. "Tá virando, já virou, tempo bom tá  pra chegar". A própria música parece ser composta como se "virasse". Ela parece meio que denominada por uma sensação fechada, contida e "lenta" que repentinamente transborda para algo mais explosivo. Eles souberam fazer com que o "tempo sentimental" fosse percebido com a música. Acabei gostando da técnica envolvida nela. 


Indas e Vindas


Já a música "Indas e Vindas" vem vestida com o grau de melancolia que eu quero, ela toca em conjunto ao ritmo de meu coração. "O que canta o amor, não é o canta a paixão, o que encanta o doce do seu coração?". "Não toque aqui, eu não sou de você, nem você é de mim". As minhas relações sintetizadas em um alguns versos: as inseguranças do afeto e a tentativa de exercer controle por um desejo que, no fundo, nem escolhemos ter só que temos que nos lidar. "Partiu um coração". Ah, como eu amo a dor. "Eu não vou lhe dizer, eu não posso explicar pra você". As coisas são complexas demais para serem explicadas, já que envolvem uma série de intercursos subjetivos que muitas vezes feririam a intimidade nossa com nós mesmos se contados.  "Vidas pra quê? Vidas por quê". Sim, fui tocado fundamentalmente em minha alma.


Ilogicamente


"As previsões não batem, as marés são outras". A música trabalha com a inversão da ordem, uma espécie de poesia que trabalha com a loucura do contraste. "Gênios emburrecidos, tolos geniais". "As noites tão quentes", "desertos nascentes", "anjos distraídos, veganos canibais", "ateus religiosos". Poder-se-ia dizer-se que ela fala de um mundo muito louco. O cantor de iniciar a música diz que ficou bastante tempo confinado por causa da pandemia, talvez a canção trate do rigor do confinamento e o efeito psicológico que ele teve nele e nas pessoas. Não sei, isso é uma tese minha, não posso afirmar. Porém o fato do músico tocar o instrumental sozinho tira seu "impacto", seria melhor se houvesse uma banda. A próxima música será: "sagrado serrado". Dessa vez, é de fato uma banda. Tomara que ela supere seus competidores.


Sagrado Serrado


Essa música é uma das mais líricas do evento. Ela traz uma melancolia reflexiva, bem meditabunda. Só que esse "pessimismo" não é ruim, é um pessimismo que encanta. Seria possível dizer que uma poesia bem cantada não é soa como um lacônico lamurio se muito bem escrita, aqui temos a síntese entre a perfeita beleza e a narrativa de uma consciência presa na incerteza. Com essa música, pude vislumbrar mais do grau de maestria no evento  e vi que ele é absurdo de bom. A forma com  que cada um compôs até agora, suas tentativas diferenciadas e com perspectivas bem diferentes umas das outras, tudo isso é vastamente interessante. 


Diante de Mim


Estamos chegando na metade do evento, essa já é a sexta música. Essa banda, ela é fantástica, já que há um "coro" nela - eu fiz coral por praticamente um ano de minha vida, então às vezes sou pego pela memória afetiva. Quatro cantores, cada um em sua parte e conjuntamente. O primeiro verso: "hoje eu acordei mais triste que gostaria, um grito preso insiste vivo muito forte". "Histórias lindas se eternizam quando bem contadas, histórias pobres carbonizam amarguradas". Será que essa música tem múltiplas camadas interpretativas? Eu poderia apostar que sim. Se eu pudesse chutar, o verso que acabei de citar conta o bom trabalho da própria música e a forma com que ele se eterniza agora com a sua realização. Já a segunda parte, deixa um péssimo sentimento nos rivais. Indiretas a parte, o grupo soube executar muito bem o trabalho coletivamente. Em outros momentos, a palavra "eu sinto muito por ser isso que temos que aprender, eu sinto mais de entender que só a dor é um motivo pra crescer": eles não foram arrogantes, foram emocionados e falaram sinceramente o que queriam. Eles também viram a própria dor e a possibilidade de crescimento diante da própria fragilidade, e a frase citada anteriormente "histórias pobres carbonizam amarguradas" também era uma auto-mensagem de reflexão existencial a si. "Eu sou todo amor, e este amor é meu". "A vida passeia, diante de mim, os meus olhos buscam os seus, já não sei se o destino é assim". Se a música "ilogicamente" se demarcou pela solidão do cantor guitarrista, essa foi o contrário: foi um conjunto harmônico, extremamente bem sintonizado entre si e uma excelente composição em letra ou em instrumental.


Anjo sem Asas


"Você me apareceu como um anjo sem asas, linda, delicada, parecia até voar/tão frágil que eu nem sabia como tocá-la, mas veio uma força em seu coração". Uma música sobre o amor, de forma profunda e não genérica, é uma raridade no oceano de vulgaridade. "Vamos namorar, vamos botar o pé na areia, vamos nos amar no mar, ficar assim a vida inteira". Outro ponto que curti nessa música foi a boa presença do guitarrista, não esperava um bom solo de guitarra nessa noite. A cantora demonstrou uma certa capacidade vocal em especial O conjunto da vocalista e do guitarrista se tornaram um tônus. Parece-me uma música que seria uma boa pedida se ouvir ao lado da namorada, da esposa ou da noiva.  


Entrepontos


Quando comecei ao ouvir essa canção, cheguei a pensar que a música falava de uma pessoa que contava a situação de seu próprio coração. Talvez seja projeção minha, pode ser que a canção descreva o coração de uma outra pessoa. Eu prefiro acreditar que a pessoa que o compôs falava de si mesma, sentir-me-ia mais encantado assim. "Tão cansado coração, faz concessão na transgressão", esse verso é denso: o coração que perdoa mesmo quando é transgredido. Estando cansado, põe-se a perdoar mais outra transgressão. Que intenso amor é esse? De um lado, queria sentir tão intenso amor; por outro me perco na percepção de que esse tipo de relação não seria saudável. Uma música que descreve o coração como pessoa, inserindo a expressão do afeto que se tem ao mesmo tempo que também fala de uma outra pessoa concreta. De fato, a atmosfera mudou: "em teus olhos o feitiço do perdão". Que ternura, imagina olhar para alguém e só por seus olhos se sentir tentado a perdoar. Um simples olhar, um olhar que a tudo muda. Certamente, uma excelente música e de profundidade inigualável. 


Trilha da cachoeira


"Suas asas pesadas escorrem nos meus ombros". "Leveza que boa com a mente", é uma música tensa e suave, levando a paz interior e que deságua o luto de minha alma. "Sai minha alma do corpo, levanta e vê o cansaço". Essa música me faz sentir como se eu estivesse sendo abraçado, creio que seja uma espécie de efeito terapêutico. A plateia explode depois da apresentação, só que a música continuava a tocar dentro de meu interior, eu não queria que ela acabasse.


Enquanto


"Os fortes perderam, foram invadidos, saqueados, enquanto vampiros comem pratos laqueados em seus jardins". O tom inicial é calmo, conduz-lhe na alteante sensação de crescente depressão. É como se eu fosse cercado, fechado num círculo e no meio dele começasse a surgir um angustiante sofrimento que é tão portentoso que alcança os céus em sua obscuridade. Eu não sei dizer a razão, mas de todo evento essa é a música que mais seriamente me impactou. Não é como se eu ficasse apenas triste, eu sinto literalmente desespero enquanto eu ouço essa música. Só que é completamente contraditório, sinto-me desesperado e encantado com meu próprio desespero e feliz por estar desesperado. A imagem de mundo destruído junto com o tom depressivo da música me deixaram não só hipnotizado, mas completamente apaixonado. Ela traz uma mensagem crítica que questiona a forma com que os poderosos gozam de uma boa vida enquanto os outros vivem nas cinzas do mundo destruído. Raramente vejo uma crítica social que, junto a ela, traga uma beleza imensa na forma com que é passada. "Não eram nevas, eram cinzas, e a guria em meio as cinzas". Dizem que sentir altos sentimentos é melhor do que nada sentir, a música despertou-me sentimentos tão profundos que eu sinto que meu universo se tornou mais rico, detalhado e multifacetado enquanto essa música tocava.


Solicitudes


A décima primeira música e penúltima música. Teremos uma dupla. "Sim, tudo vazio, o perene em si morreu", "não se nega o amor a vida, que ela toma o que é seu". Essa música, para mim, cai na temática do suicídio. Ao menos é o que eu consigo conjecturar com ela. A forma com que ela traz uma intensa descrição de um sofrimento abismal e o verso "não se nega o amor a vida, que ela toma o que é seu" se repete em minha cabeça, só posso pensar num "suicida terminal" próximo ao seu último desencanto ou ato final. Se essa interpretação ficou pessoal demais, peço-lhes perdão e licença poética. "De grão em grão a vida irá te mastigar". A depressão corrói a alma até o seu último respingo de espírito, essa letra manifesta sempre um cansaço exaustivo que gera até uma ansiedade em quem a ouve. "Se a solidão aperta o nó", "de onde vim, para onde vou, não viver sem ter o amor", "o cerco fecha, a porta trava e o Sol não brilha mais na cara": eu não consigo pensar em como uma letra pode ser tão bem composta. Tendo em vista que ela foi feita para demonstrar uma extrema infelicidade para com a vida, ela consegue fazer isso de forma completamente envolve e "tristemente motivante". Fora que o desempenho da dupla foi insano de bom. 


Chamamento



Última apresentação, décima segunda música. É um ode ao Brasil e identificação com a própria brasilidade: "se tiver que falar do amor, vou falar do Brasil". A música é nacionalista, reclama dos problemas sociais e, ao mesmo tempo que reconhece as várias mazelas, não deixa de amar o próprio país e chama a luta para melhorar o país. "Canto porque sou de lá, canto porque sou daqui": em nenhum momento há um abandono do país, já havíamos sido avisados pelo cantor que "pouco importa" a dor, o Brasil é o país que se ama e que se sofre por vários problemas, só que isso não nos faz desamá-lo. "Quem tirou da mesa o pão e o sal", essa é uma denúncia: o pão representa um alimento básico e o sal é o próprio tempero da vida. Ao terminar a música, somos saudados: "viva ao povo brasileiro, axé". É estranho observar que a última música apresentada é a música que mais parece ter um nível alto de "carnavalesquismo", e isso não pesa em nada no grau de sua sofisticalidade. 



No dia da apresentação, era aniversário do cantor Dorival Caymmi. O homem morreu em 2008, somos apresentados a uma sucinta descrição: sua música trabalhava com o cotidiano da Bahia e muitas vezes falando do seu amor pelo mar. Não que isso seja uma descrição simples, há de se dizer que ele chegou a um alto grau de abstração e descrição lírica nos dois pontos. Era uma autodidata que se apaixonou pela música quando ainda era criança, e com seu esforço renovou a música brasileira. Teremos algumas músicas dedicadas a ele agora, cantadas pelo seu próprio filho: Danilo Caymmi. Várias músicas que são passadas como o intuito de celebrá-lo, creio que será um cantor que eu voltarei a pesquisar várias e várias vezes. Queria ter conhecido Dorival, ao menos como ouvinte, antes dele morrer. Um das músicas que mais me impactaram foram essas: "Suíte do Pescador" e "Marina".



Ao sair do show, já penso em várias outras coisas. Foi-me uma vivência pesadamente significativa. Só os sentidos movem o coração, é pelo coração que queima que o intelecto age. Só aqueles que testemunham a luz do Sol podem se sentirem satisfeitos para meditar em suas cavernas. Não por mero acaso, o existencialismo trabalha em primeiro momento com o envolvimento existencial e só depois com o distanciamento crítico. É preciso estar pessoalmente envolvido para estar criticamente envolvido. Se meu coração não se move, meu espírito não se move. Se não há o dobrar dos joelhos, não há o voo espiritual do intelecto. Eu posso sentir que há sangue, que há vivência real, em cada música que aqui eu ouvi. Se eu não for igual, seu não puder derramar um pouco de sangue em cada ato, não estarei me projetando para fora e não estarei vivendo. O sentido da experiência, a significação de experienciar é sair de si.




Questiono-me o quão impactante eu tenho sido. O quanto eu tenho conseguido dar de mim. Não tenho me sentido satisfeito comigo mesmo. Eu sempre quero mais e o mais que eu quero parece não estar sendo concretizável. Quando estive aqui hoje, vi não só uma série de músicas, vi também uma série de histórias, de trajetórias, de movimentos. Só que o movimento é tão denso que me machuca. A solidão é tão perceptível que me destrói. A saudade é tão desastrada que me corta. A sensação é tão intensa que sinto vontade de que o sangue saia por cada olho meu mesmo que me cegue. Já que me é infinitamente melhor sentir do que não sentir. Nisso vem-me a noção de que devo me desconstruir. Devo criar uma série de novas experiências que me façam transcender de minha atual situação tal qual a experiência transcendental que hoje tive. Aquilo que me desconstrói é o que me renova. A serpente deve destruir a si mesma - a lei da troca equivalente - para se renovar. É por isso que eu vejo o símbolo do Ouroboros. 


Voltando pra casa, me pergunto quem sou e quem serei perante à morte. Se meu mundo era, no ano passado, ligado a uma relação pouco pessoal e nada "intimista", perdidas na virtualidade do mundo cibernético. Me perdi na tenacidade mesma dessas estranhas relações que facilmente se dissolviam. Hoje percebo que o "cordão relacional", a ligação existencial, quanto mais próxima, mais difícil é. Percebo que há um grau que me escapa, uma "força" ou "capacidade" que me foge. Ter uma capacidade de estar com o outro, de estar para o outro, de ser percebido ou relacionado com o outro... ainda me é difícil e o sentimento para com o outro escapa numa série de sutilizas que ainda não consigo ainda captar. Adentrar nesse reino sutil, de movimentos ínfimos que se perdem na minha capacidade perceptiva, é como olhar diretamente para o Sol depois de sair da caverna. Meus olhos queimam e fremem diante dessa nova realidade. É como se eu fosse um grande cegueta social. Meus olhos estão agora vermelhos e exaustos após tantos estímulos.



Se isso foi um extrato bancário, se é possível mesurar a infinidade da variedade incomensurável do que sinto: eu sinto dor e medo da realidade. Eu não sabia que a leitura poderia ser uma caverna e que a realidade externa tinha tantos estímulos que machucariam a minha própria autoestima e confiança em mim mesmo. Só que agora só me resta continuar, mesmo que eu seja a cobra alquímica que come a si mesma para o ciclo de renovação necessária. Eu terei que me destruir, eu terei que me digerir. Toda essa nova euforia, todo esse abatimento é como um longo processo de morte.


O medo me invade. Nutro "natural" desconfiança de caráter excessivo. Diz-se que o neurótico é composto por: inquietação, incerteza e insegurança o tempo inteiro. Eu duvido da exatidão dos trens, dos ônibus e dos metrôs. Eu duvido de meus pais. Eu duvido do valor objetivo do dinheiro. Eu duvido que meu cartão tenha dinheiro mesmo que tenha. Eu duvido que eu saiba a senha dele mesmo que eu saiba. Eu volto atrás o tempo todo, preciso conferir de novo e de novo, só pra por certo o que há de certo. Tudo isso leva a um gasto de energia psíquica bem maior do que deveria. Pergunto-me até quando sofrerei pelo o que não deveria. 


A diferença do medo para a ansiedade é que o medo é se encontra em algo real, de um objeto com "real valor objetivo". Já a ansiedade se refere a algo do campo da fantasia. Minha neurose escapa do campo pragmático e e tudo que tenho é dor. Até quando serei tão paranoico? Até quando me omitirei da realidade? Só que eu tenho que mudar. O tempo tá passando. E o pior de tudo é que eu tenho que "matar a mim mesmo" nesse processo evolutivo, tudo que até então constituía minha consagrada identidade e o chão que cobria meus pés. Tudo que vivi hoje me impactou e revelou uma coisa: eu tenho que mudar, mesmo que isso leve a autoantropofagia. Caminho rumo ao renascimento.

sábado, 30 de abril de 2022

A Cobra

Palavras não morrem, não dá pra esquecer. Os batimentos de meu peito não cessam. E imerso em meu próprio sangue, eu nem consigo mais dormir, tenho imenso medo de me afogar. Salvar-me-á da solidão ou me verá caído na noite sem fim até que tenha percebido que tinha tido a chance de me salvar?


Pegue-me, se puder. Leve-me, se querer. Ame-me, somente se quiser. Meu espírito desvaira-se nos altos céus e colide-se com a crueza do real. Ando sempre em corda bamba num céu etéreo de imprudência bestialogicamente selvagem, é sempre difícil me acompanhar - a única certeza é que no meu anuviado e transtornado mundo: cair é quase sempre morrer, quiçá para renascer outra vez ou para enlouquecer duma única vez, a única garantia é a ausência de código de direito do consumidor.

Minha carne sempre se dobra, sempre tendo gosto agridoce com seu sangue meio amargo e meio adocicado. E estou sempre a sangrar, conquanto que até agora sem minha força vital obscurecer. Namore-me sem nunca saber se você tirará fel ou se tirará mel. É pedir demais, embora o demais é o que sempre peço. Sou um constante inconstante ameno outonal a sonhar quando o metrô de São Paulo levar-me-á ao paraíso da Jerusalém Celestial.

Eu sou de discutir o sexo dos anjos num rigor ultra escolástico, como se a inutilidade me confortasse e livra-se da ideação autocida. Minha visão longeva é tal como um ode ao disforme em que o previsível nunca se encaixa, tal como eu nunca estou a me enquadrar em absolutamente nada. Sou melancólico de formação meditabunda, trazendo uma nauseabunda penumbra entre o campo do dito e do não dito. Eu maquino fantasias tal como a esfinge maquina enigmas. Minha prudência é a soberba do orgulho do fracasso e de fracasso em fracasso crio minha distópica catedral que cresce como capim em direção a loucura dionisíaca e não a visão beatífica do Deus de Abraão, Isaac e Jacó.

Até quando eu serei essa cobra alquímica que come o próprio rabo sem ter coragem de esgotar a própria capacidade física? O transcendente escatológico é contra a minha naturalidade e o peso de minha vida é um fardo para minha alma ofídea. De pele em pele, prostituo-me por uma morada provisória num submundo subnutrido, esperando aquele juízo final que na mortalha me ponha como se coloca um corpo negro, tal como o meu, em mais uma banal estatística.

Não quero ser trágico. Só que vivo a vida toda como um traficante de boas tragédias. Embora que o que eu mais quero é que tudo acabe como a Divina Comédia - aquela estranha poesia que anda do inferno ao céu. É sonhar demais, e sempre sonho em demasia, peremptório erro meu. Perdoa-me, amor, cala-me com teu beijo e esqueça dessa minha loucura tardia.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Acabo de ler "Nossa Cultura... Ou o que restou dela" de Theodore Dalrymple

 



Se eu um dia suposesse que um dos maiores autores que ficaria a ler por um período de dez ou quase dez anos seria um médico psiquiátrica que tratava a questão do mal em livros ensaísticos... Eu sequer acreditaria nisso ou, no mínimo, acharia bastante engraçado e curioso. Conhecendo a mim mesmo, é possível que a segunda opção fosse mais plausível.

Ler Dalrymple é sempre uma opção divertida e enriquecedora. Com doses de um pessimismo ponderado, capacidade para satirizar as absurdidades do mundo hodierno, vivência real e assustadora, humor refinado e uma boa capacidade de escrever e refletir, Dalrymple se tornou uma figura obrigatória do conservadorismo britânico. Mesmo aqueles que não são conservadores - meu caso -, podem se divertir e pensar bastante com seus escritos.

Esse livro é considerado o Magnus Opus de Dalrymple e a densidade crítica dele é tão grande quanto a agradabilidade de sua leitura. Leitura de fruição e de pensamento crítico se unem nessa maravilha que aborda sempre a questão do mal e como ele se cria. Dos autores ateus e agnósticos, Dalrymple é um dos maiores também. A forma como ele consegue pensar a questão do mal e sua vivência íntima com ele também é ressaltada. Como ele viu, viveu e também percebeu que o mundo não consegue tratar do problema, o caráter satírico - a piada é uma forma de se lidar com um mundo quebrado - é em demasiado evidente. Só que seu pessimismo nunca nos afasta dele, pelo contrário: percebemos o quão humano Dalrymple é.

Poderíamos definir Dalrymple como uma pessoa sofisticada, de bastante experiência vivencial e de caráter elegante. Seu livro aborda tudo: economia, cultura, literatura, vivência concreta, história, assassinatos, crueldade. Seus comentários de Shakespeare aumentam a palatividade deles e conduzem o leitor a uma leitura mais rica da obra. Fora que a capacidade de usar Shakespeare como método de análise crítica e resolução de problemas sociais e filosóficos é impressionante.

Ao terminar o livro, vejo que Dalrymple é um grande autor e pensador. Embora ele não seja um autor de caráter sistemático, é de uma utilidade máxima.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Acabo de ler "História da Psicanálise" do Dr. Anselmo Matias Limberger

 



Estudar psicanálise vem sido um processo de expansão do horizonte de consciência, ao menos o é em meu caso. Como trabalhei com um autor tradicionalista em meu TCC, e Freud está longe de ser um tradicionalista - seria melhor colocá-lo como "antitradicionalista" -, vejo que venho desenvolvido muitos questionamentos e descobertas intelectuais.

Estudar psicanálise sempre se torna algo que envolve autoconhecimento. É por isso que fico cada vez mais receoso. Talvez meu ego venha trabalhado para que eu não tenha a revivência do trauma, coisa que seria explicável pela própria teoria psicanalítica. Quanto mais estudo, mais percebo que tenho que avançar. E venho descoberto muita coisa sobre mim mesmo e me tornado mais empático, embora mais consciencioso com a atuação alheia - sim, tornei-me mais crítico e, quiçá, um pouco mais chato.

Uma das coisas em que fui mais impactado é com a "doutrina da vontade". Longe de pensar que um melhor controle da vontade seria autossuficiente para a propulsão de um melhor viver, questiono-me sobre a nossa capacidade de "controlar" essa vontade que nos escapa. Se grande parte da vontade escapa ao nosso controle devido ao fato do inconsciente, só se pode haver mais poder sobre a vontade quando a autocompreensão aumenta. Só que nossa autocompreensão é algo de que nós próprios inconscientemente fugimos. Tudo isso impacta fortemente a forma com que vejo o mundo.

Também ficar catalogando as ações humanas e tentar entendê-las por véus ocultos se tornou uma mania a qual não consigo fugir. E embora fosse mais fácil não prestar atenção, minha atenção expandiu-se e continua a expandir-se em demasia. Torno-me aquela medonha pessoa que parece atenta para os movimentos mais sutis, causando um pouco de medo - e o medo de ser julgado é algo demasiadamente humano. Tenho medo de causar receio com minha própria pessoa. Ainda bem que a psicanálise me deixa, ao mesmo tempo, mais empático.

No fim de tudo, vejo que me tornei um tanto mais adulto e capaz de ter um maior controle sobre a minha vida. Embora também mais cético.

Intimidação a Si #3 - Medo de Palhaço




1. Tenho medo de palhaços. Se a minha essência é palhaçada, nada que digo é palpável ou substancial. É tudo mera zombaria de minha imitação deformada. Sendo sempre cômico, nada que vem de mim é amável e nada se espera de mim além disso: meu amor causa risada, meu choro causa risada. Se até minha tragédia é piada, como posso desejar uma mulher ou um homem bonito?


2. Vendo-me desproporcional, vendo-me como calvo, toda forma que me vem é ridícula. Sou sempre deformado, calvo e feio, sempre propício ao circo. Sou ridículo e ridicularizável. Essa é a minha maldição: ninguém vê no palhaço mais do que objeto de riso. 


3. Toda vez que me lembro de um palhaço, a próxima forma que me vem a mente é de minha imagem de criança a chorar. Só posso sofrer bullying e toda minha seriedade é convertida em burrice, já que só posso ocasionar risada e a seriedade escapa de minha essência cômica. É por isso que travo ao ver uma mulher bonita: sou a piada e não o mágico.


4. Nasci em dez de dezembro, o destino tira sarro de mim. No dia do palhaço, vejo que só posso ser feito de piada. Faço todos tirem, menos a mim mesmo. Lembro-me até mesmo de uma tia que fazia todos rirem, só que quando fez uma cirurgia para agradar a si mesma, morreu.


5. O palhaço não pode ser academicamente sério, toda teoria descamba na essência em que o veem e na essência que ele mesmo se coloca - mesmo que inconscientemente. E quando rirem de suas ideias, ele se lembrará palhaço e eternamente palhaço. O palhaço não pode ser sexualmente desejado. Ele tem que parecer disforme e tudo que faz beira a disformidade. Só o que me sobra é a frase: "você faz as pessoas rirem, Gabriel". Eu não posso fazer as pessoas me amarem, me desejarem ou até me acharem inteligente. Estou sempre numa palhaçada unidimensionalmente trágica.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Intimação a Si #2 - E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim?




1. Imerso em tensionalidade, busco um pouco de fuga no sossego. A música sacra se encontra ao lado de minha libidinosidade deturpada. Amá-lo é ofender a quem amo, não amá-lo é negar a profundidade do que sinto. 

2. O que sobra de minha leitura? Talvez a realidade a qual me choco. Amo-o como amo a catedral. Só que pode o inferno posicionar-se tal como se fosse o céu? Por um lado, a construção de uma vivência super-egóica, por outro a romântica-sexual que, tal como um Deus-Vivo, a tudo evade. Nada pode deter o amor que sinto, só a ansiedade neurótica do condicionado que condiciona sempre ao enquadro.

3.  Se ele é bom ator, ator o suficiente para separar o teatro da vida, como eu que pouco sei de teatro posso alcançá-lo nessa originalidade que ao palco se sobressai pelo coração pulsante que a vida deseja e a sociedade escapa? Quero-o. Desejo-o tanto quanto sinto que a minha carne é de carne. Só que o que temo é esse corpo imaterial a qual chamamos de sociedade. 

4. Sinto que meu coração que hoje se homorromantiza fosse tão de fogo quanto o coração queimante de Agostinho de Hipona era de fogo. E quando ele está a queimar meu coração até meu corpo se queima e sente a minha alma. Tão empírico quanto Aristóteles meu corpo pulsiona, tão idealístico quanto Platão minha alma transcende e aos céus se direciona. A metafísica celeste e a homossexualidade dançam numa dialética que ao meu coração agrada!

5. E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim? Com o bater do martelo, vem-me só o desejo de para sempre amá-lo.