Se eu um dia suposesse que um dos maiores autores que ficaria a ler por um período de dez ou quase dez anos seria um médico psiquiátrica que tratava a questão do mal em livros ensaísticos... Eu sequer acreditaria nisso ou, no mínimo, acharia bastante engraçado e curioso. Conhecendo a mim mesmo, é possível que a segunda opção fosse mais plausível.
Ler Dalrymple é sempre uma opção divertida e enriquecedora. Com doses de um pessimismo ponderado, capacidade para satirizar as absurdidades do mundo hodierno, vivência real e assustadora, humor refinado e uma boa capacidade de escrever e refletir, Dalrymple se tornou uma figura obrigatória do conservadorismo britânico. Mesmo aqueles que não são conservadores - meu caso -, podem se divertir e pensar bastante com seus escritos.
Esse livro é considerado o Magnus Opus de Dalrymple e a densidade crítica dele é tão grande quanto a agradabilidade de sua leitura. Leitura de fruição e de pensamento crítico se unem nessa maravilha que aborda sempre a questão do mal e como ele se cria. Dos autores ateus e agnósticos, Dalrymple é um dos maiores também. A forma como ele consegue pensar a questão do mal e sua vivência íntima com ele também é ressaltada. Como ele viu, viveu e também percebeu que o mundo não consegue tratar do problema, o caráter satírico - a piada é uma forma de se lidar com um mundo quebrado - é em demasiado evidente. Só que seu pessimismo nunca nos afasta dele, pelo contrário: percebemos o quão humano Dalrymple é.
Poderíamos definir Dalrymple como uma pessoa sofisticada, de bastante experiência vivencial e de caráter elegante. Seu livro aborda tudo: economia, cultura, literatura, vivência concreta, história, assassinatos, crueldade. Seus comentários de Shakespeare aumentam a palatividade deles e conduzem o leitor a uma leitura mais rica da obra. Fora que a capacidade de usar Shakespeare como método de análise crítica e resolução de problemas sociais e filosóficos é impressionante.
Ao terminar o livro, vejo que Dalrymple é um grande autor e pensador. Embora ele não seja um autor de caráter sistemático, é de uma utilidade máxima.
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