segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Melhores áudios virão!

 



Agora que estou com um computador novo, com uma caixinha de som e um microfone, poderei fazer áudios maiores e com mais qualidade no projeto Latir Contra os Grandes (YouTube, Anchor e Spotify).

Os próximos passos são mais ousados que os que estavam sendo feitos até agora:
- Narrações de Livros;
- Artigos;
- TCCs;
- Contos.

Tudo focado em pequenos autores ou do meio underground, praticando uma forma de democratização de acesso.

Fora isso, o blog Cadáver Minimal terá maior integração com o projeto Latir Contra os Grandes, contando com postagens mais focadas em contos e crônicas. Todo treinamento e preparo tem valido a pena. Ter treinado para esse momento de forma meio "quieta" com textos meus foi fantástico, pude rever vários escritos anteriores. A saga "Prelúdios do Cadáver", textos de quando eu tinha mais ou menos 21 anos, está chegando ao fim. Pretendo terminar de narrar os textos da Fase 1 (24 e 25 anos) posteriormente.

Fora que estou criando uma fórmula para uma série de áudios que manifestam uma meditação que eu mesmo estou inventando (Meditação Ouroboros), um grande passo para mais uma técnica criada por mim - ao lado de outras como a neossistemática, salto de fé simbólico, abraço satúrnico, inversão normativa e inversão ritualística, epistemologia chestertoniana e desconstrução niilidionisíaca do discurso.

domingo, 14 de agosto de 2022

Quando ela caiu...

 



Passei a maior parte da vida pensando que minha morte não causaria problema algum. Joguei-me numa série de situações de risco relativizando a importância de minha vida e, igualmente, o amor que as pessoas que me acompanhavam tinham por mim. Desde meus 17 anos sofro com episódios de depressão recorrente, quiçá pela minha bipolaridade que se acentua pela vida desregrada que levo. Nesses últimos tempos, só posso pensar em aumentar a qualidade de minha vida, retirando velhos vícios e conquistando o poder da vontade.

Recentemente uma mulher que amei se jogou no meio de vários carros. Só consigo conjecturar que ela se encontra desfigurada. E toda vez que penso nisso só consigo ter vontade de a tudo quebrar. Como não percebi a vocação suicida de minha amada? A forma enfadada com que falava, a sua boca a sempre demonstrar cansaço contínuo, a imagem autodepreciativa que nutria de si, a ideia constante de que estava no final de sua vida e que tudo nela gerava desinteresse global. Eu deveria ter juntado as peças desse estranho enigma, todavia estava ocupado em só prestar atenção em mim mesmo. Sou condenado pelo egocentrismo autocircular que carreguei.

Nos últimos tempos, conheci três pessoas que se mataram. Até hoje há um pingo de esperança meio tresloucada que as verei participando das atividades desse mundo. Eu até agora não pude aceitar a morte delas. A morte é a maior das certezas, porém é psicologicamente inaceitável. Meu antigo psiquiatra também faleceu, uma mulher que se perdia em suas deliberações e indecisões que conheci durante anos também bateu as botas. O trágico era a minha noção infantil de que todos eram imortais. A noção de que as pessoas poderiam morrer me era inconcebível e quanto mais as mortes são engendradas nesse roteiro paranoico, mais me causam suspeita e incredulidade em vez do contrário. A morte é a única certeza da vida, conquanto que uma certeza inaceitável. Quanto mais o tempo passa, mais percebo que a realidade é inevitável para todos.

Ainda vivamente me lembro de meu pescoço na barra de ferro do metrô. Lembro-me de quanto eu tive que meditar para aceitar a minha morte e o quanto eu recuei temerosamente com a aproximação do veículo. Depois disso, mais uma internação que gerou outra e mais outra. Por isso, afastei-me das drogas, das bebidas, das antigas amizades, ideias e sites. A luta pela sanidade se configura apaticamente: ela requer que se afaste daquilo que tensiona e o espírito corrói. Por muito tempo, fui completamente agnóstico e hoje creio em Deus - de tal modo que nunca acreditei. Toda essa monumental tragédia que se repetia circularmente numa roda gigante aproximou-me Dele.

Uma amiga que se afasta, um amigo que vai morar longe, um casal que concebe um filho. Uma pessoa pela qual se enamora e depois se afasta. Tudo isso impacta no eixo vivencial e na debilidade a qual se encontra o meu pensamento. Eu não estou preparado para isso, só que não estar preparado não é o mesmo que impedir que isso ocorra. A dor simplesmente virá e não poderei impedi-la. Talvez isso signifique crescer. Eu posso sentir da densidade da crueza do real.

Quando ela caiu, precisamente eu pude sentir. Eu também cai. Eu senti todo meu ser quebrar-se. Todas as antigas convicções e amizades espatifaram-se como vidro caindo no chão. O mundo de cristal, imaculado pela sua infantilidade, quebrou-se pela pedra da realidade que lhe acertou. Os cacos de vidro cortaram a minha pele. Agora só me resta sangrar, tirar os cacos fragmentários de ilusões e ver todas essas feridas cicatrizarem-se com o tempo. Andarei, daqui pra frente, com o corpo maculado de cortes. Nunca poderei esconder a armagura que meu coração partido lega. 

sábado, 13 de agosto de 2022

Acabo de ler "O alienista" de Machado de Assis

 



Quando nos deparamos com um clássico, dependemos de um espírito que a ele se abra e entregue-se. Por muito tempo, o humor de Machado de Assis foi-me estranho. Hoje, com maior maturidade do espírito, dou-me a vôos mais altos e constantes. Sinto-me feliz por ter compreendido e rido bastante com essa pequena obra.

A questão fundamental é a definição da loucura. O alienista busca uma "explicação cabível" ao entendimento da loucura. Hipoteca-se sobre a proporcionalidade, depois desenvolve-se na argumentação contrária. A trama se desenvolve como uma arguta crítica ao senso de sanidade e insanidade, além da mediocridade do senso comum e da idolatria científica dos pedantes. Gerando casos extraordinários de comicidade mórbida. A surpresa é característica presente dum roteiro que se engendra tendo como inimigo a monotonia e a padronicidade. Nota-se que Machado de Assis não era outra coisa se não um gênio.

É incrível como surge a "Casa Verde" e qualquer motivo leva ao encarceramento da pessoa. Todos eram alvos. Todos eram tidos como patológicos em dados comportamentos. Chega-se até num ponto em que a grande maioria da população da cidade estava internada. Só que toda essa incomensurável jornada termina com o alienista descobrindo que, em todo esse tempo, o louco era ele e não o outro - nesse caso, todos os outros.

A enunciação duma política experimental totalitária que cultua a ciência e a ausenciação de um ajuizamento da maioria é uma temática interessante. O livro poderia ser facilmente enquadrado nos grandes livros de distopia. Pode-se falar que o livro que tenho em mãos é um clássico da distopia da saúde mental. E, vejam só, é um clássico inigualável em sua riqueza. Termino o livro maravilhado com a agudeza do espírito do autor. Deu-me boas risadas e um bom entendimento crítico que me será útil até a consumação de minha vida.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Acabo de ler "Sangue, Suor e Pixels" de Jason Schreier

 



Videogames são a coisa mais divertida do mundo, não? Podemos desvendar masmorras mortais em The Legend of Zelda, viver o apocalipse zumbi em Resident Evil, correr a velocidade do som com Sonic, espancar deuses em God of War. Tudo indica que videogames são divertidos, eles abrem um leque de possibilidades existenciais nas quais entramos de cabeças em novos mundos... mas, pera aí, como tudo isso é feito mesmo? Cada possibilidade que adentra no fantástico mundo da gameplay é meticulosamente preparada por pessoas que, às vezes, passam dias trabalhando mais de dez horas por dia sem ver a família ou dormindo no próprio estúdio pra poupar tempo e maximizar a produção.

Sim, tudo gasta tempo e esforço. O cogumelo que aumenta o tamanho do seu encanador favorito requisitou tempo e esforço daquele que o programou para fazer isso. Os zumbis que lhe perseguiram pelas ruas de Raccoon City requisitaram de uma sofisticada inteligência artificial. Até mesmo o Sol e o reflexo na água tiveram um determinado tempo para ficarem prontos. Alguém teve que deixar qualitativo os movimentos das gramas. Sem falar da física que a tudo rege que teve incontáveis cálculos matemáticos. Fora uma série de piruetas de todos os tipos, alguém teve que conceber artisticamente o produto para que ele fosse bonito e verificar se as mecânicas dentro dele o deixavam divertido além de jogável.

Atrasos de produção, pessoas largando tudo para produzir jogos, horas de discussões intermináveis sobre poderes e como aplicá-los, passar tempo longe da família, não ver os filhos crescerem. Se isso lhe parece uma vida divertida, quiçá esteja apto pra trabalhar 12 horas por dia para que uma flor apareça numa tela e dê poder de fogo a um encanador barrigudo que luta contra tartarugas. A vida dos programadores não é fácil, videogames podem até ser divertidos, só que produzi-los é um esforço estóico do mais alto nível. Toda essa história é contada por uma série de relatos nesse livro.

Pra quem quer entender mais sobre videogames, esse livro é de leitura obrigatória. Ele trabalha com relatos que dão uma nova compreensão sobre jogos de forma inesquecível.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Carta a Dionísio - A conjuração duma dualidade trágica




Quando penso em você, penso igualmente em mim. Você me era como um arquétipo e como uma contradição a qual deveria rivalizar. Era-me arquétipo na medida em que era alguém de posicionamento social, econômico e funcional melhor do que o meu. Só que não era só isso, era belo e inteligente. Você era um grande ímã que sequestrava todos ao redor com teu hipnotismo, sobretudo as mais belas garotas que víamos na faculdade. Conseguia navegar na divergência e no enquadro. Via-me como um acessório ou alguma coisa a orbitar o espaço de sua espetacular presença que a todos encantava.


Todo garoto tem direito a ter seu super herói a preencher o seu imaginário. Quanto mais tímido for o garoto, mais esse se ancorará na figura heróica de seu ídolo. A timidez e a admiração tornam-se simbioticamente a causa da mudança, um condicionar-se à figura do ser amado e idealisticamente pensado. Em certo sentido, a imagem mental que tinha de ti gerava uma confusão identitária na constituição de meu pensamento. Quando a imagem que tinha de ti era fortalecida, mais alienantemente fugia da minha própria autoimagem e, também, daquilo que era a minha identidade.

Eu era como um Narciso às avessas, sempre que me deparava com a pequeneza e feiúra de minha própria imagem, preferia gritar ao me ver em cada reflexo. O horror para comigo mesmo me levava à loucura de vôos imagéticos em que eu sempre me imaginava o contrário do que eu era. Segui-lo era tornar-me um bichinho que seguia o protagonista e servia-lhe de adorno, ressaltando sempre o protagonismo do personagem central da história. Eu era uma pessoa destituída de uma boa história mitológica.

Virei uma espécie parasitária de vampiro. Sugava de ti as hipóteses e possibilidades, numa dependência abjeta. Minha maturidade caminhava a lentos passos. Só que o peso do heroísmo pode ser trágico, toda crítica sua me jogava em profunda náusea. E, nos tempos finais de nossa proximidade, inferiorizou-me ao todo, jogou-me pra baixo. Mesmo assim, chorei depois de vê-lo partir. Hoje tento achar a mim mesmo, procurando pontuar o que sou e o que não sou. Quero me dissociar de tua imagem, quero ter meu próprio projeto e minha própria história. Não quero parasitá-lo ou imitá-lo, quero vocacionar-me.

Eu não estou lhe culpando, falo-lhe de mim mesmo e do impacto que você causou. Afasto-lhe para que eu seja, busco autenticidade. O princípio de nirvana requer um grau de expurgo para que o organismo volte a sua funcionalidade. Se não afastar-lhe, tua voz atrapalhará a voz de minha consciência e minha intimidade. É uma questão fundamental viver minha própria história.

Por muito tempo, os rumos de minha vida se afastaram de meus objetivos. Tudo me impactava sombriamente: os fóruns virtuais, as drogas, as bebidas, os locais. Eu preciso de tempo, eu quero um grande espaço - um espaço pelo resto de minha vida. O tempo e o labor fincarão o que busco, a minha nova vida requer novos hábitos, pessoas, leituras, jogos e amores. Não sei se isso lhe entristece, sinto mais alívio do que qualquer outra coisa. Afasto-me também duma série de outras pessoas, conhecidas nossas. Aprendi a verdadeira liberdade, ela me diz que nada que me prenda ou leve a perca de minha vontade como verdadeiramente livre.

Lembro-me da estação de metrô em que estava no dia em que tentei me matar. Queria ter enviado uma mensagem última a ti e outros dois ex-amigos. Parei de falar com eles por eu ter me tornado insuportável e insustentável. Não quero manchá-los com a minha vida turbulenta, ainda mais quando eles trouxeram ao mundo uma nova vida. Além disso, soube de algo que prefiro nunca contar. O sofrimento que teriam ao saber seria grande demais. Encaro isso como uma traição, porém é uma traição que suportarei com a dignidade de alguém que se afasta para o bem. Trai-os com a necessidade de protegê-los, além de livrá-los de minha influência nefasta. O meu coração carregará essa dor tal como carrega tantas outras dores.

O que mais me dói é a ideia fixa de que um personagem não possa ter duas origens. Se assim não o for, estarei eternamente condenado aos meus erros passados. Eu estou longe dele, abandonei a tudo: fórum, antigas leituras, drogas, bebidas, ciclo social. O único lugar donde extraío minha força é do santo terço, quase sempre chorando e pedindo perdão a Deus por toda dor que causei a todos ao meu redor. Sei que todos os meus ex-amigos encontram-se melhor sem mim. Dar a eles espaço é privá-los de meu mal e, igualmente, dar a mim um espaço para comigo mesmo. Mudanças produtivas vêm vindo, só que só se manterão se eu me manter na senda reta.

Acabo de ler "200 crônicas recolhidas" de Rubem Braga

 



Se existe um gênero que eu particularmente amo ler, esse é o gênero de crônicas. A leitura desse livro de 488 páginas foi-me um deleite de finíssimo grau, dando a minha vida aspecto suave e mavioso. Sou apaixonado por crônicas desde que o autor Nelson Rodrigues adentrou em minha vida.

Confesso que quando recebi esse livro, logo o estranhei. Não achava que me interessaria por inteiro pelo livro, mas logo fui conquistado pela riqueza do autor. A forma com que a simplicidade e complexidade se engendram harmoniosamente é particularmente espantosa e espetacular. O autor consegue colocar todo simples assunto num altar, exaltando a simplicidade e demonstrando-a grandiosa. Toda essa apoteose deixa a vida mais enriquecida e bela, com Rubem Braga aprendemos a referenciar os pormenores da vida.

Creio que a beleza salvará o mundo. Até certo momento, tinha um grande problema em encontrá-la. O quão cego eu era. A cotidianidade pode ser incrível, o comum e o fantástico podem ser encontrados no mesmo lugar. Rubem Braga é uma espécie de Chesterton em sua apreciação pelo comum. Não por acaso, Chesterton é citado em uma de suas maravilhosas crônicas.

Passei dias lendo o livro lentamente, sempre apreciando meu novo método de leitura. Nunca pensei encontrar uma rica espiritualidade numa obra que me viria por acaso. Sinto-me grato de ter recebido esse livro dum grande amigo.

Acabo de ler "A Guerra dos Consoles" de Blake J. Harris

 



Comecei a leitura pensando que teria algo de simples, um tanto de vulgaridade e quiçá uma camisa de deleitosa. Uma simples leitura de passar tempo, não? Estava completamente enganado, a complexidade e a forma com que a trama me envolvia me fascinaram por completo. Um livro sensacional, recomendado não só para o público gamer, mas também para estudantes de marketing, publicidade e propaganda, arte e tantas outras coisas mais.

Esse livro certamente me marcou. Não saberia dizer a honra que tive de lê-lo. A cada página uma nova curiosidade me era apresentada e mais eu sentia vontade de devorar o livro. Graças a história de Tom Kalinske, tornei-me um tanto mais seguista ao testemunhar toda essa história fantástica. Pena que tudo que foi feito em nome da SEGA, foi por ela mesma destruída. No fundo, a maior inimiga da SEGA era a própria SEGA. Mesmo assim, a luta da Nintendo vs SEGA na quarta geração de consoles não foi só louvável, foi épica e impactante. Qualquer pessoa que tenha lido o livro ou vivenciado o tempo saberá do que falo.

O fato dos jogos terem sofrido uma queda brutal e a Nintendo ter feito o mercado ressurgir das próprias cinzas é um feito e tanto. A ditadura monopólica criada por ela, nem tanto. A bravura com que a SEGA lutou contra a Nintendo, mudando eternamente o rumo dos games é uma outra história a qual nunca me esquecerei. Todavia a autosabotagem que a SEGA do Japão fez, em seu orgulho, para ferrar com a SEGA do EUA destruiu a empresa. O surgimento da Sony no mercado é uma outra história marcada pelo livro, uma história muito ousada, peculiar e interessantíssima - mesmo que o livro não aborde muito da quinta geração de videogames (PS1, Saturn e N64).

Tudo me deixou com um gosto de quero mais. O problema desse livro é que ele termina. Seu principal defeito é ausência de defeitos. E, no momento que escrevo, sinto-me feliz de tê-lo lido e saudades por ele ter terminado.