domingo, 21 de agosto de 2022

Acabo de zerar "Castlevania: Mirror of Fate" no 3DS

 



Após um longo tempo sem jogar um metroidvania, resolvi jogar essa iguaria no 3DS. Esse jogo tinha muitas críticas mistas, uns dizendo que era muito bom e outros dizendo que era muito ruim. Graças a isso, fiquei em dúvida e resolvi tardar a gameplay desse jogo enquanto jogava jogos mais bem avaliados. Digo-lhes: esse jogo é excelente.

Juntando elementos de metroidvania com hack and slash, Castlevania Mirror of Fate propõe uma experiência surreal com gráficos fenomenais e cinematográficos. Prepare-se para batalhas épicas e uma exploração de outro nível. O jogo se sai bem em reinventar o gênero metroidvania, tornando-o ainda mais refinado e apresentando gráficos cartunescos em 2,5D. Não só o jogo em si é belo, como sua jogabilidade é surpreendentemente fluida e responsiva.

Alguns acusaram esse jogo de ser curto, porém eu creio que eles não se dedicaram a andar pelo mapa completo. Talvez se eu tivesse seguido só com a intenção de zerar, sem o objetivo de ser minucioso e platinar o game, eu também achasse o jogo curto. Esse não foi meu caso: dediquei-me a ter a experiência completa que o jogo se propõe a oferecer.

Quanto a dificuldade: achei-a razoável. O jogo requer sempre uma série de movimentos para executar todas as suas funções. Qualquer coisa feita pelo personagem exige uma certa dose de cuidado técnico e isso causa uma certa estranheza e impressão de lentidão - mesmo que isso seja muito bem executado e fluído. Essa é uma razão que irrita alguns jogadores do jogo, todavia não achei ela irritante e até apreciei essa peculiaridade como uma boa adição e uma experiência singular.

Termino o jogo sabendo que apreciei uma obra prima dentro do último console portátil da Nintendo. Além de um dos melhores gráficos para o portátil da Big N, o jogo se destaca pela sua história marcante e sistema de batalha surreal. Recomendo o jogo a todos aqueles que buscam uma narrativa épica condensada com uma beleza artística e a brutalidade dum bom sistema de luta.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Desnecessário

 Pin on Pepe

 

Suas palavras são desnecessárias, dar-nos-ão apenas o contínuo ruído sonoro do término de nosso relacionamento. Eu sei que tudo foi bem até onde poderia ser. Tudo que preciso é de uma lembrança feliz, de quando éramos homem e mulher. Lembrar-me de ti nas auroras de outrora e não do fim trágico da obra que construímos juntos. O que quero, o que preciso: está dentro de minha mente, seu sorriso feliz por ter-me ao meu lado. Eu só preciso lembrar dele e guardarei uma imagem boa de ti na perenidade de minha consciência. Tudo o mais é desnecessário, todo restante é acidental e triste, um acessório horrível àquilo que chegou a representar o nosso amor. Eu não posso consertar o que está quebrado, nem posso ouvir o concerto da melodia de uma paixão perdida.

 

Eu quero lembrar de ti num perene sorrir. Não nos choros que finquei em teu rosto. Eu sinto muito, isso é egoísta e covarde de minha parte. Escrevo-lhe como uma forma de pedido de desculpa. Eu ainda quero lembrar da maciez de seus lábios femininos, do carinho materno que nutria por mim, da tolice ingênua de meu agir de menino, de seus problemas de mulher, de seus trejeitos de menina. Meus erros rasgaram teu sorriso, meu pecado fincou-se em tua alma, meu amor extraviou-se pelo caminho e decepcionou-lhe fortemente. O que penso é só o que preciso: a tua imagem antes do ódio que lhe dei com a marca de meus erros, seu rosto risonho e tenro antes do esgar de ódio que pincelei em tua face. Não tenho tempo para gastar em meus antigos erros de um amor perdido. Não posso voltar onde não há volta. Não posso romper a barreira criada por um laço rompido. Foi melhor pra você assim, foi melhor pra mim assim.

 

Arrependo-me tão somente do paraíso perdido, sabendo que não haverá mais volta. Caminho com a fé de um dia amar de novo. Suas palavras rancorosas chegam até a mim, só que o ódio que tens por mim não chega a mim e se transforma em ódio a ti. Isso não aconteceria nem em um breve lapso temporal, isso não aconteceria nem em um milhão de anos. Se eu tivesse que odiar alguém pelo que rolou conosco, odiaria a mim mesmo - eu sei, fui eu que dei mancada, fui eu que errei, só que estava tentando te proteger.  A minha imagem obscura logo obscureceria a tua imagem de luz. Você diz lutar para não me odiar, eu luto para não lembrar que fui amado. Eu luto para não lembrar de cada erro que cometi. Eu luto pra não lembrar que te fiz chorar. Eu luto para não lembrar que não há mais volta e que há sempre uma possibilidade para encontrar um novo amor e sentir o que um dia senti por ti.


Espero que o tempo remova a tua raiva por mim. Eu não voltarei a ti, tu não tornarás a mim. Se puderes lembrar com um carinho pelo bom tempo, sentir-me-ia mais feliz. Só que tudo bem achar que fui um merda. Tudo bem achar que minha ação foi infeliz. Tudo bem se achar que sentir seu ódio por mim lhe torna melhor e mais forte. Aceito até seu ódio por mim se isso lhe faz bem. Se te fizer melhor, pense em todos os erros que cometi repetidamente. Só que não espere o mesmo de mim. Espero que o tempo cure seu ódio, espero que encontre alguém que a ame, espero que seja feliz. No fundo, amar é desejar o bem. Desejo-lhe sempre o bem e espero que um dia deseje o mesmo para mim.

Acabo de zerar "The Legend of Zelda: Ocarina of Time" no 3DS

 



"O fluxo do tempo é sempre cruel, sua velocidade é distinta para cada pessoa, mas ninguém pode mudar isto..."

Há muito tempo, há uma frase que é dita para cada um que se interessou apaixonadamente por videogames. Uma estranha frase. Dizem as lendas que havia um jogo que era considerado a maior obra prima dos jogos - recomendado a cada gamer e programador. Esse jogo era como as sinfonias de Mozart, ele era como "Crime e Castigo" de Dostoiévski, ele era o "Dom Casmurro" de Machado de Assis. A frase dizia que "jogue Ocarina do Tempo, o melhor jogo de todos os tempos".

Jogo videogame desde meus 5 anos de idade. Não demorou muito para que eu entrasse em contato com uma série de análises e dicas de jogos. Aliás, é graças aos videogames que peguei gosto pela literatura e pela carreira de escritor e intelectual. Um mundo inimaginável construía-se perante mim e eu ia crescendo ao lado das obras que jogava. Como num passe de mágica, interessei-me por ficção, filosofia, teologia, psicologia, jornalismo. Todo esse amadurecimento foi criado pela beleza dos jogos que me marcavam na cabeça e faziam-me desejar mais ardentemente a filocalia da vida intelectual.

Tardei anos para zerar esse jogo. O menino tolo e autista que vos fala passou por várias dificuldades na vida real. Só que sempre encontrei refúgio nos livros e nos jogos, por causa disso livrei-me da pulsão suicida. Só que havia a hora de me abrir ao melhor jogo de todos os tempos, era chegada a hora de apreciar a máxima iguaria. Quando esse tempo chegou, já tinha me formado em filosofia e publicado mais de dez livros anonimamente. O menino se tornou um homem.

Joguei Ocarina do Tempo como homem feito, mas com alma daquele menino que aos 5 anos de idade jogava Sonic no Mega Drive. A experiência foi fantástica, um retorno à infância mágica dos tempos de outrora. Muitas vezes, eu terminei jogos dizendo "fantástico". Só que dessa vez, digo outra frase: "muito obrigado". Eu agradeço pela fantástica experiencia que tive. Sou eternamente grato.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Acabo de ler "Resident Evil: Hora Zero" de S. D. Perry

 



Eu decidi ler esse livro antes de qualquer outro por um simples motivo: a história dele antecede todos os outros, mesmo que tenha sido lançado depois. Logo burlei a ordem de lançamento e parti para aquele que, se não me falha a memória, foi o último a ser lançado, mas é o primeiro em ordem cronológica. Uma situação semelhante ocorre com o Resident Evil 0 lançado para aquele videogame obscuro, porém fantástico, GameCube.


Resident Evil tem uma lore maravilhosa, embora as produções audiovisuais feitas com base nele para o cinema ou até para a Netflix - em forma de série - sejam lamentáveis. Ainda existem algumas animações em forma de filme que são apreciáveis. Recomendo que deem uma boa olhada neles. Só que um bom fã da franquia não pode se furtar a ler os livros baseados nos jogos - que gozam de uma maior fidelidade ao cânon dos jogos.


Em primeiro lugar, a pergunta que vem a pessoa é: por que esse livro (tal como o jogo) se chama 0? Basicamente por sua história se passar antes do 1. Isso pode parecer banal, todavia a história do Resident Evil é profundamente rica. Para um bom entendedor, meia palavra basta. Vira um item obrigatório para quem quer se inteirar mais sobre esse mundo cercado de zumbis e armas biológicas.


Nesse livro, acompanhamos a história de Rebecca e de Billy (um fugitivo da justiça) e como se deparam com um dos fundadores da Umbrella - revivido por grotescas sanguessugas. Toda história se passa com Rebecca suportando sua primeira missão prática que abre a sua vida para um inferno insuportável de zumbis e toda uma série de bichos modificados geneticamente. A trama conta mais um pouco da história da Umbrella (essa maravilhosa fabricadora dos maiores pesadelos de toda humanidade sã).


A sensação que tive lendo esse livro é um pouco de estranheza. Não estou muito habituado a pensar no Resident Evil como um zoológico do terror. Porém com o tempo me afeiçoei a forma distinta pela qual operaram o terror sombrio da obra. Por fim, simpatizei-me mais com vários personagens, até mesmo com os diabólicos vilões. Valeu-me muitíssimo a pena imaginar cada detalhe, a sensação psicológica foi diferenciada.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Melhores áudios virão!

 



Agora que estou com um computador novo, com uma caixinha de som e um microfone, poderei fazer áudios maiores e com mais qualidade no projeto Latir Contra os Grandes (YouTube, Anchor e Spotify).

Os próximos passos são mais ousados que os que estavam sendo feitos até agora:
- Narrações de Livros;
- Artigos;
- TCCs;
- Contos.

Tudo focado em pequenos autores ou do meio underground, praticando uma forma de democratização de acesso.

Fora isso, o blog Cadáver Minimal terá maior integração com o projeto Latir Contra os Grandes, contando com postagens mais focadas em contos e crônicas. Todo treinamento e preparo tem valido a pena. Ter treinado para esse momento de forma meio "quieta" com textos meus foi fantástico, pude rever vários escritos anteriores. A saga "Prelúdios do Cadáver", textos de quando eu tinha mais ou menos 21 anos, está chegando ao fim. Pretendo terminar de narrar os textos da Fase 1 (24 e 25 anos) posteriormente.

Fora que estou criando uma fórmula para uma série de áudios que manifestam uma meditação que eu mesmo estou inventando (Meditação Ouroboros), um grande passo para mais uma técnica criada por mim - ao lado de outras como a neossistemática, salto de fé simbólico, abraço satúrnico, inversão normativa e inversão ritualística, epistemologia chestertoniana e desconstrução niilidionisíaca do discurso.

domingo, 14 de agosto de 2022

Quando ela caiu...

 



Passei a maior parte da vida pensando que minha morte não causaria problema algum. Joguei-me numa série de situações de risco relativizando a importância de minha vida e, igualmente, o amor que as pessoas que me acompanhavam tinham por mim. Desde meus 17 anos sofro com episódios de depressão recorrente, quiçá pela minha bipolaridade que se acentua pela vida desregrada que levo. Nesses últimos tempos, só posso pensar em aumentar a qualidade de minha vida, retirando velhos vícios e conquistando o poder da vontade.

Recentemente uma mulher que amei se jogou no meio de vários carros. Só consigo conjecturar que ela se encontra desfigurada. E toda vez que penso nisso só consigo ter vontade de a tudo quebrar. Como não percebi a vocação suicida de minha amada? A forma enfadada com que falava, a sua boca a sempre demonstrar cansaço contínuo, a imagem autodepreciativa que nutria de si, a ideia constante de que estava no final de sua vida e que tudo nela gerava desinteresse global. Eu deveria ter juntado as peças desse estranho enigma, todavia estava ocupado em só prestar atenção em mim mesmo. Sou condenado pelo egocentrismo autocircular que carreguei.

Nos últimos tempos, conheci três pessoas que se mataram. Até hoje há um pingo de esperança meio tresloucada que as verei participando das atividades desse mundo. Eu até agora não pude aceitar a morte delas. A morte é a maior das certezas, porém é psicologicamente inaceitável. Meu antigo psiquiatra também faleceu, uma mulher que se perdia em suas deliberações e indecisões que conheci durante anos também bateu as botas. O trágico era a minha noção infantil de que todos eram imortais. A noção de que as pessoas poderiam morrer me era inconcebível e quanto mais as mortes são engendradas nesse roteiro paranoico, mais me causam suspeita e incredulidade em vez do contrário. A morte é a única certeza da vida, conquanto que uma certeza inaceitável. Quanto mais o tempo passa, mais percebo que a realidade é inevitável para todos.

Ainda vivamente me lembro de meu pescoço na barra de ferro do metrô. Lembro-me de quanto eu tive que meditar para aceitar a minha morte e o quanto eu recuei temerosamente com a aproximação do veículo. Depois disso, mais uma internação que gerou outra e mais outra. Por isso, afastei-me das drogas, das bebidas, das antigas amizades, ideias e sites. A luta pela sanidade se configura apaticamente: ela requer que se afaste daquilo que tensiona e o espírito corrói. Por muito tempo, fui completamente agnóstico e hoje creio em Deus - de tal modo que nunca acreditei. Toda essa monumental tragédia que se repetia circularmente numa roda gigante aproximou-me Dele.

Uma amiga que se afasta, um amigo que vai morar longe, um casal que concebe um filho. Uma pessoa pela qual se enamora e depois se afasta. Tudo isso impacta no eixo vivencial e na debilidade a qual se encontra o meu pensamento. Eu não estou preparado para isso, só que não estar preparado não é o mesmo que impedir que isso ocorra. A dor simplesmente virá e não poderei impedi-la. Talvez isso signifique crescer. Eu posso sentir da densidade da crueza do real.

Quando ela caiu, precisamente eu pude sentir. Eu também cai. Eu senti todo meu ser quebrar-se. Todas as antigas convicções e amizades espatifaram-se como vidro caindo no chão. O mundo de cristal, imaculado pela sua infantilidade, quebrou-se pela pedra da realidade que lhe acertou. Os cacos de vidro cortaram a minha pele. Agora só me resta sangrar, tirar os cacos fragmentários de ilusões e ver todas essas feridas cicatrizarem-se com o tempo. Andarei, daqui pra frente, com o corpo maculado de cortes. Nunca poderei esconder a armagura que meu coração partido lega. 

sábado, 13 de agosto de 2022

Acabo de ler "O alienista" de Machado de Assis

 



Quando nos deparamos com um clássico, dependemos de um espírito que a ele se abra e entregue-se. Por muito tempo, o humor de Machado de Assis foi-me estranho. Hoje, com maior maturidade do espírito, dou-me a vôos mais altos e constantes. Sinto-me feliz por ter compreendido e rido bastante com essa pequena obra.

A questão fundamental é a definição da loucura. O alienista busca uma "explicação cabível" ao entendimento da loucura. Hipoteca-se sobre a proporcionalidade, depois desenvolve-se na argumentação contrária. A trama se desenvolve como uma arguta crítica ao senso de sanidade e insanidade, além da mediocridade do senso comum e da idolatria científica dos pedantes. Gerando casos extraordinários de comicidade mórbida. A surpresa é característica presente dum roteiro que se engendra tendo como inimigo a monotonia e a padronicidade. Nota-se que Machado de Assis não era outra coisa se não um gênio.

É incrível como surge a "Casa Verde" e qualquer motivo leva ao encarceramento da pessoa. Todos eram alvos. Todos eram tidos como patológicos em dados comportamentos. Chega-se até num ponto em que a grande maioria da população da cidade estava internada. Só que toda essa incomensurável jornada termina com o alienista descobrindo que, em todo esse tempo, o louco era ele e não o outro - nesse caso, todos os outros.

A enunciação duma política experimental totalitária que cultua a ciência e a ausenciação de um ajuizamento da maioria é uma temática interessante. O livro poderia ser facilmente enquadrado nos grandes livros de distopia. Pode-se falar que o livro que tenho em mãos é um clássico da distopia da saúde mental. E, vejam só, é um clássico inigualável em sua riqueza. Termino o livro maravilhado com a agudeza do espírito do autor. Deu-me boas risadas e um bom entendimento crítico que me será útil até a consumação de minha vida.