quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Acabo de ler "A Repressão" de Sigmund Freud

 



O ser, para a psicanálise, está num estado de luta interna. Os fragmentos de si, cada qual reivindicando uma diferente - e por vezes oposta - proposta, brigam para que adentrem na direção das ações do ser. Isso, por si mesmo, indicaria como somos flagrantemente contraditórios e, quiçá, hipócritas.

A verdade é que a unidade do ser enquanto tal é objeto de uma briga constante e assustadora para cada pessoa no abismo de si mesma. Nela é que nos realizamos em maior plenitude, porém tal unidade só existe em momentos devido a nossa natureza dinâmica. Logo a vida é uma luta em que buscamos conciliar todos os nossos fragmentos e daí conseguirmos a plenitude por algum momento.

Imagine um ser atordoado que, mesmo que inconscientemente, tem uma luta de si para si. Não sabe mais quem é, entra numa crise de identidade em que tudo se anuvia e é-se difícil enxergar e inteligir o mundo. E tudo isso leva a um gasto energético de valores opostos que se contrapõem. Vê-se, então, uma realização de um fragmento e depois de outro, conforme a hegemonia de uma ou de outra parte se realize momentaneamente.

É graças ao reconhecimento de que o ser humano é um enigma para si e para outrem que a psicanálise busca investigar tamanhos processos subjetivos, interpretá-los e chegar ao mapeamento das diferentes partes. Uma luta que leva a integração das diferentes partes e harmonia unitária do ser. A busca psicanalítica é a busca do ser para consigo mesmo, é a tentativa da realização da intimidade de si para si.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Acabo de ler "O Outono da Idade Média (capítulo 1)" de Johan Huizinga

 



A Idade Média é, dentro os assuntos do debate nacional, um tema extremamente delicado. A razão principal dessa delicadeza se dá pelo fato da esquerda tem um estudo precário acerca do assunto. Usualmente essa mesma crê em mitos e factóides gerados não por estudiosos medievalistas sérios. Se o problema do debate do islamismo se dá pela ausência de uma revisão bibliográfica na direita, o contrário é verdadeiro no estudo medieval.

Esse é um livro carrega uma tradução mais precisa da decadência ou declínio do período medieval. Em vez de procurar o movimento que lhe sucederia, busca explicitar as razões que levaram ao falecimento do medievo. É interessante que, já na introdução, somos chamados a observar que o estudo da história não deveria ter um caráter voltado apenas aos movimentos nascentes. Os períodos de decadência e morte, bem compreendidos, são também úteis ao conhecimento e apreciáveis a existência.

Quando falamos de Idade Média, falamos dum contexto espaço-temporal em que tudo era preenchido por um simbolismo extenuante. Cada ato da vida, em si mesmo, não poderia deixar de ser colocado numa simbólica omniabrangente. Graças a tal modus pensadi, a própria forma de enxergar a vida adquiria um grau de excitação elevado - embora que, muitas vezes, para o prejuízo da razão. Os medievais buscavam simbolicamente a tudo distinguir, marcando até uma forma de "maniqueísmo inconsciente" que dava furor radical entre as diferenças da vida.

O leitor encantar-se-á, é claro, pela forma apaixonado, romântica e heróica que os medievais faziam qualquer ato da vida num salto simbólico e existencial. Mesmo que não se sinta muito disposto a ver excitações sentimentais como uma boa psicologia civilizacional. A nós, falta-nos encantamento. A eles, faltava-se uma certa frieza na análise de algumas partes da vida.

domingo, 13 de novembro de 2022

Acabo de zerar "Castlevania Portrait of Ruin" (modo irmãs) no DS (pelo 2DS)

 



Quando você zera esse Castlevania, ele habilita dois modos secundários. O modo Richter - que analisarei mais tarde - e o modo irmãs.

No modo irmãs, você joga com Stella e Loretta. Os eventos se passam antes da campanha principal. Nele você não tem acesso ao combate contra o Drácula, isto ocorre por elas perderem obrigatoriamente pra o Brauner. No fim, as duas se tornam vampiras. Não há como fugir desse destino trágico.

A jogabilidade com as duas é ligeiramente diferente da tradicional. As duas flutuam e atacam a distância. O que significa que o jogo ficou bem facilitado. Flutuar gasta energia e atacar igualmente. O ataque é executado tocando na tela touch.

Não há muitas novidades por aqui. O jogo permanece praticamente o mesmo, só muda que agora não dá pra usar itens ou melhorar armaduras. O único jeito de ficar mais poderoso é aumentando o nível das personagens e pegando aqueles itens que aumentam vida e magia. A zona especial ainda é desbloqueável.

Apesar da jogabilidade diferenciada, é custoso crer que esse modo se constitui como um acréscimo extremamente relevante ao jogo. Para ser sincero, o fato das personagens flutuarem e lançarem magias a longa distância torna tudo extremamente fácil.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Acabo de ler "O maior perigo do Islã: não conhecê-lo" de José Tadeu Arantes

 



O fenômeno do islamismo no Brasil é tratado como permanente incógnita que, bem ou mal, gera um tensionamento psíquico. Usualmente, assombrado por uma má compreensão de sua realidade, a mídia trabalha numa visão maniqueísta de que a religião islâmica é um reduto de radicais, uma horda de fanáticos. A má compreensão midiática e sensacionalista vem a se juntar com teses duma direita neoconservadora que empobrece ainda mais a compreensão dessa grandiosa religião.

Ao contrário do que se pensa, a situação do Islã e de seus seguidores nunca foi de parco desenvolvimento ou de radicalidade em questões doutrinais. Muito pelo contrário, enquanto o Ocidente submergia na decadência cultural gerada pelo enrijecimento cultural, o mundo muçulmano gozava, além de maior desenvolvimento, de uma cultura intelectualmente pujante. O que não é muito tratado pelos setores da intelectualidade acadêmica e, muito menos, é de conhecimento geral de nosso povo.

Existem, também, outras explicações plausíveis acerca do subdesenvolvimento atual dos países islâmicos - embora seja um fato que, no momento em que escrevo esse texto, existem países muçulmanos com maior IDH que o Brasil. Uma delas é a própria sustentação econômica que os EUA deu a radicais para frear a expansão do socialismo soviético e que posteriormente acabou por gerar problemas dos EUA com países muçulmanos.

De qualquer modo, o islamismo é, para mim, não algo que causa medo ou desgosto. É-me uma grande tradição religiosa que merece, por nossa parte, uma amplitudização de consciência, entendimento e empatia.

Acabo de ler "Governo Lula e Dilma: O Ciclo Golpeado" de Vários Autores

 



O debate nacional é sempre, para mim, instigante e necessário. A vida intelectual serve para um "acúmulo assombrativo" que traz uma maior percepção das nuances que estamos dentro, sobretudo de forma inconsciente. Com o acúmulo eruditivo, adentramos num reino de sutilezas que nos dão maior afinidade com a realidade que estamos imersos.

Eu nunca poderia ter compreendido com maior maestria o governo Lula e Dilma sem esse livro. E é interessante observar que as informações dos mais diversos pontos, opostos ou amigáveis entre si, locupleta a nossa capacidade de assimilar a densidade do real. O projeto de conscientização intelectual, além de aumentar a capacidade assimilativa dos movimentos do mundo, também proporciona uma maior palatividade da realidade conforme nos deixa encantados com os processos dinâmicos do universo.

É importante frisar que o projeto de Lula e Dilma se situava numa localidade de maior amplitude das ações do Estado no desenvolvimento nacional. Para tal, o Estado era visto como estratégico na posição do Brasil como nação mais desenvolvida. Graças a isso, o protagonismo do investimento estatal foi colocado como uma das prioridades norteantes dos dois governos.

Também é preciso colocar que: o governo de Temer e de Bolsonaro se pautaram pela menoridade da ação do Estado brasileiro no âmbito do desenvolvimento nacional. Se os dois governos predecessores, de Lula e Dilma, pautaram-se pelo acréscimo da intervenção do Estado: os governos sucessores, Temer e Bolsonaro, fincaram raízes num movimento propriamente oposto em que a atuação estatal era de natureza diminuta.

Outro ponto de importante natureza: os governos petistas se colocaram fortemente na integração regional e numa espécie de bloco contra-hegemônico. A ideia era diminuir o poder dos países dominantes e criar uma ordem de caráter multipolar em que houvesse maior autonomia dos países em desenvolvimento em sua autodeterminação. Disso surge, é claro, uma maior unidade do BRICS como bloco, a integração da América Latina e o contato crescente com países africanos.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Acabo de ler "Freud para Historiadores (pág 1 a 51)" de Peter Gay

 



O avanço da historiografia depende, tal como doutras áreas, duma amplitude de espírito aberto a outros paradigmas, a outros pontos que, dalguma maneira, entrelaçam-se num salto de qualidade e quantidade epistêmica. Peter Gay apontará, e com bastante razão, a necessidade de ajuda da psicologia, em particular da psicanálise, como disciplina de caráter auxiliar.

A missão do historiador, a análise do espaço-tempo em que ele se insere e propõe-se a resolver, coloca-o numa problemática em que ele terá que desenvolver necessariamente uma maestria em outras áreas do conhecimento. Sem isso, perder-se-á na incompletude que delimitará contingencialmente seu trabalho de forma a torná-lo ineficaz. O historiador precisa, para tal, deixar de ser apenas um psicólogo informal que não domina muito bem o campo de estudo da alma humana.

No estudo das causas que movem o agir humano esconde-se um enigma que, quando não resolvido, obscurece a própria capacidade de inteligir o espírito do tempo. Esse é, de forma espetacular, sempre antigo e sempre contemporâneo: as razões espiritualmente moventes dos corações humanos e nas transfigurações que as ideias, contidas em cada peito, tomam.

Não basta, para Peter Gay, dizer a proporcionalidade objetiva que uma ideia se dá em dada escala de realidade. É preciso saber a razão, a causa, a explicação de como o fenômeno tomou forma no coração de cada agente histórico. Para tal, é preciso ir além do "simples" historicizar. É preciso que se seja capaz de, com arte, perscrutar as sutilezas da psiquê humana.

Creio que, mesmo os opositores mais hostis da psicanálise, acreditarão que a psicologia é uma excelente disciplina auxiliar para fim de tamanha magnitude. Por tal razão, o livro permanece atualíssimo nas questões que levanta e nas soluções interdisciplinares que elenca.

domingo, 6 de novembro de 2022

Acabo de ler "Análise Crítica: Livro Negro da Psicanálise" de Mayana Faria e Roberto Matos

 



As críticas a psicanálise são bastante comuns - não em sentido epistemológico, mas em frequência - e, para qualquer estudante de psicanálise e/ou psicanalista, preenchem páginas e mais páginas de discussão. Levando vários de nós a entrarem em crises vocacionais ou mudanças de paradigmas intelectuais.

A resposta a essa questão tende a variar absurdamente, mas, ao contrário que dizem por aí, não há a (total) ausência de respostas. Alguns psicanalistas tendem a responder com uma aproximação com as ciências humanas, outros dizem que a psicanálise é um estilo diferente de ciência - não nos termos habitualmente positivistas - ou, em algum caso, comparam-no com a abordagem da biologia evolucionista. De qualquer modo, há sempre uma forma de dar ou intencionar uma resposta, mesmo que essa se realize em vias distintas.

Muitos críticos da psicanálise a veriam como mimese da ciência habitual, só que num círculo fechado e restritivo de psicanalistas que ignoram tudo que lhe seja de adverso - em contrariedade evidente ao espírito científico esclarecido. Outros veem Freud como um charlatão do princípio ao fim, um falsificador maquiavelicamente nato. Alguns questionam onde se estrutura anatomicamente o ID, Ego e Super Ego, além de outras questões correlatas.

Enumerar todas essas questões e respondê-las seria algo que, no momento, está muito além daquilo que tenho em conta e em capacidade e estaria acima, em tamanho de texto, que a estrutura do Instagram permite em número de caracteres.

De qualquer forma, a psicanálise e a argumentação contrária a ela é muito mais complexa do que se presume devido a alta quantidade de vias possíveis e o debate está muito longe de se acabar numa vitória definitiva para algum dos lados. Esse artigo é dos que provam tal complexidade que, muitas vezes, escapa ao eixo teorético que usualmente tem-se em conta.