O avanço da historiografia depende, tal como doutras áreas, duma amplitude de espírito aberto a outros paradigmas, a outros pontos que, dalguma maneira, entrelaçam-se num salto de qualidade e quantidade epistêmica. Peter Gay apontará, e com bastante razão, a necessidade de ajuda da psicologia, em particular da psicanálise, como disciplina de caráter auxiliar.
A missão do historiador, a análise do espaço-tempo em que ele se insere e propõe-se a resolver, coloca-o numa problemática em que ele terá que desenvolver necessariamente uma maestria em outras áreas do conhecimento. Sem isso, perder-se-á na incompletude que delimitará contingencialmente seu trabalho de forma a torná-lo ineficaz. O historiador precisa, para tal, deixar de ser apenas um psicólogo informal que não domina muito bem o campo de estudo da alma humana.
No estudo das causas que movem o agir humano esconde-se um enigma que, quando não resolvido, obscurece a própria capacidade de inteligir o espírito do tempo. Esse é, de forma espetacular, sempre antigo e sempre contemporâneo: as razões espiritualmente moventes dos corações humanos e nas transfigurações que as ideias, contidas em cada peito, tomam.
Não basta, para Peter Gay, dizer a proporcionalidade objetiva que uma ideia se dá em dada escala de realidade. É preciso saber a razão, a causa, a explicação de como o fenômeno tomou forma no coração de cada agente histórico. Para tal, é preciso ir além do "simples" historicizar. É preciso que se seja capaz de, com arte, perscrutar as sutilezas da psiquê humana.
Creio que, mesmo os opositores mais hostis da psicanálise, acreditarão que a psicologia é uma excelente disciplina auxiliar para fim de tamanha magnitude. Por tal razão, o livro permanece atualíssimo nas questões que levanta e nas soluções interdisciplinares que elenca.
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