segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Acabo de ler "¿Por qué Argentina no fue Australia?" de Pablo Gerchunoff e Pablo Fajgelbaum (lido em espanhol)

 



Há um velho ditado que diz que "quanto pior uma situação é, mais resiliente uma pessoa ou uma nação se torna". A expectativa que se tem é essa: uma pessoa ou uma nação temperada pela angústia tornar-se-á resiliente para se adaptar ao ambiente inóspito. E essa mesma teoria justificaria, por sua vez, o pouco desenvolvimento nos países tropicais. Trata-se, evidentemente, duma resposta inadequada e simplista.


Argentina e Austrália sempre são postas lado a lado. Diz-se que há, entre as duas, condições similares tidas como pressupostas e a primeira, a Argentina, é tida como uma derrota; enquanto que a segunda, a Austrália, é um caso duma vigorosa vitória e se desenvolveu de forma singular. O livro trabalhará lidando com esse pensamento em pauta.


Localizadas em lugares diferentes e formas de colonização diferentes, as duas encararam questões muitas vezes se forma similar. Entretanto as dificuldades da análise supõem que existe mais do que tal simplismo. A Austrália teve uma independência de caráter mais pacífico, já a Argentina uma independência turbulenta. Fora isso, a Austrália não encontrava inimigos e competidores perto de si. Além de que, durante um longo tempo, a Austrália foi privilegiada pela sua relação geopolítica mais sólida e uma política menos condicionada pelas turbulências chauvinistas tipicamente latino-americanas. 


O leitor verificará que a Austrália teve uma localização geopolítica que a rendeu grandes importadores: logo que o desenvolvimento asiático se sucedeu de forma acelerada, este por sua vez necessitou de recursos provindos da Austrália. Essa troca foi benéfica e essencial para seu desenvolvimento atual.


A Austrália foi guiada por uma dialogicidade democrática, uma permanência de respeito institucional e políticas econômicas mais sólidas e menos isoladas, vencendo a defasagem temporal e sendo competitiva. Por outro lado, a Argentina teve um ambiente inóspito, rupturas institucionais, grandes períodos ditatoriais que retardaram seu desenvolvimento político maduro. Além da relação geopolítica e econômica menos vantajosa.

domingo, 22 de janeiro de 2023

Acabo de concluir o curso de "Ética Cristã"

 



Fazendo parte da grade curricular da pós-graduação em "Docência em Filosofia e Teologia", a "Ética Cristã" é uma de suas interessantes disciplinas. Não só complementa a outra disciplina ("Ética Geral e Profissional") como traz um aprimoramento e uma ótica cristã.


Os direitos humanos, olhados pela ótica cristã, traz já em seu seio uma frase veterotestamentária: o homem foi criado a Imagem e Semelhança de Deus. Decorre disso a razão e liberdade. E, igualmente, a sua condição como fim em si mesmo e portador duma natureza divina que o iguala a todos os outros homens sem qualquer distinção.


A ética cristã basear-se-á na fonte revelada (Sagradas Escrituras) e na razão natural (conhecimento adquirido sem auxílio da revelação divina). O que dá um caráter dialógico a formação da ética cristã, visto que está não está só inteiramente fundada numa posição teológica graças ao auxílio da razão. Este auxílio da razão, por sua vez, se faz pelo contato com a cultura contemporânea e insere a lógica cristã no período em que vivemos.


O cristianismo leva, de forma necessária, a um imperativo ético pelo qual o cristão é chamado a responder. A fé, per se, já é uma resposta do cristão ao chamado divino. O cumprimento dessa mesma fé, para que ela não seja um mero conhecimento doutrinal, se dá pelo respeito, amor e responsabilidade para com o próximo e para com a promoção de sua dignidade. O cristão é chamado a promover o bem-estar social com base nos preceitos éticos veterotestamentários e neotestamentários - essa, por sua vez, tendo foco na mensagem evangélica portada por Jesus Cristo.


Um curso extremamente interessante e conscientizador, vindo a calhar bem num momento em que direitos humanos são desrespeitados e o individualismo exacerbado busca romper o tecido social que produz uma sociedade harmônica - esquecendo que a pessoalidade é possível graças aos arranjos sociais, intercâmbios e sociabilidade que a possibilita - com interesses puramente egocêntricos e autocentrados. O respeito aos direitos humanos é, também, o respeito à humanidade portadora da Imagem e Semelhança de Deus.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Historia Mínima de Chile" de Rafael Sagredo Baeza (lido em espanhol)




Estudar a história da América Latina, agora com maior profundidade devido ao estudo do espanhol, vem sido uma tarefa que me é deleitosa e conflituosa. Por um lado, apaixono-me por essa civilização a qual faço parte. Por outro, as angústias de meu povo sofrido, sempre em busca da libertação, faz-me igualmente sofrer e padecer.


A história do Chile é uma história difícil. O território foi conquistado pelos espanhóis com muito esforço. Em boa parte, tornou-se submetido a colônia do Peru. Seu território, graças as suas especificações, criou um povo isolado que tinha, acima de tudo, um amor pela ordem e a harmonia. Predisposição psicológica que, infelizmente, muitas vezes abriu caminho para experiências políticas autoritárias.


É importante observar que a história do Chile é bem circular, até mesmo viciada. Existem basicamente três períodos que se alternam: crescimento e expansão; instabilidade; e política autoritária que busca reorganizar a sociedade. Por outro lado, esse grande povo do extremo sul tem uma história fascinante e conquistas formidáveis. Suas lutas históricas desembocam num crescimento civilizacional crescente, sua intelectualidade goza dum patriotismo belíssimo.


Hoje, após a onda política chauvinista de Pinochet, o Chile mais uma vez caminha para uma política pluralista. Desta vez, tendo em conta uma busca conciliatória entre desenvolvimento econômico e social. Uma sociedade que se vê, a cada dia, mais ilustrada e com ânsia por ilustrar-se ainda mais. Este país, na sua extremidade, na sua busca por ordem e por liberdade, ainda nos dará belas lições ao largo deste século.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Clarice e as Mulheres" de Várias Autoras




Esse livro me despertou sentimentos mistos. Existem escritos que se sobressaem e outros que parecem ter sido colocados tão somente panfletagem política, o que, diga-se de passagem, não foi de meu agrado. Embora existam, evidentemente, escritos muito bons.


Esse livro foi distribuído, salvo engano, gratuitamente pela prefeitura de São Paulo. A sua estética é deveras agradável e demonstram um esmero para com a beleza do livro. Movimentação essa que é bem rara a política usual do Brasil para com a própria cultura.


O livro conta com várias autoras, cada qual encontrada num campo diferente e com obras distintas, embora tenham um posicionamento político bastante semelhante - ao menos, foi essa a impressão que me causou.


A descrição e a beleza literária sofre de altos e baixos que intermitentemente se intercalam. Por vezes indo ao mero argumentacionismo - artifício de amante de retórica - que, infelizmente, destrói a pretensa qualidade literária que se almejava. Por outras, vê-se uma beleza estilística e originalidade sobressalente que encantam em muito o leitor.


Para um livro distribuído gratuitamente com o objetivo de ampliação do horizonte cultural paulistano, creio que seja uma excelente obra. Como um livro, em si, varia demasiadamente em qualidade.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Acabo de concluir o curso de "Ética Geral e Profissional"

 



O curso é passado na forma de progressão histórica para o entendimento da ética através do percurso espaço-temporal. Começando na Grécia Antiga até chegar na contemporaneidade.


Somos, então, conduzidos por Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Kant, dentre outros. O que dá e denota, evidentemente, uma fundamentação filosófica ampla e, ao mesmo tempo, bem delineada ao curso.


Além da distinção entre a atemporalidade e universalidade da ética, vemos o aspecto contingencial, temporal e particular da moral que está circunscrita ao âmbito do espaço-tempo e, portanto, ligado a uma contextualidade deliminante que, sem sua compreensão, a própria definição de moral se perde.


Nota-se, no final do curso, a particularidade do regimento atutidinal que se liga aos variados grupos que, em complexidade e diversidade heterogênea, apresentam uma feição moral distinta e dirigida aos seus respectivos e diferentes fins.


Somos apresentados, igualmente, ao conceito de deontologia (ciência do dever) e como a ética é por demasiado importante na regulamentação das ações humanas.


Curso interessantíssimo, duma complexidade determinante e, ao mesmo tempo, de uma capacidade sintética que liga o estudante a uma teia relacional de aspecto sintético para a inteligibilidade geral da mensagem unitária do curso e o sentido pessoal que temos na particularidade mesma de nossas vidas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Acabo de ler "El Libro Azul" de Hugo Chávez (lido em espanhol)

 



Um livro escrito pelo próprio Hugo Chávez e com o prefácio escrito por Nicolás Maduro chama, logo de cara, muita curiosidade e especulação. Talvez seja pelo amor declarado ou ódio visceral ao qual se dirige a essas duas figuras, num dualismo nauseante que, na verdade, cria mistificações grosseiras. É preciso, antes de tudo, um olhar que não seja patologicamente direcionado em respostas pré-definidas por orientações diversas.


O conteúdo é, de certa forma, simples e de fácil assimilação. Porém ele é um livro que cria uma série de referências que, muito dificilmente, poderiam ser facilmente digeridas em sua abarcabilidade sistemática. Isto é, o leitor será convidado a um estudo de vários autores para compreendê-lo na íntegra. Logo o esforço real que somos convidados não é, de forma alguma, tão fácil quanto podemos supor.


O livro traz, em teu seio, um desejo pelo retorno idealístico dos homens. O movimento que ele estrutura surge principalmente de três autores:

- Samuel Robinsón;

- Simón Bolívar;

- Ezequiel Zamora.


Cada um desses autores serve para traçar, de forma conjunta, uma política autêntica ao Estado venezuelano. Nesse plano, criado pela sistematização sintética desses autores, vemos a valorização da participação do povo na planificação das ações políticas, a crença na educação popular, a ideia da fundamentação identitária para a resolução das necessidades nacionais e, não menos importante, uma política voltada aos interesses das necessidades da população.


O livro é, de fato, muito interessante e de leitura necessária para quem tiver interesse de conhecer melhor a fundamentação política da Venezuela contemporânea e, de igual modo, do seu passado e da forma que seus pensadores desejam que ela se torne.

Acabo de ler "150 Videojuegos" de Alejandro Crespo (lido em espanhol)




Uma lista honrável e certamente bem feita, uma verdadeira história, em ordem sistemática e cronológica, dos videogames que todo fã apaixonado deveria ler.


O livro é bem simples, as informações bem pequenas, só que conta com o caráter notoriamente sistemático e historiográfico que denotam uma capacidade singular de pesquisa e dedicação. Pode ser, também, uma forma de introduzir novos jogadores ao mundo dos jogos de forma mais didática ou, simplesmente, servir material de referência para todos aqueles velhos jogadores, como eu, que buscam uma boa dose de informação organizada.


A leitura dessa obra é fluída, bem descontraída e, ao mesmo tempo, consegue ser divertida e intelectualmente valiosa. Além do ganho na parte do entretenimento, adentramos profundamente num longo passeio histórico ao qual nos conduz um autor apaixonado e que busca, com rigorosa dedicação, conquanto que também com bom humor, apresentar-nos de forma metódica o seu amor.


Leitura recomendadíssima, seja para quem quer adquirir mais constância com a língua espanhola, seja para quem quer aprender mais sobre videogames, seja para quem busca apenas se divertir ou passar o tempo.