sábado, 15 de abril de 2023

Acabo de ler "História Mínima de Uruguay" de Gerardo Caetano (lido em espanhol)

 



O Uruguai é um país que vive entre dois países que lutam pela hegemonia do processo civilizacional latino-americano. Estes são: Brasil e Argentina. Países que, querendo ou não, gozam de estatura elevada ao redor da América Latina e sempre serão olhados com olhos mais admiráveis, curiosos ou, também, com uma marca de desprezo. Vê-se, nestes dois, algo de subimperialismo.


O Uruguai sempre teve que dividir a sua atenção nestes dois. Os uruguaios já se consideraram argentinos orientais e, igualmente, já pertencerem ao Império do Brasil (como a província Cisplatina). Ao adotar submissão, foi tido como covarde ou simplesmente congruente. Uma ação de um país entre duas potências regionais só pode ser uma: neutralidade. Aliar-se a Argentina ou ao Brasil provocaria uma reação a quem ele não se aliou. Situação que seria complicada para ele.


Todos os países detêm uma história e nenhum povo é menos digno de ser nacionalista que outro. O amor pela sua pátria não é ditado por seu tamanho, porém pelas ações concretas que ele faz historicamente e criam um senso de eu plural. Este país, diminuto em comparação a Argentina e ao Brasil, sempre se destacou pela sua diferencialidade processual e, por vezes, pela similitude com os processos regionais que imperavam na região.


Os uruguaios não se veem como menores, veem-se simplesmente como uruguaios. Orgulhosos, também, de seus processos históricos. Um de seus lemas é "nadie es más que nadie", ninguém é maior que ninguém: uma sociedade hiperintegrada e pronta para um processo de eu plural maior que de outros países latino-americanos. Também é o país que sempre está um passo a frente nas colocações mais necessárias socioculturais. Todavia é, igualmente, um país que sofre pela ausência de pensamento estratégico e adequação ao tempo econômico e tecnológico do momento.


O Uruguai é um país amável e de uma história fantástica. Não é tão diminuto quanto falam e merece mais apreço e consideração por toda a América Latina. Um belo e emocionante livro, diga-se de passagem.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung - Capítulo 9: o estudo dos sonhos"

 



Falar sobre Freud ou Jung sem falar sobre sonhos é quase como cair em heresia. O sonho é um território misterioso em que, grande parte de nós, tem necessidade imensa de compreender. Querendo ou não, os sonhos nos impactam.


O sonho é uma espécie de compensação em que aquilo que não foi feito, aquilo que foi reprovado ou reprimido é realizado num espaço virtual para que se obtenha a satisfação e, com isso, o equilíbrio psíquico. Porém o sonho desempenha muitas mais funções do que essa.


O sonho é a fotografia do instante mental do sujeito, é a forma com que ele vê o mundo naquele momento de sua vida. Graças a isso, se descobrirmos o que cada objeto simbolicamente representa ao sujeito, temos o seu retrato mental. 


O sonho também é gerado pela interação da pessoalidade do sujeito em contato com os símbolos universais (arquétipos), o que gera necessidade de reconhecer os dois. 


O misticismo e poder ilimitado do sonho remontam a antiguidade primitiva de nós e de como desejamos, no fundo, poderes ilimitados. Jung sempre frisou que, dentro de nós, há um ser primitivo que pensa da mesma forma pouco importando as mudanças culturais. E essa estrutura permanece a mesma mesmo que não nos demos conta disso. É por conta disso que devemos conhecer o inconsciente: para não sermos dominados por ele.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung - Capítulo 8: o estudo dos arquétipos"




Um arquétipo é uma imagem primordial, uma leitura criada pelos nossos primeiros ancestrais. Segundo Jung, os arquétipos localizar-se-iam no inconsciente coletivo. Essa subestrutura que existe dentro de nós leva-nos a dados padrões comportamentais instintivos e inconscientes.


Jung descobriu o inconsciente coletivo ao estudar várias culturas aos redor do mundo. Ele descobriu um universo de símbolos comuns representados de formas distintas pelos diferentes tipos de humanos. Jung percebeu que mesmo existindo uma diferença entre um símbolo e outro, certos símbolos apareciam universalmente e desempenhavam papéis semelhantíssimos entre si.


Essa subestrutura encontrada por Jung seria presente em todos os seres humanos, demonstrando a unidade da humanidade numa única espécie. E também demonstraria um legado que nos deixa mais próximos um dos outros, visto que todo pensamento humano é ligado consciente ou inconscientemente a essa mesma estruturação.


Os estudos dos arquétipos como estrutura comum a todo mundo e a forma com que nossa personalidade se molda a partir dos arquétipos talvez estejam nos tópicos mais interessantes de todos os estudos psicológicos.


Acabo de ler "Contos de Lima Barreto"

 



Esse livro, junto com a sua coleção, chegou-me por acaso. Fazia parte dum grande número de obras que seria descartada pela instituição em questão. Graças a isso, ganhei na loteria acadêmica/intelectual.


Sobre o livro: o autor tem um estilo muito surpreendente. Ele adentra nos miúdos da vida social da época e traça uma grande narrativa, muitas vezes bastante psicológica, que usualmente termina na surpresa e agrado do leitor.  A forma com que ele consegue trazer profundidade em pouquíssimas páginas é fascinante.


Sempre sabemos que há algo de errado, algo que alguma hora sobressaltará. Ler esse autor é um exercício de inconfundível confusão. Seus textos são marcados por um entrelaçamento em que, alguma hora, algo será revelado e esse revelado será algo de errado e de cômico.


Recomendo esse livro a todos que buscam entretenimento de qualidade. Cada texto traz uma narrativa e temas bastante complexos, só que nunca ultrapassando uma exposição que interesse ao gosto do leitor. O autor é inteligente sem ser chato.

terça-feira, 11 de abril de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung - Capítulo 7: a utilização da classificação de Myers Briggs (MBTI)"

 



MBTI é um tema bastante procurado e difundido na internet. Eu, por exemplo, sou INTP (Introvertido, Intuitivo, Pensador e Perceptivo). O que significa que a minha personalidade é pautada na lógica, pela sede de conhecimento e criatividade. E que também tenho uma forte tendência a procrastinação.


A classificação é essa:

(E) - Extrovertido;

(I) - Introvertido;

(S) - Sensorial;

(N) - Intuitivo;

(T) - Racionalista;

(F) - Sentimentais;

(J) - Julgadores;

(P) - Perceptivos.


(Faça já seu teste e descubra seu "signo psicológico" e adentre pro clubinho).


Essa classificação é baseada nas teorias psicológicas de Jung e vem servido como esquema classificatório para muitas pessoas, gerando até variados grupos de interação nos mais diversos países e com as mais diversas línguas. Podem ser encontrados nas mais variadas redes sociais.


Existem muitas pessoas que veem esse sistema classificatório como problemático em decorrência de sua mutabilidade, podendo variar entre os tipos psicológicos apresentados. Não caindo aqui nas polêmicas, que é algo divertido, isto é inegável. Embora a piada com "astrologia para nerds" também o seja.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Acabo de ler "Classroom of the Elite - Vol 4.5 - Syougo Kynugasa" (lido em espanhol)

 



Ao contrário de minha aposta anterior, esse volume também não adaptou a parte em que o anime se encontra. Aqui é preciso frisar: não é o anime que adapta a pequena novela, mas justamente o contrário, esta é apenas uma forma de dizer em que parte a novela se encontra. Mesmo não estando onde o anime está, me deixou com uma agradável surpresa.


O anime simplesmente pulou essa parte da novela. Talvez por considerar essa parte de menor importância. Creio que eles pensaram que os eventos não seriam impactantes o suficientes para serem dignos de adaptação. Creio que por ser uma parte em que o autor prepara terrenos para acontecimentos futuros, os fãs de anime teriam a sensação de que estamos diante de um grande prólogo ou de um gosto de "esperar pra ver".


De fato, muitos acontecimentos de menor importância ocorrem, listá-los-ei aqui sem tentar cair em spoiler:

1. Ayanokoji e Ibuki tem um "arco" só para eles dois juntos;

2. A relação do líder da classe A com sua irmã é mais desenvolvida;

3. A relação de Kei com Ayanokoji tem traços sutis de desenvolvimento.


Como Ayanokoji foi criado num local de baixa interação social, para se tornar uma espécie de líder, o seu desenvolvimento como personagem frio e calculista ao extremo encontra-se nessa necessidade dele adquirir experiência social. O autor (Syougo Kynugasa) já está deixando claro que isso ocorrerá no futuro, visto que ele se torna cada vez mais próximo disso conforme testa o terreno. Creio que, em capítulos posteriores, teremos mais e mais provas disso.

sábado, 8 de abril de 2023

Acabo de ler "Los seis maestros del error" de Carmen Dragonetti (lido em espanhol)

 



Este pequeno livro faz referências a três religiões específicas: bramanismo, budismo e hinduísmo. O livro é sobre autores heterodoxos e o que defendiam. E é por causa de sua heterodoxia que o nome do livro é "os seis mestres do erro". Um livro bastante interessante.


A discussão sobre ortodoxia e heterodoxia é uma das mais acirradas em qualquer discussão teológica, pouco importando qual religião ou doutrina seja. Não é estranho observar que pode ocorrer dentro de religiões pouco conhecidas ou pouco observadas no Brasil.


A ortodoxia seria enquadrada como o comportamento ou o pensamento correto. A heterodoxia pode ser enquadrada como o comportamento ou o pensamento incorreto. Só que uma discussão como essa não poderia ser simplificada. Usualmente aquilo que se é aceito ou aquilo que não se é aceito numa estrutura religiosa é baseado numa longa discussão religiosa que pode durar centenas ou milênios de anos. Nada chegou ali por acaso, nem os dogmas (alguns só estabelecidos após milênios de discussão).


Aquilo que pode ser visto como herético numa dada estrutura pode ser visto como correto em outra. Um exemplo disso é que Deus fazer-se humano é uma heresia ao judaísmo e ao islamismo, porém faz parte do componente estrutural do cristianismo. A mesma discussão poderia ser enquadrada no seio das discussões de doutrinais filosóficas ou ideológicas. Para tal, exige-se uma certa capacidade de leitura baseada num eruditismo singular na tradição que se observa.